Periferias Urbanas
Reflexão sobre o conceito e usos do termo "periferia". Aborda usos coletivos dessa expressão que geram sentidos pejorativos sobre lugares diversos e heterogêneos da cidade. Com apoio em referências bibliográficas, propõe formas mais dinâmicas e densas de pensar o conceito de cidade, propondo desconstruir separações normativas como as associadas, frequentemente aos imaginários relativos às ideias de periferia e cidade.
Autoria: Juliano Roques
Introdução[editar | editar código-fonte]
Todas as vezes em que falamos sobre “periferia”, carregamos toda uma construção enraizada nesse conceito. Em princípio, esse substantivo feminino é usado com uma ideia de homogeneidade dentro do simbolismo do pensamento hegemônico, onde é referido a este, apenas como espaços de mazelas, dificuldades, ilegalidades, violências. Veja, "periferia" é tratada na maioria das vezes no singular, enquanto todas as palavras que trazem ideias negativas atreladas ao substantivo periferia, no plural. Políticas públicas são atividades sociais que se concretizam através de ações, caracterizadas por um mínimo de padronização e institucionalização. Giovanni (2012) explica que as pessoas pautam suas orientações através de suas próprias percepções e perspectivas sobre a vida, interesses. Esses interesses são pautados por um conjunto de regras históricas e culturais que acabam definindo as políticas públicas. Nesse sentido é importante pensar sobre o processo de democratização de 1988 e como os movimentos sociais foram atuantes para a socialização de pautas importantes para os mais vulneráveis, pressionando o Estado enquanto sujeito da ação que é. Ainda a reforma administrativa nos anos 90, foi essencial para dar maior autonomia para os entes federativos, uma vez que o Estado mais centralizado, não seria capaz de dar conta das especificidades de um país continental. Investimentos, tendo como foco uma abordagem maior nos setores de saúde, infraestruturas, programas educacionais e acesso ao consumo de atores sociais que antes, não tinham acesso a estes foram pensados. Contudo, surtiram um efeito paliativo, não mexendo nas estruturas, mantendo assim, a cidadania em um patamar distante, frente às necessidades das populações marginalizadas, como se está não fizesse parte da cidade, como se esta não pertencesse, como se não conformasse também o centro.
Periferias diversas[editar | editar código-fonte]
Nas periferias, os movimentos socioeconômicos resultam, como explica Lopes (2020), em uma grande diversificação social e espacial, tanto nas diferenças crescentes entre bairros periféricos em termos das suas condições sociais e acesso a políticas públicas quanto nas trajetórias individuais de vida dos seus moradores. Neste contexto, a literatura começa a enfatizar menos a “ausência” do Estado e mais o seu tratamento seletivo de recortes diferentes da população; Gosto de pensar a cidade, como um local de disputa, de dinâmica. Angier (2015), nos traz que os pensamentos segregados entre o centro e suas margens, levam logicamente a aprender a cidade de uma forma limitada, criando um vazio deixado pela sua não existência, sua negação. Todo o gerúndio e transformações a partir da margem e vice-versa, nos faz aprender e entender todas as transformações. Trago à baila uma situação como exemplo dessa relação entre periferias, corpos periféricos que circulam pela cidade e suas zonas centrais: no ano de 2017, houve um aumento significativo que imigrantes senegaleses na cidade de São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre.
Preconceitos[editar | editar código-fonte]
A desconfiança entre culturas, o racismo e o preconceito, trouxeram embates entre os comerciantes locais e os senegaleses que encontraram no comércio informal, a forma de se estabelecer de forma mais digna possível, dentro do território capilé. O Governo local, junto com outras cidades da região, que além dos imigrantes africanos, recebiam também uma quantidade relevante de haitianos, que são originários da América Central e que também encontraram no comércio informal, seu meio principal de sobrevivência, tiveram que pensar em estratégias para pacificar esse cenário, além de trazer o mínimo de cidadania e direitos para esses novos atores sociais que passaram a compor essas cidades. Esse exemplo, nos mostra que a cidade no “gerúndio”, sempre em movimento, se dá também através das periferias, no sentido de que transformações e seus resultados se dá também, por movimentos de corpos periféricos, logo, qualquer tipo de separação entre “nós e eles”, é minimamente equivocada e limitante para entendermos as enésimas dinâmicas sociais dentro de dado espaço territorial.
Referências[editar | editar código-fonte]
Feltran, Gabriel. Periferias, direito e diferença: notas de uma etnografia urbana. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, v. 53 nº 2, 2010, ppArquivo Agier, Michel. Do direito à cidade ao fazer-cidade: o antropólogo, a margem e o centro. Revista MANA, 21(3), 2015, pp. 483-498.Arquivo.
Richmond, Matthew Aaron; Kopper, Moisés; Oliveira, Valéria Cristina de; Placencia, Jaqueline Garza. (orgs.). “Prefácio” e “Introdução”. Espaços periféricos: política, violência e território nas bordas da cidade. São Carlos: EdUFSCar, 2020. 270p Hall, Stuart. Quando foi o pós-colonial? Pensando no limite. In: Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018.Arquivo
Campos, Andrelino. Do quilombo à favela: a produção de “espaços criminalizados” no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2005.Arquivo
Feltran, Gabriel. A categoria como intervalo – a diferença entre essência e desconstrução. Cadernos Pagu, 51, 2017, pp.Arquivo
Leite, M. P.; Machado da Silva, L. A. "Circulação e fronteiras no Rio de Janeiro: a experiência urbana de jovens moradores de favelas em contexto de 'pacificação'". In: Sobre periferias: novos conflitos no Brasil contemporâneo, 2013, p.146-158
Machado, Carly. 'É muita mistura': projetos religiosos, políticos, sociais, midiáticos, de saúde e segurança pública nas periferias do Rio de Janeiro. Religião e Sociedade, v. 33, p. 13-36, 2013.