Jacarezinho, Rio de Janeiro

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Jacarezinho é um bairro localizado na zona norte da capital fluminense, no estado do Rio de Janeiro. O bairro abriga a favela do Jacarezinho e sua população é estimada em aproximadamente 36 mil habitantes.

Autor: Vitor Martins

Sobre[editar | editar código-fonte]

Jacarezinho, Rio de Janeiro.

O Jacarezinho é um bairro da Zona Norte do município do Rio de Janeiro, no Brasil. Neste bairro, também se localiza a favela do Jacarezinho, uma das mais tradicionais da cidade. Localiza-se junto à via férrea. É um bairro com altos índices de violência, principalmente relacionados ao tráfico de drogas e à violência policial.

O índice de desenvolvimento humano no Jacarezinho era um dos mais baixos da cidade no ano 2000, sendo de 0,731, estando entre as regiões analisadas de pior IDH naquela época.

No bairro do Jacarezinho localiza-se o Buraco do Lacerda, uma passagem sob os trilhos dos trens da SuperVia, que liga a Rua Bráulio Cordeiro, no bairro do Jacaré, até a Avenida Dom Hélder Câmara, em Benfica, passando pela Rua Viúva Cláudio.

História[editar | editar código-fonte]

Segundo o pesquisador Jonas Abreu, autor do estudo "A invenção da favela industrial: pistas da história, memória e identidade do Jacarezinho", a formação do Jacarezinho como o conhecemos hoje começou um pouco antes da década de 1920. O território era parte da comarca do Engenho Novo, próximo do Engenho de Dentro e Engenho da Rainha. As primeiras ocupações aconteceram na parte alta do morro. Segundo Rumba, havia um motivo para isso: a necessidade de se proteger.[1]

"O Jacarezinho cresce de cima para baixo porque aqueles primeiros moradores ainda estavam desconfiados dos capitães do mato", diz ele.

Capitão do mato era um serviçal de fazenda encarregado de capturar escravizados que fugiam. Rumba conta que, antes de ser uma favela, o Jacarezinho abrigou negros que haviam fugido de fazendas próximas. Por isso, pode ser considerado um "quilombo urbano".

"Já havia negros ali antes dos anos 1920, fugidios da Serra do Mateus, lá na Boca do Mato. Quando o padre Alexandre Língua foi construir o santuário Nossa Senhora da Conceição no Engenho Novo, anos depois, muitas ossadas de escravos foram encontradas", diz Rumba.

Mas é dos anos 1920 em diante que o Jacarezinho começa a se consolidar como uma comunidade. A área ocupada inicialmente era de posse da família de Getúlio Vargas, que cedeu as terras para aqueles moradores.

"Após a abolição, esse local foi apropriado pela família Vargas. No Brasil, a classe dominante não compra terreno, ganha. Dizem que a família Vargas doou para a favela do Jacarezinho crescer, mas como se doa algo que não se comprou?", questiona Rumba.

Já o território para onde a favela começa a se expandir, na parte de baixo, abrigava empresas como a Concórdia e a Fábrica Unida de Tecidos, que surgiram do arrendamento de uma antiga fazenda do local. O fluxo migratório para favelas da Zona Norte do Rio aumentou à medida que a indústria se expandiu no país. O Jacarezinho cresceu em função de fábricas que se instalavam no entorno, como a fabricante de fósforos Cruzeiro, a gigante americana General Eletric e a Cisper, especializada em vidros, e também por causa da linha férrea que atravessava o local.

Além disso, o Jacarezinho não era distante do centro do Rio e de localidades vizinhas que também se industrializavam, como Maria da Graça e o bairro do Jacaré, o que estimulou a chegada de moradores. Primeiro, vindos do centro e da região portuária do Rio. Posteriormente, do noroeste do Estado e de cidades rurais de Espírito Santo e Minas Gerais.

No decorrer de alguns anos, a comunidade que já foi conhecida como Morro do Padre Paulo e Morro da Titica, antes de virar o Jacarezinho nos anos 1940 - e chegou a ser considerada a maior favela do Rio. A comunidade ganhou seu nome atual por causa do rio Jacaré, que atravessa o local.

Houve ainda um novo impulso de expansão na favela em 1961, quando o então governador Carlos Lacerda decretou a criação do Complexo Industrial do Jacaré, no bairro vizinho ao Jacarezinho, incentivando a construção de mais fábricas na região. Foi um período fértil para a favela. Os moradores tinham emprego, já que as indústrias se aproveitavam daquela mão de obra barata. Além disso, florescia uma época de efervescência política na comunidade.

Transportes[editar | editar código-fonte]

O Jacarezinho é cortado pelo ramal de Belford Roxo da SuperVia, que possui uma estação no bairro, atravessa a região paralelamente à Linha 2 do Metrô e à Avenida Suburbana, e faz a ligação entre a Central do Brasil, na Zona Central do Rio de Janeiro, e o centro de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

Chacina do Jacarezinho[editar | editar código-fonte]

Em 06 de maio de 2021, a favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, foi palco da mais brutal chacina da história do Rio de Janeiro - conhecida como Chacina do Jacarezinho. Durante horas, uma megaoperação levou o horror e a morte para as famílias do local, tendo executado mais de 40 pessoas e ferido tantas outras. Sem contar nas denúncias dos moradores de outras violações de direito, como as invasões nas casas dos moradores, agressões, abusos de poder e execuções sumárias. Diversas organizações da sociedade civil, com destaque aos movimentos de favela e de defensores de direitos humanos, tem realizado as denuncias e cobranças para que o caso seja apurado e as pessoas responsáveis sejam identificadas. Cabe destacar que a chacina ocorre durante a pandemia do coronavírus, com uma ação (ADPF 635) julgada pelo Supremo Tribunal Federal, que determinou que as operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro, enquanto durar a pandemia de Covid-19, fossem restritas. Nem mesmo a pandemia ou a determinação do STF foram suficientes para barrar a chacina feita pela Polícia Civil. Os detalhes ainda estão sendo apurados.  

O episódio gerou a indignação da comunidade, que pede o fim da violência policial nas favelas, além de ter amplificado o debate em torno das políticas de segurança pública em territórios periféricos por parte da imprensa, dos movimentos sociais e de órgãos públicos. Há um latente oposição de narrativas empreendidas entre frações do poder público e a população: enquanto líderes comunitários denunciam os rotineiros abusos de poder aos quais os moradores da favelas estão submetidos, o governador Cláudio Castro lamentou as perdas mas alegou em comunicado, no entanto, que "a ação foi pautada e orientada por um longo e detalhado trabalho de inteligência e investigação, que demorou dez meses para ser concluído".

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. MATA, João da. Jacarezinho: favela palco de massacre nasceu como quilombo, lutou contra a ditadura e hoje é refém da violência. 2021