O Alvorecer no Galo (poesia)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

O Alvorecer no Galo é um relato poético sobre a 21ª Semana dos Museus, evento ocorrido em maio de 2023 no Museu de Favela (MUF), no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo (PPG), conjunto de favelas da Zona Sul do Rio de Janeiro.

Autoria: Marcos Vinícios de Souza[1][2].
21ª Semana dos Museus, no Museu de Favela, no Cantagalo. Foto Marcos Vinícios.
21ª Semana dos Museus, no Museu de Favela, no Cantagalo. Foto Marcos Vinícios.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Com uma extensa programação, o MUF recebeu pessoas de toda a cidade para discutir a museologia social enquanto potência comunitária e a favela enquanto museu à céu aberto. Nesse sentido, a programação incluiu um tour pelo circuito de “casas-tela”, residências de favela que são em si obras de arte; a mostra Primeiros Olhares, na Creche Tia Elza, com fotografias feitas por pequenos alunos do PPG; um mutirão de plantio de novas mudas na horta comunitária; uma oficina de capoeira com o Mestre Tartaruga; e uma visita mediada por alunos de museologia da UNIRIO na Exposição Canudos no Museu de Favela, todas atividades em tom com os objetivos definidos nos movimentos de museologia social para a semana.

Através deste relato, em forma de poesia, o poeta, rapper e fotógrafo Marcos Vinícios, conta como foi estar no Cantagalo, no Museu de Favela, durante a 21ª Semana dos Museus.

Poesia[editar | editar código-fonte]

Hoje, mesmo sem o galo cantar, como diz o poeta

Se mantém a essência, nas paredes a história e na ponta da língua a vivência

Mesmo com tanta carência se vê nos olhos a sina de querer ser feliz

Favela raiz, mesmo sendo na parte Sul do mapa

Onde não se tem camadas, tudo se mistura como o arroz e feijão

Norte e Nordeste presente, tanto quanto quem é da gema

Aos pés do Cristo, que parece não olhar pra baixo, de tão alto que tá

Se vê lagoa, se vê floresta e também o mar

Quem garante a arqueologia do futuro é o Museu de Favela, não só nas Casas-Tela, ou contando sobre Canudos.

Pode ter certeza lhe asseguro que quem conhece gosta

Não dá pra dar um rolé com a Márcia e ficar sem entender minimamente os porquês dali

Tem muita coisa!

E não tem uma pessoa que não a conhece.

Ela faz lembrar a quem se esquece!

Mesmo com alguns problemas, mantemos a fé

Com o Cristo não vendo

Rezamos pra Oxalá que, mesmo vindo do lado de lá, olha por nós que estamos cá.

Museu a céu aberto, de pedra, concreto e tinta.

Que tinge a vida que tentam deixar vazia e incolor.

Terra fértil de artista, que não dependem da pista pra nada.

Descer, só pra nadar, porque o mar é público, herança de mãe Iemanjá

Mesmo com fome, se alimenta,

De mão de obra, arte e cultura.

Quem vem de fora explora, come, bebe e acha da hora.

Mas logo vai embora, não volta e acha que já conhece tudo.

Kaô só pra saudar meu pai Xangô.

E que Ele ouça nossas preces quando anoitece,

Com a certeza de um novo dia, que vem.

O alvorecer mais lindo do Rio é quando o Galo amanhece.

Ver também[editar | editar código-fonte]

  1. Sobre o poeta: Marcos Vinícios de Souza é cria do Morro do Fogueteiro, dançarino, fotógrafo, filmmaker, produtor e ator. Iniciou sua trajetória artística aos 15 anos com a dança. No audiovisual, participou da CriaAtivo Film School, permeando diversas formas de expressar e tem buscado registrar e contar a sua história e a dos que o cercam.
  2. Publicado originalmente no RioOnWatch.