Rachel Barros (entrevista): mudanças entre as edições

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco
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A entrevista destaca a trajetória de Rachel Barros, socióloga, educadora popular e "artivista" no subúrbio carioca. Ela aborda sua atuação na militância social, educação, e sua contribuição para o combate ao racismo por meio do grupo musical "Som de Preta" e do "artivismo", usando a arte como forma de ativismo político. Suas principais referências incluem mulheres das favelas, Marielle Franco e a força das mães que perderam filhos para a violência estatal. O texto sugere que a entrevista completa está disponível em vídeo.
A entrevista destaca a trajetória de Rachel Barros, socióloga, educadora popular e "artivista" no subúrbio carioca. Ela aborda sua atuação na militância social, educação, e sua contribuição para o combate ao racismo por meio do grupo musical "Som de Preta" e do "artivismo", usando a arte como forma de ativismo político. Suas principais referências incluem mulheres das favelas, [[Marielle Franco]] e a força das mães que perderam filhos para a violência estatal. O texto sugere que a entrevista completa está disponível em vídeo.
  Autoria: Tatynne Lauria.
  Autoria: Tatynne Lauria.


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“Depois que eu aprendi a ler o mundo dessa forma não existe outra maneira de existir” - Rachel Barros.
“Depois que eu aprendi a ler o mundo dessa forma não existe outra maneira de existir” - Rachel Barros.


O encontro aconteceu domingo de manhã. Chegamos em Maria da Graça, subúrbio carioca, onde combinamos de conversar em uma pracinha com Rachel Barros. A socióloga, educadora popular, “artivista e cantriz”, como se define, desceu e caminhos até a praça. Uma manhã tranquila, onde o papo e as fotos começaram em baixo de uma árvore centenária. Mas alguns sons de pássaros, vento, motos, cachorros e carros depois, tivemos que caminhar para escolher o melhor lugar para a entrevista. Sorte a minha, que aproveitei o passeio pelas ruas do bairro e começamos as trocas sobre o papo que iriamos ter.<br/> Rachel é uma dessas pessoas que poderíamos passar o dia conversando que o assunto não se findaria. A socióloga e educadora popular tem uma longa trajetória na militância social, não é filiada a nenhum partido e acredita na luta de muitas gerações para estarmos com o dialogo um pouco mais aberto na sociedade hoje. Ela se formou em ciências sociais na UERJ, cujo o tema do trabalho foi: “ Desigualdade e Relação entre classes: a visão do morador de favela na relação patrão-empregado”. Tema que está diretamente ligado a realidade de milhares de mulheres negras do nosso pais, cujo o trabalho doméstico é em sua maioria realizado por elas. Os desdobramentos foram um mestrado e um doutorado em sociologia e uma longa trajetória na militância social. Quando começou seu primeiro estágio na FIOCRUZ, foi o período que se aproximou dos movimentos sociais e começou a conhecer novas atuações políticas, que não passavam mais apenas pela religião, durante sua adolescência toda ela foi católica, hoje, Rachel é do Candomblé. Começou a se aproximar mais do território de Manguinhos e em 2009 entrou para um movimento social chamado “Fórum social de Manguinhos”, um coletivo do qual orgulha-se muito de fazer parte até hoje.
O encontro aconteceu domingo de manhã. Chegamos em Maria da Graça, subúrbio carioca, onde combinamos de conversar em uma pracinha com Rachel Barros. A socióloga, educadora popular, “artivista e cantriz”, como se define, desceu e caminhos até a praça. Uma manhã tranquila, onde o papo e as fotos começaram em baixo de uma árvore centenária. Mas alguns sons de pássaros, vento, motos, cachorros e carros depois, tivemos que caminhar para escolher o melhor lugar para a entrevista. Sorte a minha, que aproveitei o passeio pelas ruas do bairro e começamos as trocas sobre o papo que iriamos ter.<br/> Rachel é uma dessas pessoas que poderíamos passar o dia conversando que o assunto não se findaria. A socióloga e educadora popular tem uma longa trajetória na militância social, não é filiada a nenhum partido e acredita na luta de muitas gerações para estarmos com o dialogo um pouco mais aberto na sociedade hoje. Ela se formou em ciências sociais na UERJ, cujo o tema do trabalho foi: “ Desigualdade e Relação entre classes: a visão do morador de favela na relação patrão-empregado”. Tema que está diretamente ligado a realidade de milhares de mulheres negras do nosso pais, cujo o trabalho doméstico é em sua maioria realizado por elas. Os desdobramentos foram um mestrado e um doutorado em sociologia e uma longa trajetória na militância social. Quando começou seu primeiro estágio na FIOCRUZ, foi o período que se aproximou dos movimentos sociais e começou a conhecer novas atuações políticas, que não passavam mais apenas pela religião, durante sua adolescência toda ela foi católica, hoje, Rachel é do Candomblé. Começou a se aproximar mais do território de [[Favela de Manguinhos|Manguinhos]] e em 2009 entrou para um movimento social chamado “Fórum social de Manguinhos”, um coletivo do qual orgulha-se muito de fazer parte até hoje.


Atualmente trabalha como educadora popular na ONG FASE, um trabalho que tem relação direta com a atuação nos territórios, favelas, coletivos e organizações sociais, por isso essa trajetória foi tão importante antes de chegar à FASE. Toda essa bagagem, essas referências, são o que contribuem para sua atuação hoje.<br/> A questão artística veio depois e caminha em conjunto com todo o “ser político”. Rachel que já cantava desde a época em que frequentava a igreja católica, foi convidada em 2014 para participar de um sarau na favela de Acari, e assim nasceu o “Som de preta”, grupo musical que trabalha valorizando a cultura das compositoras negras, no combate ao racismo e com o “artivismo” que é fazer da arte uma forma de ativismo político. A música como uma forma de atuação política, o que é a função da arte na vida. Todas essas formas de atuação hoje são complementares, a arte é um jeito “democrático de se comunicar com as pessoas, de tocar em assuntos muito difíceis, que mobilizam muitas sensações e quando isso vem em forma de poesia, de música, comunicam mais além”, conta Rachel.
Atualmente trabalha como educadora popular na ONG FASE, um trabalho que tem relação direta com a atuação nos territórios, favelas, coletivos e organizações sociais, por isso essa trajetória foi tão importante antes de chegar à FASE. Toda essa bagagem, essas referências, são o que contribuem para sua atuação hoje.<br/> A questão artística veio depois e caminha em conjunto com todo o “ser político”. Rachel que já cantava desde a época em que frequentava a igreja católica, foi convidada em 2014 para participar de um sarau na [[Acari|favela de Acari]], e assim nasceu o “Som de preta”, grupo musical que trabalha valorizando a cultura das compositoras negras, no combate ao racismo e com o “artivismo” que é fazer da arte uma forma de ativismo político. A música como uma forma de atuação política, o que é a função da arte na vida. Todas essas formas de atuação hoje são complementares, a arte é um jeito “democrático de se comunicar com as pessoas, de tocar em assuntos muito difíceis, que mobilizam muitas sensações e quando isso vem em forma de poesia, de música, comunicam mais além”, conta Rachel.


As principais referências vêm de casa, a mãe e a avó. A mãe que apostou na educação como elemento fundamental para a caminhada. E a avó, como pessoa que a criou quando a mãe estava indo à luta trabalhar. Falamos também em referências acadêmicas como Lélia Gonzalez, nas artes em Leci Brandão e Dona Ivone Lara, Nina Simone e principalmente as mulheres das favelas, as mães que perderam seus filhos para a violência estatal, essas, uma grande referência de força e luta. Também falamos de Marielle, que ontem faria 41 anos, outra referência como sempre presente nas lutas sociais e na atuação política.<br/> Todos poderão acompanhar a entrevista completa em vídeo. Como eu disse anteriormente, eu ficaria o dia todo ouvindo, o que eu acredito que o Brasil inteiro precisa ouvir, pessoas que doam em suas atividades, seu tempo na luta para o enfrentamento que precisamos ter diariamente, em prol da diminuição da desigualdade social e racial no nosso pais. “Eu diria para a Rachel no futuro ter certeza que em sua trajetória, contribui um pouco para a transformação social da nossa sociedade”. Comenta Rachel. Tenho certeza que a força de mulheres assim nos entusiasma, nos inspira.
As principais referências vêm de casa, a mãe e a avó. A mãe que apostou na educação como elemento fundamental para a caminhada. E a avó, como pessoa que a criou quando a mãe estava indo à luta trabalhar. Falamos também em referências acadêmicas como Lélia Gonzalez, nas artes em Leci Brandão e Dona Ivone Lara, Nina Simone e principalmente as mulheres das favelas, as mães que perderam seus filhos para a violência estatal, essas, uma grande referência de força e luta. Também falamos de Marielle, que ontem faria 41 anos, outra referência como sempre presente nas lutas sociais e na atuação política.<br/> Todos poderão acompanhar a entrevista completa em vídeo. Como eu disse anteriormente, eu ficaria o dia todo ouvindo, o que eu acredito que o Brasil inteiro precisa ouvir, pessoas que doam em suas atividades, seu tempo na luta para o enfrentamento que precisamos ter diariamente, em prol da diminuição da desigualdade social e racial no nosso pais. “Eu diria para a Rachel no futuro ter certeza que em sua trajetória, contribui um pouco para a transformação social da nossa sociedade”. Comenta Rachel. Tenho certeza que a força de mulheres assim nos entusiasma, nos inspira.
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== Chama Negra (música) ==
== Chama Negra (música) ==
'''Obra de Rachel Barros e El Efecto:'''{{#evu:https://youtube.com/watch?v=S_X5lq27u0U&pp=ygUZUmFjaGVsIGJhcnJvcyBjaGFtYSBuZWdyYQ%3D%3D}}
LETRA:
Chama! Mulher negra é força e clama
Pelos nossos, pelos seus e ama do mais profundo ser
Chama! Mulher negra é brasa acesa, inflama
Vem alumiar o breu e trama a densa manta dos sonhos meus
Canta! Invade o peito o corpo todo exclama
De todo grito ainda se faz bonança
Pra aliviar os olhos meus
Canta! Invade o peito o corpo todo exclama
Pois dia a dia a força se agiganta
E faz girar o mundo meu
Chama! Mulher negra é força e clama
Pelos nossos, pelos seus e ama do mais profundo ser
Canta! Invade o peito o corpo todo exclama
De todo grito ainda se faz bonança
Pra aliviar os olhos meus
Canta! Invade o peito o corpo todo exclama
Pois dia a dia a força se agiganta
E faz girar o mundo meu


== Ver também ==
== Ver também ==

Edição atual tal como às 13h21min de 1 de março de 2024

A entrevista destaca a trajetória de Rachel Barros, socióloga, educadora popular e "artivista" no subúrbio carioca. Ela aborda sua atuação na militância social, educação, e sua contribuição para o combate ao racismo por meio do grupo musical "Som de Preta" e do "artivismo", usando a arte como forma de ativismo político. Suas principais referências incluem mulheres das favelas, Marielle Franco e a força das mães que perderam filhos para a violência estatal. O texto sugere que a entrevista completa está disponível em vídeo.

Autoria: Tatynne Lauria.

Sobre[editar | editar código-fonte]

“Depois que eu aprendi a ler o mundo dessa forma não existe outra maneira de existir” - Rachel Barros.

O encontro aconteceu domingo de manhã. Chegamos em Maria da Graça, subúrbio carioca, onde combinamos de conversar em uma pracinha com Rachel Barros. A socióloga, educadora popular, “artivista e cantriz”, como se define, desceu e caminhos até a praça. Uma manhã tranquila, onde o papo e as fotos começaram em baixo de uma árvore centenária. Mas alguns sons de pássaros, vento, motos, cachorros e carros depois, tivemos que caminhar para escolher o melhor lugar para a entrevista. Sorte a minha, que aproveitei o passeio pelas ruas do bairro e começamos as trocas sobre o papo que iriamos ter.
Rachel é uma dessas pessoas que poderíamos passar o dia conversando que o assunto não se findaria. A socióloga e educadora popular tem uma longa trajetória na militância social, não é filiada a nenhum partido e acredita na luta de muitas gerações para estarmos com o dialogo um pouco mais aberto na sociedade hoje. Ela se formou em ciências sociais na UERJ, cujo o tema do trabalho foi: “ Desigualdade e Relação entre classes: a visão do morador de favela na relação patrão-empregado”. Tema que está diretamente ligado a realidade de milhares de mulheres negras do nosso pais, cujo o trabalho doméstico é em sua maioria realizado por elas. Os desdobramentos foram um mestrado e um doutorado em sociologia e uma longa trajetória na militância social. Quando começou seu primeiro estágio na FIOCRUZ, foi o período que se aproximou dos movimentos sociais e começou a conhecer novas atuações políticas, que não passavam mais apenas pela religião, durante sua adolescência toda ela foi católica, hoje, Rachel é do Candomblé. Começou a se aproximar mais do território de Manguinhos e em 2009 entrou para um movimento social chamado “Fórum social de Manguinhos”, um coletivo do qual orgulha-se muito de fazer parte até hoje.

Atualmente trabalha como educadora popular na ONG FASE, um trabalho que tem relação direta com a atuação nos territórios, favelas, coletivos e organizações sociais, por isso essa trajetória foi tão importante antes de chegar à FASE. Toda essa bagagem, essas referências, são o que contribuem para sua atuação hoje.
A questão artística veio depois e caminha em conjunto com todo o “ser político”. Rachel que já cantava desde a época em que frequentava a igreja católica, foi convidada em 2014 para participar de um sarau na favela de Acari, e assim nasceu o “Som de preta”, grupo musical que trabalha valorizando a cultura das compositoras negras, no combate ao racismo e com o “artivismo” que é fazer da arte uma forma de ativismo político. A música como uma forma de atuação política, o que é a função da arte na vida. Todas essas formas de atuação hoje são complementares, a arte é um jeito “democrático de se comunicar com as pessoas, de tocar em assuntos muito difíceis, que mobilizam muitas sensações e quando isso vem em forma de poesia, de música, comunicam mais além”, conta Rachel.

As principais referências vêm de casa, a mãe e a avó. A mãe que apostou na educação como elemento fundamental para a caminhada. E a avó, como pessoa que a criou quando a mãe estava indo à luta trabalhar. Falamos também em referências acadêmicas como Lélia Gonzalez, nas artes em Leci Brandão e Dona Ivone Lara, Nina Simone e principalmente as mulheres das favelas, as mães que perderam seus filhos para a violência estatal, essas, uma grande referência de força e luta. Também falamos de Marielle, que ontem faria 41 anos, outra referência como sempre presente nas lutas sociais e na atuação política.
Todos poderão acompanhar a entrevista completa em vídeo. Como eu disse anteriormente, eu ficaria o dia todo ouvindo, o que eu acredito que o Brasil inteiro precisa ouvir, pessoas que doam em suas atividades, seu tempo na luta para o enfrentamento que precisamos ter diariamente, em prol da diminuição da desigualdade social e racial no nosso pais. “Eu diria para a Rachel no futuro ter certeza que em sua trajetória, contribui um pouco para a transformação social da nossa sociedade”. Comenta Rachel. Tenho certeza que a força de mulheres assim nos entusiasma, nos inspira.

Entrevista[editar | editar código-fonte]

Texto e imagens: Tatynne Lauria, Ass de direção: Amaury Sousa, Vídeo e edição: Raphael Andreozzi.

Chama Negra (música)[editar | editar código-fonte]

Obra de Rachel Barros e El Efecto:

LETRA:

Chama! Mulher negra é força e clama

Pelos nossos, pelos seus e ama do mais profundo ser


Chama! Mulher negra é brasa acesa, inflama

Vem alumiar o breu e trama a densa manta dos sonhos meus


Canta! Invade o peito o corpo todo exclama

De todo grito ainda se faz bonança

Pra aliviar os olhos meus


Canta! Invade o peito o corpo todo exclama

Pois dia a dia a força se agiganta

E faz girar o mundo meu


Chama! Mulher negra é força e clama

Pelos nossos, pelos seus e ama do mais profundo ser


Canta! Invade o peito o corpo todo exclama

De todo grito ainda se faz bonança

Pra aliviar os olhos meus


Canta! Invade o peito o corpo todo exclama

Pois dia a dia a força se agiganta

E faz girar o mundo meu

Ver também[editar | editar código-fonte]