Movimento Luta
Para compor este verbete, realizamos uma entrevista por meio do Google Docs com Mayara Gomes, uma participante ativa do Movimento Luta. Antes de apresentar a entrevista, incluirei o logotipo do movimento e o manifesto.
MANIFESTO - MOVIMENTO LUTA
Somos filhas e filhos de Tereza de Benguela, Malcon X, Mohamad Ali, Zumbi dos Palmares, Dandara e Carolina Maria de Jesus, negros e negras que se levantaram e arrebentaram as correntes.
Somos os povos indígenas e originários Tupinambás, Yanomamis, Pataxós e Guarani que lutam bravamente pela Vida e para proteger a nossa biodiversidade.
Somos as mulheres que são linhas de frente nas suas casas e nas ruas, guerreiras que se organizam contra todas as formas de opressão.
Somos as Favelas e Periferias, das famílias resistências e dos quilombos urbanos.
Somos as cores da bandeira LGBTQIA+ na sua liberdade de amar e de ser.
E trazemos na fé e na liberdade religiosa nossa esperança de um futuro melhor.
O Movimento Luta surge da sede de transformação e contrução de um mundo justo e igualitário para todos e todas. Entre becos, vielas e guetos em um único tom, ecoa: QUEM LUTA, MOVIMENTA!
A seguir, apresentarei as perguntas feitas a ela e as respostas fornecidas.
Entrevista com Mayara Gomes do Movimento Luta
1. Quando e como o Movimento Luta foi fundado? Quais foram os principais eventos que levaram à sua criação?
Nosso movimento, o Movimento Luta, foi criado em 2021 através da Escola Popular de Boxe, um
projeto social dedicado a oferecer aulas de boxe, esportes e cultura para crianças e adolescentes do
Cavalão. Durante a pandemia, com os impactos da desigualdade social e econômica exacerbados,
percebemos como a fome estava afetando severamente as comunidades. Em resposta, formamos o
Comitê Popular do Alimento, reunindo moradores e lideranças locais para discutir e propor ações
concretas de combate à fome. Distribuímos mais de 100 cestas agroecológicas e também iniciamos
ações voltadas para a justiça social e a formação de núcleos comunitários para fortalecer a
organização popular. Estamos comprometidos em promover mudanças significativas e positivas em
nossa comunidade.
2. Quais são os objetivos principais do Movimento Luta e como vocês trabalham para alcançá-los?
Os principais objetivos do Movimento Luta são promover a justiça social e combater as desigualdades
sociais que determinam o acesso aos direitos e à democracia, condicionados pela classe social e raça.
Para alcançar esses objetivos, nos organizamos em núcleos populares de juventude e comunitários,
visando fomentar a auto-organização, a construção de agendas de lutas e o avanço da consciência
crítica e emancipatória.
A fundação do Movimento Luta está intimamente ligada ao projeto social Escola Popular de Boxe,
localizado na comunidade do Cavalão, em Niterói. Este projeto utiliza o boxe como ferramenta de
transformação social, proporcionando formação esportiva e novas perspectivas de vida para crianças e
adolescentes de 5 a 18 anos. A Escola Popular de Boxe criou uma rede de moradores da comunidade e
impulsionou debates sobre o combate à fome, moradia digna e outras pautas sociais e comunitárias.
Por meio dessas iniciativas, buscamos criar uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos tenham
acesso aos direitos fundamentais e possam participar ativamente da democracia.
3. Quais são os projetos e ações mais importantes realizados pelo Movimento Luta e como eles impactam a comunidade local?
Principais Ações do Movimento Luta e Seus Impactos nas Comunidades
O Movimento Luta tem sido um pilar essencial nas comunidades de Niterói, promovendo diversas
iniciativas que fortalecem o tecido social e combatem desigualdades. Destacam-se:
- Horta Comunitária : Incentivo à agricultura urbana sustentável e promovendo a segurança
alimentar local.
- Batalha do Ringue - Batalha de Rimas Hip Hop: Fomento à expressão cultural das periferias e o
engajamento da juventude através da música e da poesia.
- Organização de Grêmios Estudantis Fortalecendo estudantes para participação ativa na
organização de luta pelos direitos à educação pública, gratuita e de qualidade.
- Festival Novembro Negro : Celebrando e valorizando a cultura afro-brasileira, enquanto enfrenta o
racismo estrutural.
- Biblioteca Comunitária : Promoção do acesso ao conhecimento e incentivando a leitura como
ferramenta de transformação social.
- Organização de Núcleos Populares e de Juventude : Mobilização das comunidades para lutar por
direitos sociais e justiça.
- Ações Educativas em Cidadania e Política : Formação de cidadãos para o exercício pleno de seus
direitos e deveres democráticos.
- Combate à Fome com Distribuição de Cestas Solidárias : Apoio às famílias em situação de
vulnerabilidade com alimentos e assistência.
- “Cuidando de quem Cuida” Ações Sociais para o Cuidado Coletivo das Mulheres : Formação de
espaços seguros e promovendo a saúde física e emocional das mulheres negras da comunidade.
Essas iniciativas não apenas melhoram as condições de vida local, mas também impulsionam os
moradores a serem agentes de mudança em suas próprias realidades. O Movimento Luta se constitui
como coletivo de solidariedade e resistência em Niterói.
4. Qual é a proposta pedagógica do Movimento Luta? Quais são os princípios educacionais e políticos que vocês defendem?
Nossa proposta pedagógica e princípios políticos de delineiam com base nos tópicos abaixo:
1. Autonomia e Auto-organização: Promovemos a autonomia dos indivíduos e comunidades,
incentivando a auto-organização como meio de enfrentar desafios sociais e políticos.
2. Educação Popular: Adotamos a educação popular como método educativo, valorizando o
conhecimento construído coletivamente e a experiência de vida como fonte de aprendizado.
3. Consciência Crítica: Buscamos desenvolver uma consciência crítica nas pessoas, capacitando-as a
analisar estruturas de poder, desigualdades sociais e a buscar transformações sociais.
4. Emancipação: Nosso objetivo é promover a emancipação das pessoas, capacitando-as não apenas
para entender o mundo, mas também para transformá-lo de acordo com princípios de justiça social e
igualdade.
Princípios Políticos:
1. Justiça Social: Lutamos pela igualdade de direitos e oportunidades, combatendo todas as formas de
discriminação e exclusão social.
2. Combate às Desigualdades: Nosso movimento se opõe às desigualdades sociais que limitam o
acesso aos direitos fundamentais, como saúde, educação, moradia e trabalho digno.
3. Democracia Participativa: Defendemos uma democracia participativa, onde todas as pessoas
possam contribuir ativamente na construção de políticas públicas e na tomada de decisões que afetam
suas vidas.
4. Anti-racismo e Anti-opressão: Combatemos o racismo, sexismo, LGBTfobia e outras formas de
opressão, promovendo a diversidade e a igualdade de direitos para todas as pessoas.
5. Pertencimento e Coletividade: Valorizamos a solidariedade entre os indivíduos e a organização
coletiva como formas de fortalecer nossa luta por justiça social.
Esses princípios e propostas pedagógicas guiam nossas ações e mobilizações, buscando
transformações profundas e na sociedade.
5. Esses projetos educacionais são direcionados a quais grupos ou faixas etárias dentro da favela?
Nosso projeto inclui uma diversidade de pessoas, que vão de 4 anos de idade a 80 anos.
6. Quantas pessoas, aproximadamente, são impactadas diretamente pelos projetos do Movimento Luta? O movimento consegue envolver uma ampla gama de moradores da favela?
Nossos projetos alcançam mais de 300 pessoas, seja através de nossos cursos de Capacitação para
Mulheres, pela Batalha do Ringue, pelos nossos eventos culturais e pelas ações de combate à fome.
7. O Movimento Luta tem alguma relação com igrejas ou outras instituições religiosas na comunidade? Se sim, como essas instituições influenciam ou participam das atividades do movimento?
O Movimento Luta se organiza com instituições religiosas na comunidade, como o núcleo de
mulheres evangélicas e um terreiro de Umbanda na Comunidade do Vital Brazil, em Niterói. Essas
parcerias são fundamentais para combater opressões e promover debates críticos e cidadãos, além de
desenvolver projetos educativos contra o racismo religioso. Essas colaborações demonstram como o
movimento integra diferentes grupos e práticas para alcançar seus objetivos de justiça social e
conscientização comunitária.
8. Há apoio de líderes religiosos locais ao Movimento Luta? De que forma esse apoio se manifesta?
O Movimento Luta recebe apoio significativo de líderes religiosos locais, incluindo figuras como Irmã
Elaine, Missionária Débora e Mãe Simonete de Oxum. Este apoio se manifesta através da cessão de
espaços e tempo para discussões e debates sobre o combate às opressões, reconhecendo a fé como
uma mobilizadora dos direitos humanos. Essas parcerias permitem que o movimento amplie suas
iniciativas educativas e promova um diálogo inclusivo e enriquecedor dentro da comunidade,
fortalecendo assim os laços entre justiça social e práticas religiosas.
9. Como os moradores das favelas percebem o Movimento Luta? Eles apoiam as iniciativas do movimento?
Os moradores das favelas percebem o Movimento Luta de forma positiva e geralmente apoiam suas
iniciativas. A participação ativa dos moradores nas reuniões, debates e ações como mobilizadores e
assumindo tarefas na organização demonstra um engajamento significativo. Isso reflete um
reconhecimento das contribuições do movimento para combater opressões e promover direitos
humanos nas comunidades, fortalecendo assim os laços de coletividade e cooperação dentro desses
espaços.
10. Existem exemplos de como o movimento tem recebido apoio concreto dos moradores?
O Movimento Luta tem recebido apoio concreto dos moradores de diversas formas. Por exemplo, dois
moradores que são professores se engajam ativamente nos cursos de capacitação para mulheres,
contribuindo com seu conhecimento e experiência. Além disso, nossas ações sociais, como atividades
de estética e recreação, contam com a ajuda de voluntários locais, incluindo trancistas, barbeiros,
designers de sobrancelha, instrutores de Tae Kwon Do e voluntários na recreação infantil. Os
moradores também demonstram seu apoio mobilizando e contribuindo com alimentos para essas
atividades, mostrando um forte comprometimento com os programas e iniciativas do movimento na
comunidade.
11. Quais foram os impactos mais significativos das ações do Movimento Luta na vida dos moradores das favelas?
Os impactos das ações do Movimento Luta na vida dos moradores das favelas têm sido profundos e
transformadores. Os cursos de capacitação para mulheres têm desempenhado um papel crucial na
empregabilidade e geração de renda, empoderando as participantes e fortalecendo sua autonomia. As
ações sociais do projeto "Cuidando de Quem Cuida" também têm sido fundamentais, proporcionando
atenção e cuidado às mulheres que muitas vezes não recebem esse suporte devido às opressões sociais
e de gênero. Essas iniciativas não apenas melhoram a qualidade de vida das mulheres, mas também
promovem um ambiente mais justo e inclusivo nas comunidades.
A horta comunitária e o sacolão solidário têm gerado impactos significativos nas comunidades. A
horta comunitária oferece acesso a alimentos frescos e saudáveis, promovendo a segurança alimentar
e a nutrição adequada. Além disso, a horta fortalece o senso de comunidade, pois moradores se
envolvem no cultivo e cuidado das plantas, criando laços e promovendo a soberania alimentar.
O sacolão solidário, por sua vez, assegura que famílias em situação de vulnerabilidade tenham acesso
a alimentos básicos. Essa iniciativa não só alivia a fome, mas também promove a solidariedade e o
apoio mútuo entre os moradores. Juntas, a horta comunitária e o sacolão solidário contribuem para a
melhoria da qualidade de vida, a redução da insegurança alimentar e o fortalecimento da coesão social
nas favelas.
12. O movimento realiza alguma forma de avaliação dos resultados de seus projetos e iniciativas? Quais métricas ou indicadores são utilizados para medir o sucesso das ações?
O Movimento Luta realiza avaliações sistemáticas dos resultados de seus projetos e iniciativas.
Utilizamos fichas de presença em todas as atividades para monitorar a participação. Além disso,
realizamos reuniões semanais de avaliação, onde discutimos os processos e identificamos áreas de
melhoria. Além disso, realizamos escuta ativa com o público alvo das atividades a fim de ouvir os
feedbacks necessários. Essas práticas nos permitem medir o sucesso de nossas ações, ajustar
estratégias conforme necessário e garantir que estamos atendendo efetivamente às necessidades da
comunidade.