Memorial aos mortos na Chacina do Jacarezinho: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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(O Memorial aos mortos na Chacina do Jacarezinho foi um monumento erguido no dia em que se completou um ano da maior chacina da história do Estado do Rio de Janeiro. Foi construído pela sociedade civil e derrubado poucos dias depois pela Polícia Civil. A ação de destruição do memorial foi fortemente criticada pelas entidades ligadas à defesa dos direitos humanos, compreendida como uma violência simbólica aos mortos e suas famílias.)
 
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Autoria: Equipe do '''Dicionário de Favelas Marielle Franco''', a partir de pesquisa em diferentes redes.
O Memorial aos mortos na [[Chacina do Jacarezinho]] foi um monumento erguido no dia em que se completou um ano da maior chacina da história do Estado do Rio de Janeiro. Foi construído pela sociedade civil e derrubado poucos dias depois pela Polícia Civil. A ação de destruição do memorial foi fortemente criticada pelas entidades ligadas à defesa dos direitos humanos, compreendida como uma violência simbólica aos mortos e suas famílias.
[[Arquivo:Imagem do memorial antes da derrubada - nome do policial morto na operação também era lembrado.webp|centro|miniaturadaimagem|Imagem do memorial antes da derrubada - nome do policial morto na operação também era lembrado|alt=]]O Memorial aos mortos na [[Chacina do Jacarezinho]] foi um monumento erguido no dia em que completou-se um ano da maior chacina da história do Estado do Rio de Janeiro. Foi construído pela sociedade civil e derrubado poucos dias depois pela Polícia Civil. A ação de destruição do memorial foi fortemente criticada pelas entidades ligadas à defesa dos direitos humanos, compreendida como uma violência simbólica aos mortos e suas famílias.  
Autoria: Informações do verbete reproduzidas, pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a partir de redes de comunicação oficiais do coletivo.
 
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== Sobre o memorial construído por familiares de vítimas ==
== Sobre o memorial construído por familiares de vítimas ==
  Por '''Thayná De Souza''', em 06 de maio de 2022, originalmente publicada no [https://www.vozdascomunidades.com.br/destaques/memorial-e-inaugurado-em-homenagem-aos-28-mortos-na-chacina-do-jacarezinho/ jornal Voz das Comunidades].
  Por '''Thayná De Souza''', em 06 de maio de 2022, originalmente publicada no [https://www.vozdascomunidades.com.br/destaques/memorial-e-inaugurado-em-homenagem-aos-28-mortos-na-chacina-do-jacarezinho/ jornal Voz das Comunidades].
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Neste 6 de maio (de 2022), completou um ano de uma das ações mais letais da história do Rio de Janeiro.  
Neste 6 de maio (de 2022), completou um ano de uma das ações mais letais da história do Rio de Janeiro.  
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Exatamente após um ano, o nome dos 28 assassinados pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro no Jacarezinho está gravado eternamente na favela, considerada a mais negra da cidade. Do total, 27 eram moradores e 1 era servidor público. Por volta das 14h50, a marcha que relembra a maior chacina da história do Rio adentrou as ruas do Jacarezinho com mulheres negras à frente, segurando a faixa “28 mortos não é operação, é chacina! 1 ano sem respostas”, rumo ao memorial.  
Exatamente após um ano, o nome dos 28 assassinados pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro no [[Jacarezinho, Rio de Janeiro|Jacarezinho]] está gravado eternamente na favela, considerada a mais negra da cidade. Do total, 27 eram moradores e 1 era servidor público. Por volta das 14h50, a marcha que relembra a maior chacina da história do Rio adentrou as ruas do Jacarezinho com mulheres negras à frente, segurando a faixa “28 mortos não é operação, é chacina! 1 ano sem respostas”, rumo ao memorial.  
[[Arquivo:Foto de Selma Souza - Voz das Comunidades 2.jpg|miniaturadaimagem|Dentre as mulheres, está Mônica Cunha, suplente da Câmara dos vereadores do Rio (canto esq, segunda posição). Foto de Selma Souza - Voz das Comunidades|alt=|esquerda]]
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Enquanto a caminhada seguia, alguns moradores que trabalhavam e andavam pelas ruas do Jaca paravam para ler os cartazes e observar. Frases de apoio puderam ser ouvidas e também diálogos que só quem é favelado entende. “Botaram essas polícia aí não sei pra quê”, comentou uma senhora com a outra, que respondeu de pronto: “Pra matar mais gente!”. “Eles tiram a vida dos outros” e “a escravidão não acabou!” também foram ditas em tom de indignação por moradoras enquanto a marcha seguia.
Enquanto a caminhada seguia, alguns moradores que trabalhavam e andavam pelas ruas do Jaca paravam para ler os cartazes e observar. Frases de apoio puderam ser ouvidas e também diálogos que só quem é favelado entende. <blockquote>“Botaram essas polícias aí não sei pra quê”, comentou uma senhora com a outra, que respondeu de pronto: “Pra matar mais gente!”. “Eles tiram a vida dos outros” e “a escravidão não acabou!” também foram ditas em tom de indignação por moradoras enquanto a marcha seguia.</blockquote>Durante a cerimônia de inauguração do memorial, mães, irmãs e primas estavam presentes. Tassiana Barbosa era irmã de criação de duas vítimas, Richard Gabriel, de 23 anos e Isaac Ferreira, de 22, que morava na mesma casa que ela, já que sua família não era de lá. “É muita tristeza depois de um ano ainda sem nenhuma justiça! Eu acho que isso nunca vai mudar. A gente que mora aqui até desacredita que algo vai ser feito. Se fosse na Zona Sul, seria totalmente diferente”, relatou.  
 
Durante a cerimônia de inauguração do memorial, mães, irmãs e primas estavam presentes. Tassiana Barbosa era irmã de criação de duas vítimas, Richard Gabriel, de 23 anos e Isaac Ferreira, de 22, que morava na mesma casa que ela, já que sua família não era de lá. “É muita tristeza depois de um ano ainda sem nenhuma justiça! Eu acho que isso nunca vai mudar. A gente que mora aqui até desacredita que algo vai ser feito. Se fosse na Zona Sul, seria totalmente diferente”, relatou.  
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Mônica Cunha, defensora dos direitos humanos, que teve seu filho Rafael assassinado pelo Estado com apenas 20 anos, disse emocionada: “A gente não aguenta mais ficar botando memorial em favela com o nome dos nossos”. Ela destacou também o que é sempre ignorado ao se tratar de corpos favelados, principalmente pretos. “Esses meninos são nossos filhos, nossos irmãos! Eu quero homem preto igual a você (apontou para o advogado e morador Joel Luiz), não quero homem preto com nome em memorial”.  [[Arquivo:Foto de Selma Souza - Voz das Comunidades 4.jpg|miniaturadaimagem|1 ano da chacina do Jacarezinho. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades|alt=]]
Mônica Cunha, defensora dos direitos humanos, que teve seu filho Rafael assassinado pelo Estado com apenas 20 anos, disse emocionada: “A gente não aguenta mais ficar botando memorial em favela com o nome dos nossos”. Ela destacou também o que é sempre ignorado ao se tratar de corpos favelados, principalmente pretos. “Esses meninos são nossos filhos, nossos irmãos! Eu quero homem preto igual a você (apontou para o advogado e morador Joel Luiz), não quero homem preto com nome em memorial”.  [[Arquivo:Foto de Selma Souza - Voz das Comunidades 4.jpg|miniaturadaimagem|1 ano da chacina do Jacarezinho. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades|alt=]]
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== A demolição ==
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Edição atual tal como às 09h41min de 6 de agosto de 2023

O Memorial aos mortos na Chacina do Jacarezinho foi um monumento erguido no dia em que se completou um ano da maior chacina da história do Estado do Rio de Janeiro. Foi construído pela sociedade civil e derrubado poucos dias depois pela Polícia Civil. A ação de destruição do memorial foi fortemente criticada pelas entidades ligadas à defesa dos direitos humanos, compreendida como uma violência simbólica aos mortos e suas famílias.

Autoria: Informações do verbete reproduzidas, pela Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco, a partir de redes de comunicação oficiais do coletivo.

Sobre o memorial construído por familiares de vítimas[editar | editar código-fonte]

Por Thayná De Souza, em 06 de maio de 2022, originalmente publicada no jornal Voz das Comunidades.

Memorial é inaugurado em homenagem aos 28 mortos na chacina do Jacarezinho[editar | editar código-fonte]

Neste 6 de maio (de 2022), completou um ano de uma das ações mais letais da história do Rio de Janeiro.

Foto de Selma Souza - Voz das Comunidades

Exatamente após um ano, o nome dos 28 assassinados pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro no Jacarezinho está gravado eternamente na favela, considerada a mais negra da cidade. Do total, 27 eram moradores e 1 era servidor público. Por volta das 14h50, a marcha que relembra a maior chacina da história do Rio adentrou as ruas do Jacarezinho com mulheres negras à frente, segurando a faixa “28 mortos não é operação, é chacina! 1 ano sem respostas”, rumo ao memorial.

Dentre as mulheres, está Mônica Cunha, suplente da Câmara dos vereadores do Rio (canto esq, segunda posição). Foto de Selma Souza - Voz das Comunidades

Enquanto a caminhada seguia, alguns moradores que trabalhavam e andavam pelas ruas do Jaca paravam para ler os cartazes e observar. Frases de apoio puderam ser ouvidas e também diálogos que só quem é favelado entende.

“Botaram essas polícias aí não sei pra quê”, comentou uma senhora com a outra, que respondeu de pronto: “Pra matar mais gente!”. “Eles tiram a vida dos outros” e “a escravidão não acabou!” também foram ditas em tom de indignação por moradoras enquanto a marcha seguia.

Durante a cerimônia de inauguração do memorial, mães, irmãs e primas estavam presentes. Tassiana Barbosa era irmã de criação de duas vítimas, Richard Gabriel, de 23 anos e Isaac Ferreira, de 22, que morava na mesma casa que ela, já que sua família não era de lá. “É muita tristeza depois de um ano ainda sem nenhuma justiça! Eu acho que isso nunca vai mudar. A gente que mora aqui até desacredita que algo vai ser feito. Se fosse na Zona Sul, seria totalmente diferente”, relatou.

Momento de muita emoção. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Mônica Cunha, defensora dos direitos humanos, que teve seu filho Rafael assassinado pelo Estado com apenas 20 anos, disse emocionada: “A gente não aguenta mais ficar botando memorial em favela com o nome dos nossos”. Ela destacou também o que é sempre ignorado ao se tratar de corpos favelados, principalmente pretos. “Esses meninos são nossos filhos, nossos irmãos! Eu quero homem preto igual a você (apontou para o advogado e morador Joel Luiz), não quero homem preto com nome em memorial”.  

1 ano da chacina do Jacarezinho. Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Joel Luiz, citado por Mônica, em seu discurso durante a homenagem, pontuou que essa chacina não se construiu em um dia, mas em séculos de escravidão. “28 mortes é um projeto do estado brasileiro”, completa. Sobre o sentimento durante o memorial, ele desabafa que hoje é um dia muito importante.

“Nesse primeiro aniversário de muitos que estão por vir, de que isso não vai ser mais um dia. Não foi só mais uma operação, que, na verdade, foi uma chacina. Não foi só mais uma manhã, mas um dia que a gente vai lembrar todo ano. Eu, enquanto estiver aqui, vou lembrar todo ano. Nem que seja por uma faixa, por fogos, por uma caminhada… Eu vou lembrar todo ano. Porque eu não vou e não podemos normalizar esse tipo de ação, sobretudo no nosso território. O que fica é: isso aconteceu, não pode mais acontecer e temos que lembrar para que não mais aconteça”, finaliza.

Um ano da chacina do Jacarezinho[editar | editar código-fonte]

Em alguns vídeos, podemos ver como a favela manifestou em função do 1 ano da chacina, com uma forte passeata cobrando pela justiça. Foram 28 pessoas executadas na favela, em função de uma operação policial.


A destruição do memorial pela Polícia Civil[editar | editar código-fonte]

Por Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro, em 12 de maio de 2022, para o portal Agência Brasil.

Polícia Civil derruba monumento às vítimas da chacina do Jacarezinho[editar | editar código-fonte]

Obra foi erguida por movimentos sociais para marcar um ano da operação.

Na tarde de ontem (11), a Polícia Civil entrou com os blindados, conhecidos como caveirões, na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, e derrubou o monumento inaugurado na sexta-feira (6) para homenagear os mortos na Operação Exceptis, ocorrida no dia 6 de maio do ano passado LINK 1. O memorial consistia em uma parede com cerca de 1,7m de altura e 1,5m de largura, pintada de azul, onde foram fixadas placas com o nome dos 28 mortos, incluindo o policial André Leonardo de Mello Frias.

O monumento ficava em uma calçada, paralelo à rua, construída de forma a não impedir a circulação de pessoas nem de veículos. Em vídeos divulgados nas redes sociais, aparecem cerca de dez policiais, com coletes à prova de bala, retirando as placas com pés-de-cabra, e depois amarrando a construção com uma corda ao caveirão, que puxa a parede, que se quebra ao cair no chão.

Em nota, a Polícia Civil explicou a decisão de derrubar o monumento: “A Polícia Civil, por meio da 25ª DP (Engenho Novo) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), retirou, na tarde desta quarta-feira (11/05), o memorial ilegal construído em homenagem aos 27 traficantes mortos em confronto com a Polícia Civil durante operação na comunidade do Jacarezinho, ocorrida em 6 de maio de 2021. Durante a diligência também foi realizada perícia no local e no material apreendido formalmente”.

A polícia alega que os 27 mortos na operação tinham “passagem pela polícia” e “envolvimento comprovado com atividades criminosas” e que a construção não tinha autorização da prefeitura. Diz também que a viúva do policial não autorizou a inclusão do nome dele “junto com o nome dos traficantes”.

Prefeitura[editar | editar código-fonte]

Procurada para responder sobre qual órgão municipal concede autorização para construção e derrubada de monumentos na cidade, a Secretaria de Ordem Pública e a Prefeitura encaminharam a solicitação para a Secretaria de Conservação, que, por sua vez, informou apenas que “desconhece essa iniciativa”.

Direito à memória[editar | editar código-fonte]

O Observatório Cidade Integrada, que reúne organizações sociais com atuação nas favelas e um dos responsáveis pela construção do memorial, divulgou nota lembrando que a inauguração do memorial fez parte das atividades promovidas pelo observatório no Jacarezinho.

O texto reforça que as operações da chamada “guerra às drogas” fazem vítimas civis e entre os policiais nas incursões, “que só têm como foco territórios pobres e negros”.

“Enquanto a violência for a única resposta do Estado às populações vulnerabilizadas, a sociedade civil continuará se articulando em prol dos direitos humanos para defender estes espaços. Entretanto, acreditamos que isso deverá ser feito através do diálogo e construção de políticas públicas em conjunto com instituições como a Defensoria Pública, como fizemos até o momento”, diz o Observatório Cidade Integrada.

O diretor da Federação de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj), Derê Gomes, disse que o memorial foi criado para acolher as famílias das vítimas da operação. Para ele, a ação policial de ontem foi arbitrária e ilegal, já que não houve nenhuma manifestação judicial a respeito da construção.

"A gente entende isso como um ataque, não só à memória dessas pessoas, mas um ataque aos familiares dessas pessoas, um ataque às favelas", disse.

A demolição[editar | editar código-fonte]

Agentes usaram marretas para demolir memorial
Memorial é derrubado com auxílio de caveirão da Core