Centro Cultural Cambinda Estrela

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

O Centro Cultural Cambinda Estrela, com 85 anos de fundação, surgiu da necessidade de desenvolver ações de promoção da cultura afro-brasileira, inclusão social e combate ao racismo, realizando a salvaguarda da cultura do Maracatu Nação e das demais linguagens da cultura popular do povo nagô em Pernambuco, envolvidas na tradição do Maracatu.  Tem por missão promover, oportunizar, defender, lutar pelos direitos de cidadania de brasileiros excluídos social, econômica e culturalmente, principalmente crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade pessoal e social.

Autoria: Informações do verbete reproduzidas, pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a partir de redes de comunicação oficiais do Centro Cultural Cabinda Estrela.
Fundo branco com rabiscos vermelhos nas bordas. No centro, o desenho de um peixe saindo de um tambor de cores vermelha e amarela. Ao lado, na cor vermelha, os dizeres: "Centro Cultural Cambinda Estrela".
Marca do Centro Cultural Cambinda Estrela.

História do Cambinda Estrela[editar | editar código-fonte]

Fundado no Alto Santa Isabel, bairro de Casa Amarela, em 07 de setembro de 1935, o Cambinda Estrela surgiu como maracatu de baque solto (também conhecido como maracatu de orquestra ou rural) e nessa modalidade atuou até provavelmente o início dos anos 1960. O Cambinda Estrela foi fundado por trabalhadores migrantes da zona da mata norte do Estado de Pernambuco, e que na zona norte da cidade do Recife reconstruíram fortes redes de sociabilidade. Nas lembranças de Dona Leinha, filha de um dos fundadores do maracatu, o convívio entre parentes e amigos fazia o quotidiano mais suportável e o Cambinda o lugar da alegria e da diversão. Muitos moradores idosos do Alto Santa Isabel ainda se lembram com saudades do maracatu, e de seu famoso mestre, o Sr.Tercílio, considerado um mestre de primeira categoria por sua capacidade de improvisação e beleza das toadas que compunha. O Sr. Tercílio criou fama entre os maracatuzeiros de ser um excelente versejador. “Como ele não tinha igual!”, afirma o senhor Zezinho, morador do Alto, e que quando jovem saia no grupo como caboclo de lança.

Foi enquanto maracatu de baque solto que o Cambinda Estrela foi objeto de estudo do maestro César Guerra Peixe, um dos primeiros estudiosos a diferenciar as modalidades de maracatu bem como a respeitá-la em sua diversidade. As observações de Guerra Peixe em seu livro Maracatus do Recife atestam a importância do Cambinda no universo dos maracatus de orquestra da época. Não obstante, como maracatu de orquestra, o Cambinda Estrela sofreu as mesmas pressões que existiram sobre esta modalidade rítmica, e que impeliram vários grupos para a mudança de baque, a exemplo do Indiano e Cruzeiro do Forte. Não se pode precisar com certeza quando esta mudança ocorreu, mas a transformação do baque não acarretou a desestruturação do grupo. O maracatu se re-configurou para acrescentar novos membros ao seu grupo, destacando-se a atuação do famoso carnavalesco Mário Miranda, também afamado pai-de-santo da comunidade do Alto Santa Isabel, mais conhecido como Maria Aparecida e carnavalesco afamado. O Cambinda Estrela, nesses anos, conquistou espaços, e alguns títulos.

Nas décadas de 1960 e 1970 encontramos o Cambinda Estrela em atuação no carnaval da cidade, disputando concursos, ou mesmo sendo homenageado, a exemplo de Abelardo da Hora que em meados da década de 1960 tomou seu símbolo (o peixe) como motivo para a decoração carnavalesca da cidade do Recife.

O Cambinda Estrela foi perdendo seu brilho nos anos 1980, sobretudo após a morte do Sr. Tercílio e Dona Inês, que era a rainha. Em 1997, ressurgiu com sede em Chão de Estrelas, graças ao trabalho de um grupo de pessoas que congregava estudantes, yalorixás, babalorixás e moradores das comunidades. Desde esse momento, o Cambinda Estrela abrigou uma variedade de terreiros e comunidades, expresso nos muitos que contribuíram para esta realidade: lembramos Pai Washington, Pai Gerivaldo, Pai Marivaldo, Mãe Telinha, Irene e muitos outros homens e mulheres que desde 1997 fazem do Cambinda Estrela o mais festeiro e lutador dentre os maracatus-nação do Recife. O maracatu nação Cambinda Estrela vem sendo coordenado pela presidente Wanessa Paula Santos, juntamente a uma diretoria composta pelo mestre Adriano Carlos dos Santos desde 1998, a coordenação de batuque, diretoria de alas e demais membros que veem mantendo esta bela história viva que é Cambinda Estrela.

Maracatu de festa e luta[editar | editar código-fonte]

A reativação do Cambinda Estrela insere-se num novo contexto cultural em que os maracatus são valorizados e disputam espaço no cenário cultural pernambucano como manifestação cultural responsável por parcela significativa do sentimento de identidade cultural de Pernambuco. Ao mesmo tempo em que tem contribuído para a afirmação cultural e identitária das comunidades onde está sediado e desenvolve suas ações. E são várias as comunidades que participam do Cambinda Estrela, destacando-se o local de sua sede, Chão de Estrelas, e adjacências, como Jacarezinho, Avenida Professor José dos Anjos, Campina do Barreto e Capilé.

Homens negros tocando instrumentos. Ao fundo, uma mulher negra segurando uma criança olhando o desfile. Ao lado, uma parede branca com os dizeres em vermelho: "Quilombo de Chão de Estrelas, Maracatu Nação Cambinda Estrela".
Desfile.

Mas o Cambinda Estrela tem alcance mais amplo, desenvolvendo atividades na Ilha do Joaneiro, na Vila Vintém, no conjunto habitacional Josué Pinto e em Bola na Rede. Ao mesmo tempo, o Cambinda Estrela firmou sua imagem de maracatu de festa e luta por participar ativamente dos movimentos sociais de afirmação cultural e defesa dos direitos de negros e negras, mulheres e organizações de LGBTT.

Na luta pelo respeito às diferenças, o Cambinda Estrela é presença constante na Terça Negra e nas atividades culturais do dia 20 de novembro, bem como de outras manifestações que precisem fazer soar alto o brado de suas bandeiras com o concurso dos tambores do maracatu.

Mas o Cambinda Estrela não descuida da festa! É sem dúvida um dos maiores maracatus em atuação na atualidade, apresentando-se no carnaval com cerca de 500 desfilantes, com todo o luxo, brilho e glamour que fazem de nossa corte uma das mais bonitas do Recife! O Cambinda Estrela retornou às ruas no ano de 1998 disputando os concursos da Federação Carnavalesca na 2ª categoria, e com muita maestria sagrou-se campeão, ganhando o direito de ascender à 1ª categoria já no ano seguinte. O Cambinda Estrela mais uma vez honrou as suas tradições e novamente conquistou o título de campeão, dessa vez na categoria 1ª B, no ano de 1999. Tal fato veio a se repetir novamente em 2000, quando o Cambinda Estrela sagrou-se novamente campeão desta categoria, garantindo o seu lugar no agora denominado grupo “A”.

Mulheres e crianças negras de uniforme branco e saia branca tocando um instrumento de percussão vermelho em uma rua. No centro, em destaque, uma mulher negra sorridente dançando com as mesmas roupas brancas. À esquerda, um homem com o uniforme branco e de calça comprida branca cantando algo no microfone.
Dona Angela, uma das nossas matriarcas! Nossa grande mãe! Grande avó!

Nos últimos anos o Cambinda Estrela destacou-se nos carnavais do ano de 2002, quando conquistou o título de vice-campeão, e de 2003, ficando em 3º lugar, disputa em que figuraram nove maracatus-nação. No carnaval de 2006 e 2008 o Cambinda Estrela foi campeão do primeiro grupo. Em 2009 e 2010, 2011 o Cambinda Estrela se estabelece na categoria do grupo Especial dos Maracatus fazendo parte de uma composição onde estão os maiores Maracatus - Nação da cidade do Recife. Em 2013, o Cambinda Estrela conquistou o 1° lugar no campeonato dos maracatus nação do grupo um, indo para o grupo de acesso – Grupo especial. Em 2014, o Cambinda Estrela permanece no grupo especial conquistando o 4º lugar.

Inegavelmente o Cambinda Estrela é um dos maiores maracatus-nação da cidade do Recife, com firme vinculação religiosa e comunitária nos bairros onde atua, destacando-se também por suas ações sociais em que a valorização das heranças culturais afro-descendentes contribui para a afirmação da autoestima e dos direitos de cidadania, aspectos constantemente trabalhados.

Projeto Social Cambinda Estrela[editar | editar código-fonte]

Desde 2001, o Centro Cultural Cambinda Estrela - Maracatu Nação Cambinda Estrela vem desenvolvendo o Projeto Social Cambinda Estrela, ministrando ao longo de todo o ano cursos de percussão geral, corte e costura, bordados, produção de adereços, dança afro e popular, capoeira, canto (toadas/loas), roda de leitura, cine – clube, debates/ seminários sobre raça, gênero, orientação sexual, cultura negra, saúde, cidadania e direitos humanos, confecção de instrumentos percussivos, oficinas sobre a beleza e estética afro, grafitagem, aulas de alfabetização, reforço escolar para os alunos do fundamental, médio e universitários para meninos e meninas da comunidade de Chão de Estrelas adjacências, zona norte da cidade do Recife. Ao longo desses anos de trabalho podemos afirmar que pequenas ações como os cursos ministrados contribuem efetivamente para a sociabilidade dos meninos e meninas, bem como as aulas têm se mostrado um excelente espaço para a afirmação da identidade sócio educacional e cultural das comunidades de afro-descendentes, o que tem fortes imbricações na questão da cidadania e da inclusão social.

É importante salientar que, desde 2006, em parceria com escolas particulares da região da zona norte do Recife, a exemplo do Colégio e curso 2001, Invest Centro Educacional e Escola Carrossel o Cambinda Estrela vem mantendo cerca de 30 de seus alunos nas escolas, através do Projeto Político Pedagógico: Alunos Cambinda: educação, arte e cultura, promovendo um acompanhamento extraescolar com os alunos, sendo responsável por toda aquisição dos materiais didáticos, fardamentos e atividades extras.  

Dando continuidade aos projetos educacionais o Cambinda Estrela em 2008, em parceria com a Fundação de Ensino Superior de Olinda, veem mantendo e ampliando o seu Projeto Político Pedagógico: Alunos Cambinda na Universidade.

Sendo responsável pelos pagamentos das mensalidades, livros e demais necessidades dos alunos, o Caminda Estrela firma o compromisso com sua comunidade e pessoas apostando no desenvolvimento sócio político e cultural.

Preocupando-se com a formação educacional dos seus alunos, os educadores, professores que compõem o Cambinda Estrela formam o Pré – Vestibular do Cambinda, onde os alunos recebem assistência, e se preparam para as provas de diversas faculdades e universidades.  Atualmente, estão estudando cerca de 20 jovens Cambindenses, cursando diversas graduações (História, Biologia, Pedagogia, Letras, Administração e matemática).

Mídia[editar | editar código-fonte]

Redes sociais[editar | editar código-fonte]