Pescando Memórias

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Isabela Bispo e Givanildo Santana (projeto Pescando Memórias)
Isabela Bispo e Givanildo Santana (projeto Pescando Memórias)

"Pescando Memórias" é um projeto sociocultural que atua no estado de Sergipe, nordeste do Brasil. Foi inicialmente estabelecido no povoado São Braz, uma comunidade ribeirinha de significativo valor histórico e repleta de belezas naturais. Vila de pescadores situada às margens do Rio Parnamirim, São Braz é caracterizado por sua configuração simplista, com apenas duas ruas principais. Notavelmente, a localidade destaca-se por sua harmoniosa diversidade religiosa: é possível encontrar uma Igreja Católica situada em frente a uma igreja evangélica, bem como terreiros de umbanda.

Autoria: Isabela Bispo e Givanildo Santana (entrevistados) e Arthur William Cardoso Santos (entrevistador).

Economicamente, a pesca desempenha um papel central na sustentação da comunidade. Com o passar do tempo, o povoado experimentou desenvolvimento, paralelamente ao crescimento do município de Senhora do Socorro, onde está situada a comunidade. O projeto "Pescando Memórias" intervém em diferentes etapas para colaborar com o desenvolvimento e preservação dessa rica cultura local.

Pescando Memórias (por Isabela Bispo)[editar | editar código-fonte]

Pescando Memórias é um projeto sócio cultural que trabalha com comunidades ribeirinhas no estado de Sergipe e a gente iniciou no povoado São Braz, que é um povoado e tem uma grande história, rico em história e em belezas naturais. Então é um lugar com apenas duas ruas, onde tem a diversidade religiosa: Igreja Católica em frente da evangélica. Tem um terreiro de umbanda numa rua, tem outro terreiro em outra e todo mundo se respeita. A gente vê muito no mundo ter guerras por causa de religião e aqui há mais de 100 anos todo mundo se respeita nesse sentido. A grande também parte econômica da comunidade é a pesca. Claro que a comunidade foi se desenvolvendo ao longo do crescimento, também do município de Senhora do Socorro, que é onde está a comunidade e a gente trabalha com algumas etapas. Etapa Unanda que é voltada para mulheres e a etapa Novas Chances Vários Recomeços, que é a etapa onde a gente trabalha a prevenção da criminalidade. Fora isso, a gente também tem a questão de trabalhar com uma tecnologia também voltada para os jovens, tanto para estimular o jovem, a atrair mais. E também nós trabalhamos com as vertentes do Hip hop, que é uma forma de chamar a atenção dos jovens para a preservação do patrimônio público, do patrimônio cultural. Então, o Pescando Memórias é um projeto multifacetado. A gente tem a etapa também de drogadição, que é a etapa ‘Dialogando com você’, onde a gente faz rodas de conversas, encontros pra gente falar mesmo sobre essa questão do uso e abuso das drogas. E a gente tem a etapa ‘Turismo e economia’, que é onde a gente trabalha a questão das belezas naturais do local, o turismo. A gente trabalha capacitando os donos de bares que ao longo do tempo foi se formando na comunidade e hoje a gente tem um corredor gastronômico e cultural aqui na comunidade.

Projetos com mulheres (por Isabela Bispo)[editar | editar código-fonte]

Nesta etapa Unanda, a gente trabalha hoje, a gente está com 135 mulheres sendo atendidas. A gente iniciou essa etapa em parceria com o poder Judiciário local e aí a gente busca outros parceiros para dar continuidade, porque a demanda é muito grande. A procura é muito grande pela etapa Unanda. Então, as mulheres que a gente atende são mulheres que precisam estar em lugares diferentes daqueles tóxicos que elas costumam estar. Então elas sempre estão pedindo cursos, estão pedindo capacitações. Nem sempre a gente consegue atender esse público como a gente gostaria e conforme a demanda que existe. Mas a gente faz um trabalho com acolhimento psicológico, com orientação jurídica. A gente faz oficinas de arte, culinária, oficinas de artes em geral, seja arte culinária, seja artesanato ou outras propostas que a gente consiga ter parceiros. Então a gente já levou essas mulheres para o restaurante Seu Sergipe que é um restaurante que trabalha com culinária tipicamente sergipana, onde elas puderam passar um dia aprendendo sobre mesa posta, sobre prato principal, sobre sobremesa, sobre drinques. E a gente desenvolve ações sempre consultando elas. E a gente precisa ter um planejamento. A gente faz esse planejamento, mas com uma proposta já voltada para aquilo que elas desejam. Então elas sempre colocam: “a gente quer um curso de informática”. Nós acabamos de receber cinco computadores. Então a gente vai conseguir, já agora, proporcionar isso para elas. Elas tiveram, foram três turmas do curso de frentista de posto de gasolina. Nós tivemos esse curso, contratamos uma empresa. Uma empresa também que tem uma mulher à frente. E também ela entende do nosso propósito, dessa questão da violência contra a mulher que a gente gosta de tratar, não só a violência doméstica, mas a violência contra a mulher mesmo. Porque nós mulheres sofremos violência em todos os lugares, não é só dentro de casa. Então a gente consegue levar esse tipo de conscientização através dos nossos encontros, que são mensais, os encontros Unanda. E nesses encontros, uma curiosidade, também para a gente foi surpresa que, durante as inscrições, essas mulheres, a maioria não falou que já tinha sofrido ou sofria algum tipo de violência. Então, durante os nossos encontros, nas nossas trocas, nossos bate papos, através dos relatos de outras mulheres, outras se sentiam também e se conscientizavam que estavam passando, que aquilo que elas estão vivendo dentro de sua casa era um tipo de violência. E a partir daquele momento a gente conseguiu fazer um levantamento e triplicou o número de mulheres que na inscrição diziam não ter sofrido violência. Triplicou o número para as que passaram a dizer e terem a consciência de que, sim, sofriam um tipo de violência, que podem buscar ajuda. Algumas conseguem avançaram nisso, conseguiram buscar ajuda porque depende delas pra quererem isso. Então é um projeto que a gente sente muita alegria de estar podendo fazer algum tipo de transformação na vida dessas mulheres, de proporcionar isso, conscientizá-las para que elas possam transformar suas realidades.

Saúde mental (por Isabela Bispo)[editar | editar código-fonte]

É a parte principal, a saúde mental. Então a gente requer muito da equipe que está trabalhando no projeto. São pedidos de ajuda, independente de horário. Elas veem na gente uma aproximação, uma proximidade e de quem pode pedir o primeiro socorro, mesmo a gente orientando. Tem toda uma rede de serviço que pode orientar. Apesar que nem sempre a rede de serviços, como os CREAS, como os postos de saúde, estão capacitados para receber essas mulheres especificamente. Então existe essa grande dificuldade e aí a gente acaba se sobrecarregando para poder dar o suporte necessário pra elas. Até porque a gente convive quase que diariamente com elas e a gente sabe cada caso específico, o que acontece na vida delas. Então existe essa dificuldade, mas existe um empenho bem maior da nossa equipe para estar dando esse suporte a elas.

Trabalho durante a pandemia de Covid-19 (por Isabela Bispo)[editar | editar código-fonte]

Então, foi um trabalho que é assim, alguns recursos que a gente tinha. Como a gente começou em parceria com o Poder Judiciário e esses recursos tiveram que ser suspensos porque foram direcionados. São verbas de prestação pecuniária, então essas verbas tiveram que ser direcionadas para a área da saúde para fortalecer os governos, as prefeituras. Então foi suspenso. Mas aí a gente parou e disse: E agora, como é que a gente vai ficar? Como é que essas mulheres vão ficar dentro de casa? Elas não estão podendo sair. A gente não pode estar tendo contato com elas, pessoal mais humanizado. Então, aí a nossa estratégia foi mesmo fazer parcerias com outras instituições. Nós tivemos recurso através da Fundação Banco do Brasil também e nós pudemos atender a mais de 3 mil famílias. Não só apenas as mulheres que estavam sendo atendidas pelo nosso projeto, mas a outras também. Nós conseguimos alcançar, ampliar esse número. Então, através de doação de material de limpeza, de higiene, de alimentação e também da nossa equipe poder fazer o atendimento online, que nem sempre era possível, porque essa mulher tá dentro de casa com filho, marido. Então foi um pouco difícil nessa parte desse atendimento psicológico voltado pra elas, mas a gente conseguia ir visitar com a equipe de voluntários, sempre equipados. Conseguia visitar, perguntar como é que estavam e entregar a cesta de alimentação pra elas.

Outros municípios atendidos (por Isabela Bispo)[editar | editar código-fonte]

A gente atende também no município de São Cristóvão, que é a comunidade Paraguaizinho, que a gente está estabelecendo uma base lá, e a gente atende também Porto da Folha. Durante a pandemia, a gente atendeu em Porto da Folha, a aldeia indígena, que é o que a aldeia Xokó. Então, a gente conseguiu também levar para a aldeia indígena que é a única do estado, que fica no município de Porto da Folha. A gente conseguia levar, com dificuldade também, porque tinha travessia de barco, lá o acesso de carro é dificultoso para chegar até lá. Então a gente precisava fazer travessia de barco. Contou muito com a ajuda dos voluntários lá de Porto da Folha para que os indígenas fossem atendidos também.

Preservação da memória de São Braz (por Isabela Bispo)[editar | editar código-fonte]

Inicialmente, a pesquisa começou na etapa Identidade Cultural, que foi com jovens daqui da comunidade. Foram 15 jovens. E tiveram jovens de outras comunidades também, que a gente fez a questão mesmo histórica, esse levantamento a partir do olhar deles. E depois que a gente fez esse levantamento, a partir do olhar deles, a gente conseguiu trazer também a museóloga Vera Helen, que ela já tinha feito uma pesquisa aqui sobre a comunidade. Então ela agregou muito nesse sentido de trazer informações mais específicas pra esses jovens da localidade, porque eles saíram fazendo vídeos, fazendo fotos e fazendo um levantamento também de arquivos específicos, como fotografia de alguns mais antigos e pessoas que não estavam mais aqui na comunidade. E a partir desse trabalho, os alunos puderam criar uma exposição com materiais recicláveis: a exposição História e Cultura do Povoado São Braz. E aí a gente iniciou esse trabalho, deu continuidade para atrair mais os jovens e também que os mais antigos entendessem esse processo. Tinham pessoas, quando foi feita a primeira exposição, que não tinha a foto do seu pai, de alguém que já trabalhou aqui na salinas, que viveu aqui na comunidade e ficaram bastante emocionadas com o que eles não tinham mais em mente, em memória registrado, e conseguiram ver a partir do resgate e da pesquisa que os adolescentes e os jovens fizeram.

História do povoado São Braz (por Isabela Bispo)[editar | editar código-fonte]

O povoado de São Brás, que foi a primeira comunidade ribeirinha que a gente conseguiu iniciar o trabalho, porque Givanildo, nascido e criado aqui no povoado São Braz, desde sempre sofria preconceito, descriminação com outras comunidades vizinhas. Então quando ele ia pra escola, sempre os meninos diziam “Lá vem o caranguejo, o goré”. Porque aqui as ruas não eram calçadas, então eles tinham que levantar a calça, levar uma garrafa pet com água pra quando chegasse em cima na comunidade, a poucos metros daqui, só é uma subidinha mesmo, uma rua, que é o que distancia da comunidade do povoado São Braz para a comunidade Marcos Freire. E mesmo assim sofria todo esse preconceito. E a comunidade lá em cima é toda calçada e aqui não. Então eles chegavam sujos de lama e tinham que lavar os pés antes de entrar na escola, calçar o tênis. Eles levavam o tênis da mão. E sempre tinha esse tipo de bullying entre os jovens. E Givanildo passou por isso. Eu fazia parte dessa escola também, que é o João Batista, e via tudo isso acontecer. E aí com nossas formações, Givanildo está se formando em Serviço Social. Eu me formei em História, então a gente foi tendo essa necessidade, vendo as belezas naturais que o São Brás tinha, a beleza que ele tinha. Só que faltava infraestrutura. Ruas que não eram calçadas, praça que era destruída, não tinha iluminação. Jovens ociosos e, com a questão do preconceito, sempre retraídos, mas com uma identidade bem forte. Então a gente pensou: “isso daí a gente não pode perder, não pode deixar isso ser esquecido”. E aí foi quando a gente começou a escrever o projeto. Nós participamos do primeiro edital em 2012, o primeiro edital de oficinas culturais de Governo do Estado, da Secretaria de Cultura. A gente pôde participar e a gente conseguiu um recurso de R$ 15 mil. Com esses R$ 15 mil, a gente conseguiu fazer blusa, conseguiu comprar um projetor que a gente tem até hoje e que onde funciona o Cineclube Siri, que é o nosso cineclube, a parte audiovisual. E a gente conseguiu comprar outros materiais, lanche e pagar os profissionais que estavam envolvidos. Com esses R$ 15 mil foi o pontapé inicial do Pescando Memórias. E aí a gente começou a fazer esse levantamento a partir do que Givanildo já tinha vivenciado ao longo dos anos na comunidade que ele nasceu e se criou. E eu também por sempre estar aqui na comunidade. Vinha brincar com meus irmãos por ter rio próximo da gente. E só que assim: as ruas eram totalmente de piçarra, de barro, e não existia a praça e tinha muito forte a questão religiosa. A Igreja Católica em frente da evangélica, o terreiro de Umbanda, que é um dos únicos do Brasil, e o único de Sergipe que é da vertente Nagô. O pessoal do IPHAN já veio visitar também aqui o terreiro para fazer o mapeamento. Já vieram visitar a Igreja Católica. Tem uma imagem que é onde traz toda a bagagem do nome São Brás do povoado de São Braz. Só que ela foi modificada. Com mudança de padres, ela foi sendo modificada. Então o pedestal que era com madeira, foi tirado, foi refeito. Então, por conta disso, a gente não conseguiu dar entrada no processo de tombamento. Mas a história do São Braz, ela surgiu do nome São Brás. Antes era Fazendinha, porque do outro lado do rio existia uma das maiores fazendas de sal daqui do estado de Sergipe, situada aqui em Nossa Senhora do Socorro, que era o maior produtor de sal do estado, enquanto Sergipe era um dos maiores produtores de sal do Brasil. Então esses trabalhadores da Fazendinha, que era como era chamado o povoado São Braz, até de Chiqueirinho levou o nome, porque era um pessoal que morava na lama, literalmente na lama do mangue. E aí os trabalhadores da Fazenda Cabrália, eles começaram a povoar esse local de apenas duas ruas. Começaram a povoar, ficando aos finais de semana, porque eles tinha custo pra atravessar do rio pra estar vendo a família e eles começaram a trazer os fluviários e alguns até iniciaram a formar a sua família aqui mesmo a partir desse trabalho. Então eles atravessavam todos os dias pra trabalhar, até criança. na época, não tinha ECA. Não tinha essa fiscalização do trabalho infantil. Então a gente pode conversar hoje com os mais antigos e eles relatam isso: com 10 anos, 12 anos acompanhavam os pais pra dar nó no saco de sal e recebia uma pequena quantia por aquilo. Então eles faziam essa travessia diariamente e a salinas, ela já vem lá da época das pessoas escravizadas. Então, tinham muitas pessoas escravizadas e a gente tem relatos de que do outro lado, nessa fazenda Cabrália existe até um cemitério de indígenas. A gente não tem isso ainda com a pesquisa comprovada, mas tem esse tipo de comentário aqui. Então, de lá pra cá, o São Braz foi evoluindo nesse sentido. Ele foi crescendo e existia um gerente da Fazenda Cabrália, o Seu Deoclides, que ele, por uma epidemia de coqueluche, que as crianças aqui começaram quase todas a terem os sintomas de coqueluche, o filho dele foi um dos que tiveram coqueluche e aí era um bebê de três anos e ele fez a promessa para o Santo São Brás, que é o santo protetor da garganta, segundo a fé católica. E aí ele fez uma promessa que se o filho dele fosse curado e as crianças aqui do São Braz, que não era São Braz o nome ainda, era Fazendinha Cabrália, fossem curadas, ele ia trazer uma imagem do santo São Brás e o nome da comunidade ia se chamar São Braz a partir do momento que todos fossem curados. E assim aconteceu. Ele já estava desenganado, tinha feito até uma covinha com a cruz, como era costume na beira da estrada. Porque daqui do São Brás até a cidade-sede, onde ele morava, são alguns quilômetros. O pessoal fazia esse trajeto também com carroça, com carro de boi. Então nesse percurso, ele fez já a cruzinha, já tinha feito a covinha para o filho dele. Só que aí a fé que prevaleceu, o filho dele foi curado. As crianças do São Braz também não tiveram nenhum indício de morte. Então ele entrou em contato com o sobrinho dele, que era da marinha Mercante, e o sobrinho trouxe essa imagem de Portugal. A imagem que existe hoje na Igreja Católica e a qual deu nome ao povoado São Braz.

História do povoado São Braz (por Givanildo Santana)[editar | editar código-fonte]

Eu sou filho de Bernardino Santana e de Rinalva, que são pescadores daqui. Eu nasci e me criei aqui no povoado São Braz. Aqui os meninos tinham vergonha de dizer que era morador por causa da questão de identidade mesmo. A gente ia pra escola, tinha a escola estadual chamada João Batista Nascimento. E aí, quando a gente ia passar a escola, os meninos lá ficavam perguntando: Você mora aonde? E os meninos diziam: Eu moro no João Alves, eu moro no tal lugar... e nunca dizia que era morador daqui do povoado porque tinha vergonha de dizer que era morador. E aí, quando a gente chegava também, chamavam a gente de goré, de peixe, de caranguejo. E os meninos, por esse motivo, tinham também esse receio em dizer que era morador daqui. E daí a gente começou a trabalhar essa questão da identidade e buscar a história daqui. Nisso, em torno de alguns jovens junto comigo, a gente conversou com o com os moradores mais antigos. Inclusive, foi Seu Vivi, meu pai, entre outros. E aí eles falavam que aqui sempre tinha algumas cabaninhas, no caso eram três cabanas, quatro que eram pescadores, que vinham semanalmente para pescar e pronto. E aqui era um lugar que o nome era Fazendinha. Chegou também o pessoal a começar a chamar de chiqueiro. E a água entrava e saia do rio Sergipe e se encontrava com o rio do moleque. E aí num tinha possibilidade de ter moradias aqui. Mas porém, o pessoal foi trabalhando junto com o senhor Deoclides Vasconcelos, que era um gerente aqui da fazenda de Cabral Machado, que era o maior produtor de sal do estado na época. E o São Braz, então chamado Fazendinha, tinha em torno de seus habitantes em 50, 40 habitantes. Hoje tem 323 moradores. E nisso, para ser chamado de São Braz, o seu Deoclides Vasconcelos fez uma promessa ao Santo São Brás, porque o Santo São Brás é o protetor da garganta e aqui teve uma crise de coqueluche em 1949 pra década de 50. E quando teve essa crise, no caso de coqueluche, ele fez essa promessa pro filho dele, que já estava quase morto, morrendo em si. E ele, com fé, fez a promessa pro santo São Brás. E o Santo São Brás, como protetor da garganta, ele conseguiu esse êxito. E de lá para cá, ele trouxe a imagem de Portugal para a igreja da Capela. Antes disso, a gente teve também a vinda do governador para reconhecer o povoado. Na época o governador era Leandro Maciel, ele veio com reconhecer o povoado como povoado São Braz. De lá para cá, a gente já teve por 52 anos, se não me engano, de paróquia aqui com santo e de festa. A agente tem em torno de 50 anos, 51 anos, de festa do padroeiro. Que aqui a gente sempre teve, a festa de São Brás, que sempre foi em fevereiro, entre 3 e 15 e fazia a festa de São Brás. E, de lá para cá, os meninos começaram a se identificar. Quando a gente começava a contar a história a eles, tinham algumas coisas que eu não tinha percepção que hoje a gente tem. Eu sempre, como morador, nunca tive vergonha porque eu acho que quando a gente é criado da pesca como a gente foi, é um orgulho de ver a nossa mãe passar de geração. Como pegar um aratu, como pegar um sururu, como pegar um camarão. Que é tirar o sustento. Hoje não tem mais essa questão. o São Braz evoluiu bastante junto com Sergipe, Socorro e Brasil em si. E aí as questões de pesca já tem uma problemática: a questão de poluição. Hoje a gente tem um rio um pouquinho poluído. É mais difícil de a gente poder sobreviver da pesca e tudo mais. Mas assim, eu me sinto muito orgulhoso de morar aqui, de nascer, ter me criado e morar aqui no São Braz. E da gente ter uma história dessa de mais de 100 anos de existência e a gente estar lutando pra sobreviver ainda em meio a tanta questão de especulação imobiliária, tirando um espaço da gente. Quando construir um condomínio e a gente não vai ter mais espaço de lazer, aí tem essa questão também, entre outras problemáticas. Mas assim, o que a gente tem de melhor é a beleza natural que Deus deixou em si. E agradecer a Deus por ter tido a oportunidade de estar vivendo aqui nesse lugar que eu acho belo, maravilhoso. Meu pai quando chegou aqui, ele chegou com 12 anos de idade. A minha avó e meu avô faleceram cedo. A minha avó morreu doente, que era a mãe dele. E o meu avô, ele estava demolindo uma casa de taipa, quando o pessoal disse: não entre não! Porque se você puxar, aí vai desabar. E aí ele não acreditou, puxou a varinha, que era cheio de varas. Puxou a varinha e ela desabou. Ele morreu. E nisso quem criou o meu pai foi o irmão mais velho. Aí trouxe ele para a salina, que é onde ele trabalhava já há um tempo aqui na fazenda de Cabral Machado. E ele ficou com 12 anos, primeiro começando a aprender como era tudo. E mais pra frente ele começou a trabalhar em si. E aí com 18 anos ele tem o primeiro filho, no caso é meu irmão mais velho, que está com 74 anos hoje. Está fazendo 75. Que é Zé Louro. E a posterior, até chegar eu, no caso, até chegar essa minha geração, já foram 25 irmãos, comigo 26. Então praticamente povoou São Braz. Porque 26 filhos dá pra dois time de futebol e ainda ter reserva. Eu sempre brincava disso. Eu quero juntar meus irmãos ainda para fazer uma brincadeira. Fazer um jogo de futebol que dava a gente jogar com 22 jogadores, ainda sobra um pouquinho. A gente ainda tem reserva e tudo. Então ele ajudou muito a povoar, também no lugar do trabalho, porque ele era o canoeiro que, ali naquela parte ali era onde atravessava. Não tinha ponte ainda aqui e pra atravessar tinha que ter o canoeiro, o cara que ficava com o barco. Ele tanto trabalhava na salina, como também ele fazia a travessia de barco aqui. E aí ele é conhecido como Seu Passinho aqui. Porque ele andava com aquele passinho pequenininho e tal, mas era bem ligeiro. E aí chamavam ele de Seu Passinho. Mas em termos de filhos e de família, todo mundo aqui gostava dele. E povoou praticamente São Braz. Ele e outro senhor, que era o Seu Vivi, praticamente povoou São Braz. 26 Irmãos. Hoje eu tenho 30... 30 não... acho que eu estou com 52 sobrinhos. É muita gente. É uma família gigante.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Instagram

Ver também[editar | editar código-fonte]