Zona Oeste Ativa - produção cultural na ZO: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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== A construção do coletivo ==
Autoria: Kharine Gil
O Coletivo Zona Oeste Ativa foi criado em agosto de 2015 a partir dos anseios da jovem Kharine Gil, na época com 15 anos, de discutir com seus amigos temas de grande relevância e impacto na Zona Oeste - e que não eram amplamente debatidos por lá.


A partir disso, a jovem decidiu convidar pelo Facebook alguns conhecidos que pudessem ter interesse em participar de uma roda de conversa na região. Inicialmente não havia uma ideia materializada sobre a construção de um projeto ou coletivo, apenas o desejo de estar nas ruas da Z.O promovendo  debates. O primeiro tema proposto foi "a mulher na sociedade", que contou com a mediação de dois professores de Sociologia que haviam sido convidados e propuseram-se a discorrer sobre o tema. Outros convidados também deram a ideia da realização de um lanche coletivo, com o propósito de incentivar a participação do público, além de uma apresentação teatral e uma oficina de cartazes realizada por algumas das mulheres que participariam.
== Memória e construção do coletivo ==
O Coletivo Zona Oeste Ativa (ZOA) foi criado em agosto de 2015 a partir dos anseios da jovem Kharine Gil, na época com 15 anos, de discutir com seus amigos temas de grande relevância e impacto na Zona Oeste.


Com a aparente animação das pessoas em participar do encontro, visto que na época não era comum ocorrer eventos desse tipo nos bairros da Zona Oeste, Kharine decidiu nomear o grupo como "Zona Oeste Ativa", e pediu a ajuda de um amigo para criar um cartaz de divulgação.
A partir disso, a jovem decidiu convidar pelo Facebook alguns conhecidos que pudessem ter interesse em participar de uma roda de conversa na região. Inicialmente não havia uma ideia materializada sobre a construção de um projeto ou coletivo, apenas o desejo de estar nas ruas da Z.O promovendo debates. O primeiro tema proposto foi "a mulher na sociedade", que contou com a mediação de dois professores de Sociologia que haviam sido convidados e propuseram-se a discorrer sobre o assunto. Outros convidados também deram a ideia da realização de um lanche coletivo, com o propósito de incentivar a participação do público, além de uma apresentação teatral e uma oficina de cartazes realizada por algumas das mulheres que participaram.


Por fim, reuniram-se 32 pessoas na Praça Guilherme da Silveira, localizada no bairro Padre Miguel.   
Com a aparente animação das pessoas em participar do encontro, visto que na época não era comum ocorrer eventos desse tipo nos bairros da Zona Oeste, o futuro grupo foi nomeado como "Zona Oeste Ativa". Na arte de divulgação, que foi compartilhada nas redes sociais, havia a sombra de uma mulher segurando um megafone. Existia a vontade de demonstrar que, de alguma forma, o encontro tinha como propósito dar voz à essas pessoas e às discussões que fossem resultado dali.


[[Arquivo:11918951 408257756032850 4471418538933426901 n.jpg|centro]]
Por fim, reuniram-se 32 pessoas na Praça Guilherme da Silveira, localizada no bairro Padre Miguel.
[[Arquivo:11918951 408257756032850 4471418538933426901 n.jpg|centro|Primeiro evento da Zona Oeste Ativa na Praça Guilherme da Silveira|alt=Primeiro evento da Zona Oeste Ativa na Praça Guilherme da Silveira|miniaturadaimagem|680x680px]]
 A partir do primeiro encontro a ZOA começou a consolidar-se enquanto um grupo. Alguns membros interessados decidiram compor a coordenação e a produção de novos encontros, ficando responsáveis pelo convite de palestrantes, mediadores e expositores. A segunda reunião, que ocorreu em outubro de 2015, teve como tema a “redução da maioridade penal” e foi realizada no mesmo local do evento anterior.
 
Contando com uma estrutura maior, já que havia o apoio de novas pessoas, foi possível levar alguns microfones e uma caixa de som para a praça. Uma ideia fundamental para a realização dos eventos era fortalecer a cultura que existe na Zona Oeste e os trabalhos da população local. Com isso, houve também apresentações musicais, leitura de poesia, exposição de desenhos e até uma oficina de grafite. O resultado da oficina foi a frase “não à redução da maioridade penal” grafitada na pista de skate da Praça Guilherme da Silveira.
[[Arquivo:11181866 1026437410722289 5034770007082754844 n.jpg|centro|Oficina de grafite na praça Guilherme da Silveira no evento "Redução da maioridade penal"|miniaturadaimagem|573x573px]]
[[Arquivo:10922705 1026436717389025 4716837477982463693 n.jpg|centro|Público na pista de skate ao redor do grafite "não à redução da maioridade penal"|miniaturadaimagem|574x574px]]
 
O terceiro evento aconteceu em fevereiro de 2016. Como não havia financiamento ou incentivo financeiro para a realização dos encontros, os membros da coordenação preparavam lanches para arrecadar pequenas quantias de dinheiro que permitissem a promoção de novos eventos. A cada vez mais, mais pessoas participavam, então foi preciso conseguir um alvará da prefeitura para colocar a ZOA na rua, já que sempre era ocupado um largo espaço da praça.
 
Desta vez o tema da roda de conversa foi “Zona Oeste e a cidade do Rio de Janeiro”, com o propósito de explorar a memória da região, e teve como principal expositor um antigo morador de Bangu, sr. Murillo, já com seus 90 anos, que discutiu sobre a história da área.
 
Também houve apresentações musicais de artistas locais, da MPB ao rap, além da apresentação de um grupo de capoeira. Ao final, o público se direcionou à estação de trem Guilherme da Silveira para demarcar a presença do coletivo e a ocupação do espaço público, e grafitaram "ZOA" na parede da estação.
[[Arquivo:12670597 1077825912250105 7294158312563246672 n.jpg|centro|miniaturadaimagem|622x622px|Grupo de capoeira no evento "Zona Oeste e a cidade do Rio de Janeiro"]]
[[Arquivo:12651249 1077788478920515 3799900614781936040 n.jpg|miniaturadaimagem|Grafite "ZOA" no muro da estação de trem Guilherme da Silveira|centro|596x596px]]
 
Apenas um mês após o terceiro evento, a ZOA conseguiu estar na rua novamente. A Praça Guilherme da Silveira tornou-se um ponto fixo dos encontros. Por ser próxima à estação de trem e estar em uma área de fácil acesso para os moradores da Zona Oeste, foi decidido que as reuniões aconteceriam sempre por ali. O tema da vez foi “Periferia central: a batalha”, que promoveu uma longa discussão sobre a cultura hip-hop, além de apresentações de street dance, batalhas de rima e um painel colaborativo de grafite no decorrer do evento.
[[Arquivo:12378025 1109972232368806 6207039376991031885 o.jpg|centro|miniaturadaimagem|427x427px|Oficina de grafite no evento “Periferia central: a batalha”]]
[[Arquivo:12898391 1109972665702096 6676287220890486718 o.jpg|centro|miniaturadaimagem|432x432px|Apresentação de dança no evento “Periferia central: a batalha”]]
 
Em junho de 2016, poucos meses antes do encerramento do processo de impeachment da presidenta Dilma, a ZOA teve como tema da roda de conversa o questionamento “é golpe ou não é golpe?”. Houve a presença de mediadores, como membros de movimentos sociais, que debateram sobre a conjuntura política do Brasil naquele momento. Como de costume, ocorreram apresentações musicais de artistas locais e a leitura de poesias.
[[Arquivo:13413103 1163315800367782 761028224492931140 n.jpg|centro|miniaturadaimagem|429x429px|Evento "É golpe ou não é golpe?"]]
[[Arquivo:13310360 1163315843701111 7038924791340089661 n.jpg|centro|miniaturadaimagem|435x435px|Evento "É golpe ou não é golpe?"]]
 
Um mês depois, em julho de 2016, o tema da discussão foi “reforma política”. Na oportunidade, uma das expositoras do diálogo foi Marielle Franco. Houve também a presença de skatistas, atores, desenhistas, MCs, dreadmakers e poetas, que compuseram as apresentações artísticas do evento. Nesse momento o coletivo estava mais conhecido pela região e contava com um público diverso, como pessoas que residiam em diferentes bairros da Zona Oeste, como Bangu, Campo Grande, Santíssimo, Santa Cruz, Magalhães Bastos, Taquara e outros.
 
Vale ressaltar que a produção dos eventos sempre foi patrocinada pelos próprios produtores, contando principalmente com os recursos obtidos pela venda dos lanches e do bar do evento, e não havia recursos financeiros externos ao projeto. Mesmo assim, a ZOA nunca deixou de participar ativamente da construção sócio-política da Zona Oeste.
[[Arquivo:13693004 1191148744251154 5764953593799928415 o.jpg|centro|miniaturadaimagem|533x533px|Evento "Reforma política" e a expositora Marielle Franco]]
[[Arquivo:13730851 1191148254251203 3607799092417452088 o.jpg|centro|miniaturadaimagem|532x532px|Apresentação artística no evento "Reforma política"]]
Posteriormente, ocorreram encontros sobre as eleições de 2016; sobre as lutas e os desafios em ser uma mulher na sociedade; e sobre as mulheres na classe trabalhadora. Em novembro de 2017, o coletivo organizou sua primeira festa, nomeada “FarOeste - Nuvem Preta”, parte da programação do mês da consciência negra. O evento também ocorreu na Praça Guilherme da Silveira, mas surpreendentemente foi impedido pela presença da polícia.
 
Apesar do alvará emitido pela sub-prefeitura para que o evento ocorresse, alguns policiais pararam a viatura ao lado da quadra de esportes onde o evento estava acontecendo. Assim que os membros perceberam, direcionaram-se aos policiais para explicar que havia permissão para estarem ali. Um dos integrantes foi detido de forma totalmente arbitrária, sendo algemado e exposto ao vexatório em meio a praça pública, e os policiais recusaram-se a falar sobre o motivo da detenção. O mesmo integrante foi levado à delegacia, momento teve conhecimento de ter sido detido por suposta obstrução do trabalho policial, mesmo que isso não tenha ocorrido.
 
Nessa época havia um forte contexto de repressão aos movimentos culturais por parte da prefeitura do Rio de Janeiro, e a ZOA foi atravessada por tamanha injustiça.
[[Arquivo:23847419 1723276691038354 5447184127830128366 o.jpg|centro|miniaturadaimagem|384x384px|Integrante do coletivo algemado no evento "Nuvem Preta"]]
Mesmo assim, em janeiro de 2018 a ZOA estava na rua novamente. O "Festival Juntey" foi um evento organizado por três coletivos da Zona Oeste: ZOA, Artrash e Studio2. A ideia era promover cultura, arte, informação, lazer, educação e saúde na região. Para a realização do evento foi preciso suporte de parlamentares da Assembleia Legislativa do RJ e de parlamentares da Câmara Municipal do RJ, além do alvará da prefeitura. A programação contava com exposição de artes em xilogravura, brechós, pintura ao vivo de grafite, exibição do curta-metragem “O olho do cão” e discussão sobre guerra às drogas, com participação de Orlando Zaccone e Renato Cinco, bem como apresentações de grupos de dança e djs.
[[Arquivo:19466331 1785143418185014 2315379196870276421 o.jpg|centro|miniaturadaimagem|527x527px|Festival Juntey]]
[[Arquivo:27021685 1785141851518504 1823736696072858306 o.jpg|centro|miniaturadaimagem|528x528px|Orlando Zaccone discutindo sobre guerra às drogas no Festival Juntey]]
Já em abril de 2018 a ZOA promoveu o evento “Intervenção Federal pra que(m)?”, que contou com a presença da professora de Direito da UFRJ Luciana Boiteux. A parte artística do evento ficou por conta da oficina de stencil, exposição de artes e produção de grafite.
[[Arquivo:31398042 1894864833879538 3189478388007960576 n.jpg|centro|miniaturadaimagem|407x407px|Luciana Boiteux no evento "Intervenção federal pra que(m)?"]]
Por fim, o último evento em praça pública da ZOA foi “Funk é cultura SIM!”, realizado em setembro de 2018. O coletivo questionou porque a sociedade brasileira tem dificuldade em reconhecer o funk enquanto manifestação cultural legítima. O evento contou com a presença de Talíria Petrone, Marcelo Gularte e produtores de festas de funk da Zona Oeste, além de djs e grupos de dança. Infelizmente, mais uma vez o grupo foi ameaçado, quando um homem que estava próximo ao local discordou da defesa do funk como uma expressão cultural e pegou o microfone, para ofender os produtores e os artistas, dizendo que possuía uma arma e voltaria ao evento novamente.
[[Arquivo:42153747 2103158063050213 6345612316377088000 n.jpg|centro|miniaturadaimagem|651x651px|Evento "Funk é cultura SIM!"]]
[[Arquivo:24172716 1728295083869848 741798572379589190 o.jpg|centro|miniaturadaimagem|641x641px|Evento "Funk é cultura SIM!"]]
[[Arquivo:42058285 2103160016383351 350976055890149376 n.jpg|centro|miniaturadaimagem|525x525px|Talíria Petrone no evento "Funk é cultura SIM!"]]
Desde então a ZOA não produziu mais eventos em praça pública, mas permaneceu presente e ativa construindo e lutando pelas demandas da Zona Oeste. Esse coletivo cultural foi e é composto por corpos e mentes em movimento para construir espaços de reflexão, diálogo, produção de cultura e participação cidadã na região. Todas as reuniões e encontros da ZOA foram gratuitos para a população e promoveram um profundo diálogo com a comunidade.
 
É possível acessar a página oficial desse coletivo pelo por [https://www.facebook.com/ZOativa aqui].

Edição das 01h57min de 1 de abril de 2024

Autoria: Kharine Gil

Memória e construção do coletivo

O Coletivo Zona Oeste Ativa (ZOA) foi criado em agosto de 2015 a partir dos anseios da jovem Kharine Gil, na época com 15 anos, de discutir com seus amigos temas de grande relevância e impacto na Zona Oeste.

A partir disso, a jovem decidiu convidar pelo Facebook alguns conhecidos que pudessem ter interesse em participar de uma roda de conversa na região. Inicialmente não havia uma ideia materializada sobre a construção de um projeto ou coletivo, apenas o desejo de estar nas ruas da Z.O promovendo debates. O primeiro tema proposto foi "a mulher na sociedade", que contou com a mediação de dois professores de Sociologia que haviam sido convidados e propuseram-se a discorrer sobre o assunto. Outros convidados também deram a ideia da realização de um lanche coletivo, com o propósito de incentivar a participação do público, além de uma apresentação teatral e uma oficina de cartazes realizada por algumas das mulheres que participaram.

Com a aparente animação das pessoas em participar do encontro, visto que na época não era comum ocorrer eventos desse tipo nos bairros da Zona Oeste, o futuro grupo foi nomeado como "Zona Oeste Ativa". Na arte de divulgação, que foi compartilhada nas redes sociais, havia a sombra de uma mulher segurando um megafone. Existia a vontade de demonstrar que, de alguma forma, o encontro tinha como propósito dar voz à essas pessoas e às discussões que fossem resultado dali.

Por fim, reuniram-se 32 pessoas na Praça Guilherme da Silveira, localizada no bairro Padre Miguel.

Primeiro evento da Zona Oeste Ativa na Praça Guilherme da Silveira
Primeiro evento da Zona Oeste Ativa na Praça Guilherme da Silveira

 A partir do primeiro encontro a ZOA começou a consolidar-se enquanto um grupo. Alguns membros interessados decidiram compor a coordenação e a produção de novos encontros, ficando responsáveis pelo convite de palestrantes, mediadores e expositores. A segunda reunião, que ocorreu em outubro de 2015, teve como tema a “redução da maioridade penal” e foi realizada no mesmo local do evento anterior.

Contando com uma estrutura maior, já que havia o apoio de novas pessoas, foi possível levar alguns microfones e uma caixa de som para a praça. Uma ideia fundamental para a realização dos eventos era fortalecer a cultura que existe na Zona Oeste e os trabalhos da população local. Com isso, houve também apresentações musicais, leitura de poesia, exposição de desenhos e até uma oficina de grafite. O resultado da oficina foi a frase “não à redução da maioridade penal” grafitada na pista de skate da Praça Guilherme da Silveira.

Oficina de grafite na praça Guilherme da Silveira no evento "Redução da maioridade penal"
Público na pista de skate ao redor do grafite "não à redução da maioridade penal"

O terceiro evento aconteceu em fevereiro de 2016. Como não havia financiamento ou incentivo financeiro para a realização dos encontros, os membros da coordenação preparavam lanches para arrecadar pequenas quantias de dinheiro que permitissem a promoção de novos eventos. A cada vez mais, mais pessoas participavam, então foi preciso conseguir um alvará da prefeitura para colocar a ZOA na rua, já que sempre era ocupado um largo espaço da praça.

Desta vez o tema da roda de conversa foi “Zona Oeste e a cidade do Rio de Janeiro”, com o propósito de explorar a memória da região, e teve como principal expositor um antigo morador de Bangu, sr. Murillo, já com seus 90 anos, que discutiu sobre a história da área.

Também houve apresentações musicais de artistas locais, da MPB ao rap, além da apresentação de um grupo de capoeira. Ao final, o público se direcionou à estação de trem Guilherme da Silveira para demarcar a presença do coletivo e a ocupação do espaço público, e grafitaram "ZOA" na parede da estação.

Grupo de capoeira no evento "Zona Oeste e a cidade do Rio de Janeiro"
Grafite "ZOA" no muro da estação de trem Guilherme da Silveira

Apenas um mês após o terceiro evento, a ZOA conseguiu estar na rua novamente. A Praça Guilherme da Silveira tornou-se um ponto fixo dos encontros. Por ser próxima à estação de trem e estar em uma área de fácil acesso para os moradores da Zona Oeste, foi decidido que as reuniões aconteceriam sempre por ali. O tema da vez foi “Periferia central: a batalha”, que promoveu uma longa discussão sobre a cultura hip-hop, além de apresentações de street dance, batalhas de rima e um painel colaborativo de grafite no decorrer do evento.

Oficina de grafite no evento “Periferia central: a batalha”
Apresentação de dança no evento “Periferia central: a batalha”

Em junho de 2016, poucos meses antes do encerramento do processo de impeachment da presidenta Dilma, a ZOA teve como tema da roda de conversa o questionamento “é golpe ou não é golpe?”. Houve a presença de mediadores, como membros de movimentos sociais, que debateram sobre a conjuntura política do Brasil naquele momento. Como de costume, ocorreram apresentações musicais de artistas locais e a leitura de poesias.

Evento "É golpe ou não é golpe?"
Evento "É golpe ou não é golpe?"

Um mês depois, em julho de 2016, o tema da discussão foi “reforma política”. Na oportunidade, uma das expositoras do diálogo foi Marielle Franco. Houve também a presença de skatistas, atores, desenhistas, MCs, dreadmakers e poetas, que compuseram as apresentações artísticas do evento. Nesse momento o coletivo estava mais conhecido pela região e contava com um público diverso, como pessoas que residiam em diferentes bairros da Zona Oeste, como Bangu, Campo Grande, Santíssimo, Santa Cruz, Magalhães Bastos, Taquara e outros.

Vale ressaltar que a produção dos eventos sempre foi patrocinada pelos próprios produtores, contando principalmente com os recursos obtidos pela venda dos lanches e do bar do evento, e não havia recursos financeiros externos ao projeto. Mesmo assim, a ZOA nunca deixou de participar ativamente da construção sócio-política da Zona Oeste.

Evento "Reforma política" e a expositora Marielle Franco
Apresentação artística no evento "Reforma política"

Posteriormente, ocorreram encontros sobre as eleições de 2016; sobre as lutas e os desafios em ser uma mulher na sociedade; e sobre as mulheres na classe trabalhadora. Em novembro de 2017, o coletivo organizou sua primeira festa, nomeada “FarOeste - Nuvem Preta”, parte da programação do mês da consciência negra. O evento também ocorreu na Praça Guilherme da Silveira, mas surpreendentemente foi impedido pela presença da polícia.

Apesar do alvará emitido pela sub-prefeitura para que o evento ocorresse, alguns policiais pararam a viatura ao lado da quadra de esportes onde o evento estava acontecendo. Assim que os membros perceberam, direcionaram-se aos policiais para explicar que havia permissão para estarem ali. Um dos integrantes foi detido de forma totalmente arbitrária, sendo algemado e exposto ao vexatório em meio a praça pública, e os policiais recusaram-se a falar sobre o motivo da detenção. O mesmo integrante foi levado à delegacia, momento teve conhecimento de ter sido detido por suposta obstrução do trabalho policial, mesmo que isso não tenha ocorrido.

Nessa época havia um forte contexto de repressão aos movimentos culturais por parte da prefeitura do Rio de Janeiro, e a ZOA foi atravessada por tamanha injustiça.

Integrante do coletivo algemado no evento "Nuvem Preta"

Mesmo assim, em janeiro de 2018 a ZOA estava na rua novamente. O "Festival Juntey" foi um evento organizado por três coletivos da Zona Oeste: ZOA, Artrash e Studio2. A ideia era promover cultura, arte, informação, lazer, educação e saúde na região. Para a realização do evento foi preciso suporte de parlamentares da Assembleia Legislativa do RJ e de parlamentares da Câmara Municipal do RJ, além do alvará da prefeitura. A programação contava com exposição de artes em xilogravura, brechós, pintura ao vivo de grafite, exibição do curta-metragem “O olho do cão” e discussão sobre guerra às drogas, com participação de Orlando Zaccone e Renato Cinco, bem como apresentações de grupos de dança e djs.

Festival Juntey
Orlando Zaccone discutindo sobre guerra às drogas no Festival Juntey

Já em abril de 2018 a ZOA promoveu o evento “Intervenção Federal pra que(m)?”, que contou com a presença da professora de Direito da UFRJ Luciana Boiteux. A parte artística do evento ficou por conta da oficina de stencil, exposição de artes e produção de grafite.

Luciana Boiteux no evento "Intervenção federal pra que(m)?"

Por fim, o último evento em praça pública da ZOA foi “Funk é cultura SIM!”, realizado em setembro de 2018. O coletivo questionou porque a sociedade brasileira tem dificuldade em reconhecer o funk enquanto manifestação cultural legítima. O evento contou com a presença de Talíria Petrone, Marcelo Gularte e produtores de festas de funk da Zona Oeste, além de djs e grupos de dança. Infelizmente, mais uma vez o grupo foi ameaçado, quando um homem que estava próximo ao local discordou da defesa do funk como uma expressão cultural e pegou o microfone, para ofender os produtores e os artistas, dizendo que possuía uma arma e voltaria ao evento novamente.

Evento "Funk é cultura SIM!"
Evento "Funk é cultura SIM!"
Talíria Petrone no evento "Funk é cultura SIM!"

Desde então a ZOA não produziu mais eventos em praça pública, mas permaneceu presente e ativa construindo e lutando pelas demandas da Zona Oeste. Esse coletivo cultural foi e é composto por corpos e mentes em movimento para construir espaços de reflexão, diálogo, produção de cultura e participação cidadã na região. Todas as reuniões e encontros da ZOA foram gratuitos para a população e promoveram um profundo diálogo com a comunidade.

É possível acessar a página oficial desse coletivo pelo por aqui.