Kitutu a arte de fazer quitutes

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Quitandeira

Kitutu é um expressão africana do século XIX, em que nesses século ainda por afro-brasileiras quituteiras oriundas de Bahia ao chegarem na zona portuária do Rio de janeiro comercializam pratos típicos. Em que vemos nessa relação entre história e patrimônio cultural como se deu a preservação dessa prática cultural em meio a adversidades que mulheres dessa etnia sobreviveram mantendo essa tradição africana no brasil. Essas figuras importantes para a cultura afro-brasileira: “As quituteiras, por exemplo, tinham grande mobilidade no espaço urbano e preservavam a tradição de preparar comidas populares, como angu, espécie de polenta com pedaços de carne, como no tempo em que eram escravas”, explica Lúcia Helena. A pesquisadora constatou esse processo de migração a partir da análise de cerca de 300 exemplares de sete periódicos paulistas lidos pela comunidade negra, abrangendo o período que vai de 1886 a 1926. Esses jornais evidenciavam a frustração dos escravos e libertos com a busca de emprego e o reconhecimento como cidadãos. Talvez essas profissionais tenham sido os primeiros vendedores ambulantes por escravos e ex-escravos.

Autoria: Luiza e Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.

Sobre[editar | editar código-fonte]

O Kitutu é uma iguaria de origem africana, trazida para o Brasil durante o período colonial pelos povos escravizados, especialmente de nações da África Ocidental, como Angola e Congo. Essa comida, rica em história e significado cultural, é um dos exemplos da profunda influência africana na culinária brasileira. A história do Kitutu reflete não apenas a adaptação dos africanos escravizados às condições do Brasil colonial, mas também a preservação de práticas alimentares ancestrais que sobreviveram à escravidão e se integraram à formação da cozinha brasileira.

Origem do Kitutu[editar | editar código-fonte]

A origem do Kitutu está associada às tradições alimentares de vários povos africanos, em especial os de Angola, onde pratos à base de grãos, carnes e temperos fortes eram comuns. No Brasil, as condições adversas enfrentadas pelos africanos escravizados levaram à adaptação de receitas e ingredientes, mas muitas técnicas e sabores originais foram preservados. O Kitutu, nesse contexto, se destaca por sua simplicidade e resistência cultural. Feito geralmente com milho, feijão-fradinho ou outros grãos, misturados com carnes e temperos tradicionais, o prato era uma forma de aproveitar ao máximo os ingredientes disponíveis e garantir uma refeição nutritiva em tempos de escassez[1].

O nome "Kitutu" tem raízes nas línguas bantas, faladas pelos grupos trazidos da África Central. Na prática, o Kitutu não era apenas um prato, mas um elemento central nas práticas de convivência comunitária entre os escravizados, servindo como alimento comum em momentos de descanso e celebração dentro dos quilombos e senzalas. Isso reforça o papel do Kitutu como símbolo de resistência cultural, uma forma de manter viva a conexão com as tradições alimentares africanas em um contexto de opressão e tentativa de apagamento cultural[2].

Valor histórico e cultural do Kitutu[editar | editar código-fonte]

A preservação do Kitutu na culinária brasileira é um exemplo claro da resiliência cultural africana. Mesmo com as imposições alimentares e a precariedade enfrentada pelos escravizados, a comunidade negra conseguiu adaptar e manter aspectos de sua gastronomia viva no Brasil. O Kitutu, por ser um prato simples e versátil, se espalhou rapidamente entre as comunidades africanas, sendo muitas vezes preparado em celebrações religiosas e festas dentro dos quilombos e, posteriormente, nas festas populares.

O valor cultural do Kitutu também está ligado à sua associação com o candomblé e outras religiões de matriz africana. Nessas tradições, a comida desempenha um papel central tanto nas oferendas aos orixás quanto nas celebrações comunitárias. O Kitutu, assim como outros pratos de origem africana, era preparado em momentos de festividade e louvor, carregando consigo um profundo significado espiritual e cultural[3].

Além disso, o Kitutu é frequentemente citado como parte da tradição oral, transmitida entre gerações de mulheres negras que, ao longo dos séculos, desempenharam o papel de guardadoras da culinária ancestral. Essas mulheres, muitas vezes empregadas como cozinheiras em casas grandes ou em contextos urbanos, foram responsáveis por difundir o Kitutu e outros pratos da cultura afro-brasileira, ajudando a moldar o que hoje é conhecido como culinária brasileira[4].

Papel do Kitutu na culinária brasileira[editar | editar código-fonte]

O Kitutu, como tantos outros pratos afro-brasileiros, foi incorporado de forma marcante à culinária brasileira, especialmente nas regiões Nordeste e Sudeste do país, onde a presença africana foi mais significativa. Sua simplicidade e versatilidade fizeram com que o prato se tornasse comum entre as classes populares. O Kitutu é um prato que varia de acordo com a região e os ingredientes disponíveis, podendo incluir desde carnes secas até vegetais e tubérculos.

No Nordeste, por exemplo, o Kitutu foi assimilado à tradição da comida de feiras e mercados, onde pratos rápidos e baratos eram vendidos para trabalhadores e viajantes. No Rio de Janeiro, o Kitutu tornou-se um alimento consumido nos espaços urbanos, especialmente nas áreas periféricas e favelas, onde a cultura negra é mais forte e o uso de ingredientes simples era uma forma de garantir a subsistência[5].

Com o passar do tempo, o Kitutu também passou a ser celebrado como parte da identidade gastronômica afro-brasileira, especialmente em eventos culturais e em restaurantes que buscam resgatar e promover a cozinha tradicional afrodescendente. Hoje, o Kitutu é reconhecido não apenas por seu valor nutricional, mas também como uma importante manifestação da herança cultural africana no Brasil.

Kitutu na atualidade[editar | editar código-fonte]

Atualmente, o Kitutu é mais do que um prato de resistência; ele é uma símbolo da identidade afro-brasileira. Iniciativas de valorização da culinária afrodescendente têm ajudado a resgatar o Kitutu e a dar-lhe o devido reconhecimento, não apenas como parte da história dos africanos escravizados, mas como uma contribuição fundamental para a riqueza da culinária brasileira.

Em um cenário de crescente valorização das tradições alimentares afro-brasileiras, o Kitutu se destaca como um símbolo de resistência, memória e celebração da herança africana. Sua importância vai além do campo gastronômico: ele é um testemunho da força de um povo que, mesmo em condições de opressão, conseguiu preservar e transformar sua cultura em algo vivo e fundamental para a identidade nacional[6].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Comida de Resistência (coletivo)

Dia 15, Priscila de Jesus lança livro em sábado de axé, música e gastronomia

Cozinha Afetiva Comunitária Sustentável

  1. Santos, A. M. Sabores da Resistência: Culinária Africana no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2015, p. 89.
  2. Silva, E. P. Quilombos e Alimentação: A Resistência Culinária dos Escravos no Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 2016, pp. 45-47.
  3. Nascimento, A. O Quilombismo: Documentos de uma Militância Pan-Africanista. Rio de Janeiro: Vozes, 1980, p. 92.
  4. Moura, C. Herança Africana na Cozinha Brasileira. Recife: Editora do Recife, 2018, pp. 101-103.
  5. Almeida, D. S. Comida de Feira: A Gastronomia Afro-Brasileira nas Feiras Livres do Nordeste. Salvador: Editora UFBa, 2020, p. 112.
  6. Carneiro, S. Identidade e Resistência na Culinária Afro-Brasileira. In: Cultura Negra e Alimentação, São Paulo: Fundação Palmares, 2021, p. 67.