Literatura Marginal Periférica
Autoria: Gracinda Barros.
A literatura marginal periférica é uma cena literária que se desenvolve a partir da década de 90, com a chamada “literatura de favelas”.
Surgimento[editar | editar código-fonte]
No início dos anos 2000, o termo ‘marginal’ aparece associado a um perfil sociológico de produção literária: autores que moravam ou já haviam morado nas grandes periferias do espaço urbano brasileiro, em sua grande maioria, da periferia de São Paulo, que começaram a ganhar espaço no cenário editorial. Temas como o cotidiano das favelas, a violência, a falta de recursos, o descaso e abuso das autoridades, entre outros, passaram a fazer parte de uma narrativa, até então, carente de notoriedade na literatura brasileira.
O termo “literatura marginal dos marginalizados” foi cunhado pelo escritor Ferréz, com o intuito de dissociar a cena periférica do movimento poético da década de 70. Apesar da visibilidade garantida pelo termo, existem entre os próprios autores problematizações em torno da rubrica ‘literatura marginal’. Como destaca Érica Peçanha Nascimento[1], o termo marginal, associado à literatura, assumiu diferentes significados, variando de acordo com as características dos autores ou obras e das definições geradas pela imprensa ou pelos estudiosos.
Entretanto, embora gere controvérsias, a marca agregou um conjunto de escritores que se balizaram pela expressão e atribuem a ela suas obras, trazendo à tona a realidade e o espaço de sujeitos subalternos. Alguns autores defendem o termo “literatura marginal periférica” ou somente “literatura periférica”. O ponto de convergência desses escritores está articulado às experiências de vida, criando uma identidade coletiva: ser morador da periferia urbana faz com que se vivencie a marginalidade social.
Características[editar | editar código-fonte]
A linguagem utilizada nas obras também é uma característica marcante dessa vertente da produção literária contemporânea: marcada pela língua coloquial, gírias específicas das comunidades e do cenário hip-hop, muitas vezes aproximando-se da oralidade e se contrapondo provocativamente à norma culta.
Com o aumento da visibilidade, a literatura marginal periférica não pode mais ser considerada à margem da tradição literária brasileira, ou do mercado editorial, mas é produzida por quem foi excluído social e economicamente. O principal aspecto seria, nesse sentido, o fato de ser produzida por autores da periferia, permitindo um olhar interno sobre a experiência da marginalização social e cultural e uma estética própria que dialogue com essa realidade.
Outro fator de destaque é o engajamento político e social presente não apenas nas obras literárias, mas na constante preocupação com a sua circulação e com o acesso a diferentes formas de bens culturais. Embora não existam estudos sistemáticos sobre a distribuição da literatura marginal e qual é efetivamente o perfil de seu leitor, os autores que se identificam com a literatura marginal periférica garantem que grande parte de suas obras literárias seja de livre distribuição em redes sociais, blogs, iniciativas de tiragens populares, como a editora Selo Povo, ou difundidas em importantes cenas culturais como a Cooperifa, 1daSul , Balada Literária, além de projetos e intervenções em escolas públicas, palestras, oficinas, encontros e saraus.
- ↑ NASCIMENTO, Érica Peçanha. Vozes Marginais na Literatura. Rio de Janeiro, Aeroplano: 2009.
Ver também[editar | editar código-fonte]