Memória e identidade dos moradores de Nova Holanda (livro)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Capa do livro Memória e identidade dos moradores de Nova Holanda
Capa do livro Memória e identidade dos moradores de Nova Holanda

Livro que aborda questões sobre a memória, a história e a identidade dos moradores da Nova Holanda, no conjunto favelas da Maré, no Rio de Janeiro.

Autoria: Redes da Maré

Apresentação[editar | editar código-fonte]

O livro que ora apresentamos é fruto de uma pesquisa sobre a memória de um grupo de moradores da Nova Holanda, uma das 16 favelas que compõem o bairro da Maré, localizado na região da Leopoldina, Zona Norte do Rio de Janeiro. Essa pesquisa foi realizada pela Redes de Desenvolvimento da Maré através de seu Núcleo de Memória e Identidade (NUMIM), com o patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro e do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC).

O trabalho contou com a participação de jovens estudantes (alguns já cursando a universidade) da própria Maré que fazem parte da equipe do NUMIM. Esse, aliás, é um ponto fundamental, pois, juntamente com o objetivo de registrar a memória coletiva local, houve também a preocupação de formar e qualificar moradores, sobretudo os mais jovens, no campo da pesquisa histórica, para que eles desenvolvessem autonomia suficiente para fazer novos trabalhos nessa área.

Cabe destacar ainda que o presente livro é o primeiro de uma série que apresentará a história e a memória dos moradores de todas as 16 favelas da Maré. Assim, é nosso desejo construir a série “Tecendo Redes de Histórias da Maré” e, a partir dela, contribuir para compor um quadro histórico mais amplo da formação desse conjunto de favelas.

Por outro lado, ao tratarmos da história da Maré e da memória de seus moradores, temos no horizonte o entendimento da própria história da cidade do Rio de Janeiro, pois, quando as favelas se integram a essa história, como é o caso da Maré e suas comunidades, reconhecemos a cidade como um todo. E a cidade precisa ser uma só: precisa reconhecer a diversidade de seus espaços, histórias e identidades como algo positivo, como uma característica que a torna mais bela, melhor de se viver e que marca de forma indelével a alma carioca. A história da favela é a história do Rio de Janeiro.

Introdução[editar | editar código-fonte]

A história da Nova Holanda ainda é pouco estudada e, por isso, não se encontram tão facilmente referências bibliográficas sobre o assunto. Dessa maneira, dentre outros objetivos, o presente estudo procura contribuir para cobrir parte dessa lacuna através de pesquisa histórica e do registro de depoimentos orais de antigos moradores.

Nesse sentido, foram selecionados para entrevistas moradores que carregam consigo uma parte importante da memória desse espaço, seja porque ajudaram a construí-lo diretamente ou ainda porque foram testemunhas de fatos marcantes na vida da comunidade.

Assim, nas páginas que se seguem, temos histórias contadas por pessoas que participaram da fundação e de outros momentos singulares da história da Nova Holanda. São relatos que nos ajudam a compreender o processo de ocupação e consolidação daquele espaço e, ao mesmo tempo, nos fornecem pistas acerca de como foram se afirmando as identidades, individuais e coletiva, na relação com a cidade e com os poderes do Estado.

O presente trabalho será apresentado da seguinte maneira: no primeiro capítulo, discutimos os conceitos de memória, identidade e favela. A ideia foi esclarecer sobre o que estamos falando quando nos referimos a esses conceitos. No entanto, optamos por uma discussão mais sucinta e objetiva, não nos aprofundando nas questões mais polêmicas acerca de tais acepções.

No segundo capítulo, procuramos compor um quadro mais geral sobre o fenômeno do surgimento das favelas e, por isso, foi inserida uma análise histórica da formação desses espaços na cidade do Rio de Janeiro. Há aí um aprofundamento de alguns temas tratados no primeiro capítulo, como, por exemplo, a questão da desigualdade socioeconômica que gera os fenômenos da periferização e da favelização. No terceiro capítulo, fizemos uma análise histórica do movimento popular na Nova Holanda, refletimos sobre a importância desse movimento na criação de lideranças comunitárias e como ele ajudou a forjar identidades.

As memórias dos moradores entrevistados compõem o quarto capítulo. Nele, temos narrativas que nos ajudam a entender a vida de cada um desses indivíduos, sua trajetória pessoal e sua inserção na vida comunitária. Estão colocadas aí as relações com os vizinhos, a participação nas organizações comunitárias, a inserção na cultura local e o estabelecimento dos laços familiares que criam e assentam “raízes” permanentes no local.

Nas considerações finais, procuramos retomar alguns pontos importantes dos depoimentos baseados nas narrativas que nos permitem vislumbrar aspectos da(s) identidade(s) dos moradores da Nova Holanda.

Como dito acima, esse trabalho foi feito a partir de uma série de entrevistas com os moradores e, em alguns casos, com a ajuda de seus familiares. Cabe ressaltar que a equipe do NUMIM foi às residências dos entrevistados, o que garantiu experiências bastante ricas, pois muito do passado e da memória dessas pessoas estava materializado lá na forma de objetos e referências simbólicas.

Cabe ressaltar também que os depoimentos orais nos permitem registrar muito mais do que simples contos, recordações ou lembranças: eles nos oferecem a possibilidade de entender a memória como uma narrativa em que cada indivíduo reconstrói o seu passado a partir da linguagem e da comunicação oral carregada de suas emoções e referências simbólicas. Fazendo isso, abre-se a possibilidade para a criação de uma narrativa coletiva, base para reflexão sobre a questão da identidade na Nova Holanda. O resultado é a composição de um material rico que ficará preservado para futuras pesquisas e que poderá ser acessado pelas novas gerações, apresentadas a uma realidade inteiramente diferente da vivida pelos moradores que aqui deixaram registradas suas memórias.

A importância disso vai além da simples preservação material dos depoimentos: o que temos é a reelaboração de histórias pessoais, que em muitos momentos se aproximam e mesmo se entrelaçam, para oferecer a oportunidade de criação de uma memória coletiva e, por conseguinte, o reconhecimento de traços identitários em comum.

Assim, nosso desejo é o de que este seja o primeiro de muitos outros trabalhos que abordem a memória dos moradores de espaços populares, como os da Nova Holanda, na Maré, visando a transformá-la em temas e a compor um quadro mais amplo de discussões que venham a contribuir para a compreensão da identidade do Rio de Janeiro. Isso passa pelo reconhecimento de que a cidade é plural, pois comporta ao mesmo tempo identidades distintas, que se reconhecem, que se negam e que negociam de maneira quase sempre tensa para formar aquilo que muitos chamam de “alma carioca”.

Livro completo[editar | editar código-fonte]


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Ver também[editar | editar código-fonte]


Mais livros[editar código-fonte]