Um pouco da história do complexo do Lins
O verbete aborda a história e a formação da favela do Complexo do Lins, no Rio de Janeiro. O Complexo do Lins, formado por várias pequenas favelas, teve origem em áreas como o bairro Lins de Vasconcelos, desenvolvido a partir de antigas propriedades rurais. A região cresceu de forma desordenada, tornando-se ponto estratégico para o tráfico de drogas e um dos maiores conjuntos de favelas do Rio, com cerca de 150 mil habitantes. Instituições locais são citadas, como a escola de samba Lins Imperial, que teve momentos de destaque no carnaval carioca, mas enfrentou dificuldades financeiras e administrativas ao longo dos anos. A situação atual do Complexo do Lins é marcada por desafios como violência e operações policiais, refletindo problemas estruturais de habitação e segregação social. A visão de historiadores é citada para ressaltar que a questão das favelas está intrinsecamente ligada a desigualdades sociais e à falta de políticas públicas eficazes, sendo tratada como um problema a ser erradicado, em vez de uma consequência de falhas sistêmicas.
Autoria: João Victor Miranda.
Este verbete é resultado de pesquisa realizada na disciplina extensionista da Faculdade de Educação da UFF, Educação Popular nas Favelas e Periferias (2024-1), ministrada pelo professor Reginaldo Scheuermann Costa.
Origem e Formação das Favelas[editar | editar código-fonte]
De acordo com Victor Vincent Valla[1], em seu livro “Educação e favela: políticas para as favelas do Rio de Janeiro”. A história das construções das favelas do Rio de Janeiro começou com os cortiços, que tem relação com o fim da escravidão e a mão-de obra abundante e barata para as fazendas. Assim os seus trabalhadores moravam em cortiços perto das fazendas. Em 1886, existiu uma sugestão do conselho de saúde, falando que os cortiços são anti-higiênicos. Mostrando como o governo trata a questão, assim, na década de 20 e 30, começaram a destruir vários cortiços para principalmente a construção de avenidas, como a Avenida Rio Branco, e com essas destruições em massa dos cortiços as pessoas que moravam ali tinham que ir para algum lugar, e aí começou as expansões das favelas no Rio de Janeiro. A favela não é só ex-moradores de cortiços, mas foi nessa época que começou a sua expansão, sendo principalmente por causa deles. Em 1940, foi oficialmente o começo das expansões das favelas. Kawarick diz que “A população das favelas coincide, quando não é idêntica, com as populações que vivem em todos os tipos de casas de cômodos, cortiços e subúrbios.” Segundo um morador anônimo, o bairro Lins de Vasconcelos é representado como o mais importante para o complexo do Lins, que é feito de várias pequenas favelas, onde segundo a mídia ficou conhecido como Complexo do Lins. Uma boa parte dele é o Lins de Vasconcelos, a parte de cima do Grajaú, uma parte do Méier, Engenho de Dentro, Engenho Novo. Agora que já entendemos um pouco a história da construção das favelas no Rio de Janeiro, vamos entender a construção da história do Lins e de seu complexo.
História e Desenvolvimento do Complexo do Lins[editar | editar código-fonte]
“No início, foi perto da área hoje conhecida como bairro Lins de Vasconcelos, que era parte do Engenho Novo, que era dos Jesuítas. Os tropeiros, que vieram de Jacarepaguá pelo Três Rios, desciam da Serra do Matheus (Parte de trás do complexo do Lins, que separa a zona norte do Oeste) pelo caminho do Matheus e seguiam pela Estrada da Serra do Matheus (atual Rua Lins de Vasconcelos) até chegar ao Engenho. A área que mais as pessoas passavam na época era a Venda do Matheus, no lugar conhecido como “Boca do Mato”, ao lado da Serra dos Pretos Forros, que detinha um apelido de “Suíça Suburbana”. O local da Boca do Mato que se originou em 1886, era junto com o Méier através de uma linha de bonde, o Boca do Mato ou “Boquinha”, depois eletrificada. Era uma linha curta que levava os moradores do lugar ao comércio e às escolas vizinhas. E depois virou o nome de uma das pequenas favelas do complexo do Lins.” (Grupo de Facebook Voz do Lins de Vasconcelos, 05/01/2021[2]).
“O nome da pessoa que detinha propriedades no alto da serra do Matheus era o Major Modesto Benjamim Lins de Vasconcelos, ele tinha várias chácaras no local, que eram no nome da sua família, Lins de Vasconcelos. Sua repartição foi feita aos poucos e as chácaras vendidas a diversas famílias, em um desses terrenos foi feita a Rua Lins, do lado da Rua Vilela Tavares e a Travessa Aquidabã e feita a Capela de N.S. da Guia, todas essas localizações acabaram virando pequenas favelas que formam o complexo do Lins, a N.S da Guia depois virou uma paróquia em 1923. Na mesma época, na Rua Aquidabã tinha um Clube Alemão, onde faziam reuniões e praticavam esportes, era na mesma época da colônia germânica, tudo isso claro, na área próxima ao Lins de Vasconcelos. O clube foi tomado pelo Governo Federal dá época, durante a II Guerra Mundial, já que era uma época um tanto quanto complicada no Brasil, tornando a região onde era o clube em uma área militar chamada CRIFA” (Grupo de Facebook Voz do Lins de Vasconcelos, 05/01/2021). Uma pequena curiosidade que dá para pesquisar é que muitos nomes famosos nasceram no bairro do Lins de Vasconcelos, no complexo do Lins, como o comediante Mussum; a atriz Denise Fraga e o cantor Roberto Carlos em sua adolescência.
Segundo um morador do Lins de Vasconcelos, que é dentro do apelidado “complexo do Lins” pela mídia, é uma união de várias pequenas favelas comandadas por um único comando, sendo ele do comando vermelho, já que o complexo do Lins se originou com o comando vermelho. O complexo do Lins cresceu tanto, pois é um ponto estratégico para o tráfico, devido a serra do Matheus. As favelas mais conhecidas do complexo do Lins são: Barro vermelho; Encontro; Amor; A árvore seca ou Dona Francisca (Que era destinado aos moradores de outras favelas do Rio, que foram removidos para a ampliação da cidade, construída inicialmente pelo poder público. Por exemplo: A favela do esqueleto em menor parte, já que a maioria foi para a VK; Morro do Andaraí e Morro da Formiga. Uma boa parte dos seus habitantes foram para a árvore seca sob a coordenação da fundação Leão XIII); Cachoeira; Cachoeira Grande; Gambá; Cotia; Boca do Mato; Cachoeira Pequena; Nossa Senhora da Guia e a Santa Terezinha. “E assim se constituiu como um dos maiores e mais violentos conjuntos de favelas do Rio de Janeiro, com uma população de 150 mil habitantes, em uma extensão territorial de aproximadamente 300mil metros quadrados” (WebQuarto[3]). O Lins de Vasconcelos é como se fosse a área mais conhecida do complexo, já que todo o complexo e união das favelas partiu de que a maioria das pequenas favelas do Lins vieram de pessoas que perderam suas casas, devido a urbanização do Rio de janeiro que acabou gerando novas favelas pequenas perto de outras maiores e já feitas que assumiram o seu comando. De acordo com Marcelo Badaró Matos[4], em seu livro “Trabalhadores e sindicatos no Brasil”, a favela, ao mesmo tempo que simpatiza com uma vila operária, no sentido de juntar, reprimir e controlar os trabalhadores, é uma forma de resistência negra, assim como os quilombos eram um símbolo de resistência, mas não chamando a favela de quilombo urbano, ela é muito mais do que isso. Podemos caracterizar essa afirmação como uma luta de classes.
Cultura e Instituições Locais[editar | editar código-fonte]
Existem diversas instituições na comunidade do Lins, a Creche Detinha Vidal de Oliveira e certas obras do Projeto Rio Cidade da prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Mas, falando com os moradores locais, houve uma instituição construída em conjunto com a comunidade que é um orgulho para o Lins e a sua comunidade. A Lins Imperial[5], de acordo com a Wikipédia e as confirmações de moradores locais que acompanhavam e acompanham a Lins Imperial, é uma escola de samba que nasceu da fusão das escolas de samba Filhos do Deserto e Flor do Lins na década de 70, ambas sendo na Cachoeira, no bairro do Lins de Vasconcelos. O começo da Lins Imperial conquistou o título do Grupo 2 com o tema "Dona Flor e seus dois maridos", onde foi para a série ouro ou Grupo Especial, onde ficam as grandes escolas de samba. No próximo ano, desfilando entre as grandes escolas, a Lins não foi bem, com o tema “Folia de Reis” eles acabaram sendo rebaixados. Voltaram a série ouro na década de 90, estreando com o tema Madame Satã, sendo uma homenagem a ela, mas acabaram ficando com o décimo quarto lugar. No segundo ano de desfile, apresentaram o tema do “Chico Mendes”. Mesmo sendo um desfile que muitas pessoas elogiaram, a Lins Imperial fica em décimo quarto lugar, acabando que com essa colocação caiu para o grupo 1. Nos anos seguintes, a Lins Imperial não voltou mais a elite das escolas de samba e entrou em uma grave crise financeira, sempre apresentando o seu carnaval com grandes dificuldades. No final da década de 90, a escola com o tema relacionado a Búzios não se apresenta bem e retorna ao Grupo de Acesso B, onde ficou até o ano de 2003. A partir de 2011, houve uma eleição onde foi eleito o presidente Amendoim do Samba, que mudou o carnavalesco, trazendo Alex de Oliveira e Lane Santana, mas não durou muito tempo, e com a saída de Lane. Alex de Oliveira assumiu sozinho e acabou não aguentando, saindo logo em seguida, fazendo um acordo com a escola, retornando Eduardo Minucci como carnavalesco. No início de 2020, no desfile que era sobre a sambista Pinha, teve algo que deixou muitas pessoas surpresas de forma boa, que é a volta do carnavalesco Eduardo Minucci, que acaba trabalhando junto com a Raí Menezes, após isso, no mesmo ano tornou-se campeã do Grupo especial da Intendente Magalhães e fez seu retorno ao Sambódromo, local da Elite das escolas de samba, após nove anos. Na sua volta, anunciou como tema "Mussum Pra Semprix – Traga o mé que hoje com a Lins vai ter muito samba no pé!", fazendo uma homenagem ao humorista Mussum. Porém, por conta da pandemia, os desfiles foram cancelados em 2021 e o tema foi passado para o ano seguinte. Em 2022, o carnavalesco Eduardo Gonçalves comandou a escola, com o pretexto de manter um nível alto na apresentação da escola, com o apoio da Raí Menezes. Abrindo o segundo dia de desfiles da Série Ouro, no dia 21 de abril, a Lins fez uma apresentação correta e saiu na apuração em 12° lugar. Para o carnaval de 2023, a Lins mantém toda sua equipe e anuncia como tema "Madame Satã: Resistir Para Existir", que já tinha sido apresentada em 1990, mas acabou sendo uma releitura mais atual, já que ela era um dos personagens mais representativos da vida noturna da Lapa no século XX. O desfile acabou sendo prejudicado por conta de uma quebra de uma das alegorias, que não entrou no desfile. A escola finalizou o desfile de forma triste, na décima quarta posição, caindo para a Série Prata. Hoje em dia, em 2024, ela se encontra na série Bronze, após um desfile que não ocorreu bem.
Agora que entendemos um pouco a história do Lins e algumas constituições que serviram para ajudar a população da favela, a pergunta que fica é: como está o Lins hoje? Com essa pergunta em mente, tomei a liberdade de perguntar para um morador do Lins como ele está hoje:
Hoje? bem o lins nao mudou muito de uns tempos para ca, na verdade ele ta iguais as comunidades do rio hoje ate pouco tempo atras na porta da comunidade tinha varios blindados da marinha por conta de uma bala perdida que matou uma medica no marcilio dias(hospital da marinha que fica de frente pra comunidade) apesar desse ocorrido as coisas andavam ate que mais tranquilas ate isso acontecer. Hoje literalmente o lins ta complicado por conta desse acontecimento da marinha dessa infelicidade q aconteceu com a medica perdida. E uma comunidade que por exemplo nao trocou de comando ta ligado nao entrou em guerra. O numero de operações da policia diminuiu ate antes de acontecer essa parada da medica. (Anônimo, 2024)
Conclusão[editar | editar código-fonte]
Em conclusão, tirando uma frase de um historiador, o Victor Vincent Valla, em resumo, ele percebe que o problema da habitação popular é sempre visto como algo estranho à sociedade, um fenômeno canceroso que precisa ser erradicado. Assim, a culpa acaba caindo para os moradores das favelas, que devem aprender o “certo” e serem reeducados, já que eles “criaram o próprio problema”. Esse problema nunca será resolvido enquanto a moradia for vista simplesmente como mercadoria dentro do sistema em que vivemos. Como foi dito pelo historiador, o aparecimento das favelas é sempre culpa do indivíduo. Em conjunto, podemos falar sobre o Livro “A invenção da favela, do mito de origem a favela.com”, da autora Licia do Prado Valladares[6]. De acordo com a historiadora, no início da primeira República, o aumento da população gera uma forte crise de moradia que afetou profundamente as camadas mais humildes da sociedade, que acabaram sendo retiradas de seus lares de forma agressiva pelo governo e direcionando-se para áreas periféricas, com maior custo de passagens e de tempo, para seus locais de trabalho. Essa medida se caracterizou por uma segregação entre uma minoria rica e uma maioria pobre, onde essa maioria fica especificamente em uma localização chamada Favela ou Complexo pela mídia, sendo um dos casos, o próprio Lins ou Complexo do Lins.
Ver também[editar | editar código-fonte]
Associação das Mulheres e Amigos da Cachoeirinha
Lista de Favelas do Município do Rio de Janeiro
Wikipédia, Bairro Lins de Vasconcelos
- ↑ VALLA, Victor Vicent (org.) Educação e favela: políticas para as favelas do Rio de Janeiro, 1940-1985. Petrópolis: Vozes, 1986.
- ↑ Grupo do Facebook Voz do Lins.
- ↑ WebQuarto
- ↑ BADARÓ, Marcelo. Trabalhadores e sindicatos no Brasil, 1ª edição ,2009.
- ↑ Página da Wikipédia sobre o Lins Imperial.
- ↑ Prado Valladares, Licia, A invenção da favela, do mito de origem a favela.com, 2015.