Segurança Presente (programa)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Autora: Clara Polycarpo.

Em um modelo de vigilância para além da política de pacificação, territorializada em favelas estratégicas do Rio de Janeiro, o Programa Segurança Presente – antes Operação –[1], em atuação desde 2015, foi incentivado pelo empresariado, por um contrato inicial de dois anos, ao ser bancado pelo Sistema Fecomércio, em convênio com o estado[2], através do ex-governador Sérgio Cabral. Nascido, primeiramente, no âmbito da Secretaria de Estado de Governo, juntamente com a Operação Lei Seca, foi transferido, em 2016, para a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos[3], e hoje, segue em parceria também com a prefeitura, e mais diversos órgãos que atuam coordenados em sua ação: Polícia Militar, Polícia Civil, Comando Militar do Leste, Guarda Municipal, secretarias municipais de Ordem Pública, de Desenvolvimento Social, de Conservação, de Transportes, Comlurb, o Centro de Operações Rio (COR), da prefeitura, e o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), do estado.

O programa, que tem como objetivo combater pequenos delitos e cooperar na segurança pública em locais estratégicos, conta com a participação de policiais militares da ativa e da reserva e agentes civis egressos das Forças Armadas, assim reconhecidos enquanto “agentes de segurança”[4], em serviço ativo voluntário, e já atua, não mais em áreas de risco como as favelas, mas em áreas de interesse da cidade, como o Centro, o Méier, a Lapa, o Aterro do Flamengo, a Lagoa e, a partir de 2019, com ampliação para Tijuca, Leblon, Botafogo e Laranjeiras, áreas nobres em intensa demanda pela sociedade civil.

O Programa Segurança Presente é dependente, portanto, de firmação e renovação de contratos, tendo como planejamento a atuação em apenas dois anos. Nestes anos de atuação, as estatísticas de sua eficácia, segundo os dados de criminalidade, foram positivas aos olhos de seus formuladores: até agosto de 2016, os agentes da Operação Segurança Presente haviam efetuado 2.076 prisões, sendo 1.225 por posse e uso de entorpecentes, e já cumpriram 162 mandados de prisão. Também foram conduzidas à delegacia 61 pessoas por porte de arma branca e sete por porte de arma de fogo, 74 por roubo e 135 por furto; em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, foram realizadas 553 ações de acolhimento a pessoas em situação de rua[5]. Tais resultados, portanto, garantiram a continuidade do convênio Prefeitura-Estado-Fecomércio, sendo prorrogado até 2018[6] – mesmo que, devido a crise do estado, não haja possibilidade de contratação de novos policiais, o que faz ser sempre reaberta a parceria com as Forças Armadas da União[7]. Neste caso da cidade do Rio de Janeiro, as redes de cooperação, como o Programa Segurança Presente, têm sido o principal aspecto em crescimento quando o projeto é na área de segurança pública no período pós-pacificação, contribuindo para o processo de privatização da segurança e policialização da cidade.  

A disputa pelo controle da segurança da cidade do Rio de Janeiro, incluindo a cada vez maior inserção dos setores privados não apenas em seu financiamento, mas também em sua formulação. A disputa pauta-se pela concepção do que é a segurança pública e as demandas por uma segurança privada.  Apresentado como “efeito colateral” do programa Segurança Presente, policiais da Polícia Militar, por exemplo, preferem atuar no projeto privado a fazer hora extra no Batalhão, pois o programa, em seu financiamento, garante um melhor pagamento, em contratos assinados pela Secretaria de Governo[8]. Ou seja, o programa, neste sentido, criado para auxiliar as corporações oficiais, vem trazendo mais problemas na disputa pelo seu controle.

Em 2019, a partir do então eleito governado Wilson Witzel, o programa pretende se expandir para outros bairros e municípios, além da expansão de seu próprio investimento, com a compra de equipamentos, como câmeras e veículos, além da contratação de novos policiais para atuação na força de segurança do estado. Promessa de campanha do atual governador Wilson Witzel, além disso, o programa deverá passar por algumas reformulações, como  ganhar ações sociais. Até mesmo o nome poderá ser alterado, podendo se chamar "Sociedade Segura". O projeto tende a contar com a participação de assistentes sociais, deixando, assim, de focar exclusivamente a segurança pública. O objetivo é dar a marca do novo governo às operações e tentar atrair mais investidores, que possam bancar não apenas as horas extras dos policiais que atuam no Segurança Presente, mas também cursos de capacitação[9].

 

  1. DECRETO Nº 45.475 DE 27 DE NOVEMBRO DE 2015: Institui programa de estímulo operacional (PEOp) para as operações realizadas no âmbito da Secretaria de Estado de Governo, autoriza a convocação para serviço ativo voluntário de policiais militares da reserva remunerada e dá outras providências.
  2. Cf. O GLOBO. Pezão diz que a operação 'Segurança Presente' vai continuar no Rio, 03/05/2017 [online].
  3. DECRETO Nº 45.629 DE 12 DE ABRIL DE 2016. Transfere as Operações Lei Seca, Lapa Presente e Segurança Presente da Secretaria de Estado de Governo para a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, no poder executivo do Estado do Rio de Janeiro, e dá outras providências.
  4. Somam-se, apenas no Centro Presente, 528 agentes de segurança, 66 bicicletas, 27 motos e 15 carros e vans, até início de 2018.
  5. Cf. O que é a operação Centro Presente, 29/08/2016. Disponível em: <http://diariodorio.com/entenda-operacao-centro-presente/>.
  6. Cf. O DIA. Segurança Presente é prorrogado até final de 2018, 22/09/2017. Disponível em: <http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2017-09-22/seguranca-presente-e-prorrogado-ate-final-de-2018.html>.
  7. Cf. GLOBO. Pezão diz que a operação 'Segurança Presente' vai continuar no Rio, 03/05/2017. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/pezao-diz-que-a-operacao-seguranca-presente-vai-continuar-no-rio.ghtml>.
  8. Cf. EFEITO colateral: programa 'Segurança Presente' causa diminuição no efetivo. Extra, 29 nov. 2017. [online].
  9. O GLOBO. Governo do Rio planeja fazer mudanças no Segurança Presente, 07/02/2019 [online].