Feirinha da Pavuna: mudanças entre as edições
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Edição atual tal como às 19h25min de 31 de outubro de 2023
A Feirinha da Pavuna, localizada no Rio de Janeiro, existe há mais de 50 anos e é um centro de comércio popular e sociabilidade. Oferece uma ampla variedade de produtos, desde alimentos até serviços, e ficou famosa devido a uma música de Jovelina Pérola Negra. A região ao redor da feira enfrenta desafios como desigualdades raciais, baixo acesso à educação e altos índices de violência urbana.
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Sobre[editar | editar código-fonte]
A Feirinha da Pavuna acontece há mais de 50 anos na saída das estações de Trens e Metrô da Pavuna[1]. Se estende desde a Pavuna, no município do Rio de Janeiro, até o Centro do município de São João de Meriti, cidade vizinha. Funciona todos os dias da semana e é um local onde moradores da região frequentam cotidianamente para abastecer suas dispensas e passear. A Feirinha é um centro estratégico de distribuição de mercadorias aos moradores da região, mas também aos usuários dos serviços de trens, ônibus, vans e metrôs da localidade. Da mesma forma que representa um dos mais expressivos espaços de comércio popular do município, proporciona um importante local de sociabilidade entre os clientes.
Conta com uma variedade enorme de produtos, que vão desde frutas e legumes até vestimentas, produtos de limpeza[2], serviços de corte de cabelo, reparo de eletrônicos e afins. A Feira é integrada ao comércio da região, se estendendo por diversos supermercados e lojas de utensílios para o lar, roupas, galerias comerciais, bancos, cursos de línguas, escolas e restaurantes. Fica próxima à Praça do Skate e ao Sesc, em São João de Meriti.
Ficou famosa por conta da música cantada por Jovelina Peróla Negra, que frequentou o local na década de 1980. A cantora, que também trabalhava como doméstica em Copacabana e morava na cidade de Belford Roxo, passava todos os dias pela feirinha ao voltar para casa. Nesse momento, comprava frutas, verduras, legumes, comia alguma coisa, tomava uma cerveja e passava algum tempo. Nesse espaço, testemunhou muitas coisas, inclusive brigas (que se manifestam nos versos da música Feirinha da Pavuna[3], quando ela relata uma grande confusão).
Hoje, em homenagem a cantora, a Arena Carioca do bairro leva seu nome. Foi declarada, em 2013, Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial da Cidade do Rio de Janeiro, pela Lei 524/2014[4]. Hoje, mais de 130 barracas são fixas na feira.
O Contexto Local[editar | editar código-fonte]
Fonte: Rio On Watch[2]
No entorno da feira livre há muitas favelas, de onde vêm muitos de seus frequentadores, dentre elas os Complexos da Pedreira, do Chapadão, de Barros Filho e o de Acari. A Pavuna ocupa um lugar de destaque no imaginário carioca, em parte construído pela história oral da cultura popular negra, como no funk Endereço dos Bailes, mas também pela narrativa midiática da pobreza e da violência. É um bairro culturalmente e numericamente negro: 62,07% da Pavuna é negra, seja no asfalto (57,07%) ou na favela (68,71%), de acordo com dados levantados a partir do censo de 2010 por pesquisadores da UFRJ:
Pavuna | Brancos | Negros | Outros | Total |
36,94 | 62,07 | 0,99 | 100 | |
Asfalto | 41,94 | 57,17 | 0,89 | 100 |
Favela | 30,17 | 68,71 | 1,12 | 100 |
A interseccionalidade das desigualdades entre pavunenses não é um fenômeno isolado do bairro. A cidade do Rio de Janeiro evidencia a mesma tendência histórica. Há diferenças entre negros e brancos quanto a postos de trabalho disponíveis, à empregabilidade, à renda e ao acesso à educação. De acordo com dados do Censo 2010, enquanto no Rio de Janeiro 61,16% dos trabalhadores empregados formalmente completaram o ensino médio, na Pavuna, o número é de apenas 50%. Níveis de escolaridade menores resultam em salários menores e possibilidades de acesso mais limitadas. Logo, partindo-se ainda dos dados do Censo 2010, dispostos desta vez, no gráfico abaixo, é possível afirmar que o bairro da Pavuna, majoritariamente negro, tem moradores com níveis de educação mais baixos que a média da cidade, assim limitando a empregabilidade dos pavunenses e forçando a média da renda na região também para baixo da média da cidade do Rio.
O racismo estrutural junto à falta de acesso à educação, e educação de baixa qualidade de forma geral, funcionam como pilar central da reprodução da desigualdade racial. São condições convenientes para a manutenção de si mesmas, elas se auto reproduzem, se auto mantêm. É como se o concreto de uma viga de um prédio se auto preservasse, eliminando a necessidade de constante manutenção. É, provavelmente, por ser tão desigual que o bairro carrega em sua história a luta e a resistência cotidiana, na busca diária pela sobrevivência.
O bairro também enfrenta altos índices de violência urbana, outro produto do abandono histórico que também impacta desproporcionalmente pavunenses negros, pobres e das favelas do bairro. Em 2017, organizações como Fogo Cruzado, Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Diretoria de Análise de Políticas Públicas (Dapp) levantaram, a partir de dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), que a região da grande Pavuna—e bairros do entorno—é a mais violenta da cidade do Rio de Janeiro. Com muita frequência acontece violência armada, com forte participação do Estado[2].
Música - Feirinha da Pavuna [editar | editar código-fonte]
- ↑ https://mapadecultura.com.br/manchete/feirinha-da-pavuna
- ↑ 2,0 2,1 2,2 Feirinha da Pavuna, Patrimônio da População Negra do Rio de Janeiro [PODCAST] - RioOnWatch, Disponível em: https://rioonwatch.org.br/?p=54316
- ↑ Jovelina Pérola Negra, Feirinha da Pavuna, Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RsI-TmmgR6M
- ↑ Lei Municipal 524/2014, Disponível em: https://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/contlei.nsf/50ad008247b8f030032579ea0073d588/220ffb6bcd6750fb83257d560047d385?OpenDocument