Chacina da Candelária - 23 de julho de 1993
A Chacina da Candelária ocorreu na noite de 23 de julho de 1993, próximo à Igreja da Candelária, localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro. Neste crime, oito jovens moradores de rua que dormiam em frente à igreja foram assassinados à queima roupa por atiradores. Várias das outras setenta pessoas que dormiam nas ruas da região ficaram feridas com os disparos. Dentre indiciados, julgados e culpados, todos os responsáveis encontram-se atualmente em liberdade ou liberdade condicional. O caso foi listado pelo portal Brasil Online (BOL, 2015) e pela Superinteressante (2015) ao lado de outros crimes que "chocaram" o Brasil.
Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Este trabalho é uma parceria entre os grupos GENI/UFF, RADAR SAÚDE FAVELA e CASA (IESP-UERJ) com o Dicionário de Favelas Marielle Franco.
História[editar | editar código-fonte]
Na noite de 23 de julho de 1993, pouco antes da meia-noite, dois Chevettes com placas cobertas pararam em frente à Igreja da Candelária. Em seguida, os ocupantes atiraram contra dezenas de pessoas, a maioria adolescentes, que estavam dormindo nas proximidades da Igreja. Posteriormente, nas investigações, descobriu-se que os autores dos disparos eram milicianos. Como resultado, seis menores e dois maiores morreram e várias crianças e adolescentes ficaram feridos. Segundo estudos realizados por associações ligadas à organização Anistia Internacional, quarenta e quatro das setenta pessoas que dormiam nas ruas daquela região perderam a vida de forma violenta. Todas as vítimas eram pobres e negras.
Os mortos[editar | editar código-fonte]
Os nomes dos oito mortos no episódio encontram-se inscritos em uma cruz de madeira, erguida no jardim de frente da Igreja:
- Paulo Roberto de Oliveira, 11 anos
- Anderson de Oliveira Pereira, 13 anos
- Marcelo Cândido de Jesus, 14 anos
- Valdevino Miguel de Almeida, 14 anos
- "Gambazinho", 17 anos
- Leandro Santos da Conceição, 17 anos
- Paulo José da Silva, 18 anos
- Marcos Antônio Alves da Silva, 19 anos
Investigações[editar | editar código-fonte]
A investigação do ato levou até Wagner dos Santos, um dos adolescentes que sobreviveu, apesar de ter sido atingido por quatro tiros. Santos sofreria um segundo atentado em 12 de setembro de 1994 na Estação Central do Brasil e a partir de então, o Ministério Público o colocou no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas. Seu testemunho foi fundamental no reconhecimento dos envolvidos. Wagner deixou o país com a ajuda do governo federal e sofre com sérios problemas de saúde.
No decorrer do processo, foram indiciadas sete pessoas no total: o ex-Policial Militar Marcus Vinícius Emmanuel Borges, os Policiais Militares Cláudio dos Santos e Marcelo Cortes, o serralheiro Jurandir Gomes França, Nelson Oliveira dos Santos, Marco Aurélio Dias de Alcântara e Arlindo Afonso Lisboa Júnior.
- Cláudio, Marcelo e Jurandir foram inocentados no processo.
- Arlindo ainda não foi julgado pela chacina, tendo sido condenado a dois anos por ter em seu poder uma das armas do crime.
- Os outros três, que já foram condenados, permanecem em liberdade, beneficiadas por indulto ou em liberdade condicional:
- Marcus Vinicius Emmanuel Borges, ex-Policial Militar – foi condenado a 309 anos de prisão em primeira instância. Recorreu a sentença e, num segundo julgamento, foi condenado a 89 anos. Insatisfeito com o resultado, o Ministério Público pediu um novo julgamento e, em fevereiro de 2003, Emmanuel foi condenado a 300 anos, mas permanece em liberdade.
- Nelson Oliveira dos Santos – foi condenado a 243 anos de prisão pelas mortes da chacina e a 18 anos por tentativa de assassinato. Recorreu a sentença, sendo absolvido pelas mortes em um segundo julgamento, mesmo após ter confessado o crime. O Ministério Público recorreu e, no ano de 2000, Nelson foi condenando a 27 anos de prisão pelas mortes e foi mantida a condenação por tentativa de assassinato, somando uma pena de 45 anos. Nelson Oliveira dos Santos também já está solto. Atualmente ele está em liberdade condicional por outros crimes, segundo o Tribunal de Justiça do Rio.
- Marco Aurélio Dias de Alcântara – foi condenado a 204 anos de prisão e também está em liberdade condicional.
Memorial[editar | editar código-fonte]
Há em frente à igreja um pequeno monumento que relembra a chacina. Ele é constituído por uma cruz de madeira, que tem inscrito os nomes dos jovens assassinados, e uma placa de concreto. Aparentemente o memorial sofreu ações de vandalismo, pois está bastante danificado, desmembrado do seu suporte e com sua epígrafe ilegível.
Além disso, há referências ao episódio em vários locais na mídia e cultura. A chacina foi retratada em um episódio do programa Linha Direta da Rede Globo. Também é retratada, em formato de flashback, pelo protagonista do livro "O Imperador da Ursa Maior" de Carlos Eduardo Novaes. O documentário "Ônibus 174" de José Padilha e o filme "Última Parada 174", de Bruno Barreto, narram a história de Sandro Barbosa do Nascimento, sobrevivente da Chacina da Candelária que, sete anos mais tarde, protagonizou o sequestro ao ônibus da linha 174 da mesma cidade. Uma referência à chacina também é feita no jogo "Metal Gear Rising: Revengeance". Em uma conversa de CODEC, durante o ARQUIVO R-02, o personagem Kevin e o protagonista Raiden conversam sobre a situação de crianças de rua mencionando o caso.
Sobre a Chacina da Candelária[editar | editar código-fonte]
Autores: Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência
Na madrugada do dia 23 de julho de 1993, mais de 70 crianças e adolescentes dormiam nas proximidades da Igreja da Candelária, centro do Rio de Janeiro, quando foram surpreendidas por uma ação de extermínio. A “Chacina da Candelária” teve repercussão internacional e entrou para o calendário como um dos piores crimes cometidos contra os Direitos Humanos e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Crianças, adolescentes e jovens foram fuziladas sem a menor chance de defesa. As oito vítimas fatais foram Paulo Roberto de Oliveira (11 anos); Anderson de Oliveira Pereira (13); Marcelo Cândido de Jesus (14); Valdevino Miguel de Almeida (14); "Gambazinho" (17); Leandro Santos da Conceição (17) Paulo José da Silva (18); Marcos Antônio Alves da Silva (19). Outras dezenas saíram feridas. Não se sabe ao certo qual a motivação do massacre, mas indícios apontam acerto de contas e vingança, eliminação pura e simples, ou represália após assalto que teria sofrido a mãe de um policial. Wagner dos Santos, sobrevivente, tornou-se testemunha chave. Em 12 de setembro de 1994, pouco mais de um ano depois, Wagner foi vítima de um novo atentado por parte da polícia: seu corpo que tinha recebido quatro tiros, foi alvo de mais quatro disparos. Wagner foi inserido no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita). Em 2000, das 72 crianças e adolescentes apontadas no inquérito como sobreviventes, 44 haviam morrido de forma violenta. Inicialmente, foram indiciados os policiais militares Marcus Vinícios Emmanuel, Cláudio dos Santos e Marcelo Cortes e o serralheiro Jurandir Gomes França. Em 1996, o policial militar Nelson Oliveira dos Santos provocou uma reviravolta no caso ao confessar sua participação no crime e apontar outros responsáveis: além de Marcos Emmanuel (já preso), os policiais militares Marco Aurélio Dias de Alcântara e Arlindo Afonso Lisboa Júnior e o ex-policial Maurício da Conceição. Este último, expulso da polícia militar em 1990 por tortura, era conhecido como Sexta-Feira 13, e seria o líder do grupo; foi morto em 1994 em tiroteio com policiais civis da Divisão Anti-Sequestros (DAS). O depoimento de Nelson foi confirmado pelos demais e desencadeou a absolvição de Cláudio dos Santos, Marcelo Cortes e Jurandir Gomes França. Nelson Oliveira dos Santos, Marco Aurélio Dias de Alcântara, Marcos Vinícios Emmanuel foram condenados a 45, 204 e 300 anos de prisão, respectivamente. Arlindo Afonso Lisboa Júnior não foi a júri popular pela chacina; pegou dois anos de pena por ter em seu poder uma das armas usadas no crime. Atualmente os quatro estão em liberdade. Existiria ainda um quinto acusado, o policial militar Carlos Jorge Liaffa, não indiciado, mesmo tendo sido reconhecido por um dos sobreviventes e apesar da perícia comprovar que uma das cápsulas do crime foi disparada pela arma de seu padrasto.