2º Encontro Providência ODS3
Autoria do Verbete: Galo da Providência
As favelas, frequentemente associadas à carência e à vulnerabilidade, são também espaços de resistência e inovação, onde moradores e coletivos desenvolvem propostas e soluções para enfrentar os desafios cotidianos. A luta por direitos básicos, como saúde, moradia e segurança, é uma constante nesses territórios, onde a violação desses direitos é uma realidade persistente. No entanto, além de reivindicar garantias constitucionais, os movimentos sociais das periferias têm se destacado por apresentar alternativas concretas para a construção de políticas públicas mais eficazes e inclusivas.
Abordagens do Tema:
A origem da favela carioca como alternativa de moradia para os pobres e a constituição do preconceito contra seus moradores
As favelas surgiram no final do século XIX, com ex-combatentes da Guerra de Canudos e populações negras recém-libertas ocupando morros e terrenos abandonados. Desde o início, essas ocupações foram estigmatizadas, associadas à marginalidade e ao crime. A segregação socioespacial consolidou o preconceito contra os moradores de favela, reforçando desigualdades estruturais.
As tentativas de apagamento das favelas nos mapas da cidade do Rio de Janeiro
Historicamente, as favelas foram invisibilizadas nos registros oficiais. Até 1970, não apareciam nos mapas da cidade, sendo tratadas como "vazios urbanos". No início dos anos 2000, a remoção do termo "favela" de serviços de mapeamento digital, como o Google Maps, exemplifica a continuidade desse apagamento, que tem implicações diretas na falta de políticas públicas e reconhecimento desses territórios.
O que determina a percepção, pela população, do que é favela?
A percepção de um território como favela vai além de critérios urbanísticos. A precariedade de infraestrutura, a ausência do Estado e a violência policial contribuem para essa categorização. A criminalização da pobreza e o estigma social são fatores determinantes na forma como a sociedade vê e trata as favelas.
A importância da valorização do termo favela
O termo "favela" carrega um histórico de resistência e identidade cultural. Movimentos sociais e organizações comunitárias reivindicam o uso do termo para fortalecer a luta por direitos e combater a narrativa pejorativa. A favela é um espaço de produção cultural, econômica e social, e sua valorização contribui para o reconhecimento das lutas e conquistas de seus moradores.
Metodologia
O 2º Encontro de Providência ODS3, realizado pelo Fórum de Saúde Integral, destacou-se pela metodologia participativa e dialógica, centrada na leitura coletiva de uma cartilha produzida pelo Movimento Negro Unificado (MNU) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A cartilha, intitulada "Saúde na Favela", serviu como ponto de partida para reflexões e debates sobre saúde numa perspectiva antirracista, mediados por Hugo Oliveira, Fernando Zulu e Edilma de Carvalho. O material apresentou conceitos, dados e contextos sobre direitos sociais e a realidade das periferias, estimulando os participantes a compartilharem experiências, opiniões e soluções para os desafios enfrentados em seus territórios.
O encontro foi iniciado com boas-vindas e a distribuição da cartilha, que orientou as discussões. Em seguida, um vídeo da gerente da Clínica da Família Nélio de Oliveira Paula Queiroz foi exibido para complementar as reflexões. A dinâmica do fórum foi marcada por uma intensa participação, com relatos pessoais carregados de vivacidade e autenticidade, trazendo à tona histórias de resistência, superação e luta. Essas contribuições não apenas enriqueceram o debate, mas também inspiraram a construção de soluções coletivas, fortalecendo o senso de comunidade e a união entre os participantes.
Um dos destaques do evento foi a estratégia de convidar os homens para participarem ativamente, uma resposta devolutiva às demandas levantadas pelas mulheres no primeiro fórum. Na ocasião, as mulheres expressaram gratidão pelo convite, mas questionaram por que as preocupações com o território e a saúde recaíam predominantemente sobre elas. Aproveitando a campanha Novembro Azul, o fórum buscou sensibilizar os homens sobre a importância de se envolverem nos desafios locais, evitando que as mulheres ficassem ainda mais sobrecarregadas. A presença de familiares masculinos para discutir a conscientização sobre o câncer de próstata foi um passo significativo nessa direção.
O câncer de próstata, tema central da campanha Novembro Azul, ocupa a segunda posição entre os tipos de câncer mais frequentes no Brasil, sendo o mais incidente entre os homens. Em 2020, foram registrados 15.841 óbitos, com um risco de 15,30 mortes a cada 100 mil homens. A pauta foi destacada como urgente, reforçando a importância da prevenção e do diagnóstico precoce.
A metodologia do fórum valorizou as experiências pessoais, criando um espaço seguro para o compartilhamento de histórias marcadas por lutas e conquistas. Esses relatos serviram como motivação para a ação coletiva, reforçando a ideia de que soluções eficazes surgem da união e da troca de saberes. Ao final do encontro, um lanche foi servido para promover a comunhão e o fortalecimento dos vínculos entre os participantes.
Essa abordagem não apenas informou, mas também empoderou os envolvidos, transformando o debate em uma ferramenta de mobilização e construção de políticas públicas mais inclusivas e eficazes. O 2º Encontro de Providência ODS3 reforçou o compromisso com a saúde integral e a luta por equidade, destacando a importância da participação comunitária e do diálogo como pilares para a transformação social. Ao incluir os homens na discussão, o fórum deu um passo importante para promover a corresponsabilidade e a equidade de gênero nas ações de saúde e cuidado no território.
Veja no link vídeo do encontro.
https://www.instagram.com/p/DCVMFSqMeZS/
Referências e Conceitos-chave
- História das favelas: Surgimento no final do século XIX, com ex-combatentes da Guerra de Canudos e populações negras recém-libertas.
- Segregação socioespacial: Associações negativas construídas historicamente em torno das favelas.
- Apagamento cartográfico: Invisibilidade das favelas nos mapas oficiais até 1970 e remoção do termo de plataformas digitais no século XXI.
- Criminalização da pobreza: Estigma social e a violência policial como fatores de marginalização das favelas.
- Resistência e identidade cultural: O termo “favela” como símbolo de luta por direitos e reconhecimento.