Chacina da Cidade de Deus - 19 de novembro de 2016
A Chacina da Cidade de Deus aconteceu em 19 de novembro de 2016 provocada por uma ação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar. O episódio resultou na morte de 11 pessoas.
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Este trabalho é uma pareceria entre os grupos GENI/UFF, Radar Saúde Favela e CASA (IESP/UERJ) juntamente com o Dicionário de Favelas Marielle Franco.
História[editar | editar código-fonte]
A chacina teve início na noite daquele dia, na Gardênia Azul, bairro vizinho à Cidade de Deus, numa disputa de territórios entre milicianos e traficantes. A Polícia Militar interveio e estendeu a ação para a Cidade de Deus, concentrando abordagens na região conhecida como Caratê.
No dia seguinte, a operação policial se intensificou. Houve relatos afirmando que "A noite foi de terror. Tiroteio o tempo inteiro. Mas, pelo visto, esse pessoal foi morto quando já estava rendido". O confronto pior teria ocorrido por volta das 2h. Outras informações anunciaram que pelo menos outros três corpos foram encontrados em diferentes pontos da favela. "A gente paga impostos e é nosso direito que pelo menos o rabecão entre na comunidade para recolher os corpos", disse um morador da comunidade naquela ocasião.
As reações entre os moradores se dividiram. Alguns condenaram a chacina. Outros elogiaram a atuação do Bope e disseram que a ação serviu de exemplo para outros criminosos.
Mortes[editar | editar código-fonte]
Corpos de sete homens foram encontrados às margens de um brejo, na Comunidade do Caratê, localidade da favela Cidade de Deus. Os mortos estavam sem objetos pessoais ou armas e alguns deles estavam sem roupas:
Moradores acusaram policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) de terem executado os homens. "O problema é a forma como as mortes aconteceram. Eles eram traficantes, mas isso não justifica terem sido mortos com tiros à queima-roupa e facadas", afirmou o pastor Leonardo Martins da Silva. Entre as vítimas estava seu filho, Leonardo Martins da Silva Júnior, de 22 anos, que integrava a facção criminosa Comando Vermelho.
Relatos dos familiares das vítimas[editar | editar código-fonte]
Familiares da vítimas foram ao Instituto Médico Legal (IML) liberar os corpos e contaram a jornalistas como os encontraram na manhã de domingo. Para os moradores, seus familiares foram executados por policiais militares.
"Encontrei meu esposo com a perna decepada, com quatro facadas, dois tiros na nuca, e de costas", contou Viviane Gonçalves, de 32 anos, que era casada e tinha uma filha com Rogério Alberto de Carvalho Júnior, 34 anos, que foi um dos encontrados sem vida. "Se eles estavam errados, que fossem presos, mas que não esculachassem do jeito que eles fizeram. O que eles fizeram foi uma chacina".
Viviane disse que soube por vizinhos que seu marido estava entre os baleados na noite de sábado, mas que policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) não deixaram que eles fossem até o local onde estariam os corpos.
O pastor da Assembleia de Deus, Leonardo Martins da Silva, de 45 anos, encontrou o filho, Leonardo Martins da Silva Júnior, de 22 anos, entre os mortos na localidade conhecida como Brejo, em uma área alagada. Ele repetiu o relato de que havia homens de bruço, com tiros na nuca e em outras partes do corpo, além de facadas. "Eles foram executados", afirmou, lamentando a morte do filho. "Ele trabalhava comigo, mas também ficava no meio dos garotos lá [tráfico]".
Leonardo falou ainda que os moradores só conseguiram ter acesso aos corpos depois que pediram a outros policiais militares que estavam fora da favela, e eles chamaram o transporte funerário e a Divisão de Homicídios. Ao ver a imprensa entrando na Cidade de Deus no domingo, Leonardo disse que pediu para que fotografassem seu filho morto. "Deixei tirar foto porque o mundo tem que ver isso".
Raíssa da Silva Monteiro, de 21 anos, aifrmou acreditar que quando os moradores tiveram acesso bloqueado seus familiares ainda podiam estar vivos. Eles chegaram ao local na noite de sábado, mas só conseguiram entrar no fim da manhã de domingo. "Acho que íamos encontrar eles com vida. Quando chegamos lá, foi um estrago o que a gente viu", disse ela, que viu a irmã trazer da lama o corpo de seu irmão, Renan da Silva Monteiro, de 20 anos.
A esteticista Gisele Beija afirmou que seu sobrinho, de 17 anos, e outros vizinhos observavam a movimentação na favela quando os tiroteios se aproximaram e eles correram para dentro de uma mata. "A partir daí ninguém sabe o que aconteceu. A gente ouviu muito tiro", diz ela, que acrescenta: "Pelo modo que eles foram encontrados, eles se entregaram. Foi execução, está claro".
Investigações[editar | editar código-fonte]
As circunstâncias das mortes estão foram investigadas pela Polícia Civil, que realizaram diligências para esclarecer os fatos. Procurada pela Agência Brasil, a Polícia Militar não comentou o caso e disse que a Civil é a responsável pelas investigações, por meio da Divisão de Homicídios.
A PM realiza hoje operações em outras comunidades onde há atuação da mesma facção que controla o tráfico na Cidade de Deus, como o Morro da Barão, em Jacarepaguá, e as favelas de Parque União e Nova Holanda, no Complexo da Maré.
Sobre o caso, a Anistia Internacional emitiu uma nota pedindo que a política de segurança pública seja repensada pelas autoridades do Rio de Janeiro. A entidade defendeu que as operações policiais respeitem os direitos humanos e garantam a segurança de todos.
Repercussão na imprensa[editar | editar código-fonte]
Corpos achados na Cidade de Deus eram de traficantes, dizem moradores
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Sete corpos são encontrados na Cidade de Deus
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Sete jovens encontrados mortos na Cidade de Deus
Moradores da Cidade de Deus encontram corpos desaparecidos