Pocinho - Morro da Providência

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Autora: Elen Ferreira.

Sobre[editar | editar código-fonte]

Pocinho - Morro da Providência - Rio de Janeiro / RJ  

No alto da primeira favela do Brasil em meados dos anos 90, a população favelada local sofria com a falta estrutural de saneamento básico que lhes poderia conferir água limpa em suas casas. Por vezes a falta deste bem era generalizada e obrigava dezenas de pessoas, moradoras das partes mais altas da comunidade a procurar maneiras de sobreviver em meio à secura da vida, locomovendo-se por grandes distâncias em busca de uma garrafa pet de dois litros cheia de água.

Localização do Pocinho[editar | editar código-fonte]

E Justamente na Rua da Grota, uma das regiões de mais difícil acesso da Providência, se via crianças, mulheres e homens de todas as idades subindo com latas d’água na cabeça, nos braços, em recipientes de diferentes formas. Neste contexto, vem à memória social local a importância de um poço natural, localizado na Rua da Grota próximo ao número 60.

Era o quintal de uma família que há muito morava na favela e gentilmente cedia aos demais o acesso ordenado ao poço forjado pela natureza no local. Ali, a água escoava naturalmente das pedras rochosas que sustentavam as grossas paredes que o envolviam.

Em tempo de secura, o poço que contava com cerca de 50 cm de profundidade, naturalmente construído pelo tempo e em meio às rochas, era preenchido por água limpa, enfeitado por vematos queazão dos pequeninos matos  que se assemelhavam aos trevos de quatro folhas. Sorte.

Água encontrada no meio das pedras, sorte.[editar | editar código-fonte]

Não havia outra palavra melhor para descrever a importância de encontrar água em meio às pedras, sorte. Durante mais de duas décadas o pocinho, como era afetuosamente conhecido, saciou a sede de moradores locais em semanas de falta d’água, nos dias de verão. Nos demais dias, o local apenas recebia a água natural e não podia ser utilizado para nenhum outro fim, pois era um bem compartilhado por todos. O espaço tornara-se acolhedor às crianças que em meio à realidade tão dura, se surpreendiam com aquela demonstração de cuidado natural e sentiam-se importantes quando uma por vez, deslizava seus dedos e enchia seus potes com água, levando-a até suas casas. Após grande contribuição para a existência dos moradores da região, o local foi cimentado e não há hoje, ainda, nenhuma menção à memória coletiva do espaço. 

Ver também[editar | editar código-fonte]