Pré-vestibulares populares no Rio de Janeiro: mudanças entre as edições
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Sabemos que a universidade não foi pensada e construída para a ocupação das classes populares. No entanto, o espaço universitário também é um espaço de contradições, ambiguidades e disputas de narrativas. Por isso, a atuação dos pré-vestibulares populares tem sido extremamente importante, tanto na formação política desses sujeitos, quanto na contribuição para que eles acessem à educação superior e se desenvolvam na educação, pesquisa e extensão, resgatando ou construindo novas epistemologias. Portanto, devemos continuar construindo estratégias para acessar, permanecer e transformar o espaço universitário. | Sabemos que a universidade não foi pensada e construída para a ocupação das classes populares. No entanto, o espaço universitário também é um espaço de contradições, ambiguidades e disputas de narrativas. Por isso, a atuação dos pré-vestibulares populares tem sido extremamente importante, tanto na formação política desses sujeitos, quanto na contribuição para que eles acessem à educação superior e se desenvolvam na educação, pesquisa e extensão, resgatando ou construindo novas epistemologias. Portanto, devemos continuar construindo estratégias para acessar, permanecer e transformar o espaço universitário. | ||
=== Mapeamento === | === Mapeamento de pré-vestibulares populares === | ||
As informações referentes a quantidade de pré-vestibulares populares existentes no Estado do Rio de Janeiro são imprecisas, já que não existe uma organização, coletivo ou grupo de pesquisa responsável por esse levantamento e acompanhamento sistemático e contínuo. Além disso, sabemos que muitos pré-vestibulares populares -por serem iniciativas coletivas, não institucionalizadas, sem financiamento e que dependem do trabalho voluntário - enfrentam diversas dificuldades para dar continuidade aos trabalhos ao longo dos anos, oscilando entre períodos com maior e menor engajamento dos voluntários, procura dos estudantes e apoio local. Por isso, o número de pré-vestibulares populares ativos pode variar bastante de um ano para outro, assim como o local onde esses projetos são desenvolvidos. | |||
=== Estratégias para enfrentamento da evasão === | Este mapeamento foi construído a partir da pesquisa de mestrado intitulada “'''[http://nides.ufrj.br/index.php/publicacoes/dissertacoes Pensando estratégias para o enfrentamento da evasão em pré-vestibulares populares: um estudo de caso na Maré – Rio de Janeiro/RJ]'''”, de autoria de Angela Cristina da Silva Santos, desenvolvida sob a orientação de Priscila Saemi Matsunaga, no Programa de Pós-graduação em Tecnologia para o Desenvolvimento Social - NIDES/UFRJ, no período de 2018 a 2020. | ||
Para que o pré-vestibular popular fosse contabilizado no levantamento, foram elencadas duas situações: 1) Pré-vestibular ativo nos anos de2018 ou 2019 e 2) Pré-vestibular iniciando suas atividades no ano de 2020. Para delimitar esses critérios de seleção, levamos em consideração a instabilidade das ações dos pré-vestibulares populares, que podem ficar inativos por 1 ou 2 anos e depois retornar suas atividades, dada a rede de apoio que já possuem. Consideramos como unidade de contagem cada núcleo, unidade ou sede de pré-vestibular popular em endereço diferente. Como há algumas redes que possuem algumas unidades espalhadas pelo território do Rio de Janeiro, cada núcleo foi contabilizado como uma unidade de pré-vestibular popular. | |||
Os pré-vestibulares populares encontrados nesse levantamento foram separados de acordo com as oito divisões regionais de governo e municípios do Estado do Rio de Janeiro (figura 1): I. Região Metropolitana do Rio de Janeiro; II. Região Centro-Sul Fluminense; III. Região Noroeste Fluminense; IV. Região Norte Fluminense; V. Região Serrana; VI. Região da Costa Verde; VII. Região das Baixadas Litorâneas; e VIII. Região do Médio Paraíba. | |||
Conseguimos mapear 352 unidades de pré-vestibulares populares no Estado do Rio de Janeiro, conforme mostra o Anexo L. A Região Metropolitana, que inclui a Baixada Fluminense e o Leste Fluminense, concentra 84% dos pré-vestibulares populares mapeados nessa pesquisa (tabela 1), com destaque para a cidade do Rio de Janeiro, como verificaremos em seguida. | |||
=== Estratégias para enfrentamento da evasão escolar === | |||
Compreendemos a relevância de avançar um pouco mais e possibilitar a construção de um panorama mais amplo sobre o fenômeno da evasão em pré-vestibulares populares, no que diz respeito às suas características e as possibilidades de enfrentamento desse problema. Para isso, realizamos um estudo de caso no Pré-vestibular Comunitário do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) e um levantamento das percepções sobre evasão de integrantes de pré-vestibulares populares do Estado do Rio de Janeiro. A partir desse entrelaçamento de experiências e reflexões, pudemos construir a presente cartilha. | Compreendemos a relevância de avançar um pouco mais e possibilitar a construção de um panorama mais amplo sobre o fenômeno da evasão em pré-vestibulares populares, no que diz respeito às suas características e as possibilidades de enfrentamento desse problema. Para isso, realizamos um estudo de caso no Pré-vestibular Comunitário do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) e um levantamento das percepções sobre evasão de integrantes de pré-vestibulares populares do Estado do Rio de Janeiro. A partir desse entrelaçamento de experiências e reflexões, pudemos construir a presente cartilha. | ||
Compreendemos a evasão de pré-vestibulares populares como um fenômeno complexo, dinâmico e cumulativo, que é influenciado por múltiplas variáveis de caráter objetivo e subjetivo. Assim, a proposta da [[Cartilha - Estratégias para enfrentamento da evasão em Pré-vestibulares Populares Final.pdf|cartilha]] é oferecer um arcabouço amplo de ações que possam ser desenvolvidas, avaliadas e aprimoradas pelos pré-vestibulares populares, no intuito de favorecer uma maior permanência do(a)s educando(a)s nos projetos e possibilitar a reconquista do(a)s educando(a)s evadido(a)s, propiciando um maior alcance desses projetos entre a juventude dos espaços favelados e periféricos. | Compreendemos a evasão de pré-vestibulares populares como um fenômeno complexo, dinâmico e cumulativo, que é influenciado por múltiplas variáveis de caráter objetivo e subjetivo. Assim, a proposta da [[Cartilha - Estratégias para enfrentamento da evasão em Pré-vestibulares Populares Final.pdf|cartilha]] é oferecer um arcabouço amplo de ações que possam ser desenvolvidas, avaliadas e aprimoradas pelos pré-vestibulares populares, no intuito de favorecer uma maior permanência do(a)s educando(a)s nos projetos e possibilitar a reconquista do(a)s educando(a)s evadido(a)s, propiciando um maior alcance desses projetos entre a juventude dos espaços favelados e periféricos. | ||
# Sensibilização inicial dos educandos | # '''Sensibilização inicial dos educandos''' | ||
# Apoiando e acompanhando os educandos | # '''Apoiando e acompanhando os educandos''' | ||
# Construindo conexões afetivas | # '''Construindo conexões afetivas''' | ||
# Pensando as questões de ensino e aprendizado | # '''Pensando as questões de ensino e aprendizado''' | ||
# Construindo uma comunicação engajada | # '''Construindo uma comunicação engajada''' | ||
# Trazendo o vestibular para o jogo | # '''Trazendo o vestibular para o jogo''' | ||
# Enfrentando as dificuldades financeiras | # '''Enfrentando as dificuldades financeiras''' | ||
# Construindo redes de apoio e parceria | # '''Construindo redes de apoio e parceria''' | ||
A escolha das estratégias que serão desenvolvidas por cada pré-vestibular popular dependerá de localização do curso, do projeto político-pedagógico, da estrutura física disponível, do tamanho e composição da equipe de colaboradores, da dinâmica de organização e gestão do projeto, dos recursos financeiros possíveis de serem arrecadados, do engajamento coletivo. Por isso, cada proposta deve ser discutida, planejada e validada coletivamente a cada ano. | |||
Ressaltamos a importância da realização conjunta de ações nas oito áreas apresentadas na cartilha, já que a evasão é causada por diferentes fatores que se conjugam em diferentes escalas. Por fim, destacamos a necessidade de persistência e (re)avaliação periódica das estratégias adotadas, visto que há melhorias no desenvolvimento das ações de um ano para outro, e de acompanhamento sistemático a médio (3 – 5 anos) e longo prazo (6 – 10 anos) das estratégias assumidas pelo coletivo, podendo o próprio coletivo desenvolver pesquisas sobre a temática. | |||
=== Bibliografia === | === Bibliografia === | ||
MARTON FILHO, Marcos Antonio; ARRUDA, Guilherme; CARVALHO, Raíssa Pierri; SCHELLINI, Silvana Artioli. O aluno que evade: comparação entre alunos selecionados por critérios socioeconômicos e por conhecimentos gerais. Revista Ciência em Extensão, v. 8, n. 3, p. 68-74, 2012. Disponível em: | MARTON FILHO, Marcos Antonio; ARRUDA, Guilherme; CARVALHO, Raíssa Pierri; SCHELLINI, Silvana Artioli. O aluno que evade: comparação entre alunos selecionados por critérios socioeconômicos e por conhecimentos gerais. ''Revista Ciência em Extensão'', v. 8, n. 3, p. 68-74, 2012. Disponível em: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/viewFile/671/744. Acessado em: 09 de fevereiro de 2020. | ||
PEREIRA, Yasmin Gonçalves; PEREIRA, Yara Gonçalves; MILLER, Poliana Romero; SOUZA, Suelen Ribeiro; JASMIM, Janie Mendes. O Pré-vestibular Social Teorema na modalidade a distância: análise do processo de reestruturação do curso. In: Congresso Internacional de Educação e Tecnologias (4ª Edição), 2018, São Carlos – SP. Disponível em: | PEREIRA, Yasmin Gonçalves; PEREIRA, Yara Gonçalves; MILLER, Poliana Romero; SOUZA, Suelen Ribeiro; JASMIM, Janie Mendes. O Pré-vestibular Social Teorema na modalidade a distância: análise do processo de reestruturação do curso. In: ''Congresso Internacional de Educação e Tecnologias'' (4ª Edição), 2018, São Carlos – SP. Disponível em: https://cietenped.ufscar.br/submissao/index.php/2018/article/view/819. Acessado em: 17/11/2019. | ||
SILVA, Richardson B. G.; GUERRA, Saulo P. S.; ARAÚJO, Maria A. M.; ALMEIDA, Loriza L. Evasão no cursinho pré-vestibular da FCA/UNESP: a interpretação do aluno evadido. Revista Científica em Extensão, UNESP, v.6, n.1, p.68, 2010. Disponível em: | SILVA, Richardson B. G.; GUERRA, Saulo P. S.; ARAÚJO, Maria A. M.; ALMEIDA, Loriza L. Evasão no cursinho pré-vestibular da FCA/UNESP: a interpretação do aluno evadido. ''Revista Científica em Extensão'', UNESP, v.6, n.1, p.68, 2010. Disponível em: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/160/338. Acessado em: 09 de fevereiro de 2020. | ||
SOARES, Fernanda Bomfim; GONÇALVES, Pedro Willian Bretas; FERRAZ, Claudio Benito Oliveira. Geografia da Evasão: novos desafios no contexto do projeto cursinho pré-vestibular IDEAL da FCT/UNESP. In Anais do XVI Encontro Nacional dos Geógrafos, Porto Alegre - RS, 2010. Disponível em: | SOARES, Fernanda Bomfim; GONÇALVES, Pedro Willian Bretas; FERRAZ, Claudio Benito Oliveira. Geografia da Evasão: novos desafios no contexto do projeto cursinho pré-vestibular IDEAL da FCT/UNESP. In ''Anais do XVI Encontro Nacional dos Geógrafos'', Porto Alegre - RS, 2010. Disponível em: https://docplayer.com.br/17519571-Geografia-da-evasao-novos-desafios-no-contexto-do-projeto-cursinho-pre-vestibular-ideal-da-fct-unesp.html. Acessado em: 16 de fevereiro de 2020. | ||
SOUSA, José Nilton; RIBEIRO, Paulo Cesar; ABOUD, Sérgio; CAMACHO, Regina. A universidade e o pré-vestibular. In Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, Belo Horizonte – MG, 2004. Disponível em: | SOUSA, José Nilton; RIBEIRO, Paulo Cesar; ABOUD, Sérgio; CAMACHO, Regina. A universidade e o pré-vestibular. In ''Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária'', Belo Horizonte – MG, 2004. Disponível em: https://www.ufmg.br/congrext/Educa/Educa22.pdf. Acessado em 10/10/2019. | ||
STOFFEL, Amanda Ritter et al. Estudo do problema da evasão no cursinho pré-vestibular Esperança Popular da Restinga. Iniciação Científica - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007. Disponível em: | STOFFEL, Amanda Ritter et al. ''Estudo do problema da evasão no cursinho pré-vestibular Esperança Popular da Restinga''. Iniciação Científica - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007. Disponível em: http://conexoesufrgs.blogspot.com/2007/09/estudo-do-problema-da-evaso-no-cursinho.html. Acessado em: 09/02/2020. | ||
THUM, Carmo. Pré-vestibular público e gratuito: o acesso de trabalhadores à universidade. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, 2000. Disponível em: | THUM, Carmo. ''Pré-vestibular público e gratuito: o acesso de trabalhadores à universidade''. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, 2000. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/78448. Acessado em 15/11/2019. | ||
=== Outras referências === | === Outras referências === | ||
[[Ações Afirmativas no acesso ao Ensino Superior]] | |||
[[Categoria:Temática - Educação]] | [[Categoria:Temática - Educação]] | ||
[[Categoria:Temática - Juventude]] | [[Categoria:Temática - Juventude]] |
Edição das 07h53min de 4 de abril de 2022
Autoria: Angela Cristina da Silva Santos (informações retiradas de sua dissertação de mestrado, "Pensando estratégias para o enfrentamento da evasão em pré-vestibulares populares: um estudo de caso na Maré – Rio de Janeiro/RJ", defendida em 2020)
Introdução
Historicamente as políticas públicas para a Educação Superior no Brasil têm demonstrado a ineficiência do Estado na gerência, financiamento e concretização do direito social e inalienável que é a educação. Se, por um lado, o Estado não tem disponibilizado recursos e investimentos suficientes para a educação pública de nível superior; por outro, ampliou as possibilidades para que o setor privado se estabelecesse no campo educacional, contribuindo para que a educação superior seja concebida como um serviço, regido pelas leis de mercado, e não como um bem social garantido a todos pela Constituição Brasileira.
Essas escolhas políticas feitas ao longo da história do Brasil refletem em fatores como: o crescimento descontrolado e sem a fiscalização adequada do setor privado, atingindo 75% das matrículas na educação superior; o contexto de lutas constantes das Instituições de Ensino Superior públicas pelos recursos humanos, estruturais e financeiros necessários para atender adequadamente suas diversas demandas na tríade ensino, pesquisa e extensão; a exclusão de diversos jovens das classes populares, que não conseguem dar prosseguimento aos seus estudos na graduação e pós-graduação.
Nesse sentido, concordamos com Paulo Freire de que não há esperança no esperar e, sabendo que não é possível esperar que a democratização do acesso à educação se concretize, as classes populares têm de esperançar-se e organizar-se para encontrar as brechas possíveis na defesa da educação como um direito de todos. Surgem, portanto, os pré-vestibulares populares, espaços alternativos de luta pela inclusão e permanência de pessoas das camadas populares na educação superior. Assim, apesar de sabermos que a escola, a universidade e mesmo a educação não darão conta de resolver os problemas socioeconômicos que vêm se acumulando há anos no Brasil, entendemos que o acesso à educação pode impulsionar, gradativamente, a sociedade para questionar esse sistema que nos uniformiza, subjuga, aliena, explora e mata.
Além disso, consideramos que a população precisa se apropriar dos códigos linguísticos e dos conhecimentos existentes nesses espaços de educação formal para que se ampliem as possibilidades de melhorar as condições de vida, atuar politicamente na sociedade e construir uma formação crítica. Como a universidade pública constitui os saberes acumulados historicamente pelos diversos grupos sociais que constituíram e constituem nossa sociedade, é dever dessa universidade democratizar o acesso a esses conhecimentos e, ao mesmo tempo, construir processos de valorização e divulgação dos saberes não-hegemônicos (história, cultura, produções da população africana e afrodescendentes e indígenas, por exemplo), que têm sido negados à população.
Sabemos que a universidade não foi pensada e construída para a ocupação das classes populares. No entanto, o espaço universitário também é um espaço de contradições, ambiguidades e disputas de narrativas. Por isso, a atuação dos pré-vestibulares populares tem sido extremamente importante, tanto na formação política desses sujeitos, quanto na contribuição para que eles acessem à educação superior e se desenvolvam na educação, pesquisa e extensão, resgatando ou construindo novas epistemologias. Portanto, devemos continuar construindo estratégias para acessar, permanecer e transformar o espaço universitário.
Mapeamento de pré-vestibulares populares
As informações referentes a quantidade de pré-vestibulares populares existentes no Estado do Rio de Janeiro são imprecisas, já que não existe uma organização, coletivo ou grupo de pesquisa responsável por esse levantamento e acompanhamento sistemático e contínuo. Além disso, sabemos que muitos pré-vestibulares populares -por serem iniciativas coletivas, não institucionalizadas, sem financiamento e que dependem do trabalho voluntário - enfrentam diversas dificuldades para dar continuidade aos trabalhos ao longo dos anos, oscilando entre períodos com maior e menor engajamento dos voluntários, procura dos estudantes e apoio local. Por isso, o número de pré-vestibulares populares ativos pode variar bastante de um ano para outro, assim como o local onde esses projetos são desenvolvidos.
Este mapeamento foi construído a partir da pesquisa de mestrado intitulada “Pensando estratégias para o enfrentamento da evasão em pré-vestibulares populares: um estudo de caso na Maré – Rio de Janeiro/RJ”, de autoria de Angela Cristina da Silva Santos, desenvolvida sob a orientação de Priscila Saemi Matsunaga, no Programa de Pós-graduação em Tecnologia para o Desenvolvimento Social - NIDES/UFRJ, no período de 2018 a 2020.
Para que o pré-vestibular popular fosse contabilizado no levantamento, foram elencadas duas situações: 1) Pré-vestibular ativo nos anos de2018 ou 2019 e 2) Pré-vestibular iniciando suas atividades no ano de 2020. Para delimitar esses critérios de seleção, levamos em consideração a instabilidade das ações dos pré-vestibulares populares, que podem ficar inativos por 1 ou 2 anos e depois retornar suas atividades, dada a rede de apoio que já possuem. Consideramos como unidade de contagem cada núcleo, unidade ou sede de pré-vestibular popular em endereço diferente. Como há algumas redes que possuem algumas unidades espalhadas pelo território do Rio de Janeiro, cada núcleo foi contabilizado como uma unidade de pré-vestibular popular.
Os pré-vestibulares populares encontrados nesse levantamento foram separados de acordo com as oito divisões regionais de governo e municípios do Estado do Rio de Janeiro (figura 1): I. Região Metropolitana do Rio de Janeiro; II. Região Centro-Sul Fluminense; III. Região Noroeste Fluminense; IV. Região Norte Fluminense; V. Região Serrana; VI. Região da Costa Verde; VII. Região das Baixadas Litorâneas; e VIII. Região do Médio Paraíba.
Conseguimos mapear 352 unidades de pré-vestibulares populares no Estado do Rio de Janeiro, conforme mostra o Anexo L. A Região Metropolitana, que inclui a Baixada Fluminense e o Leste Fluminense, concentra 84% dos pré-vestibulares populares mapeados nessa pesquisa (tabela 1), com destaque para a cidade do Rio de Janeiro, como verificaremos em seguida.
Estratégias para enfrentamento da evasão escolar
Compreendemos a relevância de avançar um pouco mais e possibilitar a construção de um panorama mais amplo sobre o fenômeno da evasão em pré-vestibulares populares, no que diz respeito às suas características e as possibilidades de enfrentamento desse problema. Para isso, realizamos um estudo de caso no Pré-vestibular Comunitário do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) e um levantamento das percepções sobre evasão de integrantes de pré-vestibulares populares do Estado do Rio de Janeiro. A partir desse entrelaçamento de experiências e reflexões, pudemos construir a presente cartilha.
Compreendemos a evasão de pré-vestibulares populares como um fenômeno complexo, dinâmico e cumulativo, que é influenciado por múltiplas variáveis de caráter objetivo e subjetivo. Assim, a proposta da cartilha é oferecer um arcabouço amplo de ações que possam ser desenvolvidas, avaliadas e aprimoradas pelos pré-vestibulares populares, no intuito de favorecer uma maior permanência do(a)s educando(a)s nos projetos e possibilitar a reconquista do(a)s educando(a)s evadido(a)s, propiciando um maior alcance desses projetos entre a juventude dos espaços favelados e periféricos.
- Sensibilização inicial dos educandos
- Apoiando e acompanhando os educandos
- Construindo conexões afetivas
- Pensando as questões de ensino e aprendizado
- Construindo uma comunicação engajada
- Trazendo o vestibular para o jogo
- Enfrentando as dificuldades financeiras
- Construindo redes de apoio e parceria
A escolha das estratégias que serão desenvolvidas por cada pré-vestibular popular dependerá de localização do curso, do projeto político-pedagógico, da estrutura física disponível, do tamanho e composição da equipe de colaboradores, da dinâmica de organização e gestão do projeto, dos recursos financeiros possíveis de serem arrecadados, do engajamento coletivo. Por isso, cada proposta deve ser discutida, planejada e validada coletivamente a cada ano.
Ressaltamos a importância da realização conjunta de ações nas oito áreas apresentadas na cartilha, já que a evasão é causada por diferentes fatores que se conjugam em diferentes escalas. Por fim, destacamos a necessidade de persistência e (re)avaliação periódica das estratégias adotadas, visto que há melhorias no desenvolvimento das ações de um ano para outro, e de acompanhamento sistemático a médio (3 – 5 anos) e longo prazo (6 – 10 anos) das estratégias assumidas pelo coletivo, podendo o próprio coletivo desenvolver pesquisas sobre a temática.
Bibliografia
MARTON FILHO, Marcos Antonio; ARRUDA, Guilherme; CARVALHO, Raíssa Pierri; SCHELLINI, Silvana Artioli. O aluno que evade: comparação entre alunos selecionados por critérios socioeconômicos e por conhecimentos gerais. Revista Ciência em Extensão, v. 8, n. 3, p. 68-74, 2012. Disponível em: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/viewFile/671/744. Acessado em: 09 de fevereiro de 2020.
PEREIRA, Yasmin Gonçalves; PEREIRA, Yara Gonçalves; MILLER, Poliana Romero; SOUZA, Suelen Ribeiro; JASMIM, Janie Mendes. O Pré-vestibular Social Teorema na modalidade a distância: análise do processo de reestruturação do curso. In: Congresso Internacional de Educação e Tecnologias (4ª Edição), 2018, São Carlos – SP. Disponível em: https://cietenped.ufscar.br/submissao/index.php/2018/article/view/819. Acessado em: 17/11/2019.
SILVA, Richardson B. G.; GUERRA, Saulo P. S.; ARAÚJO, Maria A. M.; ALMEIDA, Loriza L. Evasão no cursinho pré-vestibular da FCA/UNESP: a interpretação do aluno evadido. Revista Científica em Extensão, UNESP, v.6, n.1, p.68, 2010. Disponível em: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/160/338. Acessado em: 09 de fevereiro de 2020.
SOARES, Fernanda Bomfim; GONÇALVES, Pedro Willian Bretas; FERRAZ, Claudio Benito Oliveira. Geografia da Evasão: novos desafios no contexto do projeto cursinho pré-vestibular IDEAL da FCT/UNESP. In Anais do XVI Encontro Nacional dos Geógrafos, Porto Alegre - RS, 2010. Disponível em: https://docplayer.com.br/17519571-Geografia-da-evasao-novos-desafios-no-contexto-do-projeto-cursinho-pre-vestibular-ideal-da-fct-unesp.html. Acessado em: 16 de fevereiro de 2020.
SOUSA, José Nilton; RIBEIRO, Paulo Cesar; ABOUD, Sérgio; CAMACHO, Regina. A universidade e o pré-vestibular. In Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, Belo Horizonte – MG, 2004. Disponível em: https://www.ufmg.br/congrext/Educa/Educa22.pdf. Acessado em 10/10/2019.
STOFFEL, Amanda Ritter et al. Estudo do problema da evasão no cursinho pré-vestibular Esperança Popular da Restinga. Iniciação Científica - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007. Disponível em: http://conexoesufrgs.blogspot.com/2007/09/estudo-do-problema-da-evaso-no-cursinho.html. Acessado em: 09/02/2020.
THUM, Carmo. Pré-vestibular público e gratuito: o acesso de trabalhadores à universidade. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC, 2000. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/78448. Acessado em 15/11/2019.