Mão Branca - atuação do grupo de extermínio nas favelas do Rio de janeiro

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Mão Branca foi um dos grupos de extermínio mais notórios durante o período da ditadura militar no Brasil.

Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.

Sobre[editar | editar código-fonte]

O Mão Branca foi um dos grupos de extermínio mais notórios durante o período da ditadura militar no Brasil. Criado no início da década de 1970, esse grupo teve um papel crucial nas ações de repressão violenta contra a população das favelas do Rio de Janeiro. Sua atuação se deu dentro de um contexto de violência sistêmica e de uma estratégia do regime militar para conter o avanço de movimentos sociais, sindicatos e a resistência popular, muitas vezes associando essas populações ao comunismo ou à subversão[1].

A organização foi formada por um grupo de policiais militares, agentes de segurança e paramilitares. A criação desse grupo foi uma resposta direta da ditadura militar à crescente mobilização popular nas favelas, especialmente no contexto do aumento de protestos, greves operárias e à expansão do tráfico de drogas. Embora o tráfico fosse predominantemente controlado por grupos criminosos, o regime usou essa questão como justificativa para intervenções violentas. O nome "Mão Branca" fazia referência a uma prática do grupo, que consistia em torturar suas vítimas de maneira que parecessem forçadas a escrever algo antes de serem mortas, com marcas evidentes nas mãos[2].

Mão Branca nas Favelas[editar | editar código-fonte]

A atuação do Mão Branca nas favelas do Rio de Janeiro tinha como alvo líderes comunitários, militantes de esquerda e qualquer pessoa vista como uma ameaça ao regime militar. O grupo agia com grande impunidade, muitas vezes com o apoio das forças de segurança estaduais e federais. Suas ações eram marcadas por execuções sumárias, torturas e desaparecimentos forçados. As favelas mais atingidas pela violência do Mão Branca foram aquelas com maior presença de resistência política ou onde o tráfico de drogas já estava mais consolidado, como a Rocinha, o Complexo do Alemão e a Cidade de Deus[3].

Um episódio marcante foi a invasão de favelas pelo grupo para reprimir lideranças comunitárias que organizavam greves e manifestações, em um esforço para impedir a articulação de movimentos populares[4].

Além dos assassinatos, o Mão Branca também esteve envolvido em inúmeros casos de desaparecimentos forçados, uma prática comum durante o período da ditadura militar, onde as vítimas eram sequestradas, torturadas e, muitas vezes, assassinadas sem deixar vestígios. Essas operações eram conduzidas de forma clandestina, com o objetivo de enfraquecer qualquer tipo de mobilização social, especialmente nas áreas mais carentes e marginalizadas, como as favelas[5].

Fim do Mão Branca[editar | editar código-fonte]

Com o fim da ditadura militar e o início da abertura política nos anos 1980, o Mão Branca começou a se desestruturar. No entanto, seus membros não desapareceram totalmente da cena política e social, com muitos deles continuando a atuar em grupos de extermínio e milicianatos que surgiram no período pós-ditadura. Embora o grupo tenha perdido sua organização formal, o legado de violência e impunidade por seus crimes permaneceu, refletindo as lacunas na justiça durante o regime militar. Muitos de seus membros nunca foram responsabilizados, e a violência nas favelas continuou sob novas formas, como o poder crescente das milícias[6].

Com a transição para um regime democrático e a instalação de novas instâncias de governo, a repressão direta e institucionalizada do Mão Branca foi diminuindo, mas os grupos paramilitares e a violência policial continuaram a ser um problema persistente nas favelas do Rio de Janeiro. O fim do Mão Branca não significou o fim da violência sistemática nessas comunidades, que continuaram a ser palco de conflitos entre facções, milicianos e agentes de segurança[7].

Ver também[editar | editar código-fonte]

O Movimento Revolucionário 8 de Outubro e as favelas no Rio de Janeiro

Milícia

Se facção tem tropa milícia tem GAT - representação da atuação da milícia na Muzema

A expansão das milícias no Rio de Janeiro (pesquisa)

Segurança, tráfico e milícias no Rio de Janeiro (livro)

Controle territorial armado no Rio de Janeiro

  1. Amaral, L. F. A Ditadura Militar e a Violência nas Favelas: O Caso do Mão Branca. Editora Unicamp. 2002.
  2. Figueiredo, F. Repressão e Resistência nas Favelas do Rio de Janeiro. Editora Zahar, 2014.
  3. Souza, M. R. Grupos de Extermínio e a Violência no Rio de Janeiro: O Mão Branca e Seus Legados. Editora FGV, 2011.
  4. Santos, P. A Violência das Favelas e a Ditadura Militar: Conexões e Resistências. Editora UERJ, 2008.
  5. Oliveira, A. G. O Estado e as Favelas: O Papel dos Grupos de Extermínio no Rio de Janeiro. Editora PUC-Rio, 2003.
  6. Costa, E. M. Carlos Marighella: Guerrilha e Repressão na Ditadura Militar. Editora Companhia das Letras, 2010.
  7. Nogueira, R. A História do Desaparecimento Forçado no Brasil: O Caso das Favelas. Editora Contexto, 2005.