Cria da Maré - Rapper indígena critica o apagamento dos povos originários na cultura brasileira

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

A cantora, compositora e ativista Kaê Guajajara, faz da música uma ferramenta crucial para defender narrativas de povos indígenas.

Cantora do povo Guajajara cria contra narrativas com a música. (Foto: Scarlett Rocha / Divulgação)
Cantora do povo Guajajara cria contra narrativas com a música. (Foto: Scarlett Rocha / Divulgação)
Autoria: Informações do verbete reproduzidas pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco a partir do Portal Favelas[1].

Sobre as favelas e aldeias[editar | editar código-fonte]

Favelas e aldeias são territórios indígenas. Nesses espaços, é comum ver nomes oriundos dos povos originários e comportamentos culturais semelhantes, como a união nas celebrações e comemorações.

Na semana do Dia dos Povos Originários, a cantora, compositora e ativista Kaê Guajajara conversou com o Voz das Comunidade sobre a importância da favela se unir assim como as aldeias.

Biografia da Rapper: Kaê[editar | editar código-fonte]

Nascida em Maranhão, Kaê veio para o Rio de Janeiro ainda criança, tendo morado até recentemente na Vila dos Pinheiros no Conjunto de favelas da Maré. Prestes a lançar seu novo álbum Zahitata, ela conta que a inspiração veio do incômodo de ver a sociedade querendo ver apenas narrativas sofridas.

“A gente fala muito das nossas dores, nossa sobrevivência, e pouco se fala da nossa vivência, beleza, celebração da vida que se supera a cada instante desde 1500. Queremos amar, viver e rir pra além da dor que a colonização nos trouxe.” conta.

Lançamento do álbum no emblemático dia do "descobrimento do Brasil"[editar | editar código-fonte]

A data de escolha para lançamento do álbum não foi por acaso. No abril indígena, em abril de 2023, ela quis chocar as pessoas que dizem que o Brasil foi descoberto no ano de 1500 e valorizar a cultura da sua comunidade. A cantora diz que é importante ter união e inclusão e acrescenta que é importante olhar para a cultura que inclua produções sobre a temática indígena.

“A música é flecha no nosso arco”, explica Kaê, e acrescenta que a usam para tocar pessoas, mostrar pontos de vista, defender a narrativa dos povos originários que vivem tanto nas comunidades indígenas quanto nas favelas e lutam por direitos, respeito e dignidade em todos os lugares.

A cantora também é fundadora do Coletivo Azuruhu, um selo artístico formado por artistas de etnias indígenas que criam histórias opostas às criadas pela sociedade, a partir das suas experiências, vivências e denunciando o apagamento dos povos originários. Kaê também é autora do livro “Descomplicando com Kaê Guajajara – O que você precisa saber sobre os povos originários e como ajudar na luta antirracista”. A melhor forma de entender o dia dos povos indígenas segundo Kaê, é com uma mudança radical do que o dia significa. “Parar de fantasiar as crianças, parar de contar histórias de que indígenas são ‘índios’ e viviam no passado ou que se estão vivos hoje é bem distante apenas na floresta e não fazem parte da sociedade”, e convida pessoas indígenas para pensar em novas formas de educar as crianças e a população baseado no respeito.

“Não tem cabimento um país com uma das maiores diversidades culturais e étnicas do mundo não valorizar, respeitar e ter um modelo de educação que conscientize as pessoas quanto a isso.”

Reparação histórica[editar | editar código-fonte]

O Dia dos Povos Indígenas foi estabelecido no ano passado, a partir da Lei 14.402 de 8 de julho de 2022, de autoria da, atual presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana. Na época, Deputada Federal (Rede).

Antes, era comemorado o “dia do índio”. Mas com a nova lei, ocorreu a substituição na nomenclatura, carregada de estereótipos, com uma visão racista que relaciona os povos originários ao atraso e selvageria. A lei chegou a ser vetada um mês antes de ser outorgada pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), mas em junho do ano passado foi assinada e passou a substituir a nº 5.540, de 2 de junho de 1943, criada no governo de Getúlio Vargas.

A mudança do nome traz também uma reivindicação para ter mais atenção. Povos indígenas significam, literalmente, aqueles que estão ali antes dos outros, destacando que são os povos originários do Brasil. Na mídia, era comum representações dos povos originários de formas pejorativas, expressando a pessoa indígena como alguém sem acesso a tecnologia e educação, condições que refletiam o descaso na promoção de acesso aos direitos básicos. E mudar esse retrato é uma das lutas que marcam o dia 19 de abril, o Dia dos Povos Indígenas.

Conheça o trabalho da artista Kaê Guajajara, clique aqui![editar | editar código-fonte]


Reprodução: Voz das Comunidades

Leia matéria na íntegra: Voz das comunidades

Matéria publicada no dia 25 de abril de 2023

Ver também[editar | editar código-fonte]

Djonga - Rapper

Racismo, motor da violência (relatório)

Parem de nos matar! Violência estatal e racismo nas favelas e periferias (live)