Chacina da Maré - 20 de junho de 2018
Um adolescente foi baleado em 20 de junho de 2018, durante uma operação da Polícia Civil no conjunto de favelas da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro e morreu horas depois, já no hospital. Outros seis homens foram feridos em uma troca de tiros com policiais e morreram.
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Este trabalho é uma parceria entre os grupos GENI/UFF, Radar Saúde Favela e CASA (IESP-UERJ) junto com o Dicionário de Favelas Marielle Franco.
A operação[editar | editar código-fonte]
O adolescente Marcos Vinícius, 14, baleado no confronto, morreu na noite desta quarta. Ele foi atingido por uma bala perdida na barriga. O adolescente foi atendido inicialmente na UPA da Maré e depois transferido em estado grave para o Hospital Getúlio Vargas, onde foi operado. No entanto, o adolescente não resistiu e faleceu.
Segundo a direção do CIEP Operário Vicente Mariano, o adolescente foi atingido quando estava fora da instituição de ensino. A Secretaria Municipal de Educação também informou que nenhum aluno foi baleado nas dependências de escolas no Complexo da Maré. A Polícia Civil afirmou que os homens baleados eram suspeitos e teriam reagido ao avanço dos policiais pelas comunidades da Vila do Pinheiro e da Vila do João, ambas na Maré. A instituição informou ainda que foi encontrado "farto material bélico" em posse dos supostos criminosos, sendo quatro fuzis calibre 5.56 mm, duas pistolas, uma granada, entre outros materiais. O Hospital Federal de Bonsucesso informou que cinco dos baleados deram entrada na unidade já mortos, confirmando versão anterior da polícia.
"O HFB (Hospital Federal de Bonsucesso) informa que, por volta das 11h desta quarta-feira, 20 de junho de 2018, deu entrada na Emergência da Unidade cinco homens não identificados, com idade aproximada entre 20 e 30 anos, vítimas de ferimentos por arma de fogo. Todos deram entrada já em óbito", informou o hospital por meio de nota. Os tiroteios ocorreram durante ação realizada por delegacias especializadas da Polícia Civil, com apoio do Exército e da Força Nacional de Segurança. O objetivo é cumprir 23 mandados de prisão e "checar informações de inteligência na região". Até o momento, a instituição não informou quantas pessoas foram detidas
Na operação, dois blindados do Exército são usados pela Polícia Civil, segundo o porta-voz do Comando Conjunto da intervenção federal, Carlos Cinelli. A imprensa apurou que os blindados são usados para levar policiais para regiões mais perigosas da favela, que não foram ocupadas pelos policiais que avançam a pé. O objetivo é entrar em área "instável" para cumprir mandados de prisão antes que os suspeitos consigam fugir. A organização Maré Vive, formada por ativistas e moradores da favela, afirmou em seu perfil no Facebook que um helicóptero da polícia sobrevoou a região em baixa altitude. Um vídeo publicado pela entidade mostra a aeronave na região
O jornal "O Dia" afirmou que a operação estaria relacionada ao assassinato do policial Ellery Ramos de Lemos, chefe dos investigadores da Dcid (Delegacia de Combate às Drogas). Ele foi morto a tiros em Acari, outra favela da zona norte do Rio, na última terça-feira (12). Os policiais estariam procurando criminosos envolvidos no assassinato que teriam buscado refúgio na Maré.
O Programa Institucional Violência e Saúde da Fiocruz publicou uma nota de repúdio sobre a operação policial[editar | editar código-fonte]
Programa Institucional Violência e Saúde da Fiocruz repudia veementemente a operação policial que ocorreu na Maré
É inaceitável que haja disparos contra a vida, a saúde e a dignidade de pessoas que vivem e trabalham nessas comunidades, especialmente provenientes de um helicóptero das forças de segurança do Estado, com sete pessoas mortas, um mototaxista atingido por estilhaços de bala e um adolescente ferido.
Esse tipo de ação coloca em cheque a atual política de segurança pública, que viola os direitos da população e vem produzindo situações de terror para os moradores das áreas alvejadas. Além dessas consequências mais graves há ainda imensos prejuízos com o fechamento do comércio e de diversas instituições da área como clínicas da família, escolas e a Expansão do campus Fiocruz, que teve que ser evacuada emergencialmente. A descontinuidade do atendimento à saúde e à educação e de demais setores que fecham suas portas devido ao alto risco, constitui a continuidade de violação dos direitos à população e implica em prejuízos à sua saúde de curto, médio e longo prazos. Em 2017 a presidente da Fiocruz já havia repudiado publicamente, via mídia e em comunicado direto à Secretaria de Segurança Pública, outra operação em Manguinhos, também com uso de helicóptero efetuando disparos, o que colocou em alto risco moradores e trabalhadores.
A Defensoria Pública do RJ também vem questionando legalmente essa forma de operação com uso de helicópteros efetuando disparos. Ontem este órgão enviou pedido de liminar à Justiça visando proibir tais ações do tipo em lugares densamente povoados. No pedido também se solicita que o Estado apresente plano de redução de riscos e danos para evitar violação dos direitos humanos e preservar a integridade física dos moradores da Maré durante as ações policiais dentro da comunidade.
A nota da Defensoria afirma que “A única hipótese de se considerar esse tipo de operação policial como exitosa é o total desprezo pela vida e demais direitos dos moradores de favela”. Afirmamos a urgente necessidade de reformulação da Política de Segurança Pública do Estado Brasileiro, que não pode mais ser pautada pela ótica da fracassada Guerra às Drogas, que vem sendo durante criticada mundialmente. Ratificamos a premente necessidade de instituição de uma outra política, democrática, pautada pela Cultura de Paz e pela defesa e garantia dos Direitos Humanos. Programa Institucional Violência e Saúde da Fiocruz.
Notícias na mídia[editar | editar código-fonte]
Referências[editar | editar código-fonte]
- Correio Braziliense. Operação policial na Maré deixa pelo menos cinco mortos e um ferido