Instituto Enraizados

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
Autora: Marina Pechim.
Marca do Instituto Enraizados apresenta uma ilustração com a cabeça de três pessoas usando óculos e fones de ouvido, com o nome Enraizados ao centro.

Dudu do Morro Agudo[editar | editar código-fonte]

Flávio Eduardo da Silva Assis, conhecido como Dudu de Morro Agudo, é um rapper do município de Nova Iguaçu, localizado na Baixada Fluminense. Em sua dissertação de mestrado pela Universidade Federal Fluminense, Dudu narra parte de sua biografia – como homem negro e da periferia – para apresentar o Instituto Enraizados e, sobretudo, o #RapLab. Com vinte anos de história, não será possível abordar neste verbete todas as ações e projetos promovidos pelo Enraizados. Por isso, fez-se a escolha de aqui comunicar sobre a principal frente do Instituto em 2020: mitigar os efeitos da Covid-19 na Baixada Fluminense, sobretudo para a classe artística local.

No mestrado, ao relatar sua trajetória de vida, Dudu de Morro Agudo afirma que na década de 1990 conheceu o rap e, mais tarde, o movimento hip hop. Na época, rappers como Gabriel O Pensador, Racionais MC´s, GOG e Thaíde foram grandes influências na construção artística do iguaçuano. Além disso, em sua dissertação, DMA comenta brevemente sobre as raízes do rap na Baixada e cita várias personalidades locais – nas quais ele formou importantes redes de conhecimento e companheirismo. Em 1999, Dudu, por meio de endereços inscritos na revista “Som na Caixa”, enviou três cartas para diferentes jovens da cena hip hop brasileira, afirmando que fazia parte de uma organização chamada Movimento Enraizados, que tinha como objetivo conectar os praticantes de hip hop no Brasil. Com o passar do tempo, o rapper de Nova Iguaçu recebeu numerosas respostas de outros artistas interessados em colaborar com o movimento e assim nasceu o Enraizados.

Enraizados[editar | editar código-fonte]

Em 2007, com a criação e inauguração do Espaço Enraizados em Morro Agudo, que funciona como um Centro Cultural do bairro, o movimento se popularizou e conquistou diversos prêmios, tanto nacionais, como internacionais. Dentre eles os prêmios Cultura Viva e Cultura Hip Hop, do Ministério da Cultura, Diploma Heloneida Studart de Cultura, da ALERJ, prêmio Iguacine, da prefeitura de Nova Iguaçu, além do prêmio Maison de France, em Nancy, na França. (DUDU DE MORRO AGUDO, 2020). Um ano antes, graças a participação de Luiz Carlos Dumontt no Enraizados, a organização passa a entender-se como Rede, buscando agregar outros projetos e instituições – o que antes, de certa forma, já era feito, mas de maneira menos formal. Em 2013, segundo Henrique Silveira de Souza, já existiam 6853 pessoas cadastradas na Rede Enraizados e 18 instituições parceiras. Em 2015, o Movimento Enraizados tornou-se uma entidade associativa não governamental, sem fins lucrativos.

Foi no Enraizados que o #RapLab foi criado. Este, em artigo publicado, é definido da seguinte forma por DMA:

Uma prática desenvolvida para provocar a produção do conhecimento em rede, auxiliar no desenvolvimento cognitivo dos jovens usando o rap como um campo educacional que permite trabalhar a subjetividade estética, o trabalho em grupo, a leitura de mundo, a cidadania, a prática da democracia, o conceito de valores e etc., simultaneamente trabalhar com a inovação tecnológica através de equipamentos de gravação de áudio, aplicativos, smartphones e computadores para pesquisa na internet; a criatividade através da tessitura de frases e de rimas; e a dinamização em microatividades que remetem a jogos coletivos. (DUDU DE MORRO AGUDO, 2018, p.62).

É evidente, portanto, que para Dudu e, consequentemente, no Instituto Enraizados, a produção de conhecimento em rede, tanto dentro da escola, quanto fora dela, é fundamental na construção cidadã dos jovens – especialmente para os meninos e meninas negros e da periferia. No #RapLap, o uso do rap e os respectivos valores do movimento hip hop, como a interação e a cooperação, são as principais ferramentas para isso.

Conheça mais o Instituto:

Combate à Covid[editar | editar código-fonte]

Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde decretou a pandemia do novo coronavírus. Nesta conjuntura, diversas reportagens e pesquisas revelaram que as pessoas negras e pobres foram as que mais perderam as suas vidas e seus empregos devido à Covid-19. Em meio à crise, o Instituto Enraizados, a partir do Coletivo Solidariedade BXD, se comprometeu em ajudar artistas e profissionais de cultura da Baixada Fluminense, além de promover ações de solidariedade na Baixada, sobretudo em Nova Iguaçu.

No site do Instituto, existe um formulário no qual esses artistas e pessoas em situação de vulnerabilidade podem se cadastrar para receberem cestas básicas – até agora 4.300 famílias já foram ajudadas –, além de orientação de como conseguir o auxílio previsto na Lei Aldic Blanc. No site, também é possível encontrar informações como “O que é o coronavírus?”, “Como se transmite e o que causa?”, “Como se prevenir?” com uma linguagem acessível e vídeos didáticos. E este é só um dos diversos exemplos de projetos de solidariedade e responsabilidade social promovidos pelo Instituto Enraizados ao longo desses vinte anos.

Redes do Enraizados[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

DUDU DE MORRO AGUDO. Rap na Baixada, rap no mundo: RapLab tecendo redes educativas. 2020. 107 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense. Niterói. 2020.

DUDU de Morro Agudo. O Rap e a educação – quando aprender faz sentido. In Revista Políticas Culturais em Revista. Salvador, v. 11, n. 2, p. 58-78, jul./dez. 2018

DE SOUZA, Henrique Silveira. A Rede Enraizados e o Movimento Hip Hop: ritornelos territoriais e o desenvolvimento da rádio web. 2013. 104 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação da Baixada Fluminense - UERJ. Duque de Caxias, RJ. 2013.

ENFOLD WORDPRESS. Instituto Enraizados, 2020. Tudo que o Enraizados faz, o Enraizados ensina. Disponível em: https://www.enraizados.org.br/ Acesso em: 20 de novembro de 2020.

GRAGNANI, Juliana. Por que o coronavírus mata mais as pessoas negras e pobres no Brasil e no mundo. BBC News Brasil. São Paulo, 12 de julho de 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53338421. Acesso em: 02 de dezembro de 2020.

GARCIA, Diego; PAMPLONA, Nicola. Pretos, pardos, pobres e sem estudo são mais afetados pela Covid. Folha de S.Paulo, São Paulo, 24 de junho de 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/06/pretos-pardos-pobres-e-sem-estudo-sao-mais-afetados-pela-covid.shtml. Acesso em: 02 de dezembro de 2020.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]