Dicionário de Favelas Marielle Franco e a Descolonização do Conhecimento
O artigo analisa a construção do Dicionário de Favelas Marielle Franco, que mobilizou um esforço conjunto de acadêmicos e moradores de favelas. Discute pontos de consenso e discordância sobre as diferentes formas de conhecimento de acadêmicos, ativistas e moradores de favelas. Além disso, apresenta a trajetória de criação do Dicionário que, hoje, incorpora diferentes linguagens e registros com potencial para ampliar a produção de memória nas favelas.
Autoras: Sonia Fleury, Clara Polycarpo, Marcelo Fornazin, Palloma Menezes.
Trabalho apresentado na 32ª Reunião Brasileira de Antropologia, em novembro de 2020.
Resumo[editar | editar código-fonte]
Historicamente, as favelas são consideradas pelos poderes públicos, setores da imprensa e camadas médias e altas da sociedade carioca a partir de definições a priori negativas. Tais definições ajudam a moldar políticas direcionadas a esses territórios e suas populações. Contudo, um conjunto variado de atores coletivos insiste em questionar tais formulações e a produção da violência que reproduzem.
Em uma iniciativa conjunta de acadêmicos e moradores de favelas, foi lançado o Dicionário de Favelas Marielle Franco, uma plataforma on-line com licença creative commons, visando reunir falas de moradores, lideranças e intelectuais, em uma construção coletiva que tem por objetivo incentivar uma ampla articulação do conhecimento produzido sobre as favelas, muitas vezes disperso e hierarquizado. O Dicionário busca a difusão de diferentes narrativas acerca destes territórios e suas populações, efetivando o direito à cidade como um direito de cidadania, fugindo da construção do “favelado” apenas como objeto de conhecimento, por parte dos intelectuais que almejam meramente falar pelo outro.
Utiliza uma tecnologia de ponta que inverte a lógica colonial pela qual a produção de conhecimentos se dá em circuitos inovadores centrais e depois é difundida para as periferias. Assim, inova na proposta de descolonizar a produção e a circulação do saber, estabelecendo uma condição de horizontalidade para romper as dicotomias produção acadêmica / saber popular; autoria individual / produção coletiva; impessoalidade científica / experiência vivida.
Neste trabalho, buscamos problematizar e refletir sobre como foram se dando os encontros e desencontros entre saberes de acadêmicos, ativistas e moradores de favelas, nessa plataforma digital que já conta com 405 verbetes e 285 pessoas registradas, identificando uma trajetória que busca superar tensões e incorporar outras linguagens e registros capazes de comportar as produções e memórias das favelas.
Acesso ao artigo[editar | editar código-fonte]
Veja também[editar | editar código-fonte]
- El desafío de la descolonización del conocimiento: el Diccionario de favelas Marielle Franco
- Dicionário de Favelas Marielle Franco e a Descolonização do Conhecimento