Um parque chamado Maré (artigo): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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''Das palafitas e do aterramento nasceu a favela à beira da Avenida Brasil''
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O Parque Maré causa alguma confusão entre os moradores sobre onde exatamente começa e termina. A favela fica entre a Baixa do Sapateiro e a Nova Holanda, às margens da Avenida Brasil; os primeiros barracos e palafitas construídos datam de 1953. O aterramento foi feito pelos próprios moradores e a proximidade com a via expressa ajudou na rapidez da ocupação e na densidade populacional do território.  
O Parque [[Complexo da Maré|Maré]] causa alguma confusão entre os moradores sobre onde exatamente começa e termina. A favela fica entre a Baixa do Sapateiro e a Nova Holanda, às margens da Avenida Brasil; os primeiros barracos e palafitas construídos datam de 1953. O aterramento foi feito pelos próprios moradores e a proximidade com a via expressa ajudou na rapidez da ocupação e na densidade populacional do território.  


No dia 26 de julho de 1960, foi criada a associação de moradores que, dentre outros objetivos, tinha como missão principal lutar pela permanência dos moradores no local. Na época, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil e a política para as favelas, a remoção e erradicação das construções. Com a Maré não seria diferente. Em 1979, foi criado pelo governo o ''Projeto Rio'', que visava melhorar a infraestrutura do território.  
No dia 26 de julho de 1960, foi criada a associação de moradores que, dentre outros objetivos, tinha como missão principal lutar pela permanência dos moradores no local. Na época, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil e a política para as favelas, a remoção e erradicação das construções. Com a [[Complexo da Maré|Maré]] não seria diferente. Em 1979, foi criado pelo governo o ''Projeto Rio'', que visava melhorar a infraestrutura do território.  


Em 2017, a jornalista Claire Jones escreveu para o site ''RioOnWatch'' que, “embora não fosse uma remoção em grande escala que levaria os moradores da Maré para projetos habitacionais na periferia do Rio, o objetivo do projeto era demolir as casas que os moradores haviam construído durante décadas, e construir conjuntos habitacionais no seu lugar. Na ausência de título de propriedade do terreno onde moravam, no entanto, as casas representavam toda uma vida de investimento e em nada se pareciam com os barracos esquálidos que os governos reportavam que fossem. Os conjuntos habitacionais do governo, mesmo no local, representavam um passo atrás para muitos moradores da Maré.”  
Em 2017, a jornalista Claire Jones escreveu para o site ''RioOnWatch'' que, “embora não fosse uma remoção em grande escala que levaria os moradores da Maré para projetos habitacionais na periferia do Rio, o objetivo do projeto era demolir as casas que os moradores haviam construído durante décadas, e construir conjuntos habitacionais no seu lugar. Na ausência de título de propriedade do terreno onde moravam, no entanto, as casas representavam toda uma vida de investimento e em nada se pareciam com os barracos esquálidos que os governos reportavam que fossem. Os conjuntos habitacionais do governo, mesmo no local, representavam um passo atrás para muitos moradores da Maré.”  


Em 11 de junho de 1979, o então ministro do Interior em exercício, Mário Andreazza, assinou uma “Minuta Carta”, uma espécie de rascunho de um documento oficial, que reconhecia a Comissão de Defesa das Favelas da Área da Maré (Codefam) como representante dos moradores junto às autoridades que tratavam do ''Projeto Rio''.  
Em 11 de junho de 1979, o então ministro do Interior em exercício, Mário Andreazza, assinou uma “Minuta Carta”, uma espécie de rascunho de um documento oficial, que reconhecia a Comissão de Defesa das Favelas da Área da [[Complexo da Maré|Maré]] (Codefam) como representante dos moradores junto às autoridades que tratavam do ''Projeto Rio''.  


Na época, o presidente da Codefam era Manuelino Silva; ele também estava à frente da associação de moradores do Parque Maré. À sua luta veio se juntar a força de outras lideranças, como a de José Gomes Barbosa, o Zé Careca, que conseguiu trazer o governador, Carlos Lacerda, à favela.  
Na época, o presidente da Codefam era Manuelino Silva; ele também estava à frente da associação de moradores do Parque Maré. À sua luta veio se juntar a força de outras lideranças, como a de José Gomes Barbosa, o Zé Careca, que conseguiu trazer o governador, Carlos Lacerda, à favela.  

Edição atual tal como às 18h59min de 1 de março de 2024

O Parque Maré, formado em 1953 por moradores que aterraram uma área próxima à Avenida Brasil, enfrentou ameaças de remoção ao longo dos anos. Lideranças locais, como Zé Careca, desempenharam papel crucial na resistência, contribuindo para o aterramento e a urbanização da favela.

Autoria: Hélio Euclides (Maré de Notícias Online).

Sobre[editar | editar código-fonte]

Das palafitas e do aterramento nasceu a favela à beira da Avenida Brasil

Complexo da Maré.

O Parque Maré causa alguma confusão entre os moradores sobre onde exatamente começa e termina. A favela fica entre a Baixa do Sapateiro e a Nova Holanda, às margens da Avenida Brasil; os primeiros barracos e palafitas construídos datam de 1953. O aterramento foi feito pelos próprios moradores e a proximidade com a via expressa ajudou na rapidez da ocupação e na densidade populacional do território.

No dia 26 de julho de 1960, foi criada a associação de moradores que, dentre outros objetivos, tinha como missão principal lutar pela permanência dos moradores no local. Na época, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil e a política para as favelas, a remoção e erradicação das construções. Com a Maré não seria diferente. Em 1979, foi criado pelo governo o Projeto Rio, que visava melhorar a infraestrutura do território.

Em 2017, a jornalista Claire Jones escreveu para o site RioOnWatch que, “embora não fosse uma remoção em grande escala que levaria os moradores da Maré para projetos habitacionais na periferia do Rio, o objetivo do projeto era demolir as casas que os moradores haviam construído durante décadas, e construir conjuntos habitacionais no seu lugar. Na ausência de título de propriedade do terreno onde moravam, no entanto, as casas representavam toda uma vida de investimento e em nada se pareciam com os barracos esquálidos que os governos reportavam que fossem. Os conjuntos habitacionais do governo, mesmo no local, representavam um passo atrás para muitos moradores da Maré.”

Em 11 de junho de 1979, o então ministro do Interior em exercício, Mário Andreazza, assinou uma “Minuta Carta”, uma espécie de rascunho de um documento oficial, que reconhecia a Comissão de Defesa das Favelas da Área da Maré (Codefam) como representante dos moradores junto às autoridades que tratavam do Projeto Rio.

Na época, o presidente da Codefam era Manuelino Silva; ele também estava à frente da associação de moradores do Parque Maré. À sua luta veio se juntar a força de outras lideranças, como a de José Gomes Barbosa, o Zé Careca, que conseguiu trazer o governador, Carlos Lacerda, à favela.

Zé Careca contribui também para o aterramento do Parque Maré, convencendo os próprios amigos — caminhoneiros que transportavam a terra da derrubada dos morros na cidade — a trazer a carga para a favela. Posteriormente, ele foi diretor e presidente da associação por 12 anos.

Hoje, a favela conta com um dos maiores comércios na Maré, em especial na Rua Teixeira Ribeiro, logradouro que é uma homenagem a João Teixeira Ribeiro Júnior, morador que iniciou a urbanização e loteamento de Bonsucesso, em 1892.

Memórias eternas[editar | editar código-fonte]

Nivaldo Braga de Lima, de 63 anos, conhecido como Zé Gordo, lembra com carinho do Parque Maré. “Os avanços vinham por meio de lideranças e pessoas marcantes como Ivan Neguinho, Ivanildo Alves (que tinha o apelido de Seu Baia), Dona Moura, Severino Gordo, Biu, dona Edite, seu Campista Barbeiro e Manoel Tampinha. O nosso ponto de energia elétrica era de responsabilidade do Zé Luiz. O morador da palafita tinha como sonho aterrar seu espaço, depois passar vermelhão no chão e encerar para brilhar”, conta ele, hoje morador da Vila dos Pinheiros.

Ângela Viana, de 58 anos, nasceu, cresceu e vive na mesma casa. Ela é a atual presidente da Associação de Moradores do Parque Maré e sente certa nostalgia ao falar da favela.

Ela conta que, “muitas vezes, fecho os olhos e vou ao passado, sinto aquele vento da tarde. Adorava aquele tempo do barraco, quando os vizinhos ajudavam uns aos outros. A mãe saía para trabalhar e os moradores olhavam a casa e os filhos dela. A favela foi uma construção coletiva, pois os moradores aterraram e criaram as ruas. Eles arregaçavam as mangas. Tenho orgulho e satisfação de morar e ser liderança comunitária”.

Referências[editar | editar código-fonte]

EUCLIDES, Hélio. Um parque chamado Maré. Rio de Janeiro. Maré de Notícias Online, 2023.

Artigo originalmente produzido por Hélio Euclides e publicado no portal Maré de Notícias Online em abril de 2023.