Sete Anos Sem Marielle Franco - Memória Viva e Justiça em Construção
Autoria: Flavinha Cândido
Após seis anos, sete meses e 17 dias de luta incansável por justiça, o Brasil testemunhou uma decisão histórica. No dia 31 de janeiro de 2024, o júri popular condenou os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz pela execução do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Lessa foi sentenciado a 78 anos e 9 meses de prisão, enquanto Queiroz deverá cumprir 59 anos e 8 meses de detenção.
Este veredicto representa um marco na luta contra a impunidade. Mas não é o fim. A pergunta que ecoa agora é outra: por que mandaram matar Marielle Franco? Quais interesses foram ameaçados por sua luta e por que essa decisão brutal? Enquanto essas respostas não forem dadas, o compromisso com a memória e a justiça continua sendo um dever coletivo.
Marielle Franco: A Mulher que Enfrentou o Sistema[editar | editar código-fonte]
Mulher negra, cria da Maré, socióloga, feminista e defensora incansável dos direitos humanos. Marielle Franco foi uma das vereadoras mais votadas do Rio de Janeiro em 2016, com mais de 46 mil votos, representando as vozes das favelas, das mulheres negras, das pessoas LGBTQIA+ e de todos que lutam por uma cidade mais justa.
Sua atuação na Câmara Municipal foi marcada por projetos voltados para os direitos das mulheres, a segurança pública sem violência, o direito à cidade e a inclusão da população periférica nas decisões políticas. Foi relatora da Comissão que acompanhava a intervenção militar no Rio de Janeiro em 2018 e uma crítica feroz da violência policial, denunciando abusos que há décadas vitimizam moradores das favelas.
Foi por defender a vida, por enfrentar o sistema, por sonhar com um Rio de Janeiro mais inclusivo e democrático,esse pode ter sido o motivo por que Marielle foi assassinada. Mas sua execução falhou em apagar sua luta.
Marielle Está em Todos os Lugares[editar | editar código-fonte]
A memória de Marielle Franco não se limita ao Rio de Janeiro. Seu nome atravessou fronteiras e hoje está presente em inúmeros espaços pelo Brasil e pelo mundo. Ruas, praças, centros culturais, escolas e monumentos carregam seu nome, garantindo que sua história siga viva.
Em Paris, há uma Praça Marielle Franco. Em Lisboa, uma rua a homenageia. Em várias cidades brasileiras, como São Paulo, Belo Horizonte e Salvador, espaços públicos foram nomeados em sua memória. Sua figura se tornou símbolo de resistência global, inspirando ativistas e movimentos sociais em diversas partes do mundo.
Além dos espaços físicos, o legado de Marielle também se perpetua por meio de ações concretas. Seu nome está presente em leis, projetos e iniciativas que continuam sua missão de transformar a sociedade. Entre eles, destacam-se:
Instituto Marielle Franco: criado por sua família, atua na defesa da memória e do legado de Marielle, apoiando a formação política de mulheres negras, LGBTQIA+ e periféricas.
Dicionário de Favelas Marielle Franco: um projeto de memória viva que registra e valoriza o conhecimento produzido nas favelas, garantindo que a narrativa periférica e popular esteja escrita na história.
Leis em seu nome: Diversos projetos de lei pelo país foram inspirados por sua luta, incluindo leis que fortalecem a proteção de defensores de direitos humanos, promovem a equidade racial e de gênero e garantem o direito à cidade.
Agenda Marielle Franco: um compromisso político que orienta parlamentares e gestores a seguirem pautas alinhadas com os valores e lutas que Marielle defendia.
O Júri foi Apenas o Começo da Justiça[editar | editar código-fonte]
A condenação de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz representa um passo importante, mas está longe de ser suficiente. O Brasil tem uma dívida histórica com Marielle e Anderson, e a verdadeira justiça só será feita quando os mandantes forem responsabilizados.
A pergunta que permanece não é mais “quem”, mas por que mandaram matar Marielle Franco? Seu assassinato não foi um crime isolado, ele simboliza a violência política direcionada a quem ousa desafiar o sistema, denunciar desigualdades e lutar por justiça social.
Mas este primeiro passo, embora tardio, pode servir de inspiração para que outros assassinatos políticos, vítimas do Estado e execuções de lideranças periféricas sejam revistos, investigados com seriedade e que a justiça chegue para aqueles cujas vozes foram silenciadas pela violência.
Não pode ter descanso até que essa resposta seja dada e que o Estado brasileiro se comprometa a proteger as sementes de Marielle, que seguem transformando a política e a sociedade nos parlamentos, nas favelas e nas ruas.
Marielle Franco é Memória Viva[editar | editar código-fonte]
Marielle foi assassinada, mas nunca silenciada. Seu nome se tornou um farol para mulheres negras, pessoas LGBTQIA+ e moradores de favelas que, inspirados por sua trajetória, seguem na trincheira da luta cotidiana.
Mulheres negras que antes não se viam na política agora ocupam espaços institucionais, disputam eleições, organizam suas comunidades e criam políticas públicas para proteger quem sempre foi deixado à margem. Pessoas LGBTQIA+ que antes eram silenciadas agora se fortalecem na militância, erguem suas vozes e transformam suas realidades, rompendo barreiras e resistindo à violência do Estado.
Meninas que, na época do crime, ainda eram crianças, hoje são adolescentes que enfrentam o racismo, o racismo religioso, o machismo e a LGBTQfobia nos seus territórios, ocupando escolas, coletivos e redes de mobilização para fazer valer seus direitos.
Na Maré, crianças estudam na Escola Municipal Vereadora Marielle Franco, crescem rodeadas pelo legado de sua conterrânea e sonham em seguir seus passos. Algumas querem ser políticas, outras educadoras, advogadas, cientistas ou artistas, mas todas carregam em si a semente da transformação.
A cada 14 de março, reafirmamos que Marielle não é apenas memória—ela é presente e futuro. Sua luta se expandiu para além dos parlamentos e hoje pulsa em cada favela, em cada jovem que resiste, em cada mulher negra que se levanta, em cada pessoa LGBTQIA+ que se recusa a ser apagada.
E enquanto houver desigualdade, violência e silenciamento das vozes periféricas, seguiremos perguntando: por que mandaram matar Marielle Franco?
Porque a Marielle vive. Nos corpos que resistem, nas mentes que sonham, nas mãos que constroem um mundo mais justo. Em cada favela, em cada mulher negra, em cada pessoa que defende os Direitos Humanos, em cada ato de resistência. E sua memória será eterna.
Ver também[editar | editar código-fonte]
Marielle Vive - Favelas na Reconstrução do País - Discussão sobre o Legado de Marielle Franco