Dicionário de Favelas Marielle Franco - análise e apresentação de um modelo de sistematização conceitual e terminológica: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Sem resumo de edição
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No  que  tange  os  aspectos  referente  à  organização  da  informação  e  do conhecimento  em  ambientes  wiki, o  gerenciamento  adequado  faz  parte de um  dos processos  colaborativos. Nessa  perspectiva, Preece (2002) argumenta que a presença de moderadores e líderes no processo colaborativo é extremamente importante.  As  ferramentas  de comunicação objetivam a troca de ideias, enquanto as de coordenação viabilizam a organização dos conteúdos e as de cooperação possibilitam execuções em conjunto no espaço em questão, que é compartilhado (Fuks et.  al.,  2003).
No  que  tange  os  aspectos  referente  à  organização  da  informação  e  do conhecimento  em  ambientes  wiki, o  gerenciamento  adequado  faz  parte de um  dos processos  colaborativos. Nessa  perspectiva, Preece (2002) argumenta que a presença de moderadores e líderes no processo colaborativo é extremamente importante.  As  ferramentas  de comunicação objetivam a troca de ideias, enquanto as de coordenação viabilizam a organização dos conteúdos e as de cooperação possibilitam execuções em conjunto no espaço em questão, que é compartilhado (Fuks et.  al.,  2003).


Para  tanto,  Robert  e  Noel  (2 004) observaram  através  de  uma  análise,  que  o exercício  de  um  líder  consiste  em  uma  gama  de  responsabilidades  sobre  os documentos  gerados,  como  também,  por  uma  elaboração  de  plano  de  atividades,  na resolução  de  conflitos  entre  os  participantes,  na  seleção dos  indivíduos  e  de  certo modo,  por  toda  a  carga  de  coordenação  dos  trabalhos  desenvolvidos.  E  para  além disso,  com  relação aos  documentos,  o  líder deve  fomentar  discussões  e  trabalhar  na promoção  do  diálogo. Sobre  a  credibilidade e  a  fidedignidade  do  sistema wiki, Primo (2006) aponta  através  de  um  marco  temporal:
Para  tanto,  Robert  e  Noel  (2 004) observaram  através  de  uma  análise,  que  o exercício  de  um  líder  consiste  em  uma  gama  de  responsabilidades  sobre  os documentos  gerados,  como  também,  por  uma  elaboração  de  plano  de  atividades,  na resolução  de  conflitos  entre  os  participantes,  na  seleção dos  indivíduos  e  de  certo modo,  por  toda  a  carga  de  coordenação  dos  trabalhos  desenvolvidos.  E  para  além disso,  com  relação aos  documentos,  o  líder deve  fomentar  discussões  e  trabalhar  na promoção  do  diálogo. Sobre  a  credibilidade e  a  fidedignidade  do  sistema wiki, Primo (2006) aponta  através  de  um  marco  temporal:<blockquote>




A partir de recursos da Web 2.0, potencializa-se a livre circulação e a  organização distribuída de informações compartilhadas através de  associações mentais. Nestes casos importa menos a formação  especializada de membros individuais. A credibilidade e relevância  dos materiais publicados é reconhecida a partir da constante dinâmica  de construção e atualização coletiva (PRIMO, 2006, p.4).</blockquote>Tratando-se das plataformas digitais que utilizam a metodologia e  sistematização wiki, Lévy (2007) evidencia que a inteligência formulada através do  coletivo é dada como uma riqueza de grande valor para a humanidade e tem como  resultado, uma ação direta no desenvolvimento humano.  


Para Maturana e Varela (1995, p. 68) “todo fazer é conhecer e todo conhecer é fazer”, os autores ainda reforçam que “tudo o que é dito, é dito por alguém”  (MATURANA; VARELA. op. cit., p. 69), gerando uma reflexão de que todo o  conhecimento informacional gestado possui um teor de relevância na sociedade,  fundamentando a construção social e colaborativa do conhecimento. Para Brown e  Duguid (2001) o conhecimento está vinculado àquele que conhece e os autores  reforçam, conforme citação abaixo, a necessidade de questionar quem são aqueles  que sabem? <blockquote>A informação é algo que as pessoas coletam, possuem, passam para  outros, colocam em bancos de dados, perdem, acham, anotam,  acumulam, contam, comparam e assim por diante. Em contrapartida,  o conhecimento não aceita tão amavelmente essas ideias de  recebimento, transporte e quantificação. Ele é difícil de ser coletado e transferido. Por exemplo, você poderá esperar que alguém lhe envie  ou indique onde encontrar as informações que ele possua, mas não  os conhecimentos (BROWN; DUGUID, 2001, p.105). </blockquote>Sob essa ótica, o processo colaborativo resulta em um acervo intelectual no  suporte Wiki, esse material é refletido através de um assunto de interesse comum ao  coletivo e após a inclusão da informação, é organizada e disponibilizada (VIEIRA,  2008).  


Dentro desse raciocínio, faz-se interessante esclarecer, conforme apontado por  Chiu, Huang e Chang (1999), que quanto maior o índice de troca referente às  informações, melhor será o resultado final sobre o conhecimento gerado pelos  participantes. Em contrapartida, ainda que necessário, o processo de interação não  faz valer como critério suficiente para a produção de conhecimentos mais “apurados”.
Sobre o senso comunitário, de diálogo e discussões que o Wiki propõe, Primo  e Recuero (2003, p.3) apontam que “[...] podem vir a fomentar um sentimento  comunitário compartilhado. Quer-se apontar que a possibilidade de livre participação  na redação cooperada de hipertextos se insere no encaminhamento de uma  construção social do conhecimento”.  
Jorente (2011) justifica que no aspecto social juvenil, de suas vivências,  representações e experiências, a linguagem tecnológica é um fator que contempla o  âmbito das mudanças culturais, mediante a interação com os mecanismos e recursos  tecnológicos há o resultado de novas linguagens e representações nesses espaços.  A autora reforça ainda, que a aquisição informacional disponibilizada no meio digital influenciou nas inovações de representações do conhecimento, propondo novas  formas de construir o mesmo de forma inovadora.




3 ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO
3 ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO


3.1 Organização social do conhecimento
A organização do conhecimento (OC) possui diversas bibliografias científicas  que comprovam a sua necessidade no campo informacional e nas áreas  interdisciplinares do saber. Para os autores Lima e Alvares (2012) e Wilson (2006), o  conhecimento se relaciona com a experiência de cada indivíduo a partir de processos  cognitivos de compreensão, interpretação e aprendizados que ocorrem na  mentalidade humana. Desse modo, a fim de abordar introdutoriamente o conceito de  conhecimento, o mesmo é assimilado de acordo com a percepção de cada indivíduo.  
 
Por outro lado, Brascher e Carlan (2010, p. 150), argumentam que “[...] a  organização do conhecimento é um processo de modelagem que visa construir  representações do conhecimento”. Em complemento a conceitualização, Wilson  (2006) define conhecimento  <blockquote>[...] como aquilo que sabemos. Envolve processos mentais de compreensão, entendimento e aprendizado que passam na mente e  apenas na mente, independentemente de interação com o mundo  exterior à mente e a interação com outros. (WILSON, 2006, p. 38) </blockquote>O conhecimento não se restringe apenas à dinâmica individual e cognitiva, mas  sim social, pois relaciona-se com as diversas culturas, princípios e valores. Com isso,  acrescenta-se uma característica de subjetividade nos conhecimentos de cada  indivíduo, fenômeno esse que ocorre na interação do ser social com o mundo à sua  volta, gerando uma reação de mudança no campo em que está presente e na sua  transformação social interna (LIMA; ALVARES, 2012; CURRÁS, 2010).
 
Dahlberg (2006, p.12, tradução livre) define a OC como: “[...] a ciência que  estrutura e organiza sistematicamente unidades do conhecimento (conceitos)  segundo seus elementos de conhecimento (características) inerentes e a aplicação  desses conceitos e classes de conceitos ordenados a objetos/assuntos.
 
Brascher e Carlan (2010, p. 150), entendem a OC como: “um processo de  modelagem que visa construir representações do conhecimento”. Lima e Alvares  (2012, p. 27-8) descrevem as atuações da OC: “[...] como se representa o  conhecimento; se as áreas do conhecimento são representadas da mesma maneira;  o que pode ser representado; e se tudo pode ser representado”.
 
No mesmo enredo, Anderson (2003) traz uma percepção da OC como uma  metodologia que edifica o processo de indexação, resumos, catalogações, classificações, gerenciamento de dados, bibliografias e bases de dados, centralizando  o objetivo de recuperar informações; complementa ainda que, relaciona-se com a  descrição de documentos, na produção de materiais, de suas propriedades e  finalidades.  
 
Vinculado ao pensamento anterior, sobre as possibilidades de organização do  conhecimento, Barité (2001) apresenta alguns princípios primordiais que justificam  uma contribuição para esse contexto, o autor defende que a raiz do conhecimento é  um produto de necessidade social e que todo o conhecimento para ser melhor  aproveitado necessita de uma organização conceitual e com ordenação sistêmica.  
 
Para Lima e Alvares (2012, p. 33), “representar o conhecimento é uma tentativa  de se apropriar dos elementos informacionais existentes nas estruturas e processos  mentais que compõem o conhecimento individual, para que o saber possa ser  socializado”. A organização do conhecimento existe para alcançar um objetivo em  comum de determinado grupo, sendo necessário desenvolver a representação para  posterior organização de acordo com as metas e valores dos usuários aos quais o  sistema se destina (HJØRLAND, 2008). Para Lima e Alvares (2012, p. 33), representar  o conhecimento: <blockquote>[...] É um esforço, nas diversas ciências, de materializar o que ocorre na mente humana e na dinâmica do conhecimento, cuja estrutura e funcionamento ainda significam enorme desafio para a comunidade  científica. Para isso, são usados diversos modelos de representação,  que podem ser descritivos, matemáticos, visuais, informatizados,  dentre outros, conforme as necessidades e especificidades de cada  área para se aproximar dos processos cognitivos que envolvem a aprendizagem, o raciocínio, as relações que ocorrem entre os  conhecimentos disponíveis na memória para gerar novos  conhecimentos. </blockquote>No contexto da Wikifavelas o aspecto de representação do conhecimento  torna-se fator essencial, pois trata de conhecimentos relacionados à dinâmica  social, cultural e histórica da população favelada. Para Moscovici (1978, p. 28) a  representação social é caracterizada como “um corpus organizado de conhecimentos  e uma das atividades psíquicas graças às quais os homens tornam inteligível a  realidade física e social, inserem-se num grupo ou numa ligação cotidiana de trocas,  e liberam os poderes de sua imaginação”.
 
Conforme argumentado por Lima e Alvares (2012, p. 27) a organização social  do conhecimento se dá mediante “a organização dos seres, na divisão social do trabalho, na sociologia do conhecimento, na sociologia das profissões, das inovações  e de tudo mais que nos cerca”, nesta mesma visão, os autores ainda complementam: <blockquote>[...] É também um fenômeno social, pois a manifestação da organização do pensamento pelo agrupamento, pela separação, pela  hierarquização e pela centralização, princípios fundamentais da organização, é realizada intuitivamente o tempo todo. (LIMA;  ALVARES, 2012, p. 27) </blockquote>As representações configuram uma essência relacional, de formato linear e  com projeções sócio-históricas, na perspectiva de expressar significações, conceitos  normativos, concepções e simbologias do contexto social intrínseco à sua construção  (MARTINS; CÔRTES, 2019). Desse modo, as informações registradas no Dicionário  de Favelas Marielle Franco, a Wikifavelas, possui características vitalícias de  instrumentos fundamentais e elementais para a construção do conhecimento,  sobretudo social e histórico. Em contrapartida, Alvarenga (2003) pontua que:  <blockquote>[...] Dos enunciados sobre os seres gera-se o chamado conceito,  unidade de conhecimento referente ao ser percebido, componente essencial do conhecimento a ser representado. O processo de  produção dos registros de conhecimento compreende a etapa de representação da coisa ou ser, gerando-se em decorrência um produto final, um conhecimento sobre a coisa. (ALVARENGA, 2003, p. 22) </blockquote>Ao passo que, as contribuições de ordem colaborativa que geram os  conhecimentos sobre as favelas, de seus territórios e trajetórias, são colaborações  sociais e de indivíduos que possuem capital cultural para acrescentar às informações mediante a proposta da plataforma.  
 
Quanto ao elemento da informação que elabora o conhecimento, Le Coadic  (2004, p. 4) pontua que é dado como um “conhecimento inscrito (registrado) em forma  escrita (impressa ou digital), oral ou audiovisual em um suporte. É um significado  transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte  espacial-temporal”. Sob a ótica do gerar conhecimento através de informações  culturais e sociais, Wilson (2002), afirma que: <blockquote>A informação obtida por um indivíduo, para se transformar em  conhecimento, dialoga com a sua cultura, seus valores e princípios,  seu modo de ser e sua maneira de ver e compreender o mundo. O  conhecimento, nesse caso, é subjetivo (inerente ao sujeito), mas ao mesmo tempo social, pois o ser humano interage com o mundo que o  circunda, modificando-o e sendo por ele modificado”. (WILSON, 2002,  p. 38) </blockquote>No campo da representação da informação e dos seres sociais menos  favorecidos na sociedade, Martins e Côrtes (2019, p. 164) defendem que “o  profissional da informação, ao interpretar a realidade, por meio de instrumentos  documentários, como classificações e/ou indexações, pode contribuir para visibilizar  sujeitos em situação de marginalidade social”.


4 SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
4 SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
Os Sistemas de Organização do Conhecimento (SOC), são sistemas de  classificação que têm por finalidade representar o conhecimento. Segundo Capurro  (2003) todo conhecimento é desenvolvido, documentado e socializado em um tipo de  domínio. E mediante a elaboração do conhecimento, criar um parâmetro de  sistematização para representar e elencar a informação formulada, é um dos critérios  básicos para sanar a necessidade informacional de um contexto específico. Os SOC  existem justamente para isso, Carlan (2010) define por: <blockquote>Sistemas conceituais semanticamente estruturados que contemplam  termos, definições, relacionamentos e propriedades dos conceitos. Na  organização e recuperação da informação, os SOC cumprem o  objetivo de padronização terminológica para facilitar e orientar a  indexação e os usuários. Quanto à estrutura variam de um esquema simples até o multidimensional, enquanto que suas funções incluem a  eliminação da ambiguidade, controle de sinônimos ou equivalentes e  estabelecimento de relacionamentos semânticos entre conceitos.  (CARLAN, 2010, p. 16)  </blockquote>Os SOC são instrumentos semânticos que consistem em concepções e  relacionamentos semânticos definidos e selecionados (BROUGHTON et al.; 2005), ou  seja, os Sistemas de Organização do Conhecimento são utilizados para o  mapeamento de objetos informacionais, isto é, representar os assuntos elencados  através dos documentos em um sistema de informação. Dessa forma, são utilizados  em diversos contextos, bem como: na classificação no processo de indexação, pelo  indexador, classificador, quanto pelo usuário final que terá acesso à informação  (DAHLBERG, 2006).
Os sistemas que garantem a organização do conhecimento possuem algumas  características, constituindo-se em diversos esquemas cujo objetivo é: organizar,  gerenciar e recuperar a informação apresentada. Os autores ainda complementam  que esses sistemas abarcam classificação, tesauro, ontologia, glossários e  dicionários, que tenham relação com a organização que gerencia as informações com  o intuito de organizar, recuperar e disseminar as informações. (TRISTÃO; FACHIN;  ALARCON, 2004).  
A aplicação dos SOC torna-se imprescindível, sobretudo em tempos de grande  consumo de informação tecnológica, esses sistemas oferecem diversos tipos de organização para os suportes informacionais existentes. No contexto dos documentos  eletrônicos, para alcançar uma organização plausível, a aplicação da linguagem  documentária, da terminologia e do vocabulário controlado é necessária, ainda que  restrinja as variedades de conceitos transmitidos através da linguagem natural, optar  por uma linguagem mais precisa, garantirá a visualização do corpo de informações  por completo, levando à uma organização sistêmica (SCHIESSL ; SHINTAKU, 2012).
Os SOC acompanham a cronologia evolutiva dos sistemas de informação e  conforme pontua Vickery (2008) são classificados como: era da pré – coordenação:  que se fundamenta nos parâmetros de uma estrutura estática e de manejos manuais  para recuperar as informações, como catálogos e índices; era da pós – coordenação:
de característica mais dinâmica, gerando a possibilidade de manuseio independente  para uma posterior representação da informação, como tesauros e vocabulários  controlados; era da internet: existência de classificações hierárquicas, dando  orientação para o usuário na encontrabilidade das informações em uma pesquisa,  através da taxonomia; e a era da web semântica: elaborados por agentes  especializados, fundamentando as ontologias. A classificação tem como cronologia a  ordem evolutiva da linguagem natural à linguagem controlada (HODGE, 2000).
A iniciativa do Dicionário de Favelas Marielle Franco - Wikifavelas, visa,  justamente elencar e disponibilizar informações com assuntos relacionados às favelas  através da web, tornando as produções de conhecimentos e saberes culturais em  documentos que necessitam de um tratamento especializado e com uma proposta de  sistematização conceitual para assegurar as informações do ambiente.


4.1 Linguagem documentária e vocabulário controlado
4.1 Linguagem documentária e vocabulário controlado
Para caracterizar a linguagem documentária e o vocabulário controlado, faz-se  necessário abordar alguns conceitos introdutórios e de como as áreas e as  ferramentas do conhecimento se articulam entre si, promovendo um resultado para a  organização da informação e do conhecimento.
A língua e a linguagem possuem qualidades equivalentes, porém, diferenciam-se uma da outra no aspecto conceitual. A língua caminha junto com a evolução da  humanidade, dado através de fenômenos ocorridos historicamente. Enquanto que a  linguagem, possui uma dimensão maior, a de caracterizar e representar diversos  conceitos independentemente do formato, portanto, as representações podem ocorrer através do idioma, que são os sistemas sociais, transmitidas através da linguagem  natural que é utilizada cotidianamente, ou de um sistema de representação oposto,  dados por sinais, sons ou linguagem de programação (SCHIESSL; SHINTAKU, 2012).
Toda língua e linguagem existentes possuem diversos modos de serem  representadas, nesse sentido, a partir de princípios teóricos desenvolvidos na ciência  da informação, a linguagem documentária é uma ferramenta que visa gerar a  recuperação das informações com precisão, tendo por finalidade, atender as  necessidades dos usuários. É utilizada tanto no tratamento intelectual de um  documento, quanto no processo de indexação e recuperação, traduzidos através de  entradas nos sistemas de armazenamento e em pesquisas feitas no sistema de  recuperação (GUINCHAT; MENOU, 1994).  
Em consonância da colocação anterior, Currás (1995) complementa que a  linguagem documentária tem como fim, controlar, normalizar e classificar um contexto  onde possui informações. Compreende-se, então, que a função da linguagem  documentária é justamente representar, com grau de padronização, o conhecimento
elaborado por um veículo específico e estabelecer uma conexão entre o usuário e o  conteúdo disponibilizado. E a partir dela, elaborada de modo artificial visando a  sintetização, propor um vocabulário controlado para o domínio proposto de forma  objetiva (SCHIESSL; SHINTAKU, 2012).
De acordo com Davanzo (2016), os conceitos elaborados acerca de  vocabulário controlado e de linguagem documentária estão diretamente atrelados. A  autora pontua que mediante o uso dessas duas ferramentas e da utilização do  vocabulário controlado, tem-se como resultado o efeito positivo de uma melhor  recuperação informacional no contexto pretendido. Complementando o pensamento  anterior, para Boccato, Ramalho e Fujita (2008) os vocabulários controlados e as  linguagens documentárias são definidos como: <blockquote>Linguagens de estruturas combinatórias e pós-coordenadas, constituídas de termos e unidades linguísticas provenientes da  linguagem de especialidade e da linguagem natural, denominados de descritores, providos de relações sintático semânticas, referentes a  domínios científicos especializados, possibilitando a representação  temática do conteúdo de um documento, bem como a recuperação da  informação (BOCCATO; RAMALHO; FUJITA, 2008, p. 200). </blockquote>O vocabulário controlado por sua vez, define-se por uma coletânea de termos que auxiliam na melhor descrição dos documentos de forma precisa. O propósito  determinante é assegurar uma descrição mais fundamentada e propiciar uma  recuperação eficiente dos conteúdos que compõem o SOC (COLOMB, 2002).  
A proveniência da linguagem natural implica na ambiguidade, entendida como  “uma expressão da língua (palavra ou frase) que possui vários significados distintos,  podendo, consequentemente, ser compreendida de diferentes maneiras por um  receptor” (BRASCHER, 2002). A linguagem natural, segundo Schiessl e Shintaku  (2012) expressa algumas características básicas, como a sinonímia, a polissemia e a  homografia, provocando a necessidade de padronização, processo esse que é  possível de ser realizado por meio do vocabulário controlado, evitando variantes no  que tange a descrição das informações.
A partir das informações anteriores, a fim de trazer alguns conceitos sobre a  linguagem natural e de seus fenômenos, a sinonímia ocorre quando mais de um termo  é representado a partir do mesmo conceito. Enquanto que a polissemia traz o  significado de que um termo possui mais do que um único conceito, e por fim, a  homografia ocorre na descrição de palavras diferentes mas que se aplica através do  mesmo escrito (SCHIESSL; SHINTAKU, 2012).
Os vocabulários controlados possibilitam que o sistema de informação consiga  estruturar melhor as informações através dos termos, caso o sistema não possua uma  metodologia, Moreira et al (2015) pontua que: <blockquote>Na ausência de controle terminológico por meio de linguagem documentária, isso é, sem a adoção de procedimentos de  desambiguação da linguagem natural, realiza-se um uso pobre da  linguagem em si, enquanto elemento capaz de sintetizar e sistematizar os conceitos. (MOREIRA et al, 2015, p. 03) </blockquote>Um sistema que não possui o amparo do vocabulário controlado, corre o risco  de não entregar as informações por completo e de forma estruturada. Neste  parâmetro, os vocabulários controlados para serem elaborados e alcançarem um  objetivo de forma coesa, necessitam de uma normativa, sendo assim, seguem alguns  apontamentos sobre a Norma ANSI/NISO Z39.19:2005 que são fundamentais:
● a ligação de sinônimos ou quase sinônimos pela relação de equivalências; 
● definição unívoca de termos com a mesma escrita ou homógrafos;
● se o mesmo termo é usado para diferentes conceitos, ele deve ser explicitamente qualificado para solucionar essa ambiguidade;
● se vários termos são usados para o mesmo conceito, um dos termos é  identificado como o preferido no vocabulário controlado e os outros termos são  listados como sinônimos ou equivalentes.
Para além do teor de normalização, o vocabulário controlado gera diversos  impactos na organização da informação e do conhecimento, logo, afetando a estrutura  social, conforme citado por Rocha; Domingues e Cervantes (2013) são sistemas que  permitem o fenômeno do socializar, no pulsante das realidades dos ambientes digitais,  através da representação proposta, é possível assegurar a recuperação de  documentos em diversas áreas do saber.  
Na proposta de oferecer um melhor acesso e uma recuperação da informação  eficiente para os usuários, Narukawa (2011) aponta que tornar a informação acessível  aos usuários permitindo a sua usabilidade e apropriação, promove um efeito de gerar  novos saberes, informações e conhecimentos. Para a autora, a informação contrasta  com os efeitos e fenômenos na sociedade e justifica que é necessária uma reflexão  sobre as novas possibilidades de formatações para elencar e organizar as  informações sociais de forma eficiente.


4.2 Classificação e Taxonomias
4.2 Classificação e Taxonomias
A definição do que é classificação se coloca como um conjunto de conceitos  que é organizado de forma sistemática de acordo com os parâmetros ou  características determinadas (ISO TR 14177, 1994).
A classificação é um processo humano de caráter natural e que ajuda a  compreender o mundo, sem a classificação não existiria pensamento humano  (LANGRIDGE, 1973). A partir de um estudo sobre classificação em variados períodos  de tempo, revelou-se que à cultura está atrelada a classificação, contextuando com o  momento e a elaboração documental (GROLIER, 1974).  
Para Foskett e Bury (1982), a função do ato de classificar nos suportes de  informação tem a justificativa de ordenação documental, facilitando os usuários e os  serviços. A classificação tem como vetor a simplificação da recuperação eficiente das  informações pretendidas e ter uma ordenação nesse enredo contribui diretamente  para os sistemas que emergem na realidade ordenada.
Por meio de dois procedimentos fundamentais, sendo a elaboração dos  esquemas que representam as informações e a usabilidade. Porém, apesar do  processo, a ordenação equivale no agrupamento por semelhança de características  (WYNAR, 1976). Sobre o ideal de classificar a partir das similaridades Barbosa (1969)  ressalta que as características devem seguir as seguintes concepções: (I) utilidade,  (II) consistência, (III) exaustividade e (IV) modularidade. Ao cumprir esses elementos,  restringe-se a probabilidade de classificação cruzada, ou chance da disposição de um  item estar classes diferentes, pois ocorre com clareza a sistematização da  classificação.
O esquema de classificação é descrito por representar graficamente as  categorias, classes, suas divisões e arranjos (BARBOSA, 1969). Para SARDANA, (  2002) os esquemas de classificação precisam considerar três condições, sendo elas,  a organização de ideias ou uma função cognitiva, a organização de documentos ou  função bibliográfica e no apoio na organização dos livros na prateleira, ou função  bibliotecária.
Existem diversos tipos de classificação, para cada ambiente e realidade  informacional, é possível a utilização de uma mais adequada. No teor do trabalho,  discorre-se sobre a classificação facetada, que será abordada de forma ampla no  capítulo de apresentação do modelo conceitual e terminológico proposto.
A classificação por facetas foi desenvolvida por Shiyali Ramamrita  Ranganathan na década de 1930. A expressão “análise em facetas” foi adotada para  referenciar a técnica de fragmentar um assunto complexo3. As facetas são utilizadas  para estabelecerem relações, classificadas por “categorias fundamentais”, com  sentido abstrato e denominam-se por: Personalidade, Matéria, Energia, Espaço,  Tempo, conhecidas pela sigla PMEST. A categoria Personalidade se distingue da característica do assunto; Matéria, enquadra-se como o material físico relacionado à  composição de um assunto; Energia é uma força ou ação que ocorre a um tipo de  assunto; Espaço é o aspecto geográfico em que a informação é posicionada e o  Tempo, é o período de associação de um assunto (PRESSCOTT, 2003).
Na elaboração de um sistema de classificação facetada destinado para um  campo específico do conhecimento, há uma etapa fundamental, que é a seleção das facetas relevantes e como elas se ajustam aos objetivos do sistema de informação  (ARAÚJO, 2006). Após selecionar os termos, as facetas precisam surgir, através de  um conceito, definido por “todo processo que torne possível a descrição, a  classificação e a precisão de objetos cognoscíveis” (INÁCIO FILHO, 1995, p. 65).
Os conceitos precisam ser organizados de acordo com as relações que se  estabelecem uns com os outros, firmando uma ordenação de classificação, pois “com  o auxílio destes tipos de relacionamento é possível estabelecer comparações entre os  conceitos de modo a organizá-los não só nos sistemas de classificação mas também  nos tesauros” (DAHLBERG, 1978, p. 104). A coletânea de conceitos não objetiva  apenas a atribuição conceitual, mas visa justificar uma ordenação de classificação.  De acordo com Dahlberg (1978, p. 104-105), a relação é ofertada por alguns  conceitos:
<blockquote>[...] a) Relações lógicas (baseadas na posse de características comuns): Identidade (as características são as mesmas); implicação  (o conceito A está contido no conceito B); intersecção (os dois conceitos coincidem em algum elemento); disjunção (nenhuma  característica em comum); negação (o conceito A possui  características cuja negação está no conceito). b) Relações  semânticas: relações hierárquicas (a relação de gênero e espécie,  quando “dois conceitos diferentes possuem características idênticas e  um deles possui uma característica a mais que o outro”); relações partitivas (que existem entre um todo e suas partes, ou um produto e os elementos que o constituem); relações de oposição (de contradição  ou contrariedade); relações funcionais (conceitos que expressam  processo).</blockquote>
Para Cavalcanti (1978, p. 43) há uma outra distinção que apresenta as relações  de equivalência (sinônimos e quase-sinônimos), hierárquicas (que podem ser  genéricas ou partitivas) e associativas (ou de afinidade), que podem ser de conceitos  opostos, genéticas (quando um objeto precede o outro), de coordenação (quando são derivados de um mesmo termo genérico), de causa e efeito, de relação instrumental, de relação material (quando uma coisa dá origem a outra) e de similaridade. Barbosa (1972, p. 75) traz de forma objetiva que “[...] a quantidade de facetas  derivadas varia de assunto para assunto, e dependerá das necessidades do grupo  que vai usá-la, isto é, o grupo para o qual o sistema estiver sendo elaborado”. Para  construir um sistema facetado, Araújo (2006, p. 133) categoriza algumas etapas  imprescindíveis, sendo elas:
<blockquote>[...] (I) De formação de conceitos: escolha do conceito, coleta dos enunciados verdadeiros sobre ele, seleção dos enunciados  redundantes ou que estão contidos nos outros, determinação dos enunciados essenciais e acidentais e determinação dos tipos de  enunciados. (II) Relações entre os conceitos: determinação dos tipos  de conceitos, determinação das relações, entre eles: análise de  intenção e extensão dos conceitos; observação dos princípios lógicos de classificação (completude, irredutibilidade e exclusividade mútua).  (III) Organização do esquema facetado: definição do assunto e das fronteiras; levantamento de facetas; levantamento das sub facetas; decisão da ordem de citação das facetas e sub facetas; agrupamento  das sub facetas.</blockquote>A aplicação da teoria da classificação facetada em ambientes digitais de  acordo com Pontes e Lima (2012), podem ser ferramentas de auxílio no controle de  vocabulário, descrição temática de um contexto documental e na recuperação  informacional.
Porém, na realidade, de acordo com a constatação de Koch (1998), os  esquemas de classificação, de modo geral, consideram-se como pouco efetivos e  impróprios para a organização de recursos digitais. Acerca dos esquemas de  classificação construídos, em sua maioria, apresentam uma estrutura hierárquica,  dando foco para a divisão de classes mais específicas. Nesse modelo de estrutura,  não há um suporte adequado para os relacionamentos sintáticos, sendo apresentados  apenas os hierárquicos (BROUGHTON, 2002). Ingwersen e Wormell (1992),  realizaram uma análise através do uso de estruturas facetadas com o objetivo de  recuperar a informação pretendida em banco de dados, e a partir dessa pesquisa,  afirmaram: <blockquote>[...] a discussão demonstra a utilidade da categorização facetada, não apenas para documentos textuais, mas também para outras formas de  conteúdos. A categorização facetada para outras formas de  conteúdos. A categorização facetada, pode fornecer pontos de acesso  multidimensionais e estruturados para o conteúdo dos documentos, e desta forma possibilitar o acesso intelectual ao conhecimento gerado  e armazenado (INGWERSEN; WORMELL, 1992, p. 199, tradução nossa). </blockquote>Para Kwasnick (1999, p. 39), “a noção de facetas se assenta na crença de que  existe mais de uma maneira de ver o mundo, e que mesmo as classificações que são tidas como estáveis, são de fato provisórias e dinâmicas. O desafio é construir classificações que sejam flexíveis e que possam acomodar novos fenômenos”.  Denton (2003) afirma que posterior à construção do sistema de classificação, o maior desafio é tornar um mecanismo de uso facilitado e com uma dinâmica intuitiva. Os esquemas construídos, em sua maioria, apresentam uma estrutura  hierárquica, dando foco para a divisão de classes mais específicas. Nesse modelo de  estrutura, não há um suporte adequado para os relacionamentos sintáticos, sendo  apresentados apenas os hierárquicos (BROUGHTON, 2002).
A linearidade na organização dos materiais ou representações informacionais  no contexto digital, não possui grande importância, porém, a apresentação na tela é  fundamental (BROUGHTON, 2006). Para La Barre (2006), sobre a análise e  classificação facetada, há uma crescente importância entre profissionais, como  arquitetos da informação e especialistas em gerenciamento informacional que visam,  para além do aperfeiçoamento profissional, elaborar melhores ferramentas de gestão  e acesso ao conhecimento organizativo.
De acordo com Vital e Café (2011, p. 22) “taxonomia vem do grego taxis=ordem e onoma=nombre e derivou-se de um dos ramos da Biologia que trata da classificação  lógica e científica dos seres vivos, fruto do trabalho de Karl Von Linneé”, utilizada hoje  em dia em vários parâmetros de classificações, sobretudo no campo da ciência da  informação.
Uma estrutura taxonômica é estruturada em formato de árvore hierárquica com  o objetivo principal de representar um tipo de conhecimento. Elaborada de forma  sistemática, possui regras de agrupamento em classes e na formação da estrutura,  possibilitando a compreensão humana e artificial, através das máquinas. A formação  dessa árvore se constitui através de superclasses, classes e subclasses. Por essa  razão, a relação de hierarquia estabelece o propósito de gerar relacionamentos de  semelhança ou de pertinência. Em uma classe, concentram-se os conceitos em  comum, nas subclasses juntam-se os conceitos de características extras, enquanto  nas superclasses, ficam os conceitos de características mais generalistas.  (SCHIESSL; SHINTAKU, 2012).
As taxonomias bem estruturadas, de acordo com Terra et al. (2005 apud VITAL;  CAFÉ, 2011) tem como objetivos:  <blockquote>Estabelecer categorias gerais; coletar e representar conceitos por meio de termos; agilizar a comunicação entre especialistas e outros públicos; encontrar o consenso; controlar a diversidade de  significação; construir relacionamento semântico entre termos, por  meio de relações hierárquicas e por fim, oferecer mapa da área que pode ser utilizado como guia dos processos de conhecimento (TERRA, et al. 2005 apud VITAL; CAFÉ, 2011). </blockquote>A classificação em conjunção da taxonomia ordena um sentido lógico e legítimo  para o âmbito informacional, no sentido de aprimorar e aprofundar as abordagens de  classificação, baseando-se nos conceitos discutidos neste trabalho, visa-se avaliar e  apontar a possibilidade de uso e aplicação da metodologia facetada, como  instrumento de melhoria estrutural, no Dicionário de Favelas Marielle Franco Wikifavelas.


4.3 Tesauros
4.3 Tesauros

Edição das 11h25min de 25 de novembro de 2021

Autor: Thiago Ferreira de Oliveira

Apresentação

O trabalho de conclusão de curso de Thiago Ferreira, intitulado "Dicionário de Favelas Marielle Franco: análise e apresentação de um modelo de sistematização conceitual e terminológica" na linha de pesquisa: Produção e Organização da Informação, foi defendido ao Conselho de Curso de Biblioteconomia como parte das exigências para a obtenção do título de bacharel em Biblioteconomia, pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Faculdade de Filosofia e Ciências - Campus de Marília, em 24 de abril de 2021.

O trabalho foi orientado pelo Prof. Dr. Walter Moreira (Unesp) e teve como banca examinadora a Profª Dra. Rúbia Martins (Unesp); e a Profª Dra. Mona Cleide Quirino da Silva Farias (Unesp).

Segundo o resumo do trabalho, o objetivo deste foi "avaliar a estrutura conceitual da plataforma e mediante a análise propor a possibilidade de um modelo de sistematização conceitual e terminológica, utilizando os parâmetros da linguagem documentária e vocabulário controlado como métodos de padronização. Como objetivos específicos: trazer à tona os significados sobre favelas, desde a sua origem nominal quanto aos aspectos atuais; apresentar as dinâmicas teóricas sobre a organização e representação do conhecimento; buscar dados bibliográficos sobre os sistemas de organização do conhecimento e por conseguinte, levantar informações sobre a linguagem documentária, vocabulário controlado e tesauros; Mediante a coleta de um conjunto de verbetes, avaliar as possibilidades de melhorias no que tange os aspectos de classificação da informação. A abordagem metodológica deste estudo é qualitativa, do tipo descritiva e explicativa. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, o método da pesquisa terminológica e da análise facetada. Constatou-se que a partir dos desdobramentos apresentados na coleta de dados por meio das fichas terminológicas, há um caminho possível para a implementação de um modelo de sistematização conceitual e terminológica para a Wikifavelas, resultando em uma melhor classificação das informações propiciando uma recuperação informacional efetiva. O Dicionário de Favelas Marielle Franco dispõe de um acervo cultural riquíssimo sobre assuntos relacionados às favelas, sendo assim, mediante a grande quantidade informacional, os usos dos mecanismos apresentados neste trabalho tornam-se essenciais."

(Fonte: Oliveira, Thiago Ferreira de. "Dicionário de Favelas Marielle Franco: análise e apresentação de um modelo de sistematização conceitual e terminológica". Resumo. Trabalho de Conclusão de Curso. Marília: Universidade Estadual Paulista, 2021).


1 INTRODUÇÃO

No campo da ciência da informação em conjunto com a biblioteconomia, aspectos relacionados à informação e às diversas áreas do conhecimento são abordados justamente para contribuir e gerar um senso de funcionalidade e coerência para os mais variados veículos e mecanismos informacionais.

Este estudo tratará da Wikifavelas, o Dicionário de Favelas Marielle Franco (https://wikifavelas.com.br), que é uma plataforma digital de acesso livre e colaborativo com o foco em veiculação, preservação, produção, armazenamento de informações e produção de conhecimentos sobre os territórios de favelas e periferias. É uma ferramenta informacional tecnológica, fomentadora política e que oferece voz e vez aos marginalizados em suas produções do campo informacional e do conhecimento.

Todas as informações do Dicionário, estão relacionadas e classificadas através de seus eixos temáticos, representados através de uma nomenclatura estruturada, com verbetes que atribuem significados sobre as diversas realidades e condições sociais, culturais e sociológicas dos territórios de favelas. O dicionário enfatiza a importância de resguardar as memórias de um povo e constitucionalizar através da existência desse repositório, que as gerações presentes e futuras possam ter garantia de acesso sobre os teores produzidos na plataforma.

A construção desse acervo virtual ocorre através de colaborações de diversos participantes cadastrados, por meio de parcerias articuladas oriundas de universidades, população civil e de coletivos que permeiam os territórios favelados, informações essas que serão apresentadas posteriormente em um capítulo específico sobre a Wikifavelas.

O nome atribuído envolve a luta de diversas lideranças comunitárias, representada com nome da ex-vereadora Marielle Franco, socióloga, política brasileira, ativista defensora das minorias e dos direitos humanos, que teve o seu direito de ir e vir interrompido de forma brutal, pois foi executada em março do ano de 2018, junto de seu motorista Anderson Gomes.

A Wikifavelas está em uma realidade tecnológica e de categoria colaborativa, sendo assim, Noronha e Moreira (2020, p. 17) qualificam que “[...] os sistemas colaborativos ainda é um assunto de relevância para ser estudado, tanto pela ciência da informação, quanto pela ciência da computação [...] no movimento de produção de documentos transforma-se o cenário de indexação e recuperação”. Confirmando que o campo de atuação da ciência da computação pode contribuir na organização e difusão desses espaços.

A partir do objeto pesquisado surge um questionamento: quais aparatos teóricos, estruturais e metodológicos existentes na ciência da informação podem contribuir de forma efetiva na elaboração de um modelo de sistematização conceitual como um caminho de melhoria no Dicionário de Favelas Marielle Franco?

Parte-se da hipótese de que a melhor forma de estruturar as informações elencadas em uma base de dados, tem por critério seguir aspectos conceituais e de estruturação relacionados à organização e à representação do conhecimento. É através do controle de vocabulário, bem como da elaboração de linguagens documentárias e de modelos especializados de classificação, que a informação será recuperada de forma efetiva por seu buscador.

Conforme menciona Davanzo (2016), a aplicabilidade de ferramentas nos ambientes digitais é de extrema relevância, pois devido à alta demanda informacional do contexto tecnológico atual, nos modos como os documentos informacionais são produzidos, organizados, disseminados e recuperados merecem atenção especializada. Nessa conjunção, a autora pontua que “os vocabulários controlados vêm somar ao processo de recuperação da informação, tornando esse processo eficiente devido ao uso de uma linguagem padronizada” (Davanzo, 2016, p. 17).

Para Font, Serra e Serra (2013), os sistemas colaborativos que deixam a critério do usuário as formas de indexação, fazem gerar um problema referente a ambiguidades de termos e sinônimos, inferindo na organização estruturada e na recuperação eficiente da informação. E ainda que esses sistemas colaborativos não apresentem um vocabulário controlado, a NISO dispõe de critérios avaliativos para saber se o ambiente navegado está sendo utilizado adequadamente pelos navegantes (SPITERI, 2007).

Justifica-se que há uma demanda de aspecto de atuação especializada, no qual o profissional bibliotecário em parceria com outras áreas relacionadas poderiam exercer um trabalho de mutualidade, a fim de sanar as lacunas e oportunizar a possível melhora do ambiente informacional. A fundamentação da escolha focou-se justamente no riquíssimo conteúdo produzido no contexto digital em questão.

O estudo tem por objetivo geral analisar a possibilidade de elaboração e aplicabilidade de um modelo de sistematização conceitual e terminológica, mediante as propostas teóricas apresentadas, para que através da linguagem documentária e do vocabulário controlado, utilizados como ferramentas de padronização e controle terminológico, possam auxiliar os usuários na localização das informações de forma consistente. Para tanto, como objetivos específicos apresentam-se:

● Analisar o Dicionário de Favelas Marielle Franco – Wikifavelas, os aspectos de sua estrutura e do sistema utilizado, bem como trazer alguns aspectos teóricos referente aos significados dado às favelas;

● Discorrer teoricamente sobre a conceitualização da organização e representação do conhecimento na dinâmica social;

● Abordar de forma conceitual e introdutória os sistemas de organização do conhecimento e posteriormente, apresentar os conceitos de linguagem documentária, vocabulário controlado e tesauros;

● Coletar um conjunto de termos elencados através do modelo de ficha terminológica, analisá-los e posteriormente, demonstrar um possível caminho para classificar os verbetes da Wikifavelas;

Mediante alguns aspectos analisados, denota-se que a participação de um profissional bibliotecário faz-se totalmente necessária. Tanto para situar as interpretações conceituais na organização e representação da informação, bem como para viabilizar processos técnicos e do uso de ferramentas que auxiliem na consolidação de um sistema informacional que garanta o acesso, a disseminação e a recuperação da informação para os sujeitos que irão acessar.

Este projeto insere-se na linha de pesquisa referente à Produção e Organização da Informação, no tema de instrumentos e organização da informação do Departamento de Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências – Unesp de Marília.

O trabalho inicia-se com um capítulo que introduz os leitores ao Dicionário de Favelas Marielle Franco – Wikifavelas,  explorando a sua origem e definição. Ademais, contém uma subseção que refere à estrutura do Dicionário e quais as relações sociais e institucionais que o mesmo estabelece. Há outra subseção, conceitualizando os territórios de favelas e suas dinâmicas históricas e estruturais. Encerra-se, então, com a apresentação da ferramenta que a Wikifavelas utiliza para elencar, armazenar e recuperar as informações atribuídas ao contexto. O segundo capítulo traz de forma introdutória os conceitos sobre a organização e representação do conhecimento, seguido de um subcapítulo sobre a organização social do conhecimento. O capítulo quarto fundamenta os sistemas de organização do conhecimento, em seguida, traz os conceitos sobre linguagem documental e vocabulário controlado, bem como os assuntos relacionados à classificação e taxonomia, encerra-se com uma apresentação sobre tesauros. No capítulo quinto, encontra-se a coleta de dados e os modelos de fichas de pesquisa terminológica.  A análise dos dados coletados a fim de estabelecer os resultados do trabalho encontra-se no sexto capítulo.


1.1 Procedimentos metodológicos


Esta pesquisa tem natureza qualitativa, descritiva e explicativa. A metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho é a pesquisa bibliográfica, o método da pesquisa terminológica e da análise facetada. 

A pesquisa qualitativa possui algumas características, dadas através de um cunho empirista, de subjetividade e de envolvimento emocional do pesquisador (MINAYO, 2001, p.14). Para Silveira e Córdova (2009, p. 31) “a pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc.”.

Na dinâmica conceitual da pesquisa descritiva, o autor do estudo necessitará levantar uma série de informações sobre o objeto a ser investigado. Esse tipo de estudo descreve fatos e fenômenos acerca de uma dada realidade (TRIVIÑOS, 1987).

Severino (2007, p. 123) define o sentido da pesquisa explicativa como aquela que “além de registrar e analisar os fenômenos estudados, busca identificar suas causas, seja através da explicação do método experimental/matemático, seja através da interpretação possibilitada pelos métodos qualitativos”. Gil (2007, p. 43) complementa que a pesquisa explicativa pode ser a continuação de outra de cunho descritiva, posto que a identificação de fatores que determinam um fenômeno exige que no objeto haja suficiência na descrição e detalhamentos.

De acordo com Rampazzo (2005, p. 54) “[...] a pesquisa bibliográfica pode ser realizada independentemente, ou como parte de outros tipos de pesquisa”.  A pesquisa científica, em todos os seus âmbitos, precisa elaborar uma pesquisa bibliográfica para um levantamento do assunto pautado, direcionando as informações na fundamentação teórica e limitações do estudo. Para a definição conceitual de pesquisa bibliográfica, Gil (2007, p. 44) atribui que “[...] os exemplos mais característicos desse tipo de pesquisa são sobre investigações sobre ideologias ou aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema”, mediante esse conceito, Fonseca (2002) acrescenta que:

A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos e páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002, p. 32).

O método da pesquisa terminológica para a elaboração de linguagem documentária apresentada é defendida por Cervantes, Fujita e Nardi (2003) que visa a identificar e confirmar termos de uma determinada realidade para a construção de uma linguagem documentária.  Através da aplicabilidade do protocolo verbal utilizado como ferramenta de mediação na coleta de dados, oferece sentido de compreensão na identificação e confirmação dos termos de uma realidade específica. 

Quanto ao método da análise facetada, para Broughton (2006) este modelo de classificação justifica-se em métodos para uma melhor organização e recuperação informacional. Objetiva-se que mediante a implementação de uma descrição adequada no ambiente digital, seja no processo de rotulagem da informação, nos sistemas de busca ou na própria navegação, resulta em um senso de qualidade na apresentação final dos resultados.  


2 WIKIFAVELAS – DICIONÁRIO DE FAVELAS MARIELLE FRANCO


O Dicionário de Favelas Marielle Franco (https://wikifavelas.com.br) é um projeto financiado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), lançado em março do ano de 2019, um ano após a morte de Marielle, na Biblioteca de Manguinhos – Campus da Fiocruz no Rio de Janeiro.

De modo introdutório, de acordo com as informações disponibilizadas na plataforma, a Wikifavelas visa a estimular e garantir o acesso público sobre as produções de conhecimentos nas favelas de forma irrestrita e colaborativa. A partir dessa dinâmica, produtores orgânicos sobre o conhecimento dos territórios de favelas, tornam-se protagonistas de suas próprias vivências e dão sentido histórico ao registrar os acontecimentos e fenômenos que ocorrem nas realidades faveladas.

Para esclarecer o conceito do Dicionário, de acordo com Gargano e Fornazin (2019, p. 77) é “[...] uma plataforma virtual para a produção coletiva e busca suprir uma lacuna do conhecimento transdisciplinar que é o estudo de favelas, reunindo o conhecimento produzido em vários eixos temáticos”.

A plataforma põe à disposição conhecimentos sobre os territórios de favelas, elaborados através dos verbetes de forma colaborativa e gerido por uma equipe editorial, classificado em uma estrutura pré disposta em alguns temas. 

Os autores ressaltam mediante um estudo de caso que os colaboradores são baseados em dois grupos: lideranças sociais e de acadêmicos; ambos atuam com questões, pesquisas e assuntos relacionados às favelas. O interesse na participação dos colaboradores na plataforma visa, justamente, ampliar a visibilidade sobre a riqueza histórica, cultural e social como uma forma de denunciar as faltas sofridas no cotidiano (GARGANO; FORNAZIN, 2019).

A conjuntura das informações que elabora o conhecimento sobre o tema abordado constitui-se através de verbetes, que são elaborados de modo colaborativo pelos usuários cadastrados na plataforma. Na data de seu lançamento, em Março do ano de 2019, havia um número de 140 verbetes elaborados (GARGANO; FORNAZIN, 2019), desde a última verificação para a atribuição deste trabalho, no mês de Fevereiro de 2021, haviam 2.704 páginas e 697 verbetes no Dicionário de Favelas.

Figura 1 – Marielle Franco em manifestação ao direito à cidade. Fonte: Reprodução Mídia NINJA, 2018.

O nome do dicionário surge como um ato de memória a ex vereadora Marielle Francisco da Silva, conhecida como Marielle Franco, mulher preta, mãe, lésbica, favelada, socióloga e política brasileira, que foi executada brutalmente no dia 14 de março do ano de 2018 com a idade de 38 anos, na cidade do Rio de Janeiro, junto de seu motorista, Anderson Pedro Gomes, aos 39 anos de idade (ROCHA, 2019). À assessora da deputada, Fernanda Chaves, também foi atingida pelos disparos sendo a única sobrevivente do ocorrido.

Marielle em sua dissertação de mestrado “UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro”, defendida no ano de 2016 para a obtenção do título de Mestre em Administração,  traz à tona discussões sobre os moradores de favelas, as raízes que fundamentam a submissão dos indivíduos que ali habitam por motivação da existência de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), as influências e resultados sociais. Pontua, ainda, sobre as características de Estado Penal, referente ao Estado do Rio de Janeiro:  

A política de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro mantém as características de Estado Penal segundo Loic Wacquant. Os elementos centrais dessa constatação estão nas bases da ação militarizada da polícia, na repressão dos moradores, na inexistência da constituição de direitos e nas remoções para territórios periféricos da cidade (o que acontece em vários casos). Ou seja, a continuidade de uma lógica racista de ocupação dos presídios por negros e pobres, adicionada do elemento de descartar uma parte da população ao direito da cidade, continua marcando a segurança pública com o advento das UPPs. Elementos esses que são centrais para a relação entre Estado Penal e a polícia de segurança em curso no Rio de Janeiro. (SILVA, 2014, p. 126)

No desenvolver da dissertação, Marielle apresenta uma alternativa de segurança pública que tem por motivação considerar a vida e a cidadania dos favelados; ainda discorre sobre o debate da desmilitarização da Polícia Militar, propondo a construção de institutos policiais que obtivessem a participação dos civis, sobretudo os moradores de favela, que são excluídos sistematicamente dos debates. Após o seu assasinato, mediante revolta e indignação, milhares de pessoas exigiram nas ruas de vários lugares do mundo justiça pelo ocorrido (ROCHA, 2019).  Através de um texto-poesia com autoria de Carmo (2018, p. 216) de publicação da Revista Docência e Cibercultura, intitulado “Sou Franco, Marielle Franco”:

Sou Franco, Marielle Franco. Negra, tatuagem na pele e na alma; marcas de açoites e de traumas; da Maré que não tá pra peixe nem pra sereia; ao léo, mas não alheia; que vê abuso de PM e denuncia; garotos na vala casa vazia; boca no trombone, cartaz papel pardo sem celofane; intervenção no Rio; arregalo, arrepio; me espanto, sou Franco, mas não fico no canto; com lisura, vejo esboço de ditadura; assumo relatoria da comissão; que acompanha a marcha de então; militar não ama, reclama sem brevidade, vê nova comissão da verdade; quer atrocidade sem visibilidade; intervenção enxerga além, mas não enxerga a bala que vem; não enxerga bala que veio, que me acertou em cheio; sofro execução. (CARMO, 2018, p. 126)

Desse modo, o Dicionário efetiva-se como uma ferramenta de comunicação, informação e educação. Sua existência possui extrema importância, pois, através do processo cognitivo humano em contato com os verbetes elaborados e permeados de conceitos, elabora-se a apropriação do conhecimento, das lutas e da difusão da memória das favelas.


2.1 Wikifavelas – estrutura

A pesquisa concentra-se no objeto de pesquisa, a plataforma do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a Wikifavelas1. Inicialmente, a página central do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a Wikifavelas,  estabelece alguns links que direcionam o usuário para a experiência de acesso; constam informações sobre: “Dicionário”, “Projeto”, “Verbetes” e “Instituições”. Abaixo, a representação da página inicial da plataforma Wikifavelas, o Dicionário de Favelas Marielle Franco:


No link de acesso “Dicionário”, o usuário é direcionado para uma área destinada aos conteúdos da plataforma, dispondo de um modelo de barra de busca para a pesquisa e recuperação dos termos atribuídos. 

No campo “Projeto”, o website apresenta às agências de fomento que apoiam e financiam o projeto, destacando o Conselho Nacional  de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); há um campo de redirecionamento intitulado “como participar do projeto”, nisso os desenvolvedores explanam quatro formas principais para contribuir com a plataforma, sendo elas: 1) criando um verbete, 2) editando um verbete, 3) discutindo um verbete e 4) divulgando a plataforma.

Na área de redirecionamento atribuída como “Verbetes”, introduzem características sobre os próprios, como: a composição do Dicionário através de textos autorais (uma média de 4000 palavras), possibilitando a inclusão de produções audiovisuais, fotografias e poesias na formatação de verbetes. Para elaborar, anteriormente faz-se necessário inscrever-se na base e tornar-se usuário.

A organização e os conceitos do Dicionário de Favelas Marielle Franco (Wikifavelas) apresenta-se por eixos de análise, sendo: Sociabilidade e Cultura; Estado e Mercado; Associativismo e Memória e Coronavírus nas Favelas. De modo geral, cada eixo de análise possui uma conjunção de categorias temáticas, resultando o corpo total dos verbetes, como demonstrado em seguida:

Para além dos eixos de análises existentes, eles possuem subcategorias temáticas agrupadas e servem para o processo de indexação dos conteúdos de interesse do usuário, possibilitando a demonstração de abrangência dos processos de análises. Neste enredo, há um campo que direciona para as “palavras-chave” da plataforma e mediante o processo de inclusão de um verbete, o autor poderá definir expressões consideradas como importantes para recuperar e facilitar a conexão do documento com outros assuntos compatíveis.

Ademais, o campo voltado para as Instituições refere-se ao Conselho Editorial da plataforma. Composto por diversas representações institucionais e sociais, cuidam da editoração e diálogo ativo para possibilitar novas parcerias. Como composição, apresentam algumas organizações, sendo elas: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Coletivo de Estudos sobre Violência e Sociabilidade (CEVIS), Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR), Centro de Estudos e Ações Culturais e de Cidadania (CEACC), Grupo Eco Santa Marta, Instituto Raízes em Movimento, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ); outras instituições, bem como grupos de pesquisadores participam e contribuem com o Dicionário de modo direto e indireto.

A plataforma em questão, o Dicionário de Favelas, possui características de uma estrutura tecnológica informacional elaborada, que resguarda informações e conhecimentos essenciais para as memórias de diversas populações e realidades periféricas. Visando a preservação e uma maior facilidade na recuperação informacional, faz-se necessário refletir um modelo de linguagem documentária e vocabulário controlado apropriados e compatíveis com a realidade imersa no contexto discutido.


2.2 Favelas


O termo “favela” é citado de forma corriqueira neste trabalho, sendo assim, torna-se parte essencial fundamentar e explicar alguns aspectos históricos, sociológicos, urbanísticos e políticos do conceito. As definições conceituais sobre o signo “favela” são diversas no quesito de bibliografias, logo, delimitar um único conceito seria limitar as suas mais variadas representações. 

A palavra em si possui muitas derivações relacionadas aos seus significados, em uma das definições, a origem aponta para um viés histórico, biológico e geográfico, como é apresentado por Queiroz Filho (2011, p. 36), que sustenta: “favela é o nome popular atribuído a diferentes plantas brasileiras. A espécie da família Euphorbiaceae passou a caracterizar os agrupamentos de domicílios urbanos precários graças a um contexto geográfico e histórico muito peculiar”. E complementa, Queiroz Filho (op. cit) que “[...] o conjunto de circunstâncias pode ser sintetizado pelo encadeamento de quatro principais elementos: planta, topografia, combate e narrativa”.

Neste momento, torna-se oportuna a introdução de um aspecto histórico, no Arraial de Belo Monte, no município de Monte Belo, no interior do estado da Bahia, foi onde ocorreu a Guerra de Canudos, confronto histórico entre o movimento popular liderado por Antônio Conselheiro e o Exército Brasileiro nos anos de 1896 e 1897 (QUEIROZ FILHO, 2011, p. 38). Para Cruz (1941, p. 14) a Guerra de Canudos está atrelada ao surgimento popular do termo favela,  tendo a sua toponímia diretamente relacionada ao assunto em questão. O autor ainda complementa, que:

“[...] as “cabrochas” eram naturais de uma serra chamada Favela, no município de Monte Santo, naquele Estado. Falavam muito, sempre da sua Baía, do seu morro. E aí ficou a Favela nas terras cariocas. Os barracões foram aparecendo, um a um. Primeiro, na aba da Providência, morro em que já morava uma numerosa população; depois foi subindo, virou para o outro lado, para o Livramento. Nascera a Favela. 1897 (CRUZ, 1941 p. 14)

No bojo dessa discussão, Sagmacs (1960) considera que a palavra chegou ao Rio de Janeiro através da guerra de Canudos. Após o encerramento das batalhas no nordeste do país, os soldados e as vivandeiras que conseguiram sobreviver se instalaram no Morro da Providência (RJ), capital do Brasil naquele tempo. 

Para além disso, alguns autores argumentam que a terminologia favela surgiu em diferentes anos, como sugere Abreu (1994) que, genericamente, a favela presumia-se na definição de assentamentos de condições precárias, isso na segunda década do século XX.

Enquanto que para Vaz (1994b), de forma oficial, o termo favela teve o seu reconhecimento na década de 1940, enquanto que para  Valladares (2005), de acordo com o Código de Obras do Rio de Janeiro, datado no ano de 1937, houve relatos oficiais que confirmavam a existência de favelas. Com isso, pauta-se diversos apontamentos teóricos e históricos que fundamentam a discussão sobre as nuances do signo e de suas complexidades.

Nesse cenário e diante do exposto, Valladares (2000, p. 8) acrescenta que “a gênese do processo de construção social da favela está associada às descrições e imagens legadas por escritores, jornalistas e reformadores sociais do início do século XX”, o que desencadeou no coletivo social um aspecto imaginário do que era favela e de quem ali residia.

De modo a ampliar as características desse ambiente social, Burgos (2009) aborda que no processo de exclusão da classe de operários nos centros do Rio de Janeiro, que surge o termo “favela”, justamente para distinguir e dar significado à uma área comum de habitação para o povo marginalizado.

O autor complementa que há uma polissemia no termo “favela”, pois o termo "favela" reflete sua condição de categoria social central na disputa pelo significado da ideia de cidade. Ou seja, o sentido da palavra “favela” está umbilicalmente ligado à noção de cidade, a qual, por seu turno, varia conforme a posição social de quem a define.” (BURGOS, 2009, p. 52). Nessa mesma linha de pensamento, Pequeno (2008) define favela de forma sintetizada, sendo um:

Assentamento precário, composto por famílias de baixa renda, marcado pela ocupação ilegal do solo, pelo adensamento e intensidade de ocupação do solo, pela carência de infra-estrutura [sic], pela dificuldade no acesso aos serviços e equipamentos sociais ofertados pela cidade e pela insalubridade da moradia, dadas suas dimensões e seu desconforto ambiental. (PEQUENO, 2008, p.1)

Segundo Niemeyer (1979), a partir de uma perspectiva crítica sociológica, explana que a favela possui uma construção política, estética e com processos relacionados aos seus avanços na urbanização, fenômeno esse dado como desfavelamento e progresso:

Favela, constitui-se como um dos agrupamentos de habitação sub-normal e se caracteriza como um conjunto de casas em que a madeira, a lata, o zinco e o papelão aparecem como materiais construtivos irregularmente distribuídos ou em terrenos abandonados, ou em litígio, de propriedade do poder público, geralmente insalubres, desprovidos de recursos de infra-estrutura. Os barracos são construídos pelos próprios interessados (moradores ou locadores) de forma rústica e primitiva, sem levar em consideração os mínimos padrões construtivos. Oferece aspecto paisagístico em dissonância com as estruturas arquitetônicas das grandes cidades, onde comumente aparecem como fenômeno significativo do processo de urbanização subnormal. Desfavelamento é o processo pelo qual se proporciona às famílias residentes em favelas melhores condições de moradia e mudança dos seus padrões “de habitalidade”. (NIEMEYER, 1979, p. 116)

Uma das acepções é designar que o fato de residir nos territórios precarizados, influencia diretamente nas dinâmicas sociais. Niemeyer (1979, p. 122) justifica que a condição de endereço do ser social: “carrega consigo uma conotação exclusiva de moradia em favela. É o único índice que permite a identificação do trabalhador, quando fora da favela, como “favelado”. Situação que acarreta no ato um descrédito de sua pessoa”. 

No contexto de definições e abordagens sobre a denominação de “favelas”, tem-se como estímulo ampliar as discussões, sendo assim, o Observatório de Favelas, instituição de organização da sociedade civil que elabora consultorias, pesquisas, ações de políticas públicas e produções de conhecimentos sobre os fenômenos urbanos e culturais dos territórios de favelas, por meio de compartilhamentos realizados através de veículos digitais, nos traz diversos amparos elucidativos a respeito deste teor. 

No ano de 2009, a organização realizou  um seminário intitulado como “O que é favela, afinal?”. Silva (2009) traz à tona alguns perfis que ocorrem dentro dos territórios de favelas dadas por: perfil sociopolítico, socioeconômico, sócio urbanístico e o sociocultural, com as descrições do material de referência ao mesmo ano, apresentam-se os seguintes pontos:

Perfil sociopolítico: “a favela é um território onde a incompletude de políticas e ações do Estado se fazem historicamente recorrentes, em termos da dotação de serviços de infraestrutura urbana e de equipamentos coletivos (educacionais, culturais, de saúde, de esporte e lazer”. (SILVA, 2009, p. 96) 

Perfil socioeconômico: “a favela é um território onde investimentos do mercado formal são precários, principalmente o imobiliário, o financeiro e o de serviços. Predominam relações informais de geração de renda, com elevadas taxas de subemprego e desemprego”. (SILVA, 2009, p. 96) 

Perfil sócio-urbanístico: “a favela é um território de edificações predominantemente caracterizadas pela autoconstrução, sem obediência aos padrões urbanos normativos do Estado. A favela significa uma morada urbana que resume as condições desiguais da urbanização”. (SILVA, 2009, p. 97)

Perfil sociocultural: “a favela é um território de expressiva presença de negros (pardos e pretos) e descendentes de indígenas, de acordo com região brasileira, configurando identidades plurais no plano da existência material e simbólica”. (SILVA, 2009, p. 97)

De modo a caracterizar conceitual e terminologicamente o signo sobre favela, alguns dicionários foram consultados a fim de contribuir para a pesquisa e descrição correta das informações, oferecendo sentido de definição. 

Sendo assim, o termo “favela” (MICHAELIS, 2021), pelo Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa – Michaelis (online) designa-se: “área de povoamento urbano formada por moradias populares, onde predominam pessoas socialmente desfavorecidas. Essa comunidade é o resultado de um processo histórico de exclusão social e de um modelo de má distribuição de renda”, caracterizando sobretudo as faltas de políticas públicas que os atores sociais enfrentam desassistidos pelo Estado.

A definição disponível no Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa - Caldas Aulete, o termo “favela” (AULETE, 2021) se configura como:  “comunidade de habitações modestas, construídas principalmente nas encostas dos morros das áreas urbanas e geralmente desprovida de infraestrutura de urbanização”.

Os assuntos disponibilizados na Wikifavelas, ampliam a discussão sobre o conceito limitado acerca das favelas e periferias. Há produção de saberes, produções intelectuais, acadêmicas, culturais, representando as pluralidades e trajetórias, tornando acessível todo material produzido na plataforma. Sobre produtores orgânicos de conhecimentos nas favelas, colocando como atores os jovens favelados que adentram nos espaços acadêmicos, D’Andrea (2020) menciona que o feito experimentado pelos mesmos é composto por trajetórias quebradas:

Trajetórias quebradas porque elas se interrompem no meio do caminho e porque hoje existe uma política para impedir os pobres de entrarem nas universidades. Trajetórias quebradas porque são trajetórias das quebradas. Esse aprendizado dialeticamente doloroso e libertador de poder ter acesso à universidade incidiu nas subjetividades periféricas. A partir dessas subjetividades, faz-se necessário formular uma nova ciência.” (D’ANDREA, 2020, p. 34)

A ciência que o autor defende e argumenta, trata-se de uma nova epistemologia, D’Andrea (2020, p. 34) conceitualiza que a “epistemologia periférica se constitui por meio de uma vivência que produz identificação com os sujeitos e sujeitas da pesquisa, oriundos da mesma classe social e com códigos compartilháveis”.  Partindo dessa premissa, a plataforma em questão, a Wikifavelas, se torna um canal e mecanismo essencial para que os pesquisadores periféricos e favelados tenham a possibilidade de contribuírem e gerarem novos diálogos conceituais sobre suas vivências e realidades.

Levando-se em conta o que foi observado, torna-se necessário, portanto, analisar que  trazer um conceito à tona evidencia abordar as particularidades e os graus de complexidades, sobretudo quando se trata de fenômenos sociais, históricos e urbanísticos. Diante desse quadro, não se pode adiar, portanto, que as favelas e regiões brasileiras que são vistas pela sociedade apenas por suas mazelas, pertencem e são resultados do reflexo de um Estado que não investe em políticas públicas para o desenvolvimento posterior desses territórios.

O Dicionário de Favelas Marielle Franco, a Wikifavelas (https://wikifavelas.com.br), por meio de aprovação de seu conselho editorial, visa elencar, organizar e disponibilizar as informações e conhecimentos produzidos sobre essas populações por meio de verbetes e terminologias, dadas como manifestações autorais, com os diferentes tipos: poesias, artigos científicos e históricos, imagens e produções audiovisuais que retratam a realidade favelada.


2.3 Wiki – definição, características e a construção colaborativa do conhecimento


As tecnologias da informação e comunicação (TICs) são ferramentas que elaboram novas formas de dinamizar o laborar do conhecimento. Com essas novas tecnologias ocorrem alterações nas estruturas e sistemas tradicionais relacionados aos processos de aprendizagens, pois, rompe-se a lógica de privação do espaço e tempo, possibilitando que o aprender possa ser exercido em qualquer outro lugar (RAMALHO; TSUNODA, 2007).

Nessa perspectiva, entre as diversas TICs existentes, destacam-se as ferramentas nomeadas como social software ou comumente lembradas como software colaborativo, Primo e Brambilla (2007, p. 12) os define como “[...] tecnologias empregadas para a comunicação entre pessoas e grupos por meio da internet. Utilizados através de websites ou aplicativos, os sociais software visam a comunicação e a organização de informações”, sendo um amparo para a sistematização das informações elaboradas em ambientes digitais.

Os softwares colaborativos contribuem diretamente para o fomento de discussões e negociações das diferenças, ressalta-se que uma das características mais evidentes dessa ferramenta é a possibilidade de publicações por qualquer usuário cadastrado no veículo informacional (PRIMO; BRAMBILLA, 2007). Diante desse contexto, ao redirecionar para a questão das tecnologias da inteligência convém evidenciar que Lévy (1993) pontua brevemente sobre as ferramentas groupwares:

Com os groupwares, o debate se dirige para a construção progressiva de uma rede de argumentação e documentação que está sempre presente aos olhos da comunidade, podendo ser manipulada a qualquer momento. Não é mais “cada um na sua vez” ou “um depois do outro”, mas sim uma espécie de lenta escrita coletiva, dessincronizada, desdramatizada, expandida, como se crescesse por conta própria seguindo uma infinidade de linhas paralelas, e, portanto, sempre disponível, ordenada e objetivada sobre a tela. O groupware talvez tenha inaugurado uma nova geometria da comunicação. (LÉVY, 1993, p. 66)

Dado o exposto, cabe ressaltar sobre o modelo de ferramenta Wiki, que pertence ao contexto da tecnologia da informação e comunicação (TIC) e possui características e os conceitos de uma base tecnológica digital colaborativa. Sobre o surgimento da iniciativa Wiki, Ramalho e Tsunoda (2007) pontuam que o primeiro modelo lançado na web ocorreu no ano de 1995, criado por Ward Cunningham, conhecido por Portland Pattern Repository, que tinha a ideia central de desenvolver um canal virtual onde fossem gerados conteúdos pelos próprios usuários.  Com isso, a construção colaborativa do conhecimento a partir do uso de ferramentas Wiki tem sido cada vez mais comum em tempos tecnológicos. Para Christofoletti (2007, p. 2) muitas áreas do conhecimento se atentaram “[...] para o novo fenômeno na internet, responsável pela exponencial expansão de conteúdo na rede, pelo crescimento da participação do público e pela consequente alteração do fluxo informativo”. Como citado por Primo e Recuero (2003, p. 13) “o Wiki (que significa “rápido” no Havaí) é um social software criado para o trabalho em equipe, tendo se tornado um dos programas mais estudados nos últimos anos”.

Em consenso com o raciocínio anterior, torna-se importante citar que a tecnologia Wiki possui um senso democrático dentro de suas comunidades, seja através das escritas ou interações, bem como na flexibilidade dos direitos de propriedade por serem abertos e passíveis de alterações (BOBBIO, 1989).

Sobre  as  estruturas  específicas  da  realidade  Wiki,  no  aspecto  de  recuperação informacional,  mediante  a  alta  demanda  e  dados  elaborados  na  Internet, desenvolvidos  os search  engines foram, conhecidos como  sistemas  de  busca.  Mecanismos esses  que  são  fundamentados  em  sites  ou  programas  especializados  para  a localização  das informações.  Sobre  os  métodos  de  busca,  o  mesmo  visa  ter  uma  alta capacidade  de  entregar  informações  para  o  usuário  final  com  uma  precisão consideravelmente  efetiva  (ALMEIDA,  1998).

No  que  tange  os  aspectos  referente  à  organização  da  informação  e  do conhecimento  em  ambientes  wiki, o  gerenciamento  adequado  faz  parte de um  dos processos  colaborativos. Nessa  perspectiva, Preece (2002) argumenta que a presença de moderadores e líderes no processo colaborativo é extremamente importante.  As  ferramentas  de comunicação objetivam a troca de ideias, enquanto as de coordenação viabilizam a organização dos conteúdos e as de cooperação possibilitam execuções em conjunto no espaço em questão, que é compartilhado (Fuks et.  al.,  2003).

Para  tanto,  Robert  e  Noel  (2 004) observaram  através  de  uma  análise,  que  o exercício  de  um  líder  consiste  em  uma  gama  de  responsabilidades  sobre  os documentos  gerados,  como  também,  por  uma  elaboração  de  plano  de  atividades,  na resolução  de  conflitos  entre  os  participantes,  na  seleção dos  indivíduos  e  de  certo modo,  por  toda  a  carga  de  coordenação  dos  trabalhos  desenvolvidos.  E  para  além disso,  com  relação aos  documentos,  o  líder deve  fomentar  discussões  e  trabalhar  na promoção  do  diálogo. Sobre  a  credibilidade e  a  fidedignidade  do  sistema wiki, Primo (2006) aponta  através  de  um  marco  temporal:


A partir de recursos da Web 2.0, potencializa-se a livre circulação e a  organização distribuída de informações compartilhadas através de  associações mentais. Nestes casos importa menos a formação  especializada de membros individuais. A credibilidade e relevância  dos materiais publicados é reconhecida a partir da constante dinâmica  de construção e atualização coletiva (PRIMO, 2006, p.4).

Tratando-se das plataformas digitais que utilizam a metodologia e  sistematização wiki, Lévy (2007) evidencia que a inteligência formulada através do  coletivo é dada como uma riqueza de grande valor para a humanidade e tem como  resultado, uma ação direta no desenvolvimento humano.   Para Maturana e Varela (1995, p. 68) “todo fazer é conhecer e todo conhecer é fazer”, os autores ainda reforçam que “tudo o que é dito, é dito por alguém”  (MATURANA; VARELA. op. cit., p. 69), gerando uma reflexão de que todo o  conhecimento informacional gestado possui um teor de relevância na sociedade,  fundamentando a construção social e colaborativa do conhecimento. Para Brown e  Duguid (2001) o conhecimento está vinculado àquele que conhece e os autores  reforçam, conforme citação abaixo, a necessidade de questionar quem são aqueles  que sabem?

A informação é algo que as pessoas coletam, possuem, passam para  outros, colocam em bancos de dados, perdem, acham, anotam,  acumulam, contam, comparam e assim por diante. Em contrapartida,  o conhecimento não aceita tão amavelmente essas ideias de  recebimento, transporte e quantificação. Ele é difícil de ser coletado e transferido. Por exemplo, você poderá esperar que alguém lhe envie  ou indique onde encontrar as informações que ele possua, mas não  os conhecimentos (BROWN; DUGUID, 2001, p.105).

Sob essa ótica, o processo colaborativo resulta em um acervo intelectual no  suporte Wiki, esse material é refletido através de um assunto de interesse comum ao  coletivo e após a inclusão da informação, é organizada e disponibilizada (VIEIRA,  2008).  

Dentro desse raciocínio, faz-se interessante esclarecer, conforme apontado por  Chiu, Huang e Chang (1999), que quanto maior o índice de troca referente às  informações, melhor será o resultado final sobre o conhecimento gerado pelos  participantes. Em contrapartida, ainda que necessário, o processo de interação não  faz valer como critério suficiente para a produção de conhecimentos mais “apurados”.

Sobre o senso comunitário, de diálogo e discussões que o Wiki propõe, Primo  e Recuero (2003, p.3) apontam que “[...] podem vir a fomentar um sentimento  comunitário compartilhado. Quer-se apontar que a possibilidade de livre participação  na redação cooperada de hipertextos se insere no encaminhamento de uma  construção social do conhecimento”.  

Jorente (2011) justifica que no aspecto social juvenil, de suas vivências,  representações e experiências, a linguagem tecnológica é um fator que contempla o  âmbito das mudanças culturais, mediante a interação com os mecanismos e recursos  tecnológicos há o resultado de novas linguagens e representações nesses espaços.  A autora reforça ainda, que a aquisição informacional disponibilizada no meio digital influenciou nas inovações de representações do conhecimento, propondo novas  formas de construir o mesmo de forma inovadora.


3 ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO

A organização do conhecimento (OC) possui diversas bibliografias científicas  que comprovam a sua necessidade no campo informacional e nas áreas  interdisciplinares do saber. Para os autores Lima e Alvares (2012) e Wilson (2006), o  conhecimento se relaciona com a experiência de cada indivíduo a partir de processos  cognitivos de compreensão, interpretação e aprendizados que ocorrem na  mentalidade humana. Desse modo, a fim de abordar introdutoriamente o conceito de  conhecimento, o mesmo é assimilado de acordo com a percepção de cada indivíduo.  

Por outro lado, Brascher e Carlan (2010, p. 150), argumentam que “[...] a  organização do conhecimento é um processo de modelagem que visa construir  representações do conhecimento”. Em complemento a conceitualização, Wilson  (2006) define conhecimento  

[...] como aquilo que sabemos. Envolve processos mentais de compreensão, entendimento e aprendizado que passam na mente e  apenas na mente, independentemente de interação com o mundo  exterior à mente e a interação com outros. (WILSON, 2006, p. 38)

O conhecimento não se restringe apenas à dinâmica individual e cognitiva, mas  sim social, pois relaciona-se com as diversas culturas, princípios e valores. Com isso,  acrescenta-se uma característica de subjetividade nos conhecimentos de cada  indivíduo, fenômeno esse que ocorre na interação do ser social com o mundo à sua  volta, gerando uma reação de mudança no campo em que está presente e na sua  transformação social interna (LIMA; ALVARES, 2012; CURRÁS, 2010).

Dahlberg (2006, p.12, tradução livre) define a OC como: “[...] a ciência que  estrutura e organiza sistematicamente unidades do conhecimento (conceitos)  segundo seus elementos de conhecimento (características) inerentes e a aplicação  desses conceitos e classes de conceitos ordenados a objetos/assuntos.

Brascher e Carlan (2010, p. 150), entendem a OC como: “um processo de  modelagem que visa construir representações do conhecimento”. Lima e Alvares  (2012, p. 27-8) descrevem as atuações da OC: “[...] como se representa o  conhecimento; se as áreas do conhecimento são representadas da mesma maneira;  o que pode ser representado; e se tudo pode ser representado”.

No mesmo enredo, Anderson (2003) traz uma percepção da OC como uma  metodologia que edifica o processo de indexação, resumos, catalogações, classificações, gerenciamento de dados, bibliografias e bases de dados, centralizando  o objetivo de recuperar informações; complementa ainda que, relaciona-se com a  descrição de documentos, na produção de materiais, de suas propriedades e  finalidades.  

Vinculado ao pensamento anterior, sobre as possibilidades de organização do  conhecimento, Barité (2001) apresenta alguns princípios primordiais que justificam  uma contribuição para esse contexto, o autor defende que a raiz do conhecimento é  um produto de necessidade social e que todo o conhecimento para ser melhor  aproveitado necessita de uma organização conceitual e com ordenação sistêmica.  

Para Lima e Alvares (2012, p. 33), “representar o conhecimento é uma tentativa  de se apropriar dos elementos informacionais existentes nas estruturas e processos  mentais que compõem o conhecimento individual, para que o saber possa ser  socializado”. A organização do conhecimento existe para alcançar um objetivo em  comum de determinado grupo, sendo necessário desenvolver a representação para  posterior organização de acordo com as metas e valores dos usuários aos quais o  sistema se destina (HJØRLAND, 2008). Para Lima e Alvares (2012, p. 33), representar  o conhecimento:

[...] É um esforço, nas diversas ciências, de materializar o que ocorre na mente humana e na dinâmica do conhecimento, cuja estrutura e funcionamento ainda significam enorme desafio para a comunidade  científica. Para isso, são usados diversos modelos de representação,  que podem ser descritivos, matemáticos, visuais, informatizados,  dentre outros, conforme as necessidades e especificidades de cada  área para se aproximar dos processos cognitivos que envolvem a aprendizagem, o raciocínio, as relações que ocorrem entre os  conhecimentos disponíveis na memória para gerar novos  conhecimentos.

No contexto da Wikifavelas o aspecto de representação do conhecimento  torna-se fator essencial, pois trata de conhecimentos relacionados à dinâmica  social, cultural e histórica da população favelada. Para Moscovici (1978, p. 28) a  representação social é caracterizada como “um corpus organizado de conhecimentos  e uma das atividades psíquicas graças às quais os homens tornam inteligível a  realidade física e social, inserem-se num grupo ou numa ligação cotidiana de trocas,  e liberam os poderes de sua imaginação”. Conforme argumentado por Lima e Alvares (2012, p. 27) a organização social  do conhecimento se dá mediante “a organização dos seres, na divisão social do trabalho, na sociologia do conhecimento, na sociologia das profissões, das inovações  e de tudo mais que nos cerca”, nesta mesma visão, os autores ainda complementam:

[...] É também um fenômeno social, pois a manifestação da organização do pensamento pelo agrupamento, pela separação, pela  hierarquização e pela centralização, princípios fundamentais da organização, é realizada intuitivamente o tempo todo. (LIMA;  ALVARES, 2012, p. 27)

As representações configuram uma essência relacional, de formato linear e  com projeções sócio-históricas, na perspectiva de expressar significações, conceitos  normativos, concepções e simbologias do contexto social intrínseco à sua construção  (MARTINS; CÔRTES, 2019). Desse modo, as informações registradas no Dicionário  de Favelas Marielle Franco, a Wikifavelas, possui características vitalícias de  instrumentos fundamentais e elementais para a construção do conhecimento,  sobretudo social e histórico. Em contrapartida, Alvarenga (2003) pontua que:  

[...] Dos enunciados sobre os seres gera-se o chamado conceito,  unidade de conhecimento referente ao ser percebido, componente essencial do conhecimento a ser representado. O processo de  produção dos registros de conhecimento compreende a etapa de representação da coisa ou ser, gerando-se em decorrência um produto final, um conhecimento sobre a coisa. (ALVARENGA, 2003, p. 22)

Ao passo que, as contribuições de ordem colaborativa que geram os  conhecimentos sobre as favelas, de seus territórios e trajetórias, são colaborações  sociais e de indivíduos que possuem capital cultural para acrescentar às informações mediante a proposta da plataforma.   Quanto ao elemento da informação que elabora o conhecimento, Le Coadic  (2004, p. 4) pontua que é dado como um “conhecimento inscrito (registrado) em forma  escrita (impressa ou digital), oral ou audiovisual em um suporte. É um significado  transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte  espacial-temporal”. Sob a ótica do gerar conhecimento através de informações  culturais e sociais, Wilson (2002), afirma que:

A informação obtida por um indivíduo, para se transformar em  conhecimento, dialoga com a sua cultura, seus valores e princípios,  seu modo de ser e sua maneira de ver e compreender o mundo. O  conhecimento, nesse caso, é subjetivo (inerente ao sujeito), mas ao mesmo tempo social, pois o ser humano interage com o mundo que o  circunda, modificando-o e sendo por ele modificado”. (WILSON, 2002,  p. 38)

No campo da representação da informação e dos seres sociais menos  favorecidos na sociedade, Martins e Côrtes (2019, p. 164) defendem que “o  profissional da informação, ao interpretar a realidade, por meio de instrumentos  documentários, como classificações e/ou indexações, pode contribuir para visibilizar  sujeitos em situação de marginalidade social”.

4 SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO


Os Sistemas de Organização do Conhecimento (SOC), são sistemas de  classificação que têm por finalidade representar o conhecimento. Segundo Capurro  (2003) todo conhecimento é desenvolvido, documentado e socializado em um tipo de  domínio. E mediante a elaboração do conhecimento, criar um parâmetro de  sistematização para representar e elencar a informação formulada, é um dos critérios  básicos para sanar a necessidade informacional de um contexto específico. Os SOC  existem justamente para isso, Carlan (2010) define por:

Sistemas conceituais semanticamente estruturados que contemplam  termos, definições, relacionamentos e propriedades dos conceitos. Na  organização e recuperação da informação, os SOC cumprem o  objetivo de padronização terminológica para facilitar e orientar a  indexação e os usuários. Quanto à estrutura variam de um esquema simples até o multidimensional, enquanto que suas funções incluem a  eliminação da ambiguidade, controle de sinônimos ou equivalentes e  estabelecimento de relacionamentos semânticos entre conceitos.  (CARLAN, 2010, p. 16)  

Os SOC são instrumentos semânticos que consistem em concepções e  relacionamentos semânticos definidos e selecionados (BROUGHTON et al.; 2005), ou  seja, os Sistemas de Organização do Conhecimento são utilizados para o  mapeamento de objetos informacionais, isto é, representar os assuntos elencados  através dos documentos em um sistema de informação. Dessa forma, são utilizados  em diversos contextos, bem como: na classificação no processo de indexação, pelo  indexador, classificador, quanto pelo usuário final que terá acesso à informação  (DAHLBERG, 2006).

Os sistemas que garantem a organização do conhecimento possuem algumas  características, constituindo-se em diversos esquemas cujo objetivo é: organizar,  gerenciar e recuperar a informação apresentada. Os autores ainda complementam  que esses sistemas abarcam classificação, tesauro, ontologia, glossários e  dicionários, que tenham relação com a organização que gerencia as informações com  o intuito de organizar, recuperar e disseminar as informações. (TRISTÃO; FACHIN;  ALARCON, 2004).  

A aplicação dos SOC torna-se imprescindível, sobretudo em tempos de grande  consumo de informação tecnológica, esses sistemas oferecem diversos tipos de organização para os suportes informacionais existentes. No contexto dos documentos  eletrônicos, para alcançar uma organização plausível, a aplicação da linguagem  documentária, da terminologia e do vocabulário controlado é necessária, ainda que  restrinja as variedades de conceitos transmitidos através da linguagem natural, optar  por uma linguagem mais precisa, garantirá a visualização do corpo de informações  por completo, levando à uma organização sistêmica (SCHIESSL ; SHINTAKU, 2012).

Os SOC acompanham a cronologia evolutiva dos sistemas de informação e  conforme pontua Vickery (2008) são classificados como: era da pré – coordenação:  que se fundamenta nos parâmetros de uma estrutura estática e de manejos manuais  para recuperar as informações, como catálogos e índices; era da pós – coordenação:

de característica mais dinâmica, gerando a possibilidade de manuseio independente  para uma posterior representação da informação, como tesauros e vocabulários  controlados; era da internet: existência de classificações hierárquicas, dando  orientação para o usuário na encontrabilidade das informações em uma pesquisa,  através da taxonomia; e a era da web semântica: elaborados por agentes  especializados, fundamentando as ontologias. A classificação tem como cronologia a  ordem evolutiva da linguagem natural à linguagem controlada (HODGE, 2000).

A iniciativa do Dicionário de Favelas Marielle Franco - Wikifavelas, visa,  justamente elencar e disponibilizar informações com assuntos relacionados às favelas  através da web, tornando as produções de conhecimentos e saberes culturais em  documentos que necessitam de um tratamento especializado e com uma proposta de  sistematização conceitual para assegurar as informações do ambiente.


4.1 Linguagem documentária e vocabulário controlado

Para caracterizar a linguagem documentária e o vocabulário controlado, faz-se  necessário abordar alguns conceitos introdutórios e de como as áreas e as  ferramentas do conhecimento se articulam entre si, promovendo um resultado para a  organização da informação e do conhecimento.

A língua e a linguagem possuem qualidades equivalentes, porém, diferenciam-se uma da outra no aspecto conceitual. A língua caminha junto com a evolução da  humanidade, dado através de fenômenos ocorridos historicamente. Enquanto que a  linguagem, possui uma dimensão maior, a de caracterizar e representar diversos  conceitos independentemente do formato, portanto, as representações podem ocorrer através do idioma, que são os sistemas sociais, transmitidas através da linguagem  natural que é utilizada cotidianamente, ou de um sistema de representação oposto,  dados por sinais, sons ou linguagem de programação (SCHIESSL; SHINTAKU, 2012).

Toda língua e linguagem existentes possuem diversos modos de serem  representadas, nesse sentido, a partir de princípios teóricos desenvolvidos na ciência  da informação, a linguagem documentária é uma ferramenta que visa gerar a  recuperação das informações com precisão, tendo por finalidade, atender as  necessidades dos usuários. É utilizada tanto no tratamento intelectual de um  documento, quanto no processo de indexação e recuperação, traduzidos através de  entradas nos sistemas de armazenamento e em pesquisas feitas no sistema de  recuperação (GUINCHAT; MENOU, 1994).  

Em consonância da colocação anterior, Currás (1995) complementa que a  linguagem documentária tem como fim, controlar, normalizar e classificar um contexto  onde possui informações. Compreende-se, então, que a função da linguagem  documentária é justamente representar, com grau de padronização, o conhecimento

elaborado por um veículo específico e estabelecer uma conexão entre o usuário e o  conteúdo disponibilizado. E a partir dela, elaborada de modo artificial visando a  sintetização, propor um vocabulário controlado para o domínio proposto de forma  objetiva (SCHIESSL; SHINTAKU, 2012).

De acordo com Davanzo (2016), os conceitos elaborados acerca de  vocabulário controlado e de linguagem documentária estão diretamente atrelados. A  autora pontua que mediante o uso dessas duas ferramentas e da utilização do  vocabulário controlado, tem-se como resultado o efeito positivo de uma melhor  recuperação informacional no contexto pretendido. Complementando o pensamento  anterior, para Boccato, Ramalho e Fujita (2008) os vocabulários controlados e as  linguagens documentárias são definidos como:

Linguagens de estruturas combinatórias e pós-coordenadas, constituídas de termos e unidades linguísticas provenientes da  linguagem de especialidade e da linguagem natural, denominados de descritores, providos de relações sintático semânticas, referentes a  domínios científicos especializados, possibilitando a representação  temática do conteúdo de um documento, bem como a recuperação da  informação (BOCCATO; RAMALHO; FUJITA, 2008, p. 200).

O vocabulário controlado por sua vez, define-se por uma coletânea de termos que auxiliam na melhor descrição dos documentos de forma precisa. O propósito  determinante é assegurar uma descrição mais fundamentada e propiciar uma  recuperação eficiente dos conteúdos que compõem o SOC (COLOMB, 2002).  

A proveniência da linguagem natural implica na ambiguidade, entendida como  “uma expressão da língua (palavra ou frase) que possui vários significados distintos,  podendo, consequentemente, ser compreendida de diferentes maneiras por um  receptor” (BRASCHER, 2002). A linguagem natural, segundo Schiessl e Shintaku  (2012) expressa algumas características básicas, como a sinonímia, a polissemia e a  homografia, provocando a necessidade de padronização, processo esse que é  possível de ser realizado por meio do vocabulário controlado, evitando variantes no  que tange a descrição das informações.

A partir das informações anteriores, a fim de trazer alguns conceitos sobre a  linguagem natural e de seus fenômenos, a sinonímia ocorre quando mais de um termo  é representado a partir do mesmo conceito. Enquanto que a polissemia traz o  significado de que um termo possui mais do que um único conceito, e por fim, a  homografia ocorre na descrição de palavras diferentes mas que se aplica através do  mesmo escrito (SCHIESSL; SHINTAKU, 2012).

Os vocabulários controlados possibilitam que o sistema de informação consiga  estruturar melhor as informações através dos termos, caso o sistema não possua uma  metodologia, Moreira et al (2015) pontua que:

Na ausência de controle terminológico por meio de linguagem documentária, isso é, sem a adoção de procedimentos de  desambiguação da linguagem natural, realiza-se um uso pobre da  linguagem em si, enquanto elemento capaz de sintetizar e sistematizar os conceitos. (MOREIRA et al, 2015, p. 03)

Um sistema que não possui o amparo do vocabulário controlado, corre o risco  de não entregar as informações por completo e de forma estruturada. Neste  parâmetro, os vocabulários controlados para serem elaborados e alcançarem um  objetivo de forma coesa, necessitam de uma normativa, sendo assim, seguem alguns  apontamentos sobre a Norma ANSI/NISO Z39.19:2005 que são fundamentais:

● a ligação de sinônimos ou quase sinônimos pela relação de equivalências; 

● definição unívoca de termos com a mesma escrita ou homógrafos;

● se o mesmo termo é usado para diferentes conceitos, ele deve ser explicitamente qualificado para solucionar essa ambiguidade;

● se vários termos são usados para o mesmo conceito, um dos termos é  identificado como o preferido no vocabulário controlado e os outros termos são  listados como sinônimos ou equivalentes.

Para além do teor de normalização, o vocabulário controlado gera diversos  impactos na organização da informação e do conhecimento, logo, afetando a estrutura  social, conforme citado por Rocha; Domingues e Cervantes (2013) são sistemas que  permitem o fenômeno do socializar, no pulsante das realidades dos ambientes digitais,  através da representação proposta, é possível assegurar a recuperação de  documentos em diversas áreas do saber.  

Na proposta de oferecer um melhor acesso e uma recuperação da informação  eficiente para os usuários, Narukawa (2011) aponta que tornar a informação acessível  aos usuários permitindo a sua usabilidade e apropriação, promove um efeito de gerar  novos saberes, informações e conhecimentos. Para a autora, a informação contrasta  com os efeitos e fenômenos na sociedade e justifica que é necessária uma reflexão  sobre as novas possibilidades de formatações para elencar e organizar as  informações sociais de forma eficiente.


4.2 Classificação e Taxonomias

A definição do que é classificação se coloca como um conjunto de conceitos  que é organizado de forma sistemática de acordo com os parâmetros ou  características determinadas (ISO TR 14177, 1994).

A classificação é um processo humano de caráter natural e que ajuda a  compreender o mundo, sem a classificação não existiria pensamento humano  (LANGRIDGE, 1973). A partir de um estudo sobre classificação em variados períodos  de tempo, revelou-se que à cultura está atrelada a classificação, contextuando com o  momento e a elaboração documental (GROLIER, 1974).  

Para Foskett e Bury (1982), a função do ato de classificar nos suportes de  informação tem a justificativa de ordenação documental, facilitando os usuários e os  serviços. A classificação tem como vetor a simplificação da recuperação eficiente das  informações pretendidas e ter uma ordenação nesse enredo contribui diretamente  para os sistemas que emergem na realidade ordenada.

Por meio de dois procedimentos fundamentais, sendo a elaboração dos  esquemas que representam as informações e a usabilidade. Porém, apesar do  processo, a ordenação equivale no agrupamento por semelhança de características  (WYNAR, 1976). Sobre o ideal de classificar a partir das similaridades Barbosa (1969)  ressalta que as características devem seguir as seguintes concepções: (I) utilidade,  (II) consistência, (III) exaustividade e (IV) modularidade. Ao cumprir esses elementos,  restringe-se a probabilidade de classificação cruzada, ou chance da disposição de um  item estar classes diferentes, pois ocorre com clareza a sistematização da  classificação.

O esquema de classificação é descrito por representar graficamente as  categorias, classes, suas divisões e arranjos (BARBOSA, 1969). Para SARDANA, (  2002) os esquemas de classificação precisam considerar três condições, sendo elas,  a organização de ideias ou uma função cognitiva, a organização de documentos ou  função bibliográfica e no apoio na organização dos livros na prateleira, ou função  bibliotecária.

Existem diversos tipos de classificação, para cada ambiente e realidade  informacional, é possível a utilização de uma mais adequada. No teor do trabalho,  discorre-se sobre a classificação facetada, que será abordada de forma ampla no  capítulo de apresentação do modelo conceitual e terminológico proposto.

A classificação por facetas foi desenvolvida por Shiyali Ramamrita  Ranganathan na década de 1930. A expressão “análise em facetas” foi adotada para  referenciar a técnica de fragmentar um assunto complexo3. As facetas são utilizadas  para estabelecerem relações, classificadas por “categorias fundamentais”, com  sentido abstrato e denominam-se por: Personalidade, Matéria, Energia, Espaço,  Tempo, conhecidas pela sigla PMEST. A categoria Personalidade se distingue da característica do assunto; Matéria, enquadra-se como o material físico relacionado à  composição de um assunto; Energia é uma força ou ação que ocorre a um tipo de  assunto; Espaço é o aspecto geográfico em que a informação é posicionada e o  Tempo, é o período de associação de um assunto (PRESSCOTT, 2003).

Na elaboração de um sistema de classificação facetada destinado para um  campo específico do conhecimento, há uma etapa fundamental, que é a seleção das facetas relevantes e como elas se ajustam aos objetivos do sistema de informação  (ARAÚJO, 2006). Após selecionar os termos, as facetas precisam surgir, através de  um conceito, definido por “todo processo que torne possível a descrição, a  classificação e a precisão de objetos cognoscíveis” (INÁCIO FILHO, 1995, p. 65).

Os conceitos precisam ser organizados de acordo com as relações que se  estabelecem uns com os outros, firmando uma ordenação de classificação, pois “com  o auxílio destes tipos de relacionamento é possível estabelecer comparações entre os  conceitos de modo a organizá-los não só nos sistemas de classificação mas também  nos tesauros” (DAHLBERG, 1978, p. 104). A coletânea de conceitos não objetiva  apenas a atribuição conceitual, mas visa justificar uma ordenação de classificação.  De acordo com Dahlberg (1978, p. 104-105), a relação é ofertada por alguns  conceitos:

[...] a) Relações lógicas (baseadas na posse de características comuns): Identidade (as características são as mesmas); implicação  (o conceito A está contido no conceito B); intersecção (os dois conceitos coincidem em algum elemento); disjunção (nenhuma  característica em comum); negação (o conceito A possui  características cuja negação está no conceito). b) Relações  semânticas: relações hierárquicas (a relação de gênero e espécie,  quando “dois conceitos diferentes possuem características idênticas e  um deles possui uma característica a mais que o outro”); relações partitivas (que existem entre um todo e suas partes, ou um produto e os elementos que o constituem); relações de oposição (de contradição  ou contrariedade); relações funcionais (conceitos que expressam  processo).


Para Cavalcanti (1978, p. 43) há uma outra distinção que apresenta as relações  de equivalência (sinônimos e quase-sinônimos), hierárquicas (que podem ser  genéricas ou partitivas) e associativas (ou de afinidade), que podem ser de conceitos  opostos, genéticas (quando um objeto precede o outro), de coordenação (quando são derivados de um mesmo termo genérico), de causa e efeito, de relação instrumental, de relação material (quando uma coisa dá origem a outra) e de similaridade. Barbosa (1972, p. 75) traz de forma objetiva que “[...] a quantidade de facetas  derivadas varia de assunto para assunto, e dependerá das necessidades do grupo  que vai usá-la, isto é, o grupo para o qual o sistema estiver sendo elaborado”. Para  construir um sistema facetado, Araújo (2006, p. 133) categoriza algumas etapas  imprescindíveis, sendo elas:

[...] (I) De formação de conceitos: escolha do conceito, coleta dos enunciados verdadeiros sobre ele, seleção dos enunciados  redundantes ou que estão contidos nos outros, determinação dos enunciados essenciais e acidentais e determinação dos tipos de  enunciados. (II) Relações entre os conceitos: determinação dos tipos  de conceitos, determinação das relações, entre eles: análise de  intenção e extensão dos conceitos; observação dos princípios lógicos de classificação (completude, irredutibilidade e exclusividade mútua).  (III) Organização do esquema facetado: definição do assunto e das fronteiras; levantamento de facetas; levantamento das sub facetas; decisão da ordem de citação das facetas e sub facetas; agrupamento  das sub facetas.

A aplicação da teoria da classificação facetada em ambientes digitais de  acordo com Pontes e Lima (2012), podem ser ferramentas de auxílio no controle de  vocabulário, descrição temática de um contexto documental e na recuperação  informacional. Porém, na realidade, de acordo com a constatação de Koch (1998), os  esquemas de classificação, de modo geral, consideram-se como pouco efetivos e  impróprios para a organização de recursos digitais. Acerca dos esquemas de  classificação construídos, em sua maioria, apresentam uma estrutura hierárquica,  dando foco para a divisão de classes mais específicas. Nesse modelo de estrutura,  não há um suporte adequado para os relacionamentos sintáticos, sendo apresentados  apenas os hierárquicos (BROUGHTON, 2002). Ingwersen e Wormell (1992),  realizaram uma análise através do uso de estruturas facetadas com o objetivo de  recuperar a informação pretendida em banco de dados, e a partir dessa pesquisa,  afirmaram:

[...] a discussão demonstra a utilidade da categorização facetada, não apenas para documentos textuais, mas também para outras formas de  conteúdos. A categorização facetada para outras formas de  conteúdos. A categorização facetada, pode fornecer pontos de acesso  multidimensionais e estruturados para o conteúdo dos documentos, e desta forma possibilitar o acesso intelectual ao conhecimento gerado  e armazenado (INGWERSEN; WORMELL, 1992, p. 199, tradução nossa).

Para Kwasnick (1999, p. 39), “a noção de facetas se assenta na crença de que  existe mais de uma maneira de ver o mundo, e que mesmo as classificações que são tidas como estáveis, são de fato provisórias e dinâmicas. O desafio é construir classificações que sejam flexíveis e que possam acomodar novos fenômenos”.  Denton (2003) afirma que posterior à construção do sistema de classificação, o maior desafio é tornar um mecanismo de uso facilitado e com uma dinâmica intuitiva. Os esquemas construídos, em sua maioria, apresentam uma estrutura  hierárquica, dando foco para a divisão de classes mais específicas. Nesse modelo de  estrutura, não há um suporte adequado para os relacionamentos sintáticos, sendo  apresentados apenas os hierárquicos (BROUGHTON, 2002).

A linearidade na organização dos materiais ou representações informacionais  no contexto digital, não possui grande importância, porém, a apresentação na tela é  fundamental (BROUGHTON, 2006). Para La Barre (2006), sobre a análise e  classificação facetada, há uma crescente importância entre profissionais, como  arquitetos da informação e especialistas em gerenciamento informacional que visam,  para além do aperfeiçoamento profissional, elaborar melhores ferramentas de gestão  e acesso ao conhecimento organizativo.

De acordo com Vital e Café (2011, p. 22) “taxonomia vem do grego taxis=ordem e onoma=nombre e derivou-se de um dos ramos da Biologia que trata da classificação  lógica e científica dos seres vivos, fruto do trabalho de Karl Von Linneé”, utilizada hoje  em dia em vários parâmetros de classificações, sobretudo no campo da ciência da  informação.

Uma estrutura taxonômica é estruturada em formato de árvore hierárquica com  o objetivo principal de representar um tipo de conhecimento. Elaborada de forma  sistemática, possui regras de agrupamento em classes e na formação da estrutura,  possibilitando a compreensão humana e artificial, através das máquinas. A formação  dessa árvore se constitui através de superclasses, classes e subclasses. Por essa  razão, a relação de hierarquia estabelece o propósito de gerar relacionamentos de  semelhança ou de pertinência. Em uma classe, concentram-se os conceitos em  comum, nas subclasses juntam-se os conceitos de características extras, enquanto  nas superclasses, ficam os conceitos de características mais generalistas.  (SCHIESSL; SHINTAKU, 2012).

As taxonomias bem estruturadas, de acordo com Terra et al. (2005 apud VITAL;  CAFÉ, 2011) tem como objetivos:  

Estabelecer categorias gerais; coletar e representar conceitos por meio de termos; agilizar a comunicação entre especialistas e outros públicos; encontrar o consenso; controlar a diversidade de  significação; construir relacionamento semântico entre termos, por  meio de relações hierárquicas e por fim, oferecer mapa da área que pode ser utilizado como guia dos processos de conhecimento (TERRA, et al. 2005 apud VITAL; CAFÉ, 2011).

A classificação em conjunção da taxonomia ordena um sentido lógico e legítimo  para o âmbito informacional, no sentido de aprimorar e aprofundar as abordagens de  classificação, baseando-se nos conceitos discutidos neste trabalho, visa-se avaliar e  apontar a possibilidade de uso e aplicação da metodologia facetada, como  instrumento de melhoria estrutural, no Dicionário de Favelas Marielle Franco Wikifavelas.

4.3 Tesauros

5 COLETA DE DADOS

5.1 Fichas de pesquisa terminológica – Linguagem Documentária

6 ANÁLISE DE RESULTADOS

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS