Justiça Hídrica e Energética em Mesquita - Coreia, Cosmorama e Jacutinga (relatório)

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação—Mesquita: Coreia, Cosmorama e Jacutinga é um relatório que traz os desafios de acesso, qualidade e eficiência da água e energia elétrica para as comunidades da Coreia, Cosmorama e Jacutinga em Mesquita, estado do Rio de Janeiro. O relatório é produto do curso ‘Pesquisando e Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas’.

Autoria: Painel Unificador das Favelas e da Rede Favela Sustentável.

Por que água e luz? Qual a relação?

No relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação—Mesquita: Coreia, Cosmorama e Jacutinga”, Amanda O’Hara, do Instituto Clima e Sociedade, afirma que “a energia e água são dois recursos intrinsecamente dependentes. Especialmente no Brasil e, especialmente, em comunidades de baixa renda”. Ela ressalta que, com a crise hídrica em 2021, os brasileiros tiveram que lidar com um salto nas contas de luz, além da falta de chuvas que reduz o nível de água nas barragens, “diminuindo a disponibilidade de água nas usinas hidrelétricas para gerar eletricidade.”

Além da falta d’água, o relatório registrou problemas graves de qualidade da água, os constantes alagamentos, vazamentos e descaso da concessionária quanto a uma assistência de qualidade. De igual modo, o valor elevado da conta de luz gera uma consequência direta na alimentação e qualidade de vida das famílias, que também sofrem com descaso e apagões. Os dados demonstraram, também, que quando falta água, ela demora para voltar.

Os jovens Luiz Miguel Ribeiro e Matheus Botelho, integrantes do NESPES, moradores da Coreia e os pesquisadores responsáveis pela coleta de dados no território, abriram a apresentação dos dados, lançando perguntas para a plateia sobre suas realidades com a falta d’água e luz, o que impulsionou relatos e manifestações dos presentes. Os dados apresentados contemplavam perfis demográficos, acesso a água, qualidade da água, eficiência da água, acesso de luz, qualidade da luz e eficiência da luz.

“Em cada comunidade, entrevistou-se por volta de 75 pessoas, então, nossa pesquisa não reflete a comunidade como um todo. Ela busca dar uma ideia da situação e agregar as demais comunidades e mostra um panorama da nossa região metropolitana. A grande maioria dos entrevistados… foram mulheres… e a maioria dos entrevistados [se autodeclararam] negros, que para o IBGE são pretos e pardos, [mostrando] que a maioria dos afetados pelos dados… é negra.” — Matheus Botelho

Ao perguntarem para a plateia sobre a qualidade da água, Sabrina Moreira, moradora da Coreia, comentou que “a água tem lodo, cor amarelada, quando acaba a água, ela volta cheia de barro”.

Outros dois jovens participantes da pesquisa compartilharam a experiência com o levantamento de dados. Matheus Edson, de Rio das Pedras, falou sobre problemas, que não devem ser normalizados, relacionados a água, energia, injustiça social e ambiental. Janyne Lima, de Itacolomi, Ilha do Governador, explicou como foi o trabalho em campo, e as escutas a partir dele, como relatos de pessoas que tiveram que comprar o próprio poste de luz e outras sem água encanada em casa ou que não possuem reservatório de água.

Muitos moradores da favela da Chatuba compartilharam os mesmos problemas de contas altíssimas de luz e da falta d’água. O morador Maurílio Costa compartilhou meios de economizar:

“Eu acho um absurdo cobrar trezentos e sessenta e seis reais de água numa comunidade que… quando cai água, [por exemplo] hoje é quarta-feira, dia de cair água, aí o que eu faço? Encho a cisterna e fecho o hidrômetro. Na quarta-feira seguinte eu não pego água, porque já tenho na cisterna.”

Zeca Pereira, morador da Chatuba, relatou: “desde que a Águas do Rio assumiu, nós temos um problema que já tínhamos com a CEDAE e dobrou”. Luiz Simplicio comentou sobre o seu Ivan, morador da Chatuba, ficar 24 horas com sua bomba ligada abastecendo a comunidade, de forma voluntária, pois a Águas do Rio foi lá e ignorou os problemas relatados pelos moradores.

As mobilizadoras comunitárias Tânia Alexandre da Silva, coordenadora do AMEPA, Ana Leila Gonçalves, coordenadora do Centro Social Fusão e Laurinda Soares, coordenadora do NESPES, compartilharam sobre o protagonismo da juventude, convocaram os moradores a se engajarem mais, comentaram sobre a continuidade das ações que foram iniciadas, além de trazerem propostas de articulações e integração do poder público com os profissionais de dentro das favelas.

Lançamento do relatório (vídeo)

Relatório completo

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