Promoção Emancipatória da Saúde: mudanças entre as edições
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A ideia-força da Promoção Emancipatória da Saúde é, na prática, o aproximar-se respeitosamente do território, procurando conhecer e compreender suas experiências históricas e cotidianas frente aos processos que geram vida, saúde, adoecimento e morte. | |||
Autoria: Marcelo Firpo de Souza Porto, Fatima Pivetta, Marize Bastos da Cunha, Lenira Zancan. | |||
== Promoção da Saúde == | |||
<span style="font-size:medium;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height: | A saúde não significa apenas tratar das doenças, tarefas da assistência e da reabilitação. Cuidar da saúde significa prevenir doenças e promover contextos favoráveis à vida e à dignidade. | ||
O conceito ampliado de saúde está inscrito na Constituição Federal de 1988, quando afirma que a saúde resulta e é determinada por inúmeros fatores sociais, econômicos, políticos e culturais. Dentre eles podemos destacar trabalho, renda, educação, saneamento, moradia, alimentação, liberdade, posse da terra e acesso aos direitos de cidadania. Por isso para garantir a saúde da população não basta tratar das doenças: é preciso promover as condições que propiciam uma vida saudável e digna de indivíduos, famílias e comunidades. | |||
A Promoção da Saúde [PS] é uma das áreas da Saúde Coletiva que reúne conhecimentos e práticas voltados a promover as condições sociais e ambientais para uma vida saudável e digna no âmbito das coletividades. Isso significa identificar e enfrentar tanto os processos que promovem a saúde como a ameaçam, gerando doenças e mortes evitáveis. A teoria da determinação social da saúde é uma importante teoria para compreender a atuar nos processos de produção da saúde e da doença. | |||
Existem duas perspectivas de PS no mundo e no Brasil que por vezes se complementam, mas também se opõem e geram contradições. A primeira assume uma perspectiva normativa e individual, voltada para o controle dos comportamentos de risco e prescrição de hábitos e estilos de vida “saudáveis” dos indivíduos e grupos sociais, responsabilizando-os pelas suas condições de saúde. Outra está voltada para compreender e enfrentar as desigualdades sociais que afetam a saúde e a dignidade humana. A Promoção Emancipatória da Saúde se dedica a essa segunda visão <ref>[1] Porto, M.F.S., Pivetta, F. (2009). Por uma promoção da saúde emancipatória em territórios urbanos vulneráveis. In: Czeresnia D, Freitas CM. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, p. 207-229 | |||
[2] Pivetta, F., Cunha, M.B.; Porto, M.F.S., Zancan, L. (2019). Promoção da Saúde e Conhecimentos Emancipatórios: Aprendizados com Pesquisa-Ação nos Territórios de Favelas. In: Figueiredo, G.L.A., Martins, C.H.G.; Akerman, M. “Grupos em situação de vulnerabilidade: em cena na luta por visibilidade no espaço urbano”. Hucitec Editora.</ref> | |||
== Dimensão emancipatória == | |||
<p class="m-1003151385638142989gmail-defaultstyle" style="margin-top:0cm; margin-right:0cm; margin-bottom:6.0pt; margin-left:0cm; text-align:justify"><span style="font-size:medium;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="background:white"><span style="line-height:115%">A dimensão emancipatória da PS implica a construção de uma sociedade mais democrática, justa e inclusiva como base para a saúde e a dignidade das inúmeras coletividades que formam a sociedade. O enfoque emancipatório visa contribuir para a autonomia e a emancipação dos sujeitos individuais e coletivos para que, em suas lutas sociais contra as diversas formas de exclusão e opressão, construam suas próprias histórias e modos de viver, incluindo a saúde. Dada a diversidade histórica, socioambiental e cultural de comunidades e territórios existentes no Brasil, existem inúmeras possibilidades de serem desenvolvidas propostas e práticas emancipatórias de PS envolvendo populações tanto das cidades como dos campos, florestas e águas.</span></span></span></span></p> <p style="margin-bottom:6.0pt; text-align:justify"><span style="font-size:medium;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="background:white"><span style="line-height:115%"><span style="line-height:115%">No contexto específico das favelas e periferias urbanas, a ideia de uma Promoção Emancipatória da Saúde, aqui apresentada, vem sendo elaborada desde 2003 pela equipe do Laboratório Territorial de Manguinhos. Trata-se de um programa de pesquisa, extensão e formação que concentra suas atividades em favelas, principalmente em Manguinhos, baseado num conjunto de valores e princípios: solidariedade, autonomia, dignidade, emancipação, direitos territoriais e humanos. Todos eles contribuem para integrar quatro dimensões da justiça: social, sanitária, ambiental e cognitiva, sendo esta última voltada à compreensão das exclusões radicais contra pobres, indígenas, afrodescendentes, mulheres, grupos LGBTI, dentre outros <ref>[3] Ver portal:neepes.ensp.fiocruz.br </ref></span></span></span></span></span></p> <p style="margin-bottom:6.0pt; text-align:justify"><span style="font-size:medium;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="background:white"><span style="line-height:115%"><span style="line-height:115%">Na proposta emancipatória do LTM, a PS está fundamentada em três eixos:a participação e protagonismo dos moradores e trabalhadores das favelas; a determinação social voltada ao combate contra as desigualdades e exclusões que marcam déficits de democracia e assimetrias de poder; e a produção compartilhada de conhecimentos por meio de</span> <span style="line-height:115%">[[Comunidades Ampliada de Pesquisa-Ação|comunidades ampliadas de pesquisa-ação]]</span> <span style="line-height:115%">e vigilância popular em saúde<ref>[4] Cunha, M. B.; Pivetta, F.; Porto, M.F.S.; Zancan, L.; Sousa, F.M.; Francisco, M.S.; Costa, V.C. Vigilância Popular em Saúde: contribuições para repensar a participação no SUS. In: Botelho, B.O. et al. (Org.) (2017). Educação Popular no Sistema Único de Saúde, São Paulo: Hucitec Ed., p. 95-126.</ref>. As práticas têm com o foco a análise de problemas de saúde e condições de vida, assim como a proposição de políticas públicas, novas práticas institucionais e ações de promoção da saúde.</span></span></span></span></span></p> | |||
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== Ver também == | |||
*[[Educação Popular em Saúde em tempos de negacionismo: formação e experiências comunitárias (projeto de extensão)]] | |||
*[[Violência e Saúde de moradores de Favelas]] | |||
*[[Atenção primária, empoderamento e direito à saúde]] | |||
*[[Comunidades Ampliada de Pesquisa-Ação]] | |||
*[[Necropolítica e o adoecimento das favelas]] | |||
*[[Agentes comunitárias]] | |||
[[Category:Saúde]] [[Category:Pesquisa acadêmica]] [[Category:Conceitos acadêmicos]] [[Category:Manguinhos]] [[Category:Pesquisa-Ação]] [[Category:Temática - Pesquisas]] |
Edição atual tal como às 14h03min de 29 de setembro de 2023
A ideia-força da Promoção Emancipatória da Saúde é, na prática, o aproximar-se respeitosamente do território, procurando conhecer e compreender suas experiências históricas e cotidianas frente aos processos que geram vida, saúde, adoecimento e morte.
Autoria: Marcelo Firpo de Souza Porto, Fatima Pivetta, Marize Bastos da Cunha, Lenira Zancan.
Promoção da Saúde[editar | editar código-fonte]
A saúde não significa apenas tratar das doenças, tarefas da assistência e da reabilitação. Cuidar da saúde significa prevenir doenças e promover contextos favoráveis à vida e à dignidade.
O conceito ampliado de saúde está inscrito na Constituição Federal de 1988, quando afirma que a saúde resulta e é determinada por inúmeros fatores sociais, econômicos, políticos e culturais. Dentre eles podemos destacar trabalho, renda, educação, saneamento, moradia, alimentação, liberdade, posse da terra e acesso aos direitos de cidadania. Por isso para garantir a saúde da população não basta tratar das doenças: é preciso promover as condições que propiciam uma vida saudável e digna de indivíduos, famílias e comunidades.
A Promoção da Saúde [PS] é uma das áreas da Saúde Coletiva que reúne conhecimentos e práticas voltados a promover as condições sociais e ambientais para uma vida saudável e digna no âmbito das coletividades. Isso significa identificar e enfrentar tanto os processos que promovem a saúde como a ameaçam, gerando doenças e mortes evitáveis. A teoria da determinação social da saúde é uma importante teoria para compreender a atuar nos processos de produção da saúde e da doença.
Existem duas perspectivas de PS no mundo e no Brasil que por vezes se complementam, mas também se opõem e geram contradições. A primeira assume uma perspectiva normativa e individual, voltada para o controle dos comportamentos de risco e prescrição de hábitos e estilos de vida “saudáveis” dos indivíduos e grupos sociais, responsabilizando-os pelas suas condições de saúde. Outra está voltada para compreender e enfrentar as desigualdades sociais que afetam a saúde e a dignidade humana. A Promoção Emancipatória da Saúde se dedica a essa segunda visão [1]
Dimensão emancipatória[editar | editar código-fonte]
A dimensão emancipatória da PS implica a construção de uma sociedade mais democrática, justa e inclusiva como base para a saúde e a dignidade das inúmeras coletividades que formam a sociedade. O enfoque emancipatório visa contribuir para a autonomia e a emancipação dos sujeitos individuais e coletivos para que, em suas lutas sociais contra as diversas formas de exclusão e opressão, construam suas próprias histórias e modos de viver, incluindo a saúde. Dada a diversidade histórica, socioambiental e cultural de comunidades e territórios existentes no Brasil, existem inúmeras possibilidades de serem desenvolvidas propostas e práticas emancipatórias de PS envolvendo populações tanto das cidades como dos campos, florestas e águas.
No contexto específico das favelas e periferias urbanas, a ideia de uma Promoção Emancipatória da Saúde, aqui apresentada, vem sendo elaborada desde 2003 pela equipe do Laboratório Territorial de Manguinhos. Trata-se de um programa de pesquisa, extensão e formação que concentra suas atividades em favelas, principalmente em Manguinhos, baseado num conjunto de valores e princípios: solidariedade, autonomia, dignidade, emancipação, direitos territoriais e humanos. Todos eles contribuem para integrar quatro dimensões da justiça: social, sanitária, ambiental e cognitiva, sendo esta última voltada à compreensão das exclusões radicais contra pobres, indígenas, afrodescendentes, mulheres, grupos LGBTI, dentre outros [2]
Na proposta emancipatória do LTM, a PS está fundamentada em três eixos:a participação e protagonismo dos moradores e trabalhadores das favelas; a determinação social voltada ao combate contra as desigualdades e exclusões que marcam déficits de democracia e assimetrias de poder; e a produção compartilhada de conhecimentos por meio de comunidades ampliadas de pesquisa-ação e vigilância popular em saúde[3]. As práticas têm com o foco a análise de problemas de saúde e condições de vida, assim como a proposição de políticas públicas, novas práticas institucionais e ações de promoção da saúde.
- ↑ [1] Porto, M.F.S., Pivetta, F. (2009). Por uma promoção da saúde emancipatória em territórios urbanos vulneráveis. In: Czeresnia D, Freitas CM. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, p. 207-229 [2] Pivetta, F., Cunha, M.B.; Porto, M.F.S., Zancan, L. (2019). Promoção da Saúde e Conhecimentos Emancipatórios: Aprendizados com Pesquisa-Ação nos Territórios de Favelas. In: Figueiredo, G.L.A., Martins, C.H.G.; Akerman, M. “Grupos em situação de vulnerabilidade: em cena na luta por visibilidade no espaço urbano”. Hucitec Editora.
- ↑ [3] Ver portal:neepes.ensp.fiocruz.br
- ↑ [4] Cunha, M. B.; Pivetta, F.; Porto, M.F.S.; Zancan, L.; Sousa, F.M.; Francisco, M.S.; Costa, V.C. Vigilância Popular em Saúde: contribuições para repensar a participação no SUS. In: Botelho, B.O. et al. (Org.) (2017). Educação Popular no Sistema Único de Saúde, São Paulo: Hucitec Ed., p. 95-126.
Ver também[editar | editar código-fonte]
- Educação Popular em Saúde em tempos de negacionismo: formação e experiências comunitárias (projeto de extensão)
- Violência e Saúde de moradores de Favelas
- Atenção primária, empoderamento e direito à saúde
- Comunidades Ampliada de Pesquisa-Ação
- Necropolítica e o adoecimento das favelas
- Agentes comunitárias