Lembrar é preciso - Preservação e valorização da memória das vítimas da covid-19 no conjunto de favelas da Maré (artigo): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Sem resumo de edição
Sem resumo de edição
 
(Uma revisão intermediária pelo mesmo usuário não está sendo mostrada)
Linha 1: Linha 1:
{{DISPLAYTITLE:Lembrar é preciso: preservação e valorização da memória das vítimas da covid-19 no conjunto de favelas da Maré (artigo)}}
Esse artigo faz parte da "Radar COVID-19, Favelas", informativo produzido no âmbito da Sala de [[Painel Covid-19 nas favelas do Rio de Janeiro|Situação Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro]], vinculada ao Observatório COVID-19 da Fiocruz.
Esse artigo faz parte da "Radar COVID-19, Favelas", informativo produzido no âmbito da Sala de [[Painel Covid-19 nas favelas do Rio de Janeiro|Situação Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro]], vinculada ao Observatório COVID-19 da Fiocruz.
  Autoria: Patrícia Ramalho.
  Autoria: Patrícia Ramalho.

Edição atual tal como às 18h54min de 23 de agosto de 2023


Esse artigo faz parte da "Radar COVID-19, Favelas", informativo produzido no âmbito da Sala de Situação Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro, vinculada ao Observatório COVID-19 da Fiocruz.

Autoria: Patrícia Ramalho.

Sobre[editar | editar código-fonte]

Estruturado com base no monitoramento ativo (vigilância de rumores) de fontes não oficiais – mídias, redes sociais e contato direto com moradores, coletivos, movimentos sociais, instituições e articuladores locais – a publicação busca sistematizar, analisar e disseminar informações sobre a situação de saúde nos territórios selecionados, visando promover a visibilidade das diversas situações de vulnerabilidade e antecipar as iniciativas de enfrentamento da pandemia.

Artigo[editar | editar código-fonte]

“Tomara que não voltemos à normalidade, pois, se voltarmos, é porque não valeu nada a morte de milhares de pessoas no mundo inteiro.” Ailton Krenak

A morte acontece diariamente e faz parte da existência humana e pode ser determinante na condução de nossas trajetórias. Durante a pandemia da Covid-19, fomos surpreendidos pelo grande número de mortes no mundo. Até o fechamento deste texto, mais de 5 milhões de pessoas morreram em decorrência da Covid-19, em um período de pouco mais de um ano. No Brasil, mais de 616 mil óbitos, de acordo com o Painel Coronavírus e no Conjunto de Favelas da Maré foram 379 perdas, conforme indica o Painel Rio COVID-19, administrado pela Prefeitura.

A pandemia global que se instaurou no ano de 2020 impactou as mais diversas dimensões da vida na sociedade, na política e na economia. Se os efeitos da pandemia extrapolam a área da saúde individual e afetam a sociedade como um todo, no contexto de favelas, estes efeitos são ainda mais complexos, intensificando históricas injustiças territoriais e desigualdades sociais. Rapidamente evidenciou-se o impacto desigual da pandemia, como resultado direto da falta de investimento em saúde pública e das condições precárias de habitação, trabalho, infraestrutura urbana e acesso a saneamento básico em determinados territórios. Estudos mostram que a parcela mais pobre da população, que vive em territórios periféricos, foi desproporcionalmente afetadas por impactos sanitários, socioeconômicos e um elevado número de mortes.

Desde o início das medidas de restrição, moradores e instituições da Maré denunciaram o descaso do poder público sobre uma série de fatores que dificultam o acesso a direitos indispensáveis para o controle da pandemia como: problemas no acesso os serviços de saúde e falta de insumos básicos, precariedade no fornecimento de água, ineficiência no suporte da assistência social para garantia do isolamento das famílias mais vulneráveis, ausência de uma política pública e segurança alimentar, além das ações da política de segurança pública que contrariam as orientações de prevenção ao vírus. A omissão pelas mortes e por políticas públicas foi naturalizada e ignorada por governos negacionistas que, em diversas vezes, zombaram em rede nacional dos casos de mortes em decorrência do vírus.

Chimamanda Adichie (2020, p. 3), em seu livro Notas sobre o luto, salienta que “o luto é uma forma cruel de aprendizado. Você aprende como ele pode ser pouco suave, raivoso. Aprende como os pêsames podem soar rasos. Aprende quanto do luto tem a ver com palavras, com a derrota das palavras e com a busca das palavras”.

Diante deste cenário, a potência do trabalho coletivo foi primordial na Maré. Além de ações relacionadas à prevenção e combate ao vírus e combate à insegurança alimentar, o trabalho que envolve temas sobre luto e memória trouxe a valorização das vítimas e de suas histórias, junto aos seus familiares e amigos, implicando no aspecto coletivo e não apenas individual.

A produção do Memorial Maré destinado para as vítimas de Covid-19 é uma proposta que busca criar um espaço para celebrar a memória das pessoas que faleceram em decorrência do vírus na Maré, com o objetivo de trabalhar o processo de luto com os familiares, valorizando as histórias das vítimas, articulando produção de conhecimento, acolhimento às famílias e intervenção artística.

Ainda sobre o estudo da memória, o historiador Paulo Knauss nos traz que a memória diz respeito a algo que está vivo, que é um trabalho de reconstrução, de presentificar o passado na busca da construção de um futuro e que pode mudar práticas e realidades. “Preservar a memória dos vitimados se define como reparação simbólica. Portanto, a importância de um memorial, enquanto símbolo da vida humana e como ferramenta de justiça social.”

A Maré, por exemplo, tem rica memória que precisa ser contada e preservada, tem memórias de resistências, de lutas coletivas e que não pode ser esquecida, pois a partir dela conseguiremos construir novas narrativas a partir deste território. Dessa forma, entendemos que falar de memória se torna indispensável no momento em que estamos vivendo, diante de tantas mortes invisibilizadas, que viram números. Por isso é tão importante e urgente ações que humanizem a dor e os acontecimentos produzidos pela pandemia, principalmente entre a população mais vulnerável.

Valorizar o humano e contar suas histórias de vida é necessário diante das constantes tentativas de apagamento e do silenciamento de culturas perpetrados pela lógica dos governos de dominação e de opressão.

Ver também[editar | editar código-fonte]