Da roça à periferia peça: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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A peça faz parte do livro "Dramatização para o Ensino de Geografia"  
A peça faz parte do livro "Dramatização para o Ensino de Geografia"  
  Autoria: Manoel Ricardo Simões<ref>Manoel Ricardo Simões, que também atende por Breguelé, é geógrafo e professor formado pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Planejamento Urbano e Regional concluído no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense.  
  Autoria: Manoel Ricardo Simões<ref>Manoel Ricardo Simões, que também atende por Breguelé, é geógrafo e professor formado pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Planejamento Urbano e Regional concluído no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense.  

Edição das 21h10min de 14 de agosto de 2023


A peça faz parte do livro "Dramatização para o Ensino de Geografia"

Autoria: Manoel Ricardo Simões[1].

Sobre o livro

A ideia da “Dramatização” nasceu no 2o Semestre de 1990, quando eu lecionava, entre outros lugares, na Escola Municipal Rachid da Glória Salim Saker, em Santa Bárbara, bairro da periferia de Niterói. Naquele período eu tinha dois problemas fundamentais. Um era pedagógico: como ensinar a “Geografia urbana” para alunos de 6a série? Num primeiro momento a reação às aulas expositivas foi a pior possível e o resultado da avaliação (leia-se prova) não foi diferente.

Para amenizar o “desastre”, inventei um trabalho para casa, onde eles deveriam contar como foram parar naquele bairro, como construíram suas casas, etc., na esperança de que entendessem que a história de vida deles era parte do processo de urbanização do Brasil no pós-guerra. A simples leitura em sala de aula por parte deles próprios não surtiu o efeito esperado. Devo ressaltar que passava pelo mesmo problema, com outra turma, só que do 2o ano do 2o grau e em Nova Iguaçu, naquele mesmo momento.

O segundo problema era de ordem prática: para pagarmos os dias parados da greve do 1o Semestre, a Prefeitura exigiu que trabalhássemos aos sábados, que se transformaram em “dias para atividades culturais”. Faltava um mês para o sábado em que eu teria de apresentar algo, e eu não havia pensado em absolutamente nada, até porque, concluindo os créditos do Mestrado e trabalhando em duas escolas públicas, não havia tempo nem para pensar.

Para resumir, num dia, dentro do ônibus, voltando para casa, corrigindo as redações dos alunos, tive a ideia de construir 15 um texto teatral com aquelas histórias, dando-lhes um toque teórico. Assim nasceu, dentro do ônibus, a peça “Da Roça à Periferia”. Na semana seguinte, chamei alguns alunos, conversei com a Diretora, organizei o cronograma de ensaios e, depois de três semanas, apresentamos a peça numa festa da escola.

Depois disso, fomos convidados e apresentamos a peça num palco armado na Praia de Icaraí nos festejos do aniversário da cidade de Niterói. Embora os resultados tenham sido positivos, deixei o trabalho de lado para dedicar-me ao Mestrado. No entanto, uma amiga, professora de Geografia, leu o texto e sugeriu que eu escrevesse outras peças.

Em janeiro de 1991, durante o repouso para curar uma pneumonia, resolvi retomar o trabalho e escrevi as outras peças presentes neste livro, só que desta vez o processo de construção dos textos foi mais elaborado, com preocupações mais didáticas e a partir de temas e pontos programáticos mais bem definidos.

A partir daí, com avanços e retrocessos, a ideia foi tomando forma e com a ajuda do compadre Santana o livrinho ficou pronto no Dia do Geógrafo, sendo lançado na Semana de Geografia da UFF. Em julho de 1991, no “II Fala Professor”, coordenei o Trabalho Orientado com o mesmo nome do livrinho, que seria repetido em 1992 no “IX Encontro Nacional de Geógrafos”, em Presidente Prudente.

Em Presidente Prudente, vivi um dos momentos mais emocionantes da minha vida política, acadêmica e pessoal, e que devo compartilhar com todo mundo. Durante a apresentação da peça “Da Roça à Periferia”, logo após a cena em que o personagem “Zé” é expulso das terras do coronel e se transforma num “sem-terra”, o Professor Bernardo Mançano, da UNESP de Prudente, deu o informe que um grupo de sem-terras concentrado em frente ao prédio do Tribunal de Justiça da cidade estava para ser expulso pela Polícia Militar, e que nós da AGB deveríamos mostrar nosso apoio ao Movimento, indo ao local e impedir que a Polícia cometesse qualquer tipo de violência. Encerrada a peça, nos dirigimos para o prédio e ficamos lá a tarde 16 toda ao lado dos sem-terras, cantando e demonstrando nosso apoio, cercados pela Polícia. Só saímos quando as negociações apontaram para uma solução pacífica. Ficou gravado na memória o agradecimento daqueles homens e mulheres que muitas vezes se transformam em temas de aulas, onde não são tratados com o respeito e importância que merecem.

Desde então, tenho procurado manter o trabalho vivo, seja formando grupos teatrais nas escolas em que trabalho, seja multiplicando a ideia, nos cursos e palestras que tenho ministrado pelo Brasil afora. Atualmente, tenho ministrado palestras e cursos pelo interior do Estado do Rio e Brasil afora, divulgando o trabalho e multiplicando os números de adeptos desta prática pedagógica alternativa.

A peça

Da Roça a Periferia

Tema

Êxodo rural formação das periferias nos grandes centros urbanos.

Objetivo

Discutir o processo de expulsão da população rural e a sua reterritorialização e adaptação ao meio urbano.

Personagens

Zé, Maria, Joana, Coronel, Corretor, Filhos (de um a quatro).

Figurantes

Quatro ou mais. Os atores que fazem Zé e Maria são fixos; os demais podem fazer as figurações.

Esta é uma pequena peça baseada em fatos reais relatados por alunos das escolas públicas de Nova Iguaçu e Niterói, sobre as trajetórias percorridas por suas famílias até fixarem residências nos bairros periféricos destas cidades. Esta dramatização contém ainda elementos retirados do estudo sobre a formação e a construção social do espaço urbano na periferia das grandes cidades e do próprio processo de transformação econômica e social do Brasil.

Para complementar, esta peça é fruto de minhas experiências pessoais como professor de Geografia, como morador da periferia e como cidadão.

Lembramos ainda que, embora a referência seja Nova Iguaçu, São Gonçalo e Niterói, os fatos aqui descritos podem ser vistos em quase todas as grandes cidades brasileiras e poderiam ter ocorrido com qualquer um dos milhões de moradores pobres destas cidades, por isso advertimos que QUALQUER COINCIDÊNCIA É MERA SEMELHANÇA.

Acesse a peça na íntegra

  1. Manoel Ricardo Simões, que também atende por Breguelé, é geógrafo e professor formado pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Planejamento Urbano e Regional concluído no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense. Como professor no ensino médio e superior tem procurado trabalhar com linguagem alternativas na sala de aula, utilizando teatro, música, vídeo, fotografia, etc., dentro das suas atividades letivas, além de auxiliar os seus alunos na produção de material didático alternativo, tais como maquetes produzidas a partir de cartas topográficas e imagens de satélite. Paralelamente ao magistério, desenvolve pesquisas na área de movimentos sociais urbanos e nas formas alternativas de Políticas Públicas e sobre a produção do espaço urbano nas periferias das grandes metrópoles, especialmente a Baixada Fluminense. Militou no SEPE, sendo vice-presidente do Núcleo Niterói em 1991. Também participou da diretoria da seção Niterói da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB)no início dos anos 1990. Lecionou em várias instituições públicas e privadas como o Colégio Pedro II, UFF, UNISUAM, UNIG e na Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente leciona no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Campus Nilópolis. Nas horas livres dedica-se a treinar para corridas de rua e quando tem tempo, transforma-se num veloz atacante nos times de futebol de várzea de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, onde mora.