Zona Oeste Ativa - produção cultural na ZO: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Também houve apresentações musicais de artistas locais, da MPB ao rap, além da apresentação de um grupo de capoeira. Ao final, o público se direcionou à estação de trem Guilherme da Silveira para demarcar a presença do coletivo e a ocupação do espaço público, e grafitaram "ZOA" na parede da estação.
Também houve apresentações musicais de artistas locais, da MPB ao rap, além da apresentação de um grupo de capoeira. Ao final, o público se direcionou à estação de trem Guilherme da Silveira para demarcar a presença do coletivo e a ocupação do espaço público, e grafitaram "ZOA" na parede da estação.
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Apenas um mês após o terceiro evento, a ZOA conseguiu estar na rua novamente. A Praça Guilherme da Silveira tornou-se um ponto fixo dos encontros. Por ser próxima à estação de trem e estar em uma área de fácil acesso para os moradores da Zona Oeste, foi decidido que as reuniões aconteceriam sempre por ali. O tema da vez foi “Periferia central: a batalha”, que promoveu uma longa discussão sobre a cultura hip-hop, além de apresentações de street dance, batalhas de rima e um painel colaborativo de grafite no decorrer do evento.
Apenas um mês após o terceiro evento, a ZOA conseguiu estar na rua novamente. A Praça Guilherme da Silveira tornou-se um ponto fixo dos encontros. Por ser próxima à estação de trem e estar em uma área de fácil acesso para os moradores da Zona Oeste, foi decidido que as reuniões aconteceriam sempre por ali. O tema da vez foi “Periferia central: a batalha”, que promoveu uma longa discussão sobre a cultura hip-hop, além de apresentações de street dance, batalhas de rima e um painel colaborativo de grafite no decorrer do evento.

Edição das 01h26min de 1 de abril de 2024

Autoria: Kharine Gil

Memória e construção do coletivo

O Coletivo Zona Oeste Ativa (ZOA) foi criado em agosto de 2015 a partir dos anseios da jovem Kharine Gil, na época com 15 anos, de discutir com seus amigos temas de grande relevância e impacto na Zona Oeste.

A partir disso, a jovem decidiu convidar pelo Facebook alguns conhecidos que pudessem ter interesse em participar de uma roda de conversa na região. Inicialmente não havia uma ideia materializada sobre a construção de um projeto ou coletivo, apenas o desejo de estar nas ruas da Z.O promovendo debates. O primeiro tema proposto foi "a mulher na sociedade", que contou com a mediação de dois professores de Sociologia que haviam sido convidados e propuseram-se a discorrer sobre o assunto. Outros convidados também deram a ideia da realização de um lanche coletivo, com o propósito de incentivar a participação do público, além de uma apresentação teatral e uma oficina de cartazes realizada por algumas das mulheres que participaram.

Com a aparente animação das pessoas em participar do encontro, visto que na época não era comum ocorrer eventos desse tipo nos bairros da Zona Oeste, o futuro grupo foi nomeado como "Zona Oeste Ativa". Na arte de divulgação, que foi compartilhada nas redes sociais, havia a sombra de uma mulher segurando um megafone. Existia a vontade de demonstrar que, de alguma forma, o encontro tinha como propósito dar voz à essas pessoas e às discussões que fossem resultado dali.

Por fim, reuniram-se 32 pessoas na Praça Guilherme da Silveira, localizada no bairro Padre Miguel.

Primeiro evento da Zona Oeste Ativa na Praça Guilherme da Silveira
Primeiro evento da Zona Oeste Ativa na Praça Guilherme da Silveira

 A partir do primeiro encontro a ZOA começou a consolidar-se enquanto um grupo. Alguns membros interessados decidiram compor a coordenação e a produção de novos encontros, ficando responsáveis pelo convite de palestrantes, mediadores e expositores. A segunda reunião, que ocorreu em outubro de 2015, teve como tema a “redução da maioridade penal” e foi realizada no mesmo local do evento anterior.

Contando com uma estrutura maior, já que havia o apoio de novas pessoas, foi possível levar alguns microfones e uma caixa de som para a praça. Uma ideia fundamental para a realização dos eventos era fortalecer a cultura que existe na Zona Oeste e os trabalhos da população local. Com isso, houve também apresentações musicais, leitura de poesia, exposição de desenhos e até uma oficina de grafite. O resultado da oficina foi a frase “não à redução da maioridade penal” grafitada na pista de skate da Praça Guilherme da Silveira.

Oficina de grafite na praça Guilherme da Silveira
Público na pista de skate ao redor do grafite "não à redução da maioridade penal"

O terceiro evento aconteceu em fevereiro de 2016. Como não havia financiamento ou incentivo financeiro para a realização dos encontros, os membros da coordenação preparavam lanches para arrecadar pequenas quantias de dinheiro que permitissem a promoção de novos eventos. A cada vez mais, mais pessoas participavam, então foi preciso conseguir um alvará da prefeitura para colocar a ZOA na rua, já que sempre era ocupado um largo espaço da praça.

Desta vez o tema da roda de conversa foi “Zona Oeste e a cidade do Rio de Janeiro”, com o propósito de explorar a memória da região, e teve como principal expositor um antigo morador de Bangu, sr. Murillo, já com seus 90 anos, que discutiu sobre a história da área.

Também houve apresentações musicais de artistas locais, da MPB ao rap, além da apresentação de um grupo de capoeira. Ao final, o público se direcionou à estação de trem Guilherme da Silveira para demarcar a presença do coletivo e a ocupação do espaço público, e grafitaram "ZOA" na parede da estação.

Roda de capoeira no evento "Zona Oeste e a cidade do Rio de Janeiro"

Apenas um mês após o terceiro evento, a ZOA conseguiu estar na rua novamente. A Praça Guilherme da Silveira tornou-se um ponto fixo dos encontros. Por ser próxima à estação de trem e estar em uma área de fácil acesso para os moradores da Zona Oeste, foi decidido que as reuniões aconteceriam sempre por ali. O tema da vez foi “Periferia central: a batalha”, que promoveu uma longa discussão sobre a cultura hip-hop, além de apresentações de street dance, batalhas de rima e um painel colaborativo de grafite no decorrer do evento.

Em junho de 2016, poucos meses antes do encerramento do processo de impeachment da presidenta Dilma, a ZOA teve como tema da roda de conversa o questionamento “é golpe ou não é golpe?”. Houve a presença de mediadores, como membros de movimentos sociais, que debateram sobre a conjuntura política do Brasil naquele momento. Como de costume, ocorreram apresentações musicais de artistas locais e a leitura de poesias.

Um mês depois, em julho de 2016, o tema da discussão foi “reforma política”. Na oportunidade, uma das expositoras do diálogo foi Marielle Franco. Houve também a presença de skatistas, atores, desenhistas, MCs, dreadmakers e poetas, que compuseram as apresentações artísticas do evento. Nesse momento o coletivo estava mais conhecido pela região e contava com um público diverso, como pessoas que residiam em diferentes bairros da Zona Oeste, como Bangu, Campo Grande, Santíssimo, Santa Cruz, Magalhães Bastos, Taquara e outros.

Vale ressaltar que a produção dos eventos sempre foi patrocinada pelos próprios produtores, contando principalmente com os recursos obtidos pela venda dos lanches e do bar do evento, e não havia recursos financeiros externos ao projeto. Mesmo assim, a ZOA nunca deixou de participar ativamente da construção sócio-política da Zona Oeste.

Posteriormente, ocorreram encontros sobre as eleições de 2016; sobre as lutas e os desafios em ser uma mulher na sociedade; e sobre as mulheres na classe trabalhadora. Em novembro de 2017, o coletivo organizou sua primeira festa, nomeada “FarOeste - Nuvem Preta”, parte da programação do mês da consciência negra. O evento também ocorreu na Praça Guilherme da Silveira, mas surpreendentemente foi impedido pela presença da polícia.

Apesar do alvará emitido pela sub-prefeitura para que o evento ocorresse, alguns policiais pararam a viatura ao lado da quadra de esportes onde o evento estava acontecendo. Assim que os membros perceberam, direcionaram-se aos policiais para explicar que havia permissão para estarem ali. Um dos integrantes foi detido de forma totalmente arbitrária, sendo algemado e exposto ao vexatório em meio a praça pública, e os policiais recusaram-se a falar sobre o motivo da detenção. O mesmo integrante foi levado à delegacia, momento teve conhecimento de ter sido detido por suposta obstrução do trabalho policial, mesmo que isso não tenha ocorrido.

Nessa época havia um forte contexto de repressão aos movimentos culturais por parte da prefeitura do Rio de Janeiro, e a ZOA foi atravessada por tamanha injustiça.

Mesmo assim, em janeiro de 2018 a ZOA estava na rua novamente. O "Festival Juntey" foi um evento organizado por três coletivos da Zona Oeste: ZOA, Artrash e Studio2. A ideia era promover cultura, arte, informação, lazer, educação e saúde na região. Para a realização do evento foi preciso suporte de parlamentares da Assembleia Legislativa do RJ e de parlamentares da Câmara Municipal do RJ, além do alvará da prefeitura. A programação contava com exposição de artes em xilogravura, brechós, pintura ao vivo de grafite, exibição do curta-metragem “O olho do cão” e discussão sobre guerra às drogas, com participação de Orlando Zaccone e Renato Cinco, bem como apresentações de grupos de dança e djs.

Já em abril de 2018 a ZOA promoveu o evento “Intervenção Federal pra que(m)?”, que contou com a presença da professora de Direito da UFRJ Luciana Boiteux. A parte artística do evento ficou por conta da oficina de stencil, exposição de artes e produção de grafite.

Por fim, o último evento em praça pública da ZOA foi “Funk é cultura SIM!”, realizado em setembro de 2018. O coletivo questionou porque a sociedade brasileira tem dificuldade em reconhecer o funk enquanto manifestação cultural legítima. O evento contou com a presença de Talíria Petrone, Marcelo Gularte e produtores de festas de funk da Zona Oeste, além de djs e grupos de dança. Infelizmente, mais uma vez o grupo foi ameaçado, quando um homem que estava próximo ao local discordou da defesa do funk como uma expressão cultural e pegou o microfone, para ofender os produtores e os artistas, dizendo que possuía uma arma e voltaria ao evento novamente.

Desde então a ZOA não produziu mais eventos, mas permaneceu presente e ativa construindo e lutando pelas demandas da Zona Oeste. Esse coletivo cultural foi e é composto por corpos e mentes em movimento para construir espaços de reflexão, diálogo, produção de cultura e participação cidadã na região. Todas as reuniões e encontros da ZOA foram gratuitos para a população e promoveram um profundo diálogo com a comunidade.

É possível acessar a página oficial desse coletivo pelo por aqui.