Poesia, favela e Baixada - cultura e acesso (poema)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Revisão de 14h38min de 31 de março de 2024 por Alxgb13 (discussão | contribs) (Um mural de poesias de pessoas periféricas da baixada com o recorte em São João de Meriti e que também pode conter fotos e localizações de espaços culturais na cidade.)
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Dentro desse verbete vou trazer poesias que, a partir da escrevivência traduzam a realidade de um jovem negro periférico da baixada fluminense. Eu falo de um território que é esquecido dentro da Baixada, São João de Meriti. Um território que muitas vezes não é conhecido pelos próprios moradores da baixada, esse município é extremamente pobre na sua maioria, e o acesso a cultura é limitado dentro da cidade. Enquanto referência temos a casa da cultura que fica em frente a praça da prefeitura e temos em construção o memorial do Marinheiro João Cândido, um herói nacional negro. Mas há um problema, o acesso à cultura está centralizado em apenas um ponto de um município de 35,216Km² e que contém incríveis 440.962 habitantes. O investimento em cultura, lazer e esporte se limita a construção de praças. Aqui nesse espaço virtual espero construir um mural de poesias, fotos e localizações que coloquem espaços culturais da cidade em evidencia e que principalmente o Jovem, negro, favelado de São João de Meriti tenha um espaço para a postagem e demonstração do que se produz nas favelas da Baixada.

Poesia: Baixada cruel Um mundo sádico e violento, violência? Isso aqui é normal ando neurótico pelas esquinas me afogo nas drogas, fácil acesso a drogas talvez entorpecendo minha mente a dor que eu sinto alivia a cada rua, a cada esquina, a cada situação que eu vejo, me situa e me deixa mais puto com a realidade ando olhando para o celular, como sempre o celular me distraindo e enchendo minha mente de informação eu já nem penso em quem eu sou ou como estou e o meu povo tão alienado só para avisar, da barricada para cá o mundo é diferente o mundo tem outro sentido outra rotação, outra formação, outra direção, sempre com contenção e jamais na infração. sigo firme e desconfiado, vivendo de trago em trago olhando esse mundo de forma diferente me deixando intrigado com essa realidade da conformidade com o inconformável do medo velado e da fome insaciável sigo vivendo em um mundo instável em que ódio e felicidade andam lado a lado e sabe o que me deixa mais intrigado ? com o menorzin no 12 ninguém está preocupado !


Poesia: eu até queria falar sobre amor como pude ir pensando na volta? na revolta eu sigo por aí andando com rumo e sem direção ter na minha mente e corpo muita disposição e não me olhe assim pois a vida é engraçada feitas de fases fases de agonia e alegria várias covardias mundo cruel e sádico ando batendo muita neurose mas eu não me atrapalho, não uso atalho apenas existo e qual amor maior, se não o meu por que tanto amor pro mundo ? por que tantos amores confusos ? relações sociais, caos social amores fatais, mentes fracas e corrompidas ando, ando, ando e nunca chego falo, falo, falo e ninguém me escuta talvez eu escreva para cegos ou fale para surdos nesse mundo me sinto um rato ando sempre escaldado o mundo me abomina mas eu existo sempre querendo passar despercebido e pessoas pensam que eu sou metido talvez vestindo a "marra" eles me respeitem

me julgam pois eu falo diferente 

me visto diferente e eu sou diferente vejo o mundo de outro lugar aqui faz frio no verão paz e guerra, amor e ódio essa poesia era para falar de amor me desculpe, mas é muito ódio acumulado.


poesia: coisa de preto me entorpecendo e tentando ficar inconsciente mas, conscientemente eu vivo a dura realidade. eu sou o povo daqui e represento o povo daqui. é assim minha pele é igual um finin' de ouro reluz em qualquer lugar que eu chego chama atenção e sempre sobre tensão vivo o meu dia normal, como se tudo aquilo fosse normal mas será que eu sou anormal? sempre pensando e me torturando o que me difere dele? E por que o espanto? mas é esse olhar, é aquele olhar que você conhece eu consigo enxergar, eu vejo no meios de todos olhares eu te enxergo e é assim que eu vivi e vivo espaços rejeitam minha pele, minha voz eu falo preto, ando preto sou preto, me comunico preto tenho gíria de preto, ando igual preto eu sou preto e carrego muitas coisas de preto minha mãe é branca e nem me entende até hoje não esqueço um branco achando que eu roubei uma banana tão novo eu nem entendia a crueldade daquele momento imagina desde cedo tanto sofrimento, só minha mãe enquanto exemplo sempre o risonho, sério neuroses que eu não sei explicar talvez em algum momento eu consiga me expressar.