Chacina do Parque Roseiral - 12 de janeiro de 2021
Oito corpos foram encontrados abandonados em áreas públicas de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, no dia 12 de janeiro de 2021.
No dia anterior, 11 de janeiro de 2021, a Polícia Militar havia realizado uma operação policial com arsenal de guerra civil. Foi a primeira vez que a região teve contato com algo deste porte. Tratou-se de uma megaoperação que contava com vários blindados, caveirões, uma grande quantidade de policiais, a participação de diversos grupos táticos, como o BOPE, BAC e Choque. A Polícia Civil investiga o caso e não sabe se há ligação entre a operação e a existência dos cadáveres.
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Este trabalho é uma parceria entre os grupos GENI/UFF, Radar saúde favela e CASA (IESP-UERJ) junto com o Dicionário de Favelas Marielle Franco.
História[editar | editar código-fonte]
Em 12 de janeiro de 2021, policiais militares do 39º Batalhão (Belford Roxo) foram acionados para constatar a presença dos corpos de três homens na Avenida Joaquim de Costa Lima, em Vila Pauline. À tarde, outros cinco corpos de homens foram localizados na Praça Santa Marta, no bairro Maringá. Nos dois casos, os PMs isolaram a área e acionaram a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, responsável pela investigação.
No dia anterior, a PM promoveu uma grande operação para instalar o 1º Destacamento do 39º Batalhão, no bairro Roseiral. Durante a ação, a PM prendeu seis acusados de tráfico de drogas e apreendeu sete fuzis, quatro granadas, quatro pistolas, dois revólveres, dois carregadores, um radiotransmissor, munições e drogas em quantidade não divulgada.
Uma megaoperação que contava com vários blindados, caveirões, uma grande quantidade de policiais, a participação de diversos grupos táticos, como o BOPE, BAC e Choque. Todo esse arsenal utilizado, segundo a própria polícia, foi para implantar o 1º Destacamento Policial do 39° BPM que ficará sediado no bairro do Roseiral, conhecido como Complexo do Roseiral. Serão 125 policiais atuando na região, aumentando o efetivo do 39º BPM de 379 para 504 agentes. A Polícia Civil investiga o caso e não sabe se há ligação entre a operação e a existência dos cadáveres e o caso segue sem explicação até essa data.
Mortes em Belford Roxo[editar | editar código-fonte]
IDMJR - Iniciativa de Direito a Memória e Justiça Racial
Por: Equipe IDMJR
A Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial possui como um dos seus eixos de trabalho centrais o monitoramento e a sistematização do cotidiano da violência policial na Baixada Fluminense.
Ademais, participamos como Amicus Curiae da ADPF 635 e a suspensão das operações policiais pelo STF. Por isso, criamos um monitoramento específico sobre as operações policiais na Baixada Fluminense. Esse monitoramento é construído a partir de dados oficiais das instituições de segurança pública, da mineração de dados nas redes sociais e também de dados extraídos de narrativas/denúncias enviada por moradores via o Whatsap Institucional.
O que está acontecendo em Belford Roxo?
No dia 11 de janeiro de 2021, ocorreu em Belford Roxo no Complexo do Roseiral e adjacências uma operação policial com arsenal de guerra civil, foi a primeira vez que a região teve contato com algo deste porte. Uma megaoperação policial que contava com vários blindados, caveirões, uma grande quantidade de policiais, a participação de diversos grupos táticos, como o BOPE, BAC e Choque.
Todo esse arsenal utilizado, segundo a própria polícia, foi para implantar o 1º Destacamento Policial do 39° BPM que ficará sediado no bairro do Roseiral, conhecido como Complexo do Roseiral. Serão 125 policiais atuando na região, aumentando o efetivo do 39º BPM de 379 para 504 agentes.
Desde o dia 11/01 as comunidades vêm sofrendo contidamente com a operação policial para a implementação do novo destacamento e os seus brutais impactos na rotina da população.
Vale salientar que durante todo o mês de dezembro de 2019, foram 42 operações policiais na Baixada Fluminense. Sendo, 22 operações policiais realizadas exclusivamente pelo 39ºBPM! Nesses 7 meses de execução da liminar que suspendem operações policiais, Belford Roxo foi o município mais afetado pela ocorrência de operações policiais.
Haja vista, que a criação deste destacamento da PM foi uma proposta legislativa do Deputado Estadual Márcio Canella (MDB) que possui sua base social de votos em Belford Roxo. Márcio Canella também é meio-irmão do vice-prefeito de Belford Roxo, o Marcelo Correia da Silva.
Qual a motivação para criação de uma megaoperação policial em Belford Roxo?
O apoio do atual prefeito de Belford Roxo, Waguinho (MDB) e da Deputada Federal Daniela do Waguinho (MDB) também foram fundamentais para que o estabelecimento do destacamento da PM se concretizasse. ³ ressalta-se que a implementação do destacamento da PM apenas ocorreu após a visibilidade na imprensa sobre o desaparecimento dos 3 meninos em Belford Roxo.
Logo, destacamos que o principal fator da realização desta megaoperação policial foi dar respostas ao caso de desaparecimentos do Lucas, Alexandre e Fernando que está mais de 20 dias sem qualquer resolução nas investigações. Recebemos uma série de denúncias e relatos de violações de direitos nas comunidades locais devido aos impactos da realização desta megaoperação policial que já dura 1 semana na região.
Uma operação policial que está sendo legitimada a partir do discurso de levar a paz e a elucidação de casos de desaparecimentos. Entretanto, a realidade no cotidiano das comunidades afetadas evidencia uma rotina intensa de conflitos armados nas ruas da região. Os moradores e as moradoras vêm relatando a convivência forçada com a violência policial diária, conflitos envolvendo facções e milícias, bem como, todos os dias casos de execuções, torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados cometidos pela polícia.
Depoimentos[editar | editar código-fonte]
Paz sem voz, não é paz, é medo! (O Rappa)
“São cenas terríveis, várias vidas ceifadas, mães impedidas de reconhecer o corpo do filho jogados em vias. A imprensa noticiou 8, mas foram 13 corpos jogados nas vias. Tem mãe que ainda procura”.
Diante disso, a IDMJR de forma segura, conversou com 03 moradores de Belford Roxo para dar visibilidade as violações de Estado que as comunidades estão sendo submetidas devido a esta megaoperação da policial para implantação do destacamento da PM, ressaltamos que devido a questões de proteção e cuidado iremos preservar as identidades destes moradores.
IDMJR: Nos conte o que vem acontecendo desde o dia 11/01 em Belford Roxo?
Morador 1: “Durante todos esses dias aqui na comunidade, ficamos refém do medo, tendo nossas casas invadidas. Sendo agredidos e sem o direito de liberdade de expressão”.
Moradora 2: “Tá muito difícil. Eles não querem repórter aqui não. Bope entrando e matando. OS moradores que estão descendo e colocando o corpo na pista!”
Morador 3: “Tem políticos envolvidos com poderes locais”.
IDMJR: Ocorreu desaparecimentos de corpos?
Morador 1: “São cenas terríveis, várias vidas ceifadas, mães impedidas de reconhecer o corpo do filho jogados em vias. A imprensa noticiou 8, mas foram 13 corpos jogados nas vias. Tem mãe que ainda procura”.
IDMJR: Vocês procuraram alguém do Estado, como o Ministério Público, para falar sobre o que vem acontecendo?
Morador 1: “O povo aqui é leigo e muitos tem medo de represálias. Meu Deus tudo muito desumano e em pleno século 21 viver a barbárie que vivemos aqui durante uma semana! O que dizem é que tudo isso não passa de um jogo político, onde pessoas desejam implantar a milícia. Desde sexta a milícia já vem atuando. Aqui eles depois da operação fizeram a barbárie e deixaram nós nas mãos de outra facção que nos aterroriza desde sexta, fazendo uma vítima na noite passada”.
Morador 3: “Mandaram o recado que aqui não tem essa de direito humano, que morador tem que ficar em casa. E se tiver de bobeira vai morrer e depois não adianta ir na Record, na TV, no Tino Júnior não”.
IDMJR: Como tem sido morar em Belford Roxo com tanta violação e violência?
Morador 1: “Tudo muito complicado, estou há dias sem dormir com medo dos meus. Não deixo sair do quintal e o meu filho mais velho e meu genro não voltam para casa há uma semana. Porque, na segunda dia 11, ao abrir o portão de casa e sair para trabalhar às 05:30 da manhã ele levou uns tapão no peito até conseguir se identificar e ser liberado. Eles já estavam aqui na comunidade desde a madrugada”.
Moradora 2: “Cada dia pior. Quando eu começar a trabalhar vou sair daqui, pois já está até mexendo com meu psicológico”.
Morador 3: “Entraram em uma casa e com cães bagunçaram tudo dizendo que é dentro de casa que tem que ficar. Não podemos sair”.
IDMJR: Vocês têm algo a dizer sobre o porquê disso tudo?
Morador 1: “A operação foi arbitrária, não estão deixando repórter entrar”.
Moradora 2: “Tem políticos envolvidos“.
A IDMJR segue acompanhando as violações de Estado que estão ocorrendo em Belford Roxo. As moradoras e moradores cotidianamente relatam casos de torturas, execuções e assassinatos cometidos pelas polícias.
Já são 13 pessoas assassinadas durante a implementação do destacamento da PM, recebemos informações que os corpos estão sendo retirados em carroças pelos próprios moradores. Uma semana de terror em Belford Roxo e que não tem perspectiva de acabar, haja vista, que o confrontos entre facções de tráficos e milícias para manter o domínio dos territórios já iniciaram e a população fica refém deste fogo cuzado.
A escolha política do Estado de gerar genocídio e encarceramento em massa precisa ser parada, uma política de segurança pública feita na ponta do fuzil apenas resulta em um desprezo pela proteção a vida em sociedade. Paz para quem?
IDMJR - Iniciativa de Direito a Memória e Justiça Racial
Referências[editar | editar código-fonte]
https://dmjracial.com/2021/01/21/2159/
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