Os pentecostais e a vida em favela no Rio de Janeiro (artigo)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Os pentecostais e a vida em favela no Rio de Janeiro: A batalha espiritual na ordem violenta na periferia de Campos dos Goytacazes.

O artigo analisa o papel do pentecostalismo na transformação das formas de sociabilidade em favelas de Campos dos Goytacazes, onde moradores são frequentemente estigmatizados pela proximidade com a criminalidade violenta, em especial o narcotráfico. Investiga-se como líderes religiosos pentecostais intervêm nesses territórios, contribuindo para atenuar a violência praticada pelos traficantes.

Autoria: Wania Mesquita, UniRio[1].

Sobre o artigo[editar | editar código-fonte]

Introdução

O estudo baseia-se em uma pesquisa em andamento¹ com populações moradoras de favelas da cidade de Campos dos Goytacazes, no Estado do Rio de Janeiro². A maior parte dessas populações é composta por pessoas em situação de pobreza, com acesso precário à cidade e à cidadania, que convivem cotidianamente com o poder do tráfico de drogas e a violência policial em seus territórios.

O discurso dominante sugere que a proximidade com grupos criminosos nesses territórios gera uma percepção de que os moradores possuem uma "moralidade duvidosa" (LEITE, 2008). A insegurança e o medo fortalecem a imagem de perigo associada a esses residentes, o que resulta em sua criminalização e em uma maior segregação socioespacial. Essa percepção também influencia a formulação de políticas públicas que frequentemente reforçam a lógica do confronto direto com os traficantes armados, sustentando a chamada "metáfora da guerra" (ibid.).

Nesse cenário, os moradores estão sujeitos à "lei do silêncio", que, segundo Silva (2004, p. 78), "parece ser mais perniciosa do que normalmente se imagina: não se trata apenas do fechamento para os ‘de fora’ das populações mais diretamente afetadas pela sociabilidade violenta, mas da incomunicabilidade entre os seus próprios membros produzida pelo medo e desconfiança".

A partir dessas análises e de considerações etnográficas em favelas de Campos dos Goytacazes, buscou-se investigar como a religião – em especial o pentecostalismo – influencia as formas de sociabilidade local³. O objetivo é identificar e compreender o modo como os pentecostais exercem um "contrapoder" em relação às ações violentas de traficantes e policiais (SILVA e LEITE, 2007), focando nos relatos de moradores pentecostais que convivem diretamente com os criminosos em favelas.

¹ Trata-se do desenvolvimento do projeto de pesquisa “Percepções e estratégias de ação dos pentecostais moradores de favelas de Campos dos Goytacazes”, financiado pelo CNPq – Edital Universal 2008.

² Campos dos Goytacazes é o principal município da Região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Por muitos anos, foi considerado um polo de desenvolvimento regional devido ao seu potencial agropecuário e agroindustrial, além de abrigar a principal bacia petrolífera do país. Entretanto, a partir da década de 1960, sofreu um processo de estagnação econômica. Mesmo com a crescente arrecadação dos royalties do petróleo desde 1998, a cidade não apresentou avanços significativos na geração de emprego e renda. Segundo o Censo 2000 do IBGE, Campos possuía 406.279 habitantes, dos quais 16.876 residiam em 32 favelas, ocupando 4.842 domicílios. O crescimento das favelas foi mais expressivo entre as décadas de 1940 e 1960, com uma redução nos anos 1970 e um novo aumento na década de 1980 (GUIMARÃES; PÓVOA, 2005).

³ De acordo com o Censo 2000 do IBGE, 59% da população de Campos dos Goytacazes se declarou católica, 21% evangélica (sendo 3,6% pertencentes à Assembleia de Deus e 3,5% à Igreja Universal), 15% afirmaram não ter religião, e 5% pertenciam a outras religiões. Esses dados refletem a expansão do pentecostalismo no Brasil, que passou de 9,1% da população em 1991 para 15,4% em 2000. Entre os evangélicos, a participação dos grupos tradicionais caiu de 35% para 27,4%, enquanto os pentecostais passaram a representar 67,6% do segmento.

Referências[editar | editar código-fonte]

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Ver também[editar | editar código-fonte]

Doutrina evangélica sobe a favela e chega ao tráfico

Pentecostalismo e o sofrimento do (ex) bandido - testemunhos, mediações, modos de subjetivação e projetos de cidadania nas periferias (resenha)

Racismo religioso

Notas e referências

  1. Canal Dialnet: Portal de difusão da produção científica hispânica que iniciou seu funcionamento no ano 2001 especializado em ciências humanas e sociais. Fonte: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/6342460.pdf