Vila Canoas

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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Foto: David Berkowitz

Vila Canoas, localizada em São Conrado (Zona Sul do Rio de Janeiro), é uma pequena favela cercada por áreas de preservação ambiental e territórios como Rocinha e Vidigal. Sua origem remonta à década de 1920, quando funcionários do Gávea Golf Club, após serem demitidos, ocuparam as encostas próximas ao Rio Canoas. Embora tenha recebido intervenções urbanas, cerca de 40% dos imóveis permanecem em áreas de risco, sem solução definitiva para reassentamento.

Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Sobre o território

Localizada no bairro de São Conrado, na Zona Sul do Rio de Janeiro, Vila Canoas está situada entre o asfalto e a floresta. A favela tem como vizinhas Pedra Bonita, Rocinha e Vidigal, todas encostas do Parque Nacional da Tijuca.

A ocupação da região remonta ao final do século XIX, quando São Conrado era dominado por cafezais da Fazenda São José da Lagoinha da Gávea. A paisagem começou a se transformar no início do século XX com a implantação da Estrada da Gávea e Avenida Niemeyer.

O marco decisivo para a formação de Vila Canoas ocorreu na década de 1920 com a criação do Golf & Country Club, espaço de lazer da elite carioca. A política habitacional do clube, que permitia a ocupação temporária por funcionários, gerou um processo de expulsão posterior, quando estes eram demitidos, que levou à ocupação espontânea das encostas próximas ao Rio Canoas. Essa dinâmica de expulsão-reocupação criou as bases para o surgimento tanto de Pedra Bonita quanto, posteriormente, de Vila Canoas.

A constante ameaça de remoções durante o processo de urbanização de São Conrado influenciou a organização comunitária. Os moradores desenvolveram uma "identidade de resistência", materializada na criação da Associação de Moradores com apoio da Pastoral das Favelas. Essa mobilização permitiu a permanência na área, mesmo frente às pressões do crescimento imobiliário do bairro.

A aceleração da urbanização na segunda metade do século XX, com a construção do Túnel Dois Irmãos e da Estrada Lagoa-Barra, transformou radicalmente São Conrado. O surgimento de grandes condomínios, hotéis de luxo e a urbanização da orla da praia criaram um contraste ainda mais acentuado com a pequena Vila Canoas, que manteve suas dimensões territoriais originais, porém com intenso processo de verticalização.

A favela foi incluída no programa Favela-Bairro na década de 1980. Posteriormente, em 2000, o programa Bairrinho trouxe melhorias significativas na infraestrutura urbana, caracterizando-se pela ênfase na participação comunitária no processo de urbanização. Essas intervenções, no entanto, não resolveram questões estruturais como a ocupação de áreas de risco e a necessidade de regularização fundiária.[1]

Foto: David Berkowitz

Dados

Nome: Vila Canoas

Código no SABREN: 375

Data de Cadastramento: 22/09/1981

Acesso Principal: Estrada da Canoa

Bairro: São Conrado

Região Administrativa: Lagoa

Região de Planejamento: Zona Sul

Área de Planejamento: 2

URBANIZAÇÃO

Situação: Em complexo

Complexo: Vila Canoas

Porte: entre 101 e 500 domicílios

Grau de Urbanização: Assentamento parcialmente urbanizado

Programa de Urbanização: Bairrinho

População e domicílios

Ano População Domicílios Fonte
2000 1.618 458 IBGE - Censo Demografico 2000
2010 758 254 IBGE - Censo Demográfico 2010
2022 1.008 449 IPP com base em IBGE - Censo Demográfico 2022

Mobilização comunitária

Ong Para Ti

Desenvolvem atividades educativas e recreativas para o público infantil, incluindo acompanhamento pedagógico, práticas esportivas como judô, iniciação em informática, além de organizar recepções para visitantes turísticos.[1]

Associação de Mulheres de Vila Canoas (AMUVICA)

Oferece atividades para a população todas as idades, como exercícios físicos, tratamento odontológico e oficinas de artesanato e crochê. [1]

Centro de Integração Comunitária (CIC)

Desenvolve oficinas musicais e de atuação, aulas de inglês e esportes como balé e ginástica, além de trabalhar com o Projeto Mosaico, que enfeita as ruas do território por meio de mosaicos feitos por mutirões.

Ações na pandemia

Para ajudar na prevenção da disseminação da Covid-19, a Associação de Moradores e Amigos de São Conrado entregou três mil garrafinhas de 30 ml de álcool gel para moradores da Rocinha e de Vila Canoas. Junto com as embalagens, foram distribuídos panfletos com orientações para conter o coronavírus, como lavar bem e frequentemente as mãos, higienizar o ambiente com álcool gel e ficar alerta aos sintomas.[2]

Infraestrutura e remoções

O caso de Vila Canoas ilustra os desafios enfrentados por moradores que residem em locais de alto risco geológico. Apesar de décadas de estudos e promessas de intervenção, cerca de 40% dos imóveis da favela permanecem em áreas suscetíveis a deslizamentos e inundações, evidenciando a ineficácia das políticas habitacionais e a falta de ações concretas de reassentamento.

Na década de 1990, Vila Canoas foi alvo do projeto-piloto Bairrinho, uma iniciativa da prefeitura do Rio de Janeiro que visava a urbanização de favelas com até dois mil habitantes. Com financiamento internacional e participação comunitária, a localidade recebeu melhorias como pavimentação, rede de esgoto e iluminação pública. No entanto, o projeto não resolveu a questão das famílias residentes sobre o Rio Canoas – um problema já identificado em 1997, quando 140 casas foram mapeadas em área de risco.

Duas décadas depois, um novo levantamento (2013) constatou a expansão do problema: 182 imóveis (incluindo moradias e igrejas) estão em situação de vulnerabilidade. A ausência de reassentamento reflete a negligência do poder público, que, apesar de reconhecer o risco, não implementou soluções efetivas.

As tentativas de reassentamento esbarraram em obstáculos políticos e ambientais. Na década de 1990, a proposta de realocação em área doada pelo Gávea Golf Club foi abandonada devido a resistências internas no clube. Anos depois, a prefeitura recusou uma nova oferta do terreno sob alegação de restrições ambientais (o local está em área de Mata Atlântica acima da cota 60).

Mapa

  1. 1,0 1,1 1,2 KAMADA, Denise Mayume Pereira. A CONSTRUÇÃO DA FAVELA TURÍSTICA: O CASO DE VILA CANOAS, RJ. Dourados, MS: Universidade Federal da Grande Dourados, 2015. Disponível em: https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/bitstream/prefix/1534/1/DeniseMayumePereiraKamada.pdf. Acesso em: 15 jul. 2024.
  2. RÁDIO RIO DE JANEIRO. Associação de Moradores de São Conrado vai doar álcool gel para Rocinha e Vila Canoas. Rádio Rio de Janeiro Digital, Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://radioriodejaneiro.digital/noticia/associacao-de-moradores-de-sao-conrado-vai-doar-alcool-gel-para-rocinha-e-vila-canoas/. Acesso em: 12 abr. 2025.

Ver também

História da Rocinha Urbanização de Favelas - Duas Experiências em Construção (livro) Pereirão Cruzada São Sebastião