Como levar o debate sobre a crise climática para a periferia? (artigo)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco


Artigo sobre o trabalho do Instituto Perifa Sustentável, fundado pela ambientalista Amanda da Cruz Costa, nascida e criada na periferia de São Paulo. A organização busca disseminar informações ambientais para as populações das periferias e incluí-las na discussão da sustentabilidade.

Autoria: Equipe Habitability[1]
Reprodução: Instagram Instituto Perifa Sustentável (perifasustentavel).

Introdução[editar | editar código-fonte]

A sustentabilidade é pauta das principais discussões que permeiam diversos setores da sociedade e se estabeleceu como foco de muitas empresas e instituições mundo afora. Os debates sobre a crise climática carregam grande importância para provocar mudança de hábitos nas atividades humanas que impactam o meio ambiente. No entanto, o assunto ainda se concentra em locais elitizados, além de apresentar uma linguagem, muitas vezes, distante do entendimento da maioria, com o uso de termos em inglês e técnicos, afastando o interesse da população de baixa renda e moradores da periferia, que não tiveram acesso a um ensino formal digno e nem aulas de inglês.

O Instituto Perifa Sustentável, fundado pela jovem ambientalista, embaixadora da ONU, conselheira do Pacto Global, integrante da Lista “Under 30” da Forbes e ativista do movimento negro e direitos das mulheres, Amanda da Cruz Costa, busca mudar esse cenário. Nascida e criada na Brasilândia, periferia de São Paulo, sentiu a necessidade de levar a questão da crise climática para as periferias brasileiras e furar as bolhas formadas por esses debates.

Periferia Sustentável[editar | editar código-fonte]

O instituto Perifa Sustentável tem o objetivo de mobilizar jovens pretos, periféricos, ribeirinhos e indígenas de comunidades urbanas e rurais para serem mobilizadores de uma agenda climática e sustentável no Brasil, jogando luz a outro problema enraizado na sociedade brasileira: o racismo ambiental.  

“A galera da quebrada já está sofrendo as consequências da crise climática e do modelo econômico capitalista em que vivemos. Quando chove, não é a Avenida Paulista que alaga e deixa as pessoas desabrigadas, é a periferia. São grupos que não têm visibilidade e um lugar reconhecido, mas a mesma legitimidade e domínio para pautar políticas e debates a partir da vivência”, disse Amanda em entrevista para a Revista Trip.

Sob essa perspectiva, o Perifa Sustentável busca realizar ações lado a lado com as comunidades para traduzir ideias e identificar problemas que se agravaram devido à crise climática a fim de ocupar espaços da tomada de decisão e transformar os territórios mais afetados pela ação humana.

De que forma a crise climática impacta a periferia?[editar | editar código-fonte]

A crise climática não afeta todos de maneira uniforme, os grupos vulnerabilizados são os que mais sofrem com os impactos das mudanças ecológicas. Além das enchentes em dias chuvosos, ocorrem deslizamentos que provocam perdas materiais e humanas nas periferias.

Outro ponto a ser destacado é o aumento da temperatura nos bairros periféricos em razão da falta de arborização nessas regiões, atingindo 2ºC a mais em comparação a locais onde possuem árvores. Segundo o documento da Coppe/UFRJ, sobre as estratégias de adaptação às mudanças climáticas da cidade do Rio de Janeiro, a região onde estão localizadas as 16 favelas da Maré apresenta propensão alarmante de  inundações e altas temperaturas se comparado com outras áreas da cidade.  

A falta de controle da qualidade do ar, carência de saneamento básico e segurança alimentar deixam essas populações expostas a danos que afetam diretamente a saúde e integridade dos moradores. A ausência de uma gestão correta de resíduos sólidos é um exemplo disso, pois podem contaminar os lençóis freáticos com chorume, causando inundações e agravando a proliferação de doenças em comunidades.

Crise climática e conscientização ambiental[editar | editar código-fonte]

Durante uma entrevista ao Instituto Akatu, Amanda salienta que a juventude pressiona a ruptura de transição de modelo econômico, social e ambiental, ampliando o discurso e olhando para a crise climática como desafio sistêmico que precisa ser debatido por todos.  

Com a pauta climática concentrada em grupos acadêmicos, brancos e grandes corporações, realizar ações para mitigar os prejuízos ambientais tende a não funcionar em todos os âmbitos e classes sociais.

Se o caso citado anteriormente a respeito da gestão de resíduos sólidos não for solucionado nas periferias, tais detritos podem emitir gases como o metano e dióxido de carbono, os quais intensificam o efeito estufa e representam um risco para o meio ambiente.  

Ou seja, a elitização do tema não permite a redução completa dos problemas climáticos e viabiliza a continuidade da devastação do ecossistema global.

O Perifa Sustentável e outras iniciativas semelhantes entram para atuar nessa lacuna, possibilitando que a luta ao combate à crise climática seja um direito coletivo, incluindo a juventude preta e periférica que busca desenvolver ferramentas para mudar a realidade onde vivem a partir da ótica da raça e climática. Assim, é possível frear os estragos ecológicos e preservar o meio ambiente de maneira consistente e universal.

Ver também[editar | editar código-fonte]

  1. Conteúdo reproduzido pelo Dicionário de Favelas Marielle Franco. Publicação original: REDAÇÃO. Como levar o debate sobre a crise climática para a periferia? Disponível em: <https://habitability.com.br/como-levar-o-debate-sobre-a-crise-climatica-para-a-periferia/#:~:text=Al%C3%A9m%20das%20enchentes%20em%20dias>. Habitability Acesso em: 25 jul. 2024.