Morro da Casa Branca: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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'''Autor: Diego Francisco'''
'''Autor: Diego Francisco'''


O Morro da Casa Branca é a favela que compartilha a Rua São Miguel com o [[Morro_do_Borel|Morro do Borel]]. A Casa Branca tem como marca suas escadarias ao longo da rua principal e a Estrada da Casa Branca. Historicamente, as favelas do Borel e da Casa Branca compartilham muito além do que o que parece ser a mesma porção de território nas montanhas.
Logo no início da Rua São Miguel é possível ver tanto a Estrada da Casa Branca quanto as três famosas ladeiras que dão acesso ao Morro da Casa Branca. A favela que teve sua construção iniciada na década de 1930 e que está coladinha ao Morro do Borel e garante acesso à Chácara do Céu. A Casa Branca é uma favela que pode ser considerada pequena, pouco adensada e que reúne grandes tesouros. 


Um dos blocos criados na favela foi agrupado no que se tornaria a escola de samba Unidos da Tijuca, por exemplo. Da Casa Branca é também possível acessar a [[Chácara_do_Céu|Chácara do Céu]], cujo acesso foi melhorado depois das obras de reurbanização conduzidas pelo prefeito César Maia durante o Favela Bairro, nos anos 1990. 
Pouca gente sabe, mas o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Tijuca, com sede no Borel e que referencia seus desfiles no Borel, começou ali no Morro da Casa Branca, na casa 20 da Rua São Miguel, 130. A escola foi resultado da união de blocos carnavalescos do Borel, Formiga   e da Casa Branca. 


A Casa Branca é muito lembrado pela difícil circulação entre seus moradores e os do Borel, influência dos registros de governos por facções diferentes, durante muitos anos a circulação foi bastante restrita. Nos anos 1980 e 1990, as guerras entre as facções Amigo dos Amigos e Comando Vermelho registraram episódios sangrentos e tristes. 
É interessante que pode-se dizer que existem muitas Casas brancas e que a experiëncia de habitar por ali ganha diferentes contornos a depender se você precisa acessar a estrada da Casa Branca para chegar até sua casa ou se você está por ali em uma das famosas escadarias. 


Algo muito presente no cotidiano de quem mora na Casa Branca é o fato de durante muitos anos não terem podido utilizar a cor vermelha, símbolo da facção rival. Durante o período de ocupação pelas Unidades de Polícia Pacificadora, o território da Casa Branca foi acoplado ao que se designou chamar de Complexo do Borel.
Alguns moradores dizem que foi na Travessa&nbsp;Volcano&nbsp;que a Casa Branca se iniciou, com suas primeiras casas, a escadaria com nome de travessa é a que guarda maior proximidade com o Morro do&nbsp;Borel, constituindo quase que uma divisa. Mas se a Casa Branca começou a ser ocupada por ali, ela foi se desenvolvendo sobre o Morro e a pedra e tornando-se um espaço vibrante.&nbsp;<br/> &nbsp;<br/> É preciso fôlego para subir cada um dos mais de duzentos degraus da escadaria para chegar até o local conhecido como Terreirão. O nome vem mesmo do fato de aquele descampado ser um grande terreiro, terreno de terra batida, no início da ocupação. Muitas outras favelas têm seu próprio terreirão, como no caso do&nbsp;Borel.&nbsp;


Muitos projetos interessantes foram desenvolvidos com parcerias entre os moradores das favelas vizinhas como o Condutores de Memória, o grupo Arteiras e o projeto A Arte Imita a Vida.
Mas é subindo a Estrada da Casa Branca que a gente vai se surpreendendo com uma linda vista das montanhas da Tijuca e com a Casa Branca, tudo é bem pertinho. A Associação de Moradores, a Escola Municipal Paulo Freire, o Posto de Saúde. Mais alguns passos e temos uma quadra poliesportiva coberta e um campo de futebol, com grama sintética, mantidos com o apoio dos moradores.&nbsp;<br/> &nbsp;<br/> Hilanilza&nbsp;Albernaz, 62, mora na Casa Branca desde que nasceu e viu sua família se formar&nbsp;ali.Ela&nbsp;conta sobre as mudanças que viu ocorrer ali: “Quando a gente era pequena vivia por aqui com uma calmaria que se misturava com a colaboração das pessoas para construir as casas e até a Estrada. Essa obra que a gente vê hoje foi feita há uns vinte anos. Ficou com esse asfalto de cimento, as escadas, a canalização de esgoto. Você ainda consegue ver mais pra cima, antes de chegar na Chácara do Céu, umas casas ainda de barro, dá pra imaginar que era tudo assim, mas não. A gente foi construindo no cimento, subindo a escada e se estabelecendo”.&nbsp;<br/> &nbsp;<br/> Ela conta que lembra de tempos em que o&nbsp;Borel&nbsp;e a Casa Branca viviam uma relação natural de vizinhança: “As associações de moradores se ajudavam, como o&nbsp;Borel&nbsp;começou antes, o pessoal de lá já sabia como era pra construir, onde tinha de ir pra conseguir resolver questões como água, luz”, conta. E foi assim que foram se estabelecendo, num ritmo mais tranquilo a favela foi crescendo, mas nem tanto.&nbsp;


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“Quando a&nbsp;gent&nbsp;eolha&nbsp;pra Casa Branca ainda vê que as famílias que&nbsp;chegaram no início ficaram, deixaram seus filhos, netos. Tem muita gente que foi pra outros lugares, mudou de bairro até, mas deixou filhos. A gente percebe que&nbsp;cresceu&nbsp;mas num ritmo diferente. E só andar por aqui que você vai&nbsp;ver, é outro tempo”,&nbsp;&nbsp;
 
'''Grupo Arteiras – Segmento papel&nbsp;'''<br/> &nbsp;<br/> Hilanilza&nbsp;Albernaz nos conduz nesta viagem à história da Casa Branca&nbsp;por que&nbsp;faz parte dela. Além de ter visto a favela crescer e se modificar, em 2006 fez parte do Grupo Arteiras, iniciativa surgida no âmbito da Agenda Social Rio e que serviu de pontapé para que mulheres moradoras da Casa Branca e do&nbsp;Borel&nbsp;iniciassem projetos para geração de emprego e renda.&nbsp;&nbsp;
 
A iniciativa das Arteiras teve dois braços que ficaram bastante conhecidos, o segmento da Alimentação,&nbsp;que&nbsp; teve&nbsp;sede na Rua Conde de Bonfim, e o segmento do papel, que funcionou na casa de&nbsp;Hilanilza. “A gente tinha um bom espaço e decidimos que criaríamos material a partir do papel reciclado. Minha casa se tornou uma verdadeira oficina de produção de diversos materiais como Pastas e Cadernos que foram&nbsp;dsitribuídos&nbsp;em inúmeros eventos pelo Brasil inteiro.&nbsp;
 
O grupo Arteiras reuniu muitas mulheres da Casa Branca e atuava em forma de cooperativa, baseado nos princípios da economia solidária: preço justo para o comprador, respeito aos insumos e distribuição equitativa dos lucros das vendas. ”FOi&nbsp;uma experiência&nbsp;magiífica&nbsp;que foi interrompida na medida que as mulheres do grupo “alçaram novos voos”, como conta&nbsp;Hilanilza.&nbsp;
 
'''Creche Municipal Paulo Freire&nbsp;'''
 
Inaugurada em 2001 pelo então prefeito Luiz Paulo Conde, logo depois da finalização das obras de intervenção do Favela-Bairro, realizadas entre 1997 e 2000. A Creche recebeu o nome do pedagogo Paulo Freire por escolha dos moradores e educadores locais. A creche atende a cerca de sessenta crianças, em turno integral e tem entre seus educadores, moradores da Casa Branca.&nbsp;
 
'''Casa da&nbsp;Auto-estima'''&nbsp;
 
Projeto desenvolvido por mulheres da Casa Branca, a casa que pertenceu a família Albernaz ofereceu durante os anos 2000 uma série de atividades, cursos, atendimento psicológicos e abrigou o projeto do Grupo Arteiras.&nbsp;
 
'''Projeto Dançar a vida&nbsp;'''
 
Liderado por Felipe Pinho o projeto de dança atrai crianças e adolescentes com paixão pela atividade. Iniciado em 2016, o projeto é tocado de forma independente e conta com apoios que recebe de moradores e entusiastas. São cerca de 40 crianças e adolescentes que se encontram no contraturno escolar para aprender coreografias e conversar sobre a vida.&nbsp;


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Edição das 11h51min de 27 de maio de 2020

Autor: Diego Francisco

Logo no início da Rua São Miguel é possível ver tanto a Estrada da Casa Branca quanto as três famosas ladeiras que dão acesso ao Morro da Casa Branca. A favela que teve sua construção iniciada na década de 1930 e que está coladinha ao Morro do Borel e garante acesso à Chácara do Céu. A Casa Branca é uma favela que pode ser considerada pequena, pouco adensada e que reúne grandes tesouros. 

Pouca gente sabe, mas o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Tijuca, com sede no Borel e que referencia seus desfiles no Borel, começou ali no Morro da Casa Branca, na casa 20 da Rua São Miguel, 130. A escola foi resultado da união de blocos carnavalescos do Borel, Formiga   e da Casa Branca. 

É interessante que pode-se dizer que existem muitas Casas brancas e que a experiëncia de habitar por ali ganha diferentes contornos a depender se você precisa acessar a estrada da Casa Branca para chegar até sua casa ou se você está por ali em uma das famosas escadarias. 

Alguns moradores dizem que foi na Travessa Volcano que a Casa Branca se iniciou, com suas primeiras casas, a escadaria com nome de travessa é a que guarda maior proximidade com o Morro do Borel, constituindo quase que uma divisa. Mas se a Casa Branca começou a ser ocupada por ali, ela foi se desenvolvendo sobre o Morro e a pedra e tornando-se um espaço vibrante. 
 
É preciso fôlego para subir cada um dos mais de duzentos degraus da escadaria para chegar até o local conhecido como Terreirão. O nome vem mesmo do fato de aquele descampado ser um grande terreiro, terreno de terra batida, no início da ocupação. Muitas outras favelas têm seu próprio terreirão, como no caso do Borel. 

Mas é subindo a Estrada da Casa Branca que a gente vai se surpreendendo com uma linda vista das montanhas da Tijuca e com a Casa Branca, tudo é bem pertinho. A Associação de Moradores, a Escola Municipal Paulo Freire, o Posto de Saúde. Mais alguns passos e temos uma quadra poliesportiva coberta e um campo de futebol, com grama sintética, mantidos com o apoio dos moradores. 
 
Hilanilza Albernaz, 62, mora na Casa Branca desde que nasceu e viu sua família se formar ali.Ela conta sobre as mudanças que viu ocorrer ali: “Quando a gente era pequena vivia por aqui com uma calmaria que se misturava com a colaboração das pessoas para construir as casas e até a Estrada. Essa obra que a gente vê hoje foi feita há uns vinte anos. Ficou com esse asfalto de cimento, as escadas, a canalização de esgoto. Você ainda consegue ver mais pra cima, antes de chegar na Chácara do Céu, umas casas ainda de barro, dá pra imaginar que era tudo assim, mas não. A gente foi construindo no cimento, subindo a escada e se estabelecendo”. 
 
Ela conta que lembra de tempos em que o Borel e a Casa Branca viviam uma relação natural de vizinhança: “As associações de moradores se ajudavam, como o Borel começou antes, o pessoal de lá já sabia como era pra construir, onde tinha de ir pra conseguir resolver questões como água, luz”, conta. E foi assim que foram se estabelecendo, num ritmo mais tranquilo a favela foi crescendo, mas nem tanto. 

“Quando a gent eolha pra Casa Branca ainda vê que as famílias que chegaram no início ficaram, deixaram seus filhos, netos. Tem muita gente que foi pra outros lugares, mudou de bairro até, mas deixou filhos. A gente percebe que cresceu mas num ritmo diferente. E só andar por aqui que você vai ver, é outro tempo”,  

Grupo Arteiras – Segmento papel 
 
Hilanilza Albernaz nos conduz nesta viagem à história da Casa Branca por que faz parte dela. Além de ter visto a favela crescer e se modificar, em 2006 fez parte do Grupo Arteiras, iniciativa surgida no âmbito da Agenda Social Rio e que serviu de pontapé para que mulheres moradoras da Casa Branca e do Borel iniciassem projetos para geração de emprego e renda.  

A iniciativa das Arteiras teve dois braços que ficaram bastante conhecidos, o segmento da Alimentação, que  teve sede na Rua Conde de Bonfim, e o segmento do papel, que funcionou na casa de Hilanilza. “A gente tinha um bom espaço e decidimos que criaríamos material a partir do papel reciclado. Minha casa se tornou uma verdadeira oficina de produção de diversos materiais como Pastas e Cadernos que foram dsitribuídos em inúmeros eventos pelo Brasil inteiro. 

O grupo Arteiras reuniu muitas mulheres da Casa Branca e atuava em forma de cooperativa, baseado nos princípios da economia solidária: preço justo para o comprador, respeito aos insumos e distribuição equitativa dos lucros das vendas. ”FOi uma experiência magiífica que foi interrompida na medida que as mulheres do grupo “alçaram novos voos”, como conta Hilanilza. 

Creche Municipal Paulo Freire 

Inaugurada em 2001 pelo então prefeito Luiz Paulo Conde, logo depois da finalização das obras de intervenção do Favela-Bairro, realizadas entre 1997 e 2000. A Creche recebeu o nome do pedagogo Paulo Freire por escolha dos moradores e educadores locais. A creche atende a cerca de sessenta crianças, em turno integral e tem entre seus educadores, moradores da Casa Branca. 

Casa da Auto-estima 

Projeto desenvolvido por mulheres da Casa Branca, a casa que pertenceu a família Albernaz ofereceu durante os anos 2000 uma série de atividades, cursos, atendimento psicológicos e abrigou o projeto do Grupo Arteiras. 

Projeto Dançar a vida 

Liderado por Felipe Pinho o projeto de dança atrai crianças e adolescentes com paixão pela atividade. Iniciado em 2016, o projeto é tocado de forma independente e conta com apoios que recebe de moradores e entusiastas. São cerca de 40 crianças e adolescentes que se encontram no contraturno escolar para aprender coreografias e conversar sobre a vida.