Mostra de Arte Periférica Noix

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

A 1ª Mostra de Arte Periférica Noix, em Honório Gurgel, foi a primeira exposição artística desse bairro situado na Zona Norte do Rio de Janeiro e evidencia a urgência de apoio público às artes nos subúrbios.

Autoria: Felipe Migliani • 15/12/2022
NOIX
NOIX

A necessidade[editar | editar código-fonte]

Criança observa obra na 1ª Mostra de Arte Periférica Noix, no Parque de Madureira, em Honório Gurgel.

Em novembro, um grupo de oito mulheres moradoras das favelas, subúrbios e periferias do Rio de Janeiro foi responsável pela primeira mostra de artes sobre a história do bairro Honório Gurgel, na Zona Norte da cidade.

Apesar de berço de Anitta, símbolo da música e da cultura brasileira da atualidade, o bairro nunca contou com salas de concerto, cinema, centros culturais, teatros ou exposições de arte. Infelizmente, a falta de apoio e de espaços adequados a iniciativas artísticas como essa são fato comum em grande parte das periferias e favelas cariocas.

Para a popularização das mais diversas formas de arte, são necessárias políticas públicas que incentivem a capilarização de equipamentos culturais e oportunidades de fomento público a coletivos e grupos artísticos de favela e periféricos. Em geral, os únicos responsáveis pelo acesso à cultura nesses territórios.

O evento[editar | editar código-fonte]

A primeira edição da Mostra Noix foi uma ocupação artística e cultural que atraiu 1.714 visitantes entre os dias 5 e 19 de novembro, de 2022, no Edifício Multiuso do Parque de Madureira. A ocupação teve como objetivo descentralizar o circuito de arte do eixo Centro–Zona Sul e contou com uma pluralidade de trabalhos, técnicas, temas e artistas. A mostra reuniu obras no campo da pintura, fotografia, escultura e instalação audiovisual. Todo material foi produzido por artistas negras e negros, indígenas, população LGBTQIAP+ e pessoas com deficiência (PcD) advindos de diversas favelas e periferias do Rio de Janeiro.

“Acreditamos que a importância da Mostra Noix em Honório Gurgel tem relação estreita com o movimento pela visibilidade e compartilhamento das potências suburbanas, faveladas e periféricas cariocas. E fazer isso é também priorizar que as iniciativas em prol disso aconteçam nos nossos territórios.

Público se diverte na 1ª Mostra de Arte Periférica Noix,

A nossa experiência mostrou isso na prática de diversas formas. Houve a ampliação do imaginário sobre o que é uma mostra de arte, sobre quem pode e onde se produz arte e cultura”, explicou Ariane Pereira, uma das produtoras do evento.

Duas mulheres tiram foto com um quadro que representa um corpo feminino e negro, na 1ª Mostra de Arte Periférica Noix, no Parque de Madureira, em Honório Gurgel. Divulgação: Instagram


A mostra Noix foi realizada com recursos do Fundo de Apoio de Fomento à Cultura Carioca (FOCA), organizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria Municipal de Cultura. O sucesso da iniciativa mostra o quanto é fundamental o apoio público a realizações como essa em espaços que, em geral, não são atendidos pelo mercado cultural.




Sobre o autor: Felipe Migliani é formado em Jornalismo pela Unicarioca e tem especialização em jornalismo investigativo. Atua como jornalista independente e repórter freelancer nos jornais Meia Hora e Estadão. É coloborador do Coletivo Engenhos de Histórias, que investiga e resgata histórias e memórias da região do Grande Méier, e do PerifaConnection.

Galeria de fotos[editar | editar código-fonte]

Foto 1 - Mostra Noix


Foto 2 - Mostra Noix









Mostra Noix - Foto 3
Mostra Noix - Foto 4










Honório Gurgel[editar | editar código-fonte]

Honório Gurgel é um bairro tipicamente residencial, na Zona Norte do município do Rio de Janeiro, que surgiu após a implantação da linha férrea na região, em 1892. A estação ferroviária surgiu em 1895, com o nome Muguengue — em alusão a um dos vários rios que cortam a região. Em 1905 teve seu nome alterado para Honório Gurgel, em homenagem ao prefeito do Rio de Janeiro à época, e também herdeiro das terras onde a estação fora instalada.

Vizinho de Rocha Miranda, Marechal Hermes, Bento Ribeiro, Coelho Neto, Guadalupe e Barros Filho, esse bairro carioca já abrigou engenhos de cana-de-açúcar na época Imperial.  

História[editar | editar código-fonte]

Região próxima ao Engenho Boa Esperança que, com a inauguração da Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil (depois linha auxiliar), em 1892, passou a abrigar a Estação de Munguengue, inaugurada em 1 de novembro de 1895, de onde saía um ramal de 3,02 Km para Sapopemba (atual Deodoro). A estação teve a denominação alterada para Honório Gurgel em homenagem ao Tenente Honório Gurgel do Amaral, vereador, cujo pai possuía fazenda em Irajá. Em Honório Gurgel existiam engenhos, olarias e carvoarias, com caminhos dando acesso a Madureira, o principal deles a estrada Tavares Guerra (atual rua Conselheiro Galvão). Posteriormente, foi implantada a faixa da linha de transmissão elétrica da LIGHT, antes ocupada por lavouras que deram espaço ao atual Parque Madureira.

O bairro é predominante residencial, contudo apresenta considerável número de indústrias pertencentes do Distrito Industrial da Fazenda Botafogo. Uma das primeiras indústrias da região é a ArmcoStaco, inaugurada em 1958.

A moradora mais famosa do bairro foi a cantora Anitta, que residiu ali durante sua infância e juventude. Ela mencionou o nome do bairro na música "Girl From Rio", lançada em 2021, cuja letra diz "Honório Gurgel forever". Além disso, o bairro também foi retratado no livro “A vida e o sonho — Memórias afetivas sobre o bairro Honório Gurgel”, de Zuleika Sant’Anna.

IAPI de Honório Gurgel[editar | editar código-fonte]

Originalmente Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários, o conjunto habitacional foi inaugurado em 1945 durante o governo do presidente Getúlio Vargas, grande impulsionador do processo de ocupação do bairro. Com uma arquitetura funcional, apresenta uma divisão em blocos de apartamentos e casas geminadas, privilegiando áreas de convívio coletivo, como a praça central.

Fontes e Redes Sociais[editar | editar código-fonte]

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