Vozes da dor, da luta e da resistência das mulheres-mães de vítimas da violência de estado no Brasil (relatório): mudanças entre as edições
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Este relatório reúne os referenciais teórico-metodológicos, as principais reflexões e os resultados da pesquisa “Vozes de Dor, da Luta e da Resistência das Mulheres/Mães de Vítimas da Violência do Estado no Brasil”. | Este relatório reúne os referenciais teórico-metodológicos, as principais reflexões e os resultados da pesquisa “Vozes de Dor, da Luta e da Resistência das Mulheres/Mães de Vítimas da Violência do Estado no Brasil”. Trata-se de uma pesquisa colaborativa entre pesquisadoras da Universidade de Harvard, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e do Movimento Independente Mães de Maio, um movimento social formado por mães de vítimas dos “Crimes de Maio”, após o massacre cometido pela Polícia Militar do Estado de São Paulo e por grupos de extermínio ligados à polícia militar em maio de 2006. | ||
Autoria: Raiane Patrícia Severino Asumpção, Yanilda Maria Gonzalez, Debora Maria da Silva, Aline Lucia de Rocco Gomes, Edna Carla Souza Cavalcante, Nívia do Carmo Raposo, Rute Fiuza, Valeria Aparecida de Oliveira Silva, Silvana Martins Costa.<ref>Conteúdo reproduzido pela equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco. Fonte: [https://repositorio.unifesp.br/items/522c59ae-c104-445c-93df-9f67e2f021e9 Repositório UNIFESP]</ref> | |||
Trata-se de uma pesquisa colaborativa entre pesquisadoras da Universidade de Harvard, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e do Movimento Independente Mães de Maio, um movimento social formado por mães de vítimas dos “Crimes de Maio”, após o massacre cometido pela Polícia Militar do Estado de São Paulo e por grupos de extermínio ligados à polícia militar em maio de 2006. | |||
Autoria: Raiane Patrícia Severino Asumpção, Yanilda Maria Gonzalez, Debora Maria da Silva, Aline Lucia de Rocco Gomes, Edna Carla Souza Cavalcante, Nívia do Carmo Raposo, Rute Fiuza, Valeria Aparecida de Oliveira Silva, Silvana Martins Costa. | |||
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== Introdução == | == Introdução == | ||
<blockquote>O movimento exigiu da academia essa obrigatoriedade de nós estarmos dentro da situação, acompanhando a pesquisa. Até porque primeiramente o Ministério Público ele deu para nós essa responsabilidade de fazer as investigações próprias [das mortes dos nossos filhos]. Ele falou ‘faça suas próprias investigações,’ então nós aprendemos a ser pesquisadoras, nós começamos a colher passo a passo para tentar desenhar de que forma foram assassinados. (Relato de Débora Maria da Silva)</blockquote>A pesquisa atual buscou aprofundar uma pergunta que surgiu dessa primeira experiência de aproximação do Movimento Independente Mães de Maio com o grupo de pesquisa do CAAF/ Unifesp: a morte prematura de um grande número de mães de vítimas do massacre de maio de 2006. Conforme relata uma das mães que integrou a equipe de pesquisa como pesquisadora social:<blockquote>Encontramos também alguns endereços que a gente chegava e perguntava pela mãe, e a mãe já tinha falecido. Então a gente começou a ficar assustada com aquilo que a gente viu, vimos assim que umas oito mães que tinha morrido… Então quando eu me deparei com as mortes de mães do movimento e com as mortes das mães que nós encontramos [na pesquisa], não tinha como, eu não queria adoecer dessa forma. Eu estava achando que as nossas mortes são tudo semelhantes, [causadas] pela tristeza, né? E aí eu achei melhor ter essa possibilidade de ter essa contemplação dentro da pesquisa. (Relato de Débora Maria da Silva)</blockquote>Assim, a pesquisa apresentada neste relatório visou compreender as experiências de adoecimento, a ação política e as transformações da vida cotidiana vivenciadas por mães de vítimas da violência de Estado no Brasil, utilizando um referencial teórico-metodológico fundamentado na educação popular (Assumpção 2020; Assumpção, Silva e Rocco 2018), que possibilita a construção coletiva do conhecimento e o protagonismo das vozes e as narrativas das mulheres afetadas pela violência de Estado e, ao mesmo tempo, incorporá-las como parte da equipe que elaborou a pesquisa, coletando e analisando os dados. | O trabalho de pesquisa nasceu da aproximação do Movimento Independente Mães de Maio com o grupo de pesquisa do Centro de Arqueologia e Antropologia Forense (CAAF), da Unifesp, como desdobramento de outro processo de pesquisa-ação realizado anteriormente (Caaf-Unifesp, 2019), que evidenciou a necessidade de aprofundar a discussão, em uma perspectiva dialética, sobre o sofrimento, o adoecimento, a luta e a resistência das mulheres/ mães em decorrência da violência de Estado.<blockquote>O movimento exigiu da academia essa obrigatoriedade de nós estarmos dentro da situação, acompanhando a pesquisa. Até porque primeiramente o Ministério Público ele deu para nós essa responsabilidade de fazer as investigações próprias [das mortes dos nossos filhos]. Ele falou ‘faça suas próprias investigações,’ então nós aprendemos a ser pesquisadoras, nós começamos a colher passo a passo para tentar desenhar de que forma foram assassinados. (Relato de Débora Maria da Silva)</blockquote>A pesquisa atual buscou aprofundar uma pergunta que surgiu dessa primeira experiência de aproximação do Movimento Independente Mães de Maio com o grupo de pesquisa do CAAF/ Unifesp: a morte prematura de um grande número de mães de vítimas do massacre de maio de 2006. Conforme relata uma das mães que integrou a equipe de pesquisa como pesquisadora social:<blockquote>Encontramos também alguns endereços que a gente chegava e perguntava pela mãe, e a mãe já tinha falecido. Então a gente começou a ficar assustada com aquilo que a gente viu, vimos assim que umas oito mães que tinha morrido… Então quando eu me deparei com as mortes de mães do movimento e com as mortes das mães que nós encontramos [na pesquisa], não tinha como, eu não queria adoecer dessa forma. Eu estava achando que as nossas mortes são tudo semelhantes, [causadas] pela tristeza, né? E aí eu achei melhor ter essa possibilidade de ter essa contemplação dentro da pesquisa. (Relato de Débora Maria da Silva)</blockquote>Assim, a pesquisa apresentada neste relatório visou compreender as experiências de adoecimento, a ação política e as transformações da vida cotidiana vivenciadas por mães de vítimas da violência de Estado no Brasil, utilizando um referencial teórico-metodológico fundamentado na [[Educação Popular|educação popular]] (Assumpção 2020; Assumpção, Silva e Rocco 2018), que possibilita a construção coletiva do conhecimento e o protagonismo das vozes e as narrativas das mulheres afetadas pela violência de Estado e, ao mesmo tempo, incorporá-las como parte da equipe que elaborou a pesquisa, coletando e analisando os dados. | ||
A partir do referencial teórico-metodológico utilizado na pesquisa fica evidente o papel imprescindível da voz e do protagonismo das pessoas diretamente atingidas pela violência de Estado. Com o objetivo de entender as dinâmicas compartilhadas e as divergências nas experiências com a violência de Estado em diferentes territórios, a equipe de pesquisa inclui mães de vítimas da violência de Estado em quatro estados brasileiros: Bahia, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo. | A partir do referencial teórico-metodológico utilizado na pesquisa fica evidente o papel imprescindível da voz e do protagonismo das pessoas diretamente atingidas pela violência de Estado. Com o objetivo de entender as dinâmicas compartilhadas e as divergências nas experiências com a violência de Estado em diferentes territórios, a equipe de pesquisa inclui mães de vítimas da violência de Estado em quatro estados brasileiros: Bahia, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo. | ||
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ASSUMPÇÃO, Raiane Patrícia Severino et al. Vozes da dor, da luta e da resistência das mulheres/mães de vítimas da violência de estado no Brasil. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo, 2024. | |||
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Edição das 17h02min de 11 de novembro de 2024
Este relatório reúne os referenciais teórico-metodológicos, as principais reflexões e os resultados da pesquisa “Vozes de Dor, da Luta e da Resistência das Mulheres/Mães de Vítimas da Violência do Estado no Brasil”. Trata-se de uma pesquisa colaborativa entre pesquisadoras da Universidade de Harvard, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e do Movimento Independente Mães de Maio, um movimento social formado por mães de vítimas dos “Crimes de Maio”, após o massacre cometido pela Polícia Militar do Estado de São Paulo e por grupos de extermínio ligados à polícia militar em maio de 2006.
Autoria: Raiane Patrícia Severino Asumpção, Yanilda Maria Gonzalez, Debora Maria da Silva, Aline Lucia de Rocco Gomes, Edna Carla Souza Cavalcante, Nívia do Carmo Raposo, Rute Fiuza, Valeria Aparecida de Oliveira Silva, Silvana Martins Costa.[1]
Introdução
O trabalho de pesquisa nasceu da aproximação do Movimento Independente Mães de Maio com o grupo de pesquisa do Centro de Arqueologia e Antropologia Forense (CAAF), da Unifesp, como desdobramento de outro processo de pesquisa-ação realizado anteriormente (Caaf-Unifesp, 2019), que evidenciou a necessidade de aprofundar a discussão, em uma perspectiva dialética, sobre o sofrimento, o adoecimento, a luta e a resistência das mulheres/ mães em decorrência da violência de Estado.
O movimento exigiu da academia essa obrigatoriedade de nós estarmos dentro da situação, acompanhando a pesquisa. Até porque primeiramente o Ministério Público ele deu para nós essa responsabilidade de fazer as investigações próprias [das mortes dos nossos filhos]. Ele falou ‘faça suas próprias investigações,’ então nós aprendemos a ser pesquisadoras, nós começamos a colher passo a passo para tentar desenhar de que forma foram assassinados. (Relato de Débora Maria da Silva)
A pesquisa atual buscou aprofundar uma pergunta que surgiu dessa primeira experiência de aproximação do Movimento Independente Mães de Maio com o grupo de pesquisa do CAAF/ Unifesp: a morte prematura de um grande número de mães de vítimas do massacre de maio de 2006. Conforme relata uma das mães que integrou a equipe de pesquisa como pesquisadora social:
Encontramos também alguns endereços que a gente chegava e perguntava pela mãe, e a mãe já tinha falecido. Então a gente começou a ficar assustada com aquilo que a gente viu, vimos assim que umas oito mães que tinha morrido… Então quando eu me deparei com as mortes de mães do movimento e com as mortes das mães que nós encontramos [na pesquisa], não tinha como, eu não queria adoecer dessa forma. Eu estava achando que as nossas mortes são tudo semelhantes, [causadas] pela tristeza, né? E aí eu achei melhor ter essa possibilidade de ter essa contemplação dentro da pesquisa. (Relato de Débora Maria da Silva)
Assim, a pesquisa apresentada neste relatório visou compreender as experiências de adoecimento, a ação política e as transformações da vida cotidiana vivenciadas por mães de vítimas da violência de Estado no Brasil, utilizando um referencial teórico-metodológico fundamentado na educação popular (Assumpção 2020; Assumpção, Silva e Rocco 2018), que possibilita a construção coletiva do conhecimento e o protagonismo das vozes e as narrativas das mulheres afetadas pela violência de Estado e, ao mesmo tempo, incorporá-las como parte da equipe que elaborou a pesquisa, coletando e analisando os dados.
A partir do referencial teórico-metodológico utilizado na pesquisa fica evidente o papel imprescindível da voz e do protagonismo das pessoas diretamente atingidas pela violência de Estado. Com o objetivo de entender as dinâmicas compartilhadas e as divergências nas experiências com a violência de Estado em diferentes territórios, a equipe de pesquisa inclui mães de vítimas da violência de Estado em quatro estados brasileiros: Bahia, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo.
Esta pesquisa colaborativa, portanto, empregou várias estratégias de pesquisa participativa para identificar e analisar as consequências da violência de Estado por meio das narrativas de mães de vítimas de violência de Estado. A finalidade desta pesquisa e a metodologia empregada foi explicada por uma pesquisadora social da equipe:
“Mostrar que as histórias delas também são importantes, que merecemos ser lidas e referenciadas dentro da academia, me traz alegria. Me renova a esperança, principalmente se essa leitura fizer parte da formação de profissionais que atendam as massas. Pois acredito que nossos estudos podem contribuir também para o fim do racismo institucional.” (Relato de Nívia Raposo)
Relatório completo
Referências bibliográficas
ASSUMPÇÃO, Raiane Patrícia Severino et al. Vozes da dor, da luta e da resistência das mulheres/mães de vítimas da violência de estado no Brasil. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo, 2024.
Ver também
- Relatórios e pesquisas sobre chacinas
- Chacinas no Brasil
- Mães de Acari: a luta jurídica no âmbito internacional
- ↑ Conteúdo reproduzido pela equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco. Fonte: Repositório UNIFESP