Rede Só Cria de Educação Popular: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
(Inclusão da bio da Rede Só Cria, dados gerais e de saneamento básico da Rocinha)
(Inclusão da Logo)
Linha 1: Linha 1:
[[Arquivo:Logo.png|esquerda|miniaturadaimagem|150x150px]]
O Só Cria é um projeto que carrega o Popular em seu nome e em sua prática. Somos uma rede de Educação Popular que atualmente atua com curso de pré-vestibular com pólos na Favela da Rocinha e Barreira do Vasco, em São Cristóvão, além do curso de pré-encceja, na Favela da FICAP, na Pavuna. Lutamos pela democratização do acesso da favela à educação de qualidade e aos espaços historicamente negados à população favelada. Por meio das nossas aulas, atividades de extensão, formações e grupos de acolhimento, buscamos compartilhar entre voluntários e estudantes o conhecimento ligado à prática, à realidade da favela, e as nossas vidas cotidianas. Temos como um de nossos objetivos lutar pela aprovação de nossos estudantes no Enem e demais vestibulares, bem como a formação plena de nossos jovens e adultos que, por conta das desigualdades sociais, foram impedidos de acessar a educação na nas fases corretas de escolarização. Buscamos construir, para além disso, uma prática de Educação Popular, em que o conhecimento crítico sobre a realidade parte do cotidiano e das vivências de todos e todas que participam e constroem conosco essa iniciativa.
O Só Cria é um projeto que carrega o Popular em seu nome e em sua prática. Somos uma rede de Educação Popular que atualmente atua com curso de pré-vestibular com pólos na Favela da Rocinha e Barreira do Vasco, em São Cristóvão, além do curso de pré-encceja, na Favela da FICAP, na Pavuna. Lutamos pela democratização do acesso da favela à educação de qualidade e aos espaços historicamente negados à população favelada. Por meio das nossas aulas, atividades de extensão, formações e grupos de acolhimento, buscamos compartilhar entre voluntários e estudantes o conhecimento ligado à prática, à realidade da favela, e as nossas vidas cotidianas. Temos como um de nossos objetivos lutar pela aprovação de nossos estudantes no Enem e demais vestibulares, bem como a formação plena de nossos jovens e adultos que, por conta das desigualdades sociais, foram impedidos de acessar a educação na nas fases corretas de escolarização. Buscamos construir, para além disso, uma prática de Educação Popular, em que o conhecimento crítico sobre a realidade parte do cotidiano e das vivências de todos e todas que participam e constroem conosco essa iniciativa.


Linha 13: Linha 14:


== Primeira sede da Rede Só Cria:  O Espaço Comunal Elízia Pirozi ==
== Primeira sede da Rede Só Cria:  O Espaço Comunal Elízia Pirozi ==
[[Arquivo:Espaço Comunal Elízia Pirozi, na Rocinha.jpg|miniaturadaimagem]]
[[Arquivo:Espaço Comunal Elízia Pirozi, na Rocinha.jpg|miniaturadaimagem|ligação=Special:FilePath/Espaço_Comunal_Elízia_Pirozi,_na_Rocinha.jpg]]
Em 2021, indo para o seu terceiro ano de existência, o pré-vestibular popular Só Cria conseguiu um espaço próprio na Favela da Rocinha. Isso foi possível graças a parceria entre o Pré-vestibular e as Brigadas Populares, que juntos organizaram e conseguiram o lugar para suas atuações no território. O espaço foi inaugurado dia 17 de Abril, carregando o nome de Espaço Comunal Elízia Pirozi<ref>https://www.vozdascomunidades.com.br/comunidades/entre-lutas-sociais-e-ensino-pre-vestibular-so-cria-conquista-novo-espaco-na-rocinha/</ref>, uma homenagem à educadora Francisca Elizia de Medeiros Pirozi, que morreu em 2017 aos seus 77 anos. Ela era conhecida por sua luta pela educação na Rocinha, desenvolvendo trabalhos de alfabetização de crianças e adultos na favela. Também tivemos a inauguração da Biblioteca Eliezer Pedro de Oliveira, homenageando o Tio Li da Cachopa, líder comunitário que desenvolve, desde 1992, trabalho social com as crianças e adolescentes da Favela, levando cultura, educação, arte e esporte para nossa comunidade, e que nos doou boa parte da nossa Biblioteca Popular. A atividade contou com a presença dos artistas Pedro Paiva, que é cria da Rocinha, e Marcela Cantuária colaboradora do projeto para o desenvolvimento da pintura de um mural. Além disso, também ocorreu uma atividade com o tema trazido pelos estudantes do projeto e que impacta diretamente o território há anos: A luta por água e saneamento básico na Rocinha. A inauguração do Espaço Comunal Elízia Pirozi trouxe em si o significado de luta, resistência, memória e construção popular, fazendo desse espaço, um local de troca, coletividade e possibilidade de um futuro de esperança nos anos que estão por vir.  
Em 2021, indo para o seu terceiro ano de existência, o pré-vestibular popular Só Cria conseguiu um espaço próprio na Favela da Rocinha. Isso foi possível graças a parceria entre o Pré-vestibular e as Brigadas Populares, que juntos organizaram e conseguiram o lugar para suas atuações no território. O espaço foi inaugurado dia 17 de Abril, carregando o nome de Espaço Comunal Elízia Pirozi<ref>https://www.vozdascomunidades.com.br/comunidades/entre-lutas-sociais-e-ensino-pre-vestibular-so-cria-conquista-novo-espaco-na-rocinha/</ref>, uma homenagem à educadora Francisca Elizia de Medeiros Pirozi, que morreu em 2017 aos seus 77 anos. Ela era conhecida por sua luta pela educação na Rocinha, desenvolvendo trabalhos de alfabetização de crianças e adultos na favela. Também tivemos a inauguração da Biblioteca Eliezer Pedro de Oliveira, homenageando o Tio Li da Cachopa, líder comunitário que desenvolve, desde 1992, trabalho social com as crianças e adolescentes da Favela, levando cultura, educação, arte e esporte para nossa comunidade, e que nos doou boa parte da nossa Biblioteca Popular. A atividade contou com a presença dos artistas Pedro Paiva, que é cria da Rocinha, e Marcela Cantuária colaboradora do projeto para o desenvolvimento da pintura de um mural. Além disso, também ocorreu uma atividade com o tema trazido pelos estudantes do projeto e que impacta diretamente o território há anos: A luta por água e saneamento básico na Rocinha. A inauguração do Espaço Comunal Elízia Pirozi trouxe em si o significado de luta, resistência, memória e construção popular, fazendo desse espaço, um local de troca, coletividade e possibilidade de um futuro de esperança nos anos que estão por vir.  



Edição das 17h24min de 23 de novembro de 2021

Logo.png

O Só Cria é um projeto que carrega o Popular em seu nome e em sua prática. Somos uma rede de Educação Popular que atualmente atua com curso de pré-vestibular com pólos na Favela da Rocinha e Barreira do Vasco, em São Cristóvão, além do curso de pré-encceja, na Favela da FICAP, na Pavuna. Lutamos pela democratização do acesso da favela à educação de qualidade e aos espaços historicamente negados à população favelada. Por meio das nossas aulas, atividades de extensão, formações e grupos de acolhimento, buscamos compartilhar entre voluntários e estudantes o conhecimento ligado à prática, à realidade da favela, e as nossas vidas cotidianas. Temos como um de nossos objetivos lutar pela aprovação de nossos estudantes no Enem e demais vestibulares, bem como a formação plena de nossos jovens e adultos que, por conta das desigualdades sociais, foram impedidos de acessar a educação na nas fases corretas de escolarização. Buscamos construir, para além disso, uma prática de Educação Popular, em que o conhecimento crítico sobre a realidade parte do cotidiano e das vivências de todos e todas que participam e constroem conosco essa iniciativa.

Pré-vestibular Só Cria na Rocinha.jpg

A luta do Só Cria também ultrapassa a sala de aula! Por meio da organização popular, chamamos nossos estudantes e voluntários a intervir na realidade da favela, da cidade e do país. Realizamos mutirões, saraus, visitas, intervenções artísticas e muitas outras ações que buscam, por meio da reflexão, organização e ação, construir uma ferramenta de transformação da realidade.

Na pandemia do Coronavirus, trabalhamos na construção de uma plataforma de Educação Remota Emergencial, na qual, além das aulas, organizamos estratégias de acolhimento, campanhas de solidariedade e de conscientização e atividades de Extensão, como cineclubes, clubes de leitura, formações e rodas de conversas.

Queremos que os crias e as crias da Favela tenham o direito a uma formação crítica e de qualidade e ao acesso às Universidades. Queremos Criar um mundo novo, transformar a realidade.

O Início

O Só Cria nasce em 2019 da ideia de dois movimentos sociais que atuavam na Favela da Rocinha, o Movimenta Rocinha e as Brigadas Populares. Tínhamos como desejo que esse projeto fosse um movimento de organização popular, de transformação da sociedade, de possibilidades de novos futuros e horizontes para nós que somos favelados e, consequentemente, mais afetados pelo descaso do Estado. Em pesquisa realizada em 2011 pela FGV, constatou-se que a Rocinha possuía média de escolaridade de 5,1 anos, a mais baixa entre todas as regiões administrativas do Rio de Janeiro. Em estudo de 2016 do CESEC, nas favelas cariocas que contavam com UPPs(Unidades de Polícia Pacificadora), entre as quais se inclui a Rocinha, apenas 2,3% da população com mais de 16 anos possuía ensino superior, enquanto 26,9% possuía ensino médio completo ou superior incompleto, em comparação com 33% de toda a população do município. Na época, esses dados nos apontaram uma demanda importante de construir instrumentos comunitários que contribuam para a situação da Educação na comunidade, em especial para o acesso dos nossos estudantes ao ensino superior, que se tornou possível graças a parceria com o CIEP – AYRTON SENNA, que cedeu seu espaço para nossa primeira turma e ao apoio do seu Grêmio Estudantil. Entre os anos de 2020 e 2021, apesar dos desafios impostos pela pandemia do Coronavírus, o Só Cria cresceu e se tornou uma rede de Educação Popular e atualmente possui espaços próprios com sede na Rocinha, São Cristóvão e na Pavuna.

Primeira sede da Rede Só Cria:  O Espaço Comunal Elízia Pirozi

Espaço Comunal Elízia Pirozi, na Rocinha.jpg

Em 2021, indo para o seu terceiro ano de existência, o pré-vestibular popular Só Cria conseguiu um espaço próprio na Favela da Rocinha. Isso foi possível graças a parceria entre o Pré-vestibular e as Brigadas Populares, que juntos organizaram e conseguiram o lugar para suas atuações no território. O espaço foi inaugurado dia 17 de Abril, carregando o nome de Espaço Comunal Elízia Pirozi[1], uma homenagem à educadora Francisca Elizia de Medeiros Pirozi, que morreu em 2017 aos seus 77 anos. Ela era conhecida por sua luta pela educação na Rocinha, desenvolvendo trabalhos de alfabetização de crianças e adultos na favela. Também tivemos a inauguração da Biblioteca Eliezer Pedro de Oliveira, homenageando o Tio Li da Cachopa, líder comunitário que desenvolve, desde 1992, trabalho social com as crianças e adolescentes da Favela, levando cultura, educação, arte e esporte para nossa comunidade, e que nos doou boa parte da nossa Biblioteca Popular. A atividade contou com a presença dos artistas Pedro Paiva, que é cria da Rocinha, e Marcela Cantuária colaboradora do projeto para o desenvolvimento da pintura de um mural. Além disso, também ocorreu uma atividade com o tema trazido pelos estudantes do projeto e que impacta diretamente o território há anos: A luta por água e saneamento básico na Rocinha. A inauguração do Espaço Comunal Elízia Pirozi trouxe em si o significado de luta, resistência, memória e construção popular, fazendo desse espaço, um local de troca, coletividade e possibilidade de um futuro de esperança nos anos que estão por vir.

POR UMA EDUCAÇÃO POPULAR, SÓ CRIA NO VESTIBULAR!

Nossa Primeira Aprovação

A INDÍGENA KORÊ CANELA APROVADA PARA A UFRRJ.jpg

Em meio ao desmonte da educação pública no Brasil, tivemos uma grande conquista ao longo do ano, nossa primeira aprovação no vestibular. A jovem Korê, pertencente à nação Canela, originária do estado do Maranhão, quis resgatar a cultura de sua etnia na Universidade Federal, passando para Educação do Campo na UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)[2][3][4]. Um grande feito para o projeto, demarcando que não falarão mais por nós e que, com nossos corpos e vivências, ocuparemos todos os espaços que historicamente nos foi negado, incluindo a Universidade Pública.


Nossos Prêmios e Homenagens

Prêmio "Todo Mundo Tem Direitos".jpg

Ao fim do nosso primeiro ano letivo, no Dia Internacional dos Direitos Humanos, fomos homenageados na Sessão Solene "Todo Mundo Tem Direitos" na Alerj[5], promovida pela mandata da deputada estadual Renata Souza. Foi muito simbólico para nós, que construímos uma educação popular, recebermos o prêmio que leva o nome de Carolina Maria de Jesus, uma das principais intelectuais do Brasil. Uma mulher negra e favelada que rompeu barreiras, se tornando uma grande referência.




Expansão da Rede Só Cria para a Barreira do Vasco e Favela da FICAP

Diante de tantas conquistas e feitos, muito embora a pandemia tenha nos freado severamente, em nome da segurança da saúde de todos, resolvemos expandir nosso trabalho e abrir mais um pré-vestibular popular, dessa vez na Barreira do Vasco, em São Cristovão[6] e a nossa primeira unidade de pré-encceja, na Favela da FICAP, na Pavuna[7]. Passamos todo o ano de 2020 nos planejando, arrecadando fundos e pensando como realizar nosso projeto na pandemia e, no futuro, também no presencial. Começamos o ano de 2021 com a seleção de professores e alunos, que foi um sucesso e temos a alegria de dizer que nossas aulas no Só Cria Barreira do Vasco já iniciaram e o pré-encceja da FICAP terá inauguração em 2022. Nos permitimos somente olhar pra frente, almejando dias melhores, em que muitos moradores de comunidades ocupem seu lugar devido nas universidades.

Dados Gerais da Rocinha

Rocinha 1 Rocinha 2
População 32.525 36.831
Gênero
Mulheres 50,4% 19,6%
Homens 52,9% 49,1%
Emprego na Rocinha
Taxa de desocupação (18 anos ou mais) 7,79% 6,39%
Ocupados sem carteira  (18 anos ou mais) 13,36% 17,97%
Ocupados com carteira  (18 anos ou mais) 73,27% 71,42%
Escolaridade na Rocinha
Taxa de analfabetismo 6,41% 7,72%
Frequentam o ensino médio (18 a 24 anos) 10,97% 10,96%
Taxa de frequência no Ensino Médio 36,05% 32,23%
Condições de moradia
Pessoas em domicílios com paredes que não sejam de alvenaria ou madeira aparelhada 1,13% 0,32%
População que vive em domicílios com densidade superior a 2 pessoas por dormitório 47,02% 47,39%

*ROCINHA 1: Cachopa – Cachopinha – Dionéia / ROCINHA 2: Roupa Suja – Rua 2 – Boiadeiro

Saneamento Básico na Rocinha

Dos inscritos no pré-vestibular Só Cria 5,73% sofreram com falta de água, desses, 80% reside na zona 2 da Rocinha

Segundo relatório da Ouvidoria Geral da defensoria Pública sobre a falta de abastecimento em bairros, favelas e cidades do estado do Rio de Janeiro em 2020, no início da pandemia: "A Rocinha figura, nesta primeira parcial de da dados, como a segunda localidade com o maior número de denuncias de problemas de abastecimentos. Em 27 relatos, a região da Vila Verde foi a mais mencionada, mas também foram citadas a Rua 2, Rua 3, Rua 4 Cachopada e Casa da Paz. Os relatos da Rocinha falam de famílias sem água em casa por até mais de uma semana[8].

Abastecimento de água inadequado (ROCINHA 1: Cachopa – Cachopinha – Dionéia / ROCINHA 2: Roupa Suja – Rua 2 – Boiadeiro):

Rocinha 1: 0%

Rocinha 2: 0,32%


De acordo com o Painel Seneamento Brasil de 2019, o tempo de escolaridade dos jovens com saneamento básico é 3,89 anos superior ao dos que residem em locais sem acesso ao serviço[9]. Na Rocinha o tempo de escolaridade dos jovens com saneamento básico é de 9,23 anos enquanto que o dos jovens sem saneamento básico é de 5,23 anos.