Favela do Borel: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
(Mapa do Borel)
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== Ver também ==
*[[As lutas do povo do Borel]]
*[[Ocupa Borel]]
*[[Rede de Instituições do Borel]]
*[[Lista de Favelas do Rio de Janeiro]]


[[Category:Borel]] [[Category:História de favela]] [[Category:Memória]] [[Category:Associativismo]] [[Category:Cultura]] [[Category:Violência]] [[Category:Temática - Favelas e Periferias]]
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Edição das 15h13min de 17 de julho de 2023

Visão noturna do Morro do Borel

Verbete criado pela equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

 

 

Introdução

O Morro do Borel é uma favela localizada no bairro da Tijuca, na Zona Norte da Cidade do Rio de Janeiro. Sua ocupação tem início datado de 1921, a partir do processo de demolição do Morro do Castelo, no Centro do Rio de Janeiro. A população que vivia naquele local se viu obrigada a migrar para outras regiões da cidade e a região que hoje é o Morro do Borel foi uma das que mais recebeu moradores. Assim como todas as favelas da cidade, a constituição do Borel se inicia enquanto uma solução para uma crise habitacional daquele tempo. Antes de ser ocupada pela população em busca de habitação, era propriedade da família francesa Puri Borel, que vivia de extração de madeira.

Hoje, o acesso principal para o morro é pela Rua São Miguel e, de acordo com o Censo 2010, a favela conta com 7547 moradores, que são distribuídos em 2165 domicílios. Estima-se que o número real de moradores da região seja muito maior ao apresentado pelo IBGE, mas que por conta da rotatividade grande de moradores, os números oficiais registrem sempre 1/3 do número real. Em 2018, a área total ocupada por construções superava os 300 mil metros quadrados, de acordo com o Instituto Pereira Passos (335.267m²).

Ver também: Morro_do_Borel_(Memórias)

 

Conheça o Morro do Borel

O vídeo foi feito pelos trabalhadores da Unidade de Polícia Pacificadora instalada no Borel em 2010. Nele, podemos ver Miramar, Big e Bruno – moradores da região – apresentando alguns espaços e histórias do Borel:

Escola de Samba – GRES Unidos da Tijuca

No Morro do Borel está localizada a primeira sede da Unidos da Tijuca, escola de samba fundada em 1931 sob o nome Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Tijuca que reuniria moradores de vários morros da região. A agremiação foi criada a partir da fusão de quatro blocos existentes nos morros da Casa Branca, Formiga, Borel e Ilha dos Velhacos: o Bloco do Velho Ismael Francisco e Dona Blandira (da família Moraes); o Bloco do Velho Pacífico (da família Vasconcelos); o Bloco do Caroço (da Ilha dos Velhacos) e o Bloco de Dona Amélia (do Morro da Formiga). Apesar de abrigar terreiros de samba e blocos carnavalescos, a Tijuca não possuía uma escola de samba. Com isso, sambistas e foliões da região se reuniram no terreiro da Família Vasconcelos, na subida da Rua São Miguel, número 130, casa 20, e decidiram criar a primeira escola de samba da localidade.

Foi a quarta escola de samba a ser fundada no Rio de Janeiro, depois de Deixa Falar, Portela e Mangueira e sua quadra foi por muitos anos localizada no Morro do Borel, mas hoje funciona na Zona Portuária. A Unidos da Tijuca é nascida em 1931 mas só ganhou seu primeiro título de carnaval em 1936. Depois de um longo jejum, voltou a ser campeã nos anos de 2010, 2012 e 2104.

Rap do Borel

A favela foi lembrada no "Rap do Borel", da dupla William e Duda, que foi um grande sucesso e ficou muito conhecida:

União dos Trabalhadores Favelados – UTF

No ano de 1954, na quadra da Unidos da Tijuca, foi fundada a União dos Trabalhadores Favelados que posteriormente se constituiria na associação de moradores que tem o nome de União de Moradores do Morro do Borel. Segundo a versão de um antigo morador, a área onde atualmente está localizada a favela do Borel teria pertencido à família francesa Puri Borel e em 1918, esses proprietários teriam desaparecido e trabalhadores de origem portuguesa, empregados dos antigos donos, passaram a atuar como grileiros, erigindo moradias de aluguel para os que trabalhavam nas inúmeras fábricas daquele entorno. Depois, com a derrubada do Morro do Castelo, a área passa a ser mais ocupada por conta dos moradores que ficam sem ter onde morar e passam a ocupar a região. Alguns anos depois, em 1945, com as obras de terraplanagem da Rua Conde de Bonfim, os moradores do morro começam a se preocupar com seu destino, já que muitos já ocupavam tal espaço por conta de outra obra de “modernização”. Além disso, a especulação imobiliária e a construção de edificações poderiam gerar o despejo de muitos moradores, o que de fato aconteceu em 1954. Nesse contexto, é criada a UTF, em 1954 mesmo, objetivando, primeiramente, custear o processo contra o despejo e também mobilizar os moradores da região por melhores condições de vida e moradia.

A criação da entidade se dá num contexto de mais inserção de militante do Partido Comunista Brasileiro no território, com forte participação dos movimentos de resistência não só no Borel mas na favela do Mata Machado, na Tijuca. A UTF trabalhava muito na construção de uma identidade do morador de favelas que fosse atrelada ao trabalho e foi um importante instrumento de lutas para a população, diferenciando-os das imagens estereotipadas dos moradores de tais regiões como vadios e malandros.

Além da defesa contra a reintegração de posse, a UTF, sob a forte influência de seu fundador, teve um papel destacado e pioneiro na construção de um discurso pautado no acesso a direitos pelos favelados. Magarinos Torres formulou um projeto de lei que reivindicava o direito de posse da terra aos favelados. Nas suas considerações iniciais, esse projeto já previa a condenação à política de remoção das favelas para conjuntos habitacionais distantes, política que se consolidou, no entanto, no Rio de Janeiro, a partir dos anos 1960. O projeto previa também que o trabalhador favelado teria a capacidade de melhorar paulatinamente o seu barraco se ele tivesse segurança da posse e se lhe fosse facilitado o acesso ao crédito para a compra de material de construção. Além de prever a regularização do solo e a urbanização da área, o projeto pretendia também regularizar a situação dos comerciantes.

Apesar dos receios da influência comunista no funcionamento da UTF, este projeto de lei procurava, sobretudo, romper o aspecto precário e provisório das favelas, consolidando-as definitivamente à cidade e assegurando aos seus moradores os mesmos direitos dos demais cidadãos. Dentro dessa perspectiva, podemos notar a construção de uma memória sobre a UTF que reforça, justamente, o caráter associativista da entidade que não se restringisse às fronteiras de uma única favela.

Tráfico, violência e UPP

O morro ganhou o noticiário por questões relacionadas à violência e crime organizado após, em 1996, o traficante Elias Maluco ser preso pela primeira vez. O Borel era um dos 13 pontos de tráfico controlados pelo bandido. Elias voltou às páginas policiais anos depois, em 2002, como mandante do assassinato do jornalista Tim Lopes na Vila Cruzeiro, favela onde o repórter investigava o tráfico de drogas e a prostituição infantil em bailes funk. Em 17 de abril de 2003, um caso de violência extrema chocou a cidade: quatro jovens foram mortos por PMs no Borel, acusados de fazer parte de um bando de traficantes e portar armas e drogas. Na verdade, os jovens eram o motorista de táxi Everson Gonçalves Silote, de 26 anos; o mecânico Thiago da Costa Correia da Silva, de 19; o pintor e pedreiro Carlos Alberto da Silva Ferreira, de 21; e Carlos Magno de Oliveira Nascimento, de 18 anos, que morava na Suíça com a mãe, mas estava no Brasil para fazer o alistamento militar obrigatório, por causa da dupla nacionalidade. Nenhum deles tinha antecedentes criminais. Dos cinco PMs denunciados, dois foram absolvidos e um foi condenado, mas, depois de recorrer, passou a aguardar julgamento em liberdade. Três anos depois, em 2006, Lohan, um menino de 9 anos, morreu quando um tiro de fuzil atingiu seu rosto em um confronto. Durante a operação para implantação da UPP do Borel, em 28 de abril de 2010, três suspeitos foram presos próximo a um dos acessos da favela. Em 2017, a polícia justificou um cerco ao morro afirmando que bandidos fugidos da Rocinha estariam utilizando trilhas na mata até as favelas da Tijuca. Já em 2018, policiais do Bope foram recebidos com tiros dentro da comunidade, e um suspeito foi morto durante a operação.

O Borel é um dos locais onde as Unidades de Polícia Pacificadora foram implementadas, ainda em 2010. Foi a 8ª UPP do Estado. Por conta da ação truculenta e muitas vezes corrupta das polícias na região, há uma relação frágil com a Polícia e a UPP não foi bem recebida no início, especialmente quando informes de extorsão policial foram publicizados.Para piorar a situação, no final de novembro de 2012, os moradores começaram a denunciar que alguns policiais da UPP estavam impondo um toque de recolher ilegal. Isso provocou o surgimento do movimentoOcupa Borelque aconteceu durante toda uma noite na qual moradores e membros da comunidade em geral (incluindo o grupo da escola de samba Unidos da Tijuca) se juntaram para desfilar na favela à noite, desafiando as medidas repressivas.

Mapa do Borel

*Durante o projeto Tamo Junto, organizado pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco, fizemos oficinas de cartografias conduzidas pela equipe de mapeamento do Banco Comunitário do Preventório. No caso do Borel, membros do movimento "Brota na Laje" produziram intervenções no mapeamento da favela.

Fontes de Pesquisa

SABRENSistema de Assentamentos de Baixa Renda

Wikipédia – Morro do Borel

Acervo do Jornal O Globo – A história de dez favelas do Rio de Janeiro

Rio On Watch – Unidades de Polícia Pacificadora

Atlas Brasil – Borel

Data Rio – Borel

Anais do Encontro Nacional de História Oral de 2012 – A centralidade da UTF na reconstrução da memória dos movimentos associativos de moradores de favelas cariocas.

 

 

Ver também