Favela é periferia: mudanças entre as edições
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Neste verbete, proponho analisar alguns dos recentes pontos de interseções entre o “problema favela” e o “problema periferia” no debate público da cidade do Rio de Janeiro, descrevendo momentos em que estes foram tematizados nos últimos dez anos. O objetivo é identificar alguns segmentos temporais em que estes dois problemas públicos (Guslfield, 1981) se aproximaram e se encontraram ao passo de se tornarem frequentemente equivalentes no espaço público. | Neste verbete, proponho analisar alguns dos recentes pontos de interseções entre o “problema favela” e o “problema periferia” no debate público da cidade do Rio de Janeiro, descrevendo momentos em que estes foram tematizados nos últimos dez anos. O objetivo é identificar alguns segmentos temporais em que estes dois problemas públicos (Guslfield, 1981) se aproximaram e se encontraram ao passo de se tornarem frequentemente equivalentes no espaço público. | ||
No Rio de Janeiro, “a periferia” e “a favela” caracterizavam, dos anos 1970 aos 1990, distintos problemas públicos e formas sociais urbanas (Valladares, 2005) de territórios da pobreza (Machado da Silva, 2008; Leite, 2015). Nos anos de 2000, observamos uma série de ressignificações destas categorias que podem ser relacionadas com mobilizações coletivas - culturais (Rocha e Araujo, 2013), religiosas (Machado, 2013) e/ou relacionadas com reações às intervenções e políticas habitacionais, grandes empreendimentos e programa de segurança pública - as Unidades de Polícia Pacificadora (Miagusko, 2012, Machado, op. cit.) -, ou ainda, novas interlocuções entre acadêmicos atuando no Rio de Janeiro e em São Paulo, em particular. Nas décadas anteriores, “periferia” designava territórios de pobreza e áreas morais da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, raramente incluindo os da capital, e distinguiam-se experiências de “pobreza urbana” intra e extra capital – as “cidades dormitórias” sendo um caso emblemático. As duas categorias, “favela” e “periferia”, se referiam ao que Machado da Silva (2013) denominou de “periferias internas” e “periferias externa”. Nos anos de 2000, houve uma redefinição destes quadros morais e cognitivos e tal distinção se diluiu. Diferentes arenas públicas se formam na RMRJ em torno de manifestações artísticas-culturais como os “saraus periféricos”, igrejas pentecostais, ou assuntos relacionados com a “violência urbana”, a “violência política” e a segurança pública, colocando em contato e, por vezes, aproximando um conjunto de atores não apenas da capital. No verbete, proponho explorar resumidamente três não exaustivas dimensões da reconfiguração das problematizações, significados e agenciamentos da “favela” com a “a periferia”, imbricando-as: 1. As mobilizações artística-culturais “periféricas” dos anos 2000, especialmente os saraus “periféricos”, que ocorriam em favelas da capital e em diversos munícipios da RMRJ - inspirados de experiências de “saraus periféricos” de São Paulo; 2. As consequências de políticas e programas estatais acima descritos; 3. Os debates e interlocuções entre pesquisadores da cidade e estado do Rio de Janeiro com aqueles de São Paulo e, em particular, o entrecruzamento de interlocuções acadêmicas sobre “a periferia” e “a favela”. | No Rio de Janeiro, “a periferia” e “a favela” caracterizavam, dos anos 1970 aos 1990, distintos problemas públicos e formas sociais urbanas (Valladares, 2005) de territórios da pobreza (Machado da Silva, 2008; Leite, 2015). Nos anos de 2000, observamos uma série de ressignificações destas categorias que podem ser relacionadas com mobilizações coletivas - culturais (Rocha e Araujo, 2013), religiosas (Machado, 2013) e/ou relacionadas com reações às intervenções e políticas habitacionais, grandes empreendimentos e programa de segurança pública - as Unidades de Polícia Pacificadora (Miagusko, 2012, Machado, op. cit.) -, ou ainda, novas interlocuções entre acadêmicos atuando no Rio de Janeiro e em São Paulo, em particular. Nas décadas anteriores, “periferia” designava territórios de pobreza e áreas morais da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, raramente incluindo os da capital, e distinguiam-se experiências de “pobreza urbana” intra e extra capital – as “cidades dormitórias” sendo um caso emblemático. As duas categorias, “favela” e “periferia”, se referiam ao que Machado da Silva (2013) denominou de “periferias internas” e “periferias externa”. Nos anos de 2000, houve uma redefinição destes quadros morais e cognitivos e tal distinção se diluiu. Diferentes arenas públicas se formam na RMRJ em torno de manifestações artísticas-culturais como os “saraus periféricos”, igrejas pentecostais, ou assuntos relacionados com a “violência urbana”, a “violência política” e a segurança pública, colocando em contato e, por vezes, aproximando um conjunto de atores não apenas da capital. No verbete, proponho explorar resumidamente três não exaustivas dimensões da reconfiguração das problematizações, significados e agenciamentos da “favela” com a “a periferia”, imbricando-as: 1. As mobilizações artística-culturais “periféricas” dos anos 2000, especialmente os saraus “periféricos”, que ocorriam em favelas da capital e em diversos munícipios da RMRJ - inspirados de experiências de “saraus periféricos” de São Paulo; 2. As consequências de políticas e programas estatais acima descritos; 3. Os debates e interlocuções entre pesquisadores da cidade e estado do Rio de Janeiro com aqueles de São Paulo e, em particular, o entrecruzamento de interlocuções acadêmicas sobre “a periferia” e “a favela”. | ||
Referências bibliográficas | == Referências bibliográficas == | ||
GUSFIELD, Joseph. The culture of public problems: Drinking-driving and the symbolic Order. Chicago: University of Chicago Press, 1981. | |||
LEITE, Márcia Pereira. 2015. “De territórios da pobreza a territórios de negócios: dispositivos de gestão das favelas cariocas em contexto de ‘pacificação’”. In: Patrícia Birman; Márcia Leite; Carly Machado & Sandra Carneiro (orgs.), Dispositivos urbanos e trama dos viventes: ordens e resistências. Rio de Janeiro: Editora FGV . pp. 377-401 | LEITE, Márcia Pereira. 2015. “De territórios da pobreza a territórios de negócios: dispositivos de gestão das favelas cariocas em contexto de ‘pacificação’”. In: Patrícia Birman; Márcia Leite; Carly Machado & Sandra Carneiro (orgs.), Dispositivos urbanos e trama dos viventes: ordens e resistências. Rio de Janeiro: Editora FGV . pp. 377-401 | ||
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Edição atual tal como às 14h11min de 8 de agosto de 2023
Autoria: Jussara Freire.
Introdução[editar | editar código-fonte]
Neste verbete, proponho analisar alguns dos recentes pontos de interseções entre o “problema favela” e o “problema periferia” no debate público da cidade do Rio de Janeiro, descrevendo momentos em que estes foram tematizados nos últimos dez anos. O objetivo é identificar alguns segmentos temporais em que estes dois problemas públicos (Guslfield, 1981) se aproximaram e se encontraram ao passo de se tornarem frequentemente equivalentes no espaço público.
No Rio de Janeiro, “a periferia” e “a favela” caracterizavam, dos anos 1970 aos 1990, distintos problemas públicos e formas sociais urbanas (Valladares, 2005) de territórios da pobreza (Machado da Silva, 2008; Leite, 2015). Nos anos de 2000, observamos uma série de ressignificações destas categorias que podem ser relacionadas com mobilizações coletivas - culturais (Rocha e Araujo, 2013), religiosas (Machado, 2013) e/ou relacionadas com reações às intervenções e políticas habitacionais, grandes empreendimentos e programa de segurança pública - as Unidades de Polícia Pacificadora (Miagusko, 2012, Machado, op. cit.) -, ou ainda, novas interlocuções entre acadêmicos atuando no Rio de Janeiro e em São Paulo, em particular. Nas décadas anteriores, “periferia” designava territórios de pobreza e áreas morais da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, raramente incluindo os da capital, e distinguiam-se experiências de “pobreza urbana” intra e extra capital – as “cidades dormitórias” sendo um caso emblemático. As duas categorias, “favela” e “periferia”, se referiam ao que Machado da Silva (2013) denominou de “periferias internas” e “periferias externa”. Nos anos de 2000, houve uma redefinição destes quadros morais e cognitivos e tal distinção se diluiu. Diferentes arenas públicas se formam na RMRJ em torno de manifestações artísticas-culturais como os “saraus periféricos”, igrejas pentecostais, ou assuntos relacionados com a “violência urbana”, a “violência política” e a segurança pública, colocando em contato e, por vezes, aproximando um conjunto de atores não apenas da capital. No verbete, proponho explorar resumidamente três não exaustivas dimensões da reconfiguração das problematizações, significados e agenciamentos da “favela” com a “a periferia”, imbricando-as: 1. As mobilizações artística-culturais “periféricas” dos anos 2000, especialmente os saraus “periféricos”, que ocorriam em favelas da capital e em diversos munícipios da RMRJ - inspirados de experiências de “saraus periféricos” de São Paulo; 2. As consequências de políticas e programas estatais acima descritos; 3. Os debates e interlocuções entre pesquisadores da cidade e estado do Rio de Janeiro com aqueles de São Paulo e, em particular, o entrecruzamento de interlocuções acadêmicas sobre “a periferia” e “a favela”.
Referências bibliográficas [editar | editar código-fonte]
GUSFIELD, Joseph. The culture of public problems: Drinking-driving and the symbolic Order. Chicago: University of Chicago Press, 1981.
LEITE, Márcia Pereira. 2015. “De territórios da pobreza a territórios de negócios: dispositivos de gestão das favelas cariocas em contexto de ‘pacificação’”. In: Patrícia Birman; Márcia Leite; Carly Machado & Sandra Carneiro (orgs.), Dispositivos urbanos e trama dos viventes: ordens e resistências. Rio de Janeiro: Editora FGV . pp. 377-401
MACHADO, Carly. (2013), "A igreja ajuda a UPP, e a UPP ajuda a igreja: reflexões sobre pacificação, religião e política a partir de uma igreja Assembleia de Deus na Baixada Fluminense". Trabalho apresentado no 37º Encontro Anual da ANPOCS. Águas de Lindóia, São Paulo.
Machado da Silva, Luiz Antonio. Vida sob cerco – violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Faperj, 2008.
_______. A tensão favela-cidade: o caso do Rio de Janeiro. Paper apresentado no II CIHEL - Congresso internacional de habitação no espaço lusófono, 2013, Lisboa. Livro de atas 2013 - II CIHEL, I CCRSEEL. LNEC - Lab. Nac. de Eng. Civil, 2013. v. 1, pp. 176-176.
MIAGUSKO, Edson. “Chatuba não é favela”: margens, representações sociais e UPP’s no Rio de Janeiro” In: Anais do 36º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), 2012b.
ROCHA, L. M. ; ARAUJO, E. . "Tudo é cultura": jovens moradores de favelas e participantes de projetos culturais discutem cultura e segregação territorial. In: Jorge Luiz Barbosa; Caio Gonçalves Dias. (Org.). Solos Culturais. 1ed.Rio De Janeiro: Lia, 2013, v. 1, p. 109-123.
VALLADARES, Lícia do Prado. A invenção da favela:do mito de origem à favela.com. 1º edição. Rio de Janeiro: FGV, 2005.