União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

União de Negras e Negros pela Igualdade (UNEGRO) é uma organização fundanda em Salvador (BA), em 1988, na Biblioteca Pública de Barris e realiza ações contra o extermínio da população negra e na luta antirracista, de gênero e classe.

Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco a partir de informações retiradas das redes de comunicação oficiais do grupo.
Logo da Unegro

Sobre[editar | editar código-fonte]

Foi na Salvador de 1988, dentro da Biblioteca Pública dos Barris, que surgiu a União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro). Faziam apenas três anos que o Brasil havia saído da repressão e autoritarismo da Ditadura Militar (1964-1985) e o fervor por liberdade e democracia tomavam conta das ruas. Diante desse cenário de entusiasmo revolucionário, a entidade, criada por negras e negros marxistas, tornou as ruas como o seu principal campo de atuação, realizando ações contra o extermínio da população negra e na luta antirracista, de gênero e classe.

História[editar | editar código-fonte]

A Unegro foi fundada em 14 de julho de 1988, na cidade de Salvador, na Bahia, em reunião que aconteceu no interior da Biblioteca Pública do Estado, no bairro de Barris, num rompimento da noção de que o racismo era um fenômeno isolado de separação entre brancos e negros na sociedade brasileira. Trinta e três anos depois, a entidade ainda precisa lutar por problemas que já poderiam ter sido superados se as raízes do  racismo não fossem tão profundas no país. A UNEGRO está organizada em 25 estados da Federação mais o Distrito Federal, entre os quais (AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RN, RO, RR, RS, SC SE, SP, TO).[1]

PRESIDENTE DO MOVIMENTO: ÂNGELA GUIMARÃES

Ângela Guimarães

🔸Socióloga e Feminista Negra

🔸Presidenta Nacional da @unegrobrasil

🔸Professora da Rede Estadual

🔸Militante do PCdoB

Em 14 de Julho de 2020, celebramos 32 anos de luta incansável contra o racismo! A Unegro é uma organização pioneira na denúncia do genocídio da juventude negra, na interface de raça, classe e gênero, de protagonismo de pessoas LGBT como dirigentes, temos uma mulher como Presidenta. Nesse vídeo de celebração, lideranças nacionais, fundadores/as, parlamentares, dão esse recado:

Trajetória[editar | editar código-fonte]

Nesses 30 anos de ativismo, a entidade vem consolidando um projeto de crítica social não só contra o racismo e o sexismo, mas, também, contra o capitalismo. Com quase 12 mil filiados em 25 estados da Federação, a atual direção nacional da Unegro foi eleita durante seu 5º Congresso Nacional, realizado em São Luís, no Maranhão, em junho de 2016. Como organização do Movimento Negro, a entidade enfatiza a articulação entre as lutas de raça, de gênero e de classe, uma vez que acreditávamos que isso tinha que estar articulado com a visão de classe e com uma visão das relações de gênero, porque qualquer projeto de superação do racismo no Brasil teria que estar conjugado também com superação de outras formas de opressão que justificam essas hierarquias racial, social e de gênero, que fundamentam a estrutura social brasileira. Essa foi a razão da criação da Unegro. (ALBERTI,PEREIRA, 2005, p. 5).

Para cumprir esses objetivos, a Unegro utiliza os fundamentos teóricos de escritores e escritoras de origem afro-brasileira, como o sociólogo Clóvis Moura. Clóvis Moura que foi um sociólogo da práxis negra cujas indagações eram os dilemas da constituição da nação com destaque para a marginalização da população negra num processo que chamou de um racismo “tipicamente à brasileira”. No entanto, e diferentemente de Gilberto Freyre (1900-1987), Moura buscou valorizar a resistência dos negros e seu importante papel na transformação ou destruição de sua condição de escravo, portanto, seu caráter dinâmico na história do País em que deu à análise dos quilombos e das numerosas insurreições escravas uma nova interpretação da formação da sociedade brasileira. Conforme Mesquita (2003, p. 557), “Clóvis Moura observou que a sociedade brasileira se formou através de uma contradição fundamental, senhores versus escravos, e em sendo as demais contradições decorrentes dessa, pautadas por extrema violência, aspecto central do sistema escravista”.

Propósitos[editar | editar código-fonte]

Missão[editar | editar código-fonte]

  • Empenhar-se na preservação e desenvolvimento da cultura negra;
  • Defender o livre direito de escolha da orientação sexual dos homens e mulheres negras;
  • Defender os direitos culturais da população negra;
  • Externar solidariedade e apoio à luta dos povos africanos e povos oprimidos de todo o mundo;
  • Defender de uma sociedade justa, fraterna, sem exploração de classe, de raça ou baseada na exploração entre os sexos. Esses objetivos foram aprovados numa época de grandes agitações políticas e ideológicas no Brasil, pois o País acabara de sair de quase 25 anos de ditadura militar

Visão[editar | editar código-fonte]

Lutar pelo exercício da cidadania em todos os setores da vida social do País;

Valores[editar | editar código-fonte]

Lutar contra o racismo em todas as suas formas de expressão;

Participação institucional[editar | editar código-fonte]

A Unegro tem buscado traçar estratégias de ação política que consigam extrair benefícios para a população negra e gerar alternativas de combate ao racismo, preconceito, à discriminação racial imposto à populção negra, bem como na busca de justiça social a todos indistintamente. Essa intensificação se dá através de formulação de diagnóstico e propostas para superação do racismo, ações comunitárias, articulação em fóruns do movimento social e do Movimento Negro, participação nos conselhos paritários - governo e sociedade civil - de formulação política para promoção da igualdade racial ou promoção universal de direitos. Na esfera governamental , a Unegro compôs o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), Conselho Nacional de Políticas de Juventude (Conjuve), o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), o Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS). A Unegro fez parte, ainda, de comissões temáticas voltadas para acompanhar e monitorar políticas públicas específicas como por meio do Programa Diálogos Governo – Sociedade Civil: Brasil Sem Miséria, realizado em 2012, e no Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (CONATRAP), instituído pelo Decreto nº 7.901, de 04 de fevereiro de 2013, pelo Ministério da Justiça. A entidade justifica essa participação da seguinte forma: Esta convicção política sustenta as raízes do nosso crescimento, respeitabilidade e aliança com amplos setores progressistas da sociedade. Sobre este compromisso apoiamos as nossas responsabilidades políticas e institucionais com o firme propósito de construção de uma sociedade com mais democracia, livre, justa e solidária. (UNEGRO). Em 2009, a Unegro participou da I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) e, em seguida, passou a fazer parte do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).[2]

Campanha antirracismo.

Ativismo Social[editar | editar código-fonte]

Na sequência dessas ações institucionais e políticas, a Unegro deu continuidade a uma série de articulações junto aos demais movimentos sociais para além da questão racial. Numa estratégia focada na ampliação das lutas sociais não só de caráter universal, mas, e bem como, voltadas para tematizar a luta contra toda forma de opressão e contra o sistema capitalista, seja por meio da solidariedade internacional, marchas e protestos políticos que foram e são realizados tendo em perspectiva a unidade popular e o fortalecimento da classe trabalhadora e dos segmentos identitários. Anda no período constitucional, a Unegro realizou três seminários: o “Seminário em Defesa da Criança e do Adolescente,” cujo objetivo foi o de envolver entidades do Movimento Negro e do movimento popular em torno da defesa do Estatuto da Criança e do Adolescente, que acabara de ser criado nessa época, o Seminário “Raízes da Discriminação Racial”, planejado para fazer um balanço e uma reflexão sobre as relações raciais no Brasil a partir de um perspectiva histórica, e o Seminário, em agosto de 1990, com o tema “Criança e Aids,” para refletir sobre a incidência dessa doença na população infantil, ambos na cidade de Salvador, na Bahia.

Em seguida, no ano de 1991, a Unegro participou da Comissão Organizadora do I ENEN - (Encontro Nacional de Entidades Negras), - que deliberou pela criação da Conen – Coordenação Nacional de Entidades Negras, iniciativa na qual a Unegro tornou-se membro da sua estrutura diretiva. Ainda nesse ano, a Unegro participou do processo de construção do II

Encontro Nacional de Mulheres Negras - Estratégias e Perspectivas, também na capital da Bahia. Já em 1992, são fundadas seções da Unegro nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1994, nos dias 13 e 14 de maio, aconteceu o I Seminário “O Negro na Educação”. Para celebrar os 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares, no dia 20 de novembro de 1995, realizou-se em Brasília a “Marcha de 300 anos de Imortalidade de Zumbi dos Palmares”. O evento teve como ponto principal a cobrança junto ao governo brasileiro de políticas públicas de elevação da qualidade de vida da população negra. No âmbito cultural, a Unegro lançou, em 1995, o “Troféu Clementina de Jesus”, com o objetivo de homenagear mulheres e homens negros que se destacaram na defesa e afirmação social e racial do povo negro na Bahia e participou do Congresso Continental dos Povos Negros das Américas, realizado em São Paulo. No âmbito internacional, entre os dias 06 e 8 de Dezembro de 1996, uma delegação da Unegro participou do II Encontro Afrocaribenho e Latinoamericano de Mulheres, realizado em São José da Costa Rica. Já a “Marcha 24 horas Contra o Desemprego, a Violência e Pela Paz,” realizada em 17 de abril de 1999, teve apoio do movimento Hip Hop. Ano que foi fundada, ainda, a Unegro em Minas Gerais e que aconteceu o II Encontro Nacional de Entidades Negras, no Rio de Janeiro. Durante as celebrações do “Brasil São Outros 500”, em 2000, a Unegro publicou a primeira edição de sua agenda institucional com fatos protagonizados por negros na história de formação da sociedade brasileira. Também, em novembro desse ano, a Unegro enviou representação para a Conferência da CLPL (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), na cidade mineira de Belo Horizonte. Visando afirmar seu caráter internacionalista e sua preocupação com a solidariedade internacional, a Unegro esteve presente no dia 24 de novembro de 2000 no Encontro de Embaixadores dos Países Africanos e do Caribe, em Brasília, e na Conferência Preparatória Regional das Américas, em Santiago, no Chile. Enviando cinco representantes para a “III Conferência Mundial Contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância,” promovida pela ONU (Organização das Nações Unidas), em Durban, na África do Sul, em 2001. A partir de 2003, logo após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Unegro compõe e ajuda a construir diversos instrumentos de participação popular e controle social, como as conferências temáticas das Cidades, Saúde, Segurança Alimentar, Juventude, Direitos Humanos, LGBT, Educação, Promoção da Igualdade Racial, tanto na qualidade de delegada como na condição de convidada e membra de comissão organizadora. No período compreendido entre 2000 a 2018, a Unegro participou, no Brasil e no exterior, das edições do Fórum Social Mundial (FSM), e de duas edições do Fórum Social Brasileiro (FSB). Sendo que em 2008 a entidade organizou o “I Colóquio Internacional de Mulheres Negras”, cujo evento teve a participação de delegações de oito países. Em 2009, participou do “Rutas de Aprendizaje pasos, tones y sones: experiencias exitosas de valorización de musicalidades afrolatinoamericanas como activos culturales, en contextos rurales,” promovida pela Fundação Acua, Procasur, do Chile, e em parceria com o Fundo de Desenvolvimento da Agricultura e do “Etnoeducación para el Desarrollo: una visión desde lo afro”, em Guayaquil, no Equador, organizado pelo Convênio Andrés Bello. Como resultado do encontro “Etnoeducación para el Desarrollo,” no Equador foi aprovada a proposta do representante da Unegro, Alexandre Braga, de fundação da Organização Latino-Americana de Entidades Negras (OLAEN5 ), composta pelas equatorianas: Afroamerica XXI, Asoc de Mujeres Afroecuatorianas Luchando por la Igualdad, Centro Afro Guayaquil, Mujeres Progresistas, Desarrollo Afro Artesanal, Fundación de Desarrollo Social y Cultural Afroecuatoriano, Proyecto de Desarrollo Afroecuatoriano, Cámara Artesanal Esmeralda, Federación Unión Jaime Hurtado, Asociación de Mujeres Negras, Fundación Cimarrones Siglo XXI, Asoc. Nuevo Despertar, Fudine, Femuafro, Grupo de Jóvenes en la Lucha, Org. el Canalete, Asomuneg Provincia del Guayas, Fundacion de Negros del Ecuador “Gral Juan Otamendi,” as colombianas: Fushpac, Fundafro - Ineafro, Corporación Jorge Artel, Movimiento Cívico Social y Cultural, Valores de Nuestra Etnia; as chilenas: Organización Cultural y Social Afrochilena Lumbanga e Oraperle; as peruanas: Asoc. Cultural Afroyapatera e Lundu; a boliviana: Fundafro Pedro Andavarez Peralta; e as brasileiras: Unegro e Koinonia. A Olaen ainda segue como projeto para ser efetivado nos próximos encontros latino-americanos. Em 2012, a Unegro recebeu a premiação na categoria “Rescate de Valores Culturales,” da Corparación Procasur, do Chile. Em 2014, após o encerramento do Encontro Nacional de Mulheres da Unegro, em Vitória no Espírito Santo, as participantes emitiram a seguinte declaração: Para a Unegro, a maior distorção da democracia brasileira se dá no campo da representação política, daí a necessidade de reformas no sistema político, mais destacadamente a reforma política. Defendemos uma reforma que democratize a nação, incorpore o povo, fortaleça as instituições partidárias, garanta a presença de mulheres e negras nas listas partidárias. Para isso somaremos aos esforços dos movimentos sociais que crescentemente têm pautado a reforma política. ‘Por isso, defendemos a continuidade de Dilma Rousseff na Presidência da República com a certeza que aprofundará a mudança. (UNEGRO, 2014a)’.  Com essa Declaração, a Unegro se posicionou em prol da reeleição da presidenta Dilma Rousseff e, sem seguida, associou-se à Frente Brasil Popular contra o golpe de Estado que realizou o impeachment da presidenta, em 2016. Anteriormente à experiência da Frente Brasil Popular, a Unegro participou da CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais) 6 , fundada em 2003 para articular as lutas dos movimentos sociais, da cidade e do campo. A CMS congregou em suas fileiras as centrais sindicais, entidades estudantis e movimentos populares, feministas e negros.

Conclusão[editar | editar código-fonte]

Campanha Unegro.

Ao completar 30 anos de atuação política a Unegro, consolidou uma práxis negra no Brasil, seja por meio da participação em conselhos de políticas governamentais (Conselho Nacional de Assistência Social, Conselho Nacional de Política Cultural, Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial), seja em articulação com movimentos sociais, como Frente Brasil Popular, ou por meio da Convergência Negra, inspirada no sociólogo Clóvis Moura. Nessa trajetória de construção dessa práxis negra, a Unegro vem empreendendo um campo sociopolítico de recuperação da afirmação pela emancipação humana, portanto, de superação da sociedade de classes, e da confirmação da impossibilidade de um construto social plasmado no atual modelo social onde o capital exerce hegemonia. Pois não é possível viver sem racismo no capitalismo! Dessa forma, esse campo político joga por terra as elaborações das correntes pós-modernas ou identitárias que tentam negligenciar o principal obstáculo para consolidação desse projeto de uma sociedade sem racismo, sem machismo e sem preconceitos de sexo, a sociedade dos trabalhadores e trabalhadoras livremente associados, na medida em que se volta o olhar para o principal antagonismo que é a sobrevivência econômica e material dos povos, entre os quais os negros e negras. E cuja predominância, nos nossos dias, é a exploração dessas camadas e povos. Em prol dessa perspectiva, a articulação vem sendo realizada a partir de um olhar para além da simples luta contra o racismo, mas alinhada à construção de uma sociedade sem todas as formas opressão, em contraponto ao establishment e em prol da sociedade socialista, com um olhar de raça e de classe, e de gênero.

Defesa da vida e da igualdade! UNEGRO 32 Anos

Redes sociais[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]