Migração e Favela
Migração e favela trata da estreita relação entre o fenômeno migratório no Brasil e a questão da habitação em regiões de favelas e locais similares, apresentando pensamentos de alguns estudiosos e estudiosas sobre o tema.
Autoria: Mariana Vieira
Sobre[editar | editar código-fonte]
A intensa mobilidade humana observada no mundo contemporâneo é considerada uma das características da globalização. Todavia, é válido considerar que este deslocamento não ocorre apenas em escala global, sendo observada também sua ocorrência no âmbito interno, como o exemplo da migração nordestina em direção ao Sudeste, principal fluxo migratório interno no Brasil.
Várias são as causas que ensejam a decisão de migrar, razão pela qual os movimentos migratórios devem ser compreendidos como fenômenos multifacetados. A análise das migrações internas no Brasil nos ajuda a entender sobre a nossa formação social e seus impactos, além de realçar as sequelas estruturais do país. Migração e exclusão social passam a ser consideradas sinônimo, contribuindo para o empobrecimento deste grupo (Valim, 2009).
Por sua vez, Yazbek (2001) ressalta que junto com o crescimento das cidades – aspecto territorial e populacional – cresce também o abismo entre as classes sociais, tendo em vista que “a sociedade em movimento se apresenta como uma vasta fábrica das desigualdades e antagonismos que constituem a questão social ” (Ianni, 1989, p. 147). Assim, a migração pode ser compreendida como uma expressão da questão social.
Ao estudar de modo específico a migração nordestina para a região Sudeste, no período de 1950-1970, constata-se entre os fatores que impulsionaram este deslocamento: o grande salto do desenvolvimento econômico e industrial que o Brasil vivenciava na época; o processo acelerado de urbanização e maiores oportunidades de trabalho no eixo Rio de Janeiro – São Paulo, visto como a nova Canaã dos nordestinos (Araújo, 1972), a terra das oportunidades.
Contudo, a realidade se mostrou contrária. Os migrantes, que buscam uma vaga no mercado de trabalho costumam se encaixar quase sempre nos mesmos tipos de ocupação: porteiro, auxiliar de obra, garçom, empregada doméstica. Barbosa (2021) menciona que “as razões para a afiliação a tais ocupações são atribuídas a determinados fatores, como o baixo nível de escolaridade e a pouca experiência em trabalho em contexto urbano” (p. 127), formando uma “espécie de monopólio de ofício exercido por migrantes nordestinos” (Barbosa, 2021).
Deste modo, verifica-se a estreita relação observada entre migração e favela, por (estas últimas) ofertarem condições mais baratas de habitação (Barbosa 2021). É comum verificar que muitos nordestinos que migraram para o Rio de Janeiro, principalmente por fatores econômicos, foram buscar moradia nas favelas.
"A hegemônica presença de migrantes nordestinos em determinadas favelas possibilita a construção de sentimento comunitário e dá identidade ao lugar, conferindo a essas localidades e a seus moradores atributos particulares em relação a outras tantas existentes e coexistentes. Uma forma de se autoatribuir valor e marcar distinção em relação a demais moradores, bem como expor contraposições entre as favelas." (Barbosa, 2021, p.124-125).
Todavia, para além da mobilidade humana e das expressões da questão social observadas nas favela, é válido ressaltar que estes territórios possuem inúmeras características que o transformam em espaços singulares. Logo, as favelas não devem ser estudadas de forma reducionista a partir do paradigma da ausência, mas percebendo suas particularidades e potências (Fernandes, et al., 2018), valorizando os espaços de sociabilidade e a cultura produzidas nestes territórios.
Referências Bibliográficas[editar | editar código-fonte]
ARAÚJO, Alceu Maynard. Pentateuco Nordestino (um estudo das migrações internas). Brasbiblos, São Paulo, 1972.
BARBOSA, Fernando Cordeiro. Nordestinos no Rio de Janeiro: alteridades e legados culturais. / Fernando Cordeiro Barbosa. Niterói: Eduff, 2021.
FERNANDES, F., SILVA, J. de S., BARBOSA, Jorge. O paradigma da potência e a pedagogia da convivência. Revista periferias, R.J., 2018. Disponível em: https://revistaperiferias.org/materia/o-paradigma-da-potencia-e-a-pedagogia-da-convivencia/
IANNI. Otavio. A questão Social. Revista USP. 1989. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/25490/27236
VALIM, Ana. Migrações – da perda da terra à exclusão social / Ana Valim. 11ª ed. São Paulo: Atual, 2009.
YAZBEK, Maria Carmelita. Pobreza e exclusão social: Expressões da questão social no Brasil. Temporalis: Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social - Ano. 2, n. 3 (jan./jun..2001). Brasília: ABEPSS, Grafline, 2001, p. 33-40.