Comunidades Ampliadas de Pesquisa-Ação: mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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As Comunidades Ampliadas de Pesquisa-Ação (CAP) são um método colaborativo de produção de conhecimento, focadas na Promoção Emancipatória da Saúde em territórios vulneráveis, como favelas. Elas visam valorizar os saberes locais, promover a transformação social e atuar como espaços de mediação entre a academia e as comunidades, enfrentando desafios como conflitos e desigualdades.

Autoria: Marcelo Firpo de Souza Porto, Fatima Pivetta, Marize Bastos da Cunha, Lenira Zancan

Definição[editar | editar código-fonte]

As Comunidades Ampliadas de Pesquisa-Ação (CAP) constituem um método participativo e colaborativo de produção compartilhada de conhecimentos desenvolvido pelo Laboratório Territorial de Manguinhos (LTM), um programa de extensão no âmbito da ENSP/Fiocruz. As CAP são dispositivos voltados a produzir conhecimentos e práticas para uma Promoção Emancipatória da Saúde em territórios vulnerabilizados e com exclusões radicais como as favelas [1] .

As favelas, assim como qualquer território em movimento marcado por exclusões e desigualdades, são vistos como lugares de lutas por reconhecimento e dignidade levadas por inúmeros coletivos, pessoas e movimentos com seus saberes e experiências. Por exemplo, ONGs, Igrejas, Associações de Moradores, organizações de mulheres, grupos de combate ao racismo e à violência, ou ainda relacionados a diversas manifestações culturais e políticas. A qualidade do território, em termos de direitos, condições de vida e saúde, expressam tais lutas em conjunto com a qualidade das ações institucionais e políticas públicas que atuam no lugar. Esta é a justificativa fundamental para a criação de comunidades ampliadas na produção de conhecimentos e práticas transformadoras [2] .

O Guia de Pesquisa da Comunidade Ampliada de Pesquisa-ação, que sistematiza a prática do LTM com as CAP, está disponível na plataforma Educare da Fiocruz. Link:  https://educare.fiocruz.br/resource/show?id=clo2m5K4

Objetivos[editar | editar código-fonte]

Um objetivo central das CAP, numa perspectiva emancipatória, é recuperar a potencialidade do princípio da participação, valorizar a autonomia, o poder de agenciamento e transformação social dos sujeitos locais. Estes são muitas vezes desconsiderados como portadores de conhecimentos e direitos por práticas acadêmicas excludentes e extrativistas. As CAP apostam na emergência do que Paulo Freire[3] denominou de inéditos viáveis, o tornar possível o que parece impossível, retomando a ideia da comunicação como um tornar comum, um compartilhamento de saberes, experiências e sentidos voltados à transformação e à dignidade.

Uma CAP opera por meio de encontros que, num dado período, reúnem pesquisadores da comunidade científica, no caso do LTM principalmente da Fiocruz, e moradores de favelas, membros e lideranças de organizações comunitárias, além de técnicos e profissionais que atuam no território. Nesse contexto, o grupo se reúne para discutir temas e problemas, apontando soluções e alternativas de ação de curto e médio prazos. Portanto, um primeiro passo, além da construção dos laços de confiança, solidariedade e respeito entre seus participantes, é a definição de situações-problemas considerados prioritários naquele momento a partir das necessidades e saberes dos participantes da CAP, principalmente aqueles que vivem e sofrem no território.

Funcionamento[editar | editar código-fonte]

As CAP se realizam por meio de oficinas como estratégia principal, organizadas para permitir a confrontação e integração de saberes, experiências e perspectivas na análise e proposição de soluções para problemas socioambientais e de saúde, bem como políticas públicas relevantes. Mas também nos trabalhos de campo, encontros, conversas e reuniões que compõem as diversas formas de apreensão do território, suas questões e seus desafios. Os produtos de uma CAP contribuem nas agendas e conteúdos das lutas comunitárias e ações de promoção da saúde em inúmeras questões, como moradia, saneamento urbano, transporte e problemas de saúde como tuberculose, dengue, acidentes, enchentes e violências. Também propiciam formas criativas de circulação e apropriação de informações e saberes dentro e fora dos territórios. Isso pode ser feito por meio de diversas linguagens e instrumentos, como cadernos, relatórios, cartilhas, vídeos e outros materiais para diferentes públicos[4], inclusive com o uso de redes sociais (facebook, WhatsApp e canais do Youtube) e participação em eventos culturais e políticos.

As CAP funcionam como espaços de mediação, confrontação e articulação de saberes acadêmicos e os saberes e experiências das pessoas que vivem, moram, trabalham e atuam nas favelas. Trata-se de um lugar de fronteiras, de encontros possíveis, traduções e articulações. As CAP, na medida do possível, devem incorporar sujeitos estratégicos por seu papel de mediação e articulação, como os agentes comunitários de saúde e os pesquisadores que moram ou são oriundos das favelas, ou ainda atuam em movimentos sociais, diluindo fronteiras rígidas. A CAP, enfim, se constitui em um caminho para compreender e buscar possíveis soluções para problemas que atingem um território.

Desafios[editar | editar código-fonte]

Nas trilhas da CAP, no entanto, não faltam conflitos e impasses cuja superação somente pode ocorrer ao longo do caminhar e que tem por base a construção da confiança e da solidariedade, ingredientes fundamentais para a busca de integração entre pesquisa e ação em contextos marcados por desigualdades, assimetrias e hierarquias excludentes.

  

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. PORTO, Marcelo Firpo de Souza; CUNHA, Marize Bastos; PIVETTA, Fatima; ZANCAN, Lenira; FREITAS, Jairo Dias (2016). Comunidades ampliadas de pesquisa ação como dispositivos para uma promoção emancipatória da saúde: bases conceituais e metodológicas. Ciência & Saúde Coletiva 21(6): 1747-1756. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232015216.25802015 .
  2. PORTO, Marcelo Firpo de Souza, PIVETTA, Fatima, GUIMARÃES, Gleide, ZANCAN Lenira, NASCIMENTO, Consuelo, SOUSA, Fabiana Melo, FREITAS, Jairo Dias de, CARDOSO, Ludmila, CUNHA, Marize Bastos. (2012). Produção compartilhada de conhecimento e cidadania: a experiência da comunidade ampliada de pesquisa-ação do Laboratório Territorial de Manguinhos, RJ. In: Toledo, R.F.; Jacobi, P.R. (orgs.). A pesquisa-ação na interface da saúde, educação e ambiente: princípios, desafios e experiências interdisciplinares. São Paulo: Annablume; p. 193-229.
  3. FREIRE, Paulo (2001). Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Editora Paz e Terra 30ª ed.
  4. ZANCAN, Lenira; PIVETTA, Fatima; SOUSA, Fabiana Melo; CUNHA, Marize Bastos; PORTO,  Marcelo Firpo de Souza.; FREITAS, Jairo Dias. (2014) Dispositivos de comunicação para a promoção da saúde: reflexões metodológicas a partir do processo de compartilhamento da Maleta de Trabalho “Reconhecendo Manguinhos”. Interface - Comunicação, Saúde, Educação 18 (suppl 2): pp. 1313-1326. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1807-57622013.0457 

Veja também[editar | editar código-fonte]