Como Combater Enchentes
O manual contra enchentes foi desenvolvido pela Visão Coop para a oficina “Como Combater Enchentes: Depois e Antes” no evento da Coalizão o Clima é de Mudança. Nele estão reunidas informações e dicas, adquiridas pela experiências práticas da Visão durante as enchentes em Queimados, de como auxiliar durante o desastre além de medidas para minimizar as consequências das enchentes.
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco a partir do site oficial da Visão Coop.
Sobre[editar | editar código-fonte]
Os membros da Visão criaram o Manual de Combate às Enchentes para compilar ações realizadas durante as chuvas de 2020 em Queimados, visando ajudar famílias afetadas, mobilizando doações e coletando dados. Os registros visuais catalogados ajudaram a mapear as áreas mais impactadas, resultando no Mapa das Enchentes. Essas experiências e dados criaram um manual, que foi elaborado em conjunto com moradores e voluntários, culminando na oficina “Como combater as Enchentes: Depois e Antes”, no evento O Clima é de Mudança, em novembro de 2022.
Conheça o conteúdo na íntegra abaixo![1]
Brigar para sobreviver[editar | editar código-fonte]
a) Quem enfrenta uma enchente é um sobrevivente! Todo ano o descaso com enchentes faz milhões de vítimas no Brasil. As enchentes destroem economias, matam pessoas e abalam severamente o psicológico de famílias. Socorrer alguém de enchente é lutar pela vida.
b) O tempo entre as chuvas intensas está ficando cada vez menor porque o clima está mudando. A quantidade de vezes no ano que enchentes acontecem perto de casa está aumentando, acabando com o tempo que as comunidades tinham pra tentar se reconstruir.
c) Mesmo lugares que não costumavam sofrer com enchentes estão sofrendo os efeitos da mudança no ciclo das chuvas. As enchentes são desastres ambientais, seus efeitos crescem em escala, deixando um rastro de destruição e miséria nos lugares em que acontecem.
d) Diversas redes de solidariedade têm se formado durante as últimas enchentes. Pessoas e organizações doam mantimentos e recursos depois que o caos acontece. Voluntários vêm dispostos a atravessar a lama para prestar suporte para sobreviventes.
e) Juntos podemos organizar um trabalho mais eficiente, dividindo grandes fluxos de demandas, articulando ações complexas de forma objetiva e simples. Nos juntamos e formamos grupos para o socorro emergencial de sobreviventes, chamamos isso de brigadas.
f) No Núcleo de Defesa Ambiental, voluntários participam de brigadas em bairros afetados. As brigadas indicam representantes pra formar uma vanguarda, que articula diferentes frentes de trabalho e organiza estratégias pra objetivos decididos coletivamente.
g) Nos últimos 2 anos as brigadas monitoraram chuvas de até 300mm em cidades da Baixada Fluminense, ajudando mais de dez mil moradores a sobreviver às enchentes. Nos intervalos, tentamos influenciar na adaptação e resiliência dos bairros e comunidades.
h) Vamos compartilhar nossas práticas. Cada letra a seguir é uma síntese de conhecimentos comunitários. Ao ler, procure ferramentas e pratique. Assim você aumenta sua capacidade de suporte e se prepara pra brigar pela sobrevivência aos desastres ambientais!
As águas das enchentes[editar | editar código-fonte]
a) Os rios modificam e são modificados na sua relação com as cidades. Nas comunidades, os rios são aproveitados, direcionados, canalizados e pavimentados. São parte essencial do funcionamento urbano! A água dos rios transborda durante chuvas torrenciais
b) Nascentes se transformam em pequenos córregos, que ganham densidade e se transformam em pequenos rios. Rios entram em confluência (se juntam) e formam afluentes, que alimentam rios maiores, que desaguam no mar. Esse conjunto se chama bacia hidrográfica.
c) Para abastecer as metrópoles com água potável há uma grande infraestrutura subterrânea de encanamentos que funcionam junto com estações de tratamento e bombas para extrair e direcionar água em condições de uso para comunidades e casas.
d) Também deveria existir uma estrutura de saneamento, destinando o lixo urbano, coletando e tratando esgoto. Mas rotineiramente, o esgoto é despejado nos rios, onde junto com lixo doméstico e industrial. Acumulando barreiras e desviando o curso dos rios.
e) Falta vegetação às margens dos rios modificados pela vida urbana. A mata ciliar fortalece as margens, controla os limites dos rios e impede o deslizamento de terra pra água. Com sua destruição, os rios ficam assoreados, elevando o nível da água.
f) Cada rio suporta uma quantidade de chuva. Quando chove uma grande quantidade de milímetros em 1h ou durante um período contínuo, e os rios ultrapassam sua capacidade de transporte, as águas transbordam às margens, dando início a enchentes.
g) O grande volume de água encontra barreiras do lixo e das infraestruturas malfeitas. A força pluvial escoa pras saídas que encontram, voltando pelos encanamentos pras comunidades ao redor, provocando refluxo de esgoto em casas sem válvulas de contenção.
h) Os bairros que ficam entre barragens e problemas de infraestrutura são os mais afetados por enchentes. É onde a água transborda com força e empoça por não escoar de volta pros rios. O desprezo por esses problemas recorrentes se chama racismo ambiental.
Trabalhar com inteligência[editar | editar código-fonte]
a) Nossa formação divide as tarefas em três frentes! Trabalhos de inteligência extraem, tratam e distribuem informação. Trabalhos de campo agem diretamente em áreas com sobreviventes. Trabalhos de articulação buscam recursos e advogam perante a instituições.
b) Primeiro passo é procurar voluntários com múltiplas habilidades, e organizar a divisão da força-tarefa de acordo com cada saber. É importante registrar em uma tabela quem está trabalhando, o que pode fazer e as ferramentas que estão disponíveis para uso.
c) Ao localizar áreas afetadas, classifique a gravidade e identifique prioridades. Essas informações são encontradas em redes sociais, portais da transparência, em contato com lideranças locais e famílias conhecidas. Para padronizar use tabelas online!
d) Crie um mapa com os locais que serão atendidos! Você pode usar o Google Maps com endereços e CEPs. Isso vai facilitar a visualização de concentrações de pedidos, organizando boas rotas pro atendimento. Pra aprender usar a ferramenta, busque no YouTube.
e) Escreva ofícios pra enviar ao poder público, ao comércio local e as demais iniciativas que atuam no território afetado. Peça apoio logístico no socorro, mantimentos, alojamentos e recursos financeiros. Existem modelos de ofício disponíveis online.
f) Use o WhatsApp pra convocar, mobilizar e distribuir tarefas para voluntários da brigada. Crie diferentes listas de transmissão, incluindo doadores e compartilhadores de mensagens. Use grupos locais pra facilitar a coleta e a distribuição de informação.
g) Distribua informação em redes sociais: Twitter, Instagram, mas principalmente grupos do território no Facebook. Combine a interação nas postagens com voluntários. Procure sensibilizar sobre o desastre, coletar novas informações e buscar contatos locais.
h) Faça uma triagem dos pedidos de socorro e mantimentos. Identificando nos grupos a presença de crianças, idosos, PCDs. Registrando especificamente as necessidades materiais, as particularidades de casos, apresentando urgências de atendimento.
Socorrer nos territórios[editar | editar código-fonte]
a) Quem manda bem na navegação guia pros lugares afetados. São pessoas que sabem fazer as rotas, e tenham meios de transporte. Bicicletas e motos podem ser utilizadas para trabalhos ágeis, carros devem transportar voluntários, ferramentas e mantimentos
b) Você deve registrar as condições de cada território visitado. Fotografias das estruturas e construções, riscos de deslizamento, rios e pontos de acúmulo de água. Um drone permite a identificação de casas ilhadas e espaços inacessíveis rapidamente.
c) Pra fazer um pedido de socorro anote endereço e um contato de referência, de preferência da família atingida. Mesmo offline você pode marcar o local com o Google Maps. Descreva a situação e envie pra Defesa Civil com os dados de acesso e fotografias.
d) Pro resgate em lugares que estejam inundados é preciso ter cuidado com fios de energia. Portar equipamentos de proteção: capa, luvas, botas, óculos. Pra desobstruir bueiros e gargalos é bom usar pás, redes e cordas. Um bote pode ajudar a remover crianças e animais.
e) A abordagem com as famílias precisa ser feita por alguém com experiência em atendimento, uma pessoa especializada de preferência. Enchentes são fenômenos traumáticos. O socorro precisa acompanhar um tratamento humanizado nos cuidados de cada necessidade.
f) A montagem de kits deve ser personalizada com o que têm. Uma cesta completa inclui mantimentos, água, produtos de limpeza, quentinhas. Mas, na falta de recursos, é preciso combinar o que está disponível com pedidos específicos e pedidos de urgência.
g) Em casos de desalojados e desabrigados é urgente providenciar abrigos individuais ou coletivos. Mobilizando também a doação e a entrega de colchonetes, roupas, cobertores e toalhas. Quando possível, listar as perdas dentro de casa para doação de móveis.
h) Depois das chuvas, articule mutirões de limpeza. Com panos, baldes, pás, botas, luvas, redes, sacolas e produtos de limpeza. Com voluntários treinados, a limpeza deve ser feita de dentro pra fora. Pequenos furos na parede ajudam a escoar água empoçada.
Desenrolar pra sobreviver[editar | editar código-fonte]
a) Pessoas com experiência em negociação devem fazer a articulação com o poder público e com as entidades privadas. Sensibilizar o suporte nas ações, a doação de mantimentos, o investimento em prevenção e mitigação de enchentes e deslizamentos
b) Você deve mapear secretarias, iniciativas e organizações de interesse, para entrega de ofícios e materiais produzidos nas brigadas. A incidência pode ser feita nos tomadores de decisão. Mas a cobrança pública constrange as instituições a se movimentarem.
c) Elabore pedidos de Lei de Acesso à Informação! Solicite informações sobre enchentes, pessoas resgatadas, riscos estruturais nos territórios, empresas devedoras de impostos e outros conhecimentos uteis para a organização do socorro aos sobreviventes.
d) Reúna registros e provas das enchentes detectadas em mapas e relatórios. Protocole denúncias em diferentes instâncias do poder público. Ocultando informações sensíveis e dados pessoais, preservando a segurança dos voluntários e sobreviventes.
e) Escreva releases de imprensa e procure produtores de jornais e canais locais de TV. Passe mensagens com informações sobre desastres causados pelas enchentes, promova a conscientização sobre locais atingidos e convoque a participação de novos voluntários.
f) Ocupe cadeiras em conselhos de Meio Ambiente, Urbanismo e Defesa Civil, a partir de organizações da sociedade civil. Utilize o poder de deliberação e consulta para extrair e publicar informações sobre planos de enfrentamento e adaptação.
g) Construa Planos de Adaptação e Resiliência Climática pra enfrentar o problema antes do desastre acontecer. Escute sobreviventes e comunidades afetadas, crie mapas e diagnósticos, proponha metodologias ancestrais, ferramentas locais e tecnologias verdes.
h) Reúna voluntários e crie planos de continuidade das brigadas. Planeje coletivamente a ação emergencial em desastres futuros. Recrute antecipadamente interessados e curiosos pro movimento. Ative uma rede de monitoramento ambiental nos territórios!
Manual contra enchentes (leitura)[editar | editar código-fonte]
Zine manual contra enchentes (impressão)[editar | editar código-fonte]
Como distribuir o manual dobrado corretamente?[editar | editar código-fonte]
É só seguir o passo a passo:
1. Primeiro você faz a dobra na vertical
2. Depois uma dobra na horizontal
3. Então uma dobra no meio da metade de cada lado
4. Por fim, dobre de novo na horizontal e faça um corte até a dobra nas metades.
Agora você tem um Manual Contra Enchentes pronto para distribuir pelo seu território.
Assista o tutorial em vídeo clicando aqui.