Enchentes no Rio Grande do Sul

Por equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco

Enchentes no Rio Grande do Sul foi um desastre natural de grande proporção ocorrido a partir de 29 de abril de 2024 no sul do Brasil ocasionado, dentre outros motivos, pelas mudanças climáticas e cujos seus desdobramentos ainda estão em ocorrência.

Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco.

Sobre[editar | editar código-fonte]

Foto: Maurício Tonetto | Secom.

Enchentes no Rio Grande do Sul foi um desastre natural de grande proporção ocorrido a partir de 29 de abril de 2024 no sul do Brasil e ocasionado pelas mudanças climáticas, cujos seus desdobramentos ainda estão em ocorrência. Até o momento, o evento deixou 100 vítimas, além de outros 372 feridos, 128 desaparecidos, mais de 160 mil desabrigados e ter afetado 1 milhão e 400 mil pessoas em pelo menos 417 dos 497 municípios gaúchos[1].

O episódio teve impacto em todas as regiões do estado, tendo deixado cidades e bairros inteiros submersos, e suas enchentes e deslizamentos de terra danificaram aproximadamente 150 trechos de rodovias federais e estaduais[2], além da queda de pontes, o rompimento de barragens, o fechamento do principal aeroporto gaúcho e de ter afetado a distribuição de água, energia, combustíveis e insumos básicos nas cidades atingidas. Serviços ligados à saúde e educação também foram interrompidos e houve desabastecimento de produtos fornecidos em supermercados e atacarejo,, contribuindo para o agravamento da crise gerada pelo desastre.

Domicílios e estabelecimentos comerciais localizados em regiões de evacuação sofreram uma onda de saques, gerando sensação de insegurança e dificultando a retirada de pessoas em áreas de risco - o que levou a contratação de policiais temporários e o envio de tropas da Força Nacional ao Rio Grande do Sul[3].

Ao todo, uma força-tarefa envolvendo hidrólogos, meteorologistas, defesa civil, bombeiros, policiais civis, militares e rodoviários (inclusive de outros estados), bombeiros, salva-vidas, aeronáutica, marinha, exército, médicos, enfermeiros, psicólogos, além de milhares de voluntários foi montada para o enfrentamento à cheia.

Segundo a Confederação Nacional do Municípios (CNM), os prejuízos causados pelas enchentes já contabilizam R$ 4,6 bilhões apenas nos impactos econômicos gerados nos setores privados e públicos[4], influenciando a rápida decisão de governos municipais, estadual e federal em viabilizar de forma extraordinária recursos de enfrentamento à crise gerada pelo evento.

Nesse sentido, o governo federal anunciou um pacote emergencial de R$ 1,06 bilhão[5] para ajuda ao Estado, crédito para reconstrução de casas[6], R$ 2,9 bilhões em recursos de liberação do fundo de garantia (FGTS), ampliação de seguro- desemprego e abono salarial aos atingidos[7], além de suspender os pagamentos da dívida gaúcha com a União durante o estado de calamidade[8]. O governo do estado do Rio Grande do Sul também destinou ajuda emergencial de R$ 200 milhões[9], além do anúncio do novo lote do programa Volta por Cima - criado em 2023 para famílias afetadas por eventos climáticos naquele ano[10].

O desastre tem sido considerado a maior tragédia relacionada às cheias na história do país e trouxe à tona a pauta da emergência climática e uma série de denúncias quanto à falta de programas e recursos para prevenção climática e ambiental, como também o descaso de governantes em relação ao tema.

Causas[editar | editar código-fonte]

Diversas fatores ajudam a explicar a catástrofe e suas proporções no território gaúcho, e estão relacionadas tanto à questões meteorológicas, mas também à própria geografia da região, ao modo de ocupação urbana, à alteração das condições climáticas promovidas pela ação humana e à falha dos sistemas de contenção desenvolvidos para o enfrentamento de inundações.

De forma resumida, os meteorologistas explicam que as enchentes no Rio Grande do Sul são consequências do encontro de três fatores, sendo eles: a presença de uma forte corrente de vento na região; a corrente de umidade vinda da Amazônia; e a onda de calor central no país. Os ventos fortes desestabilizam o tempo, a umidade vinda do norte aumenta a intensidade das chuvas e a onda de calor no centro impede que a frente fria avance e se desloque a região sul. Além disso, o fenômeno do El Niño aquece as águas oceânicas e aumenta a instabilidade[11].

A forte umidade e os ventos fortes, combinados com o bloqueio atmosférico ocasionado pela onda de calor no centro do país, explicam o volume de aproximadamente mil milímetros de chuva em solo gaúcho - o que significa uma quantidade de chuva similar à esperada para pelo menos seis meses na região. Contudo, outros fatores contribuem para a compreensão do extenso número de atingidos. Entre elas, pode-se destacar o próprio modo de ocupação do solo e de desenvolvimento urbano.

Segundo o geólogo Rualdo Menegat, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), “os planos diretores da cidade foram desestruturados para facilitar a especulação imobiliária. No caso de Porto Alegre, por exemplo, toda a área central que hoje está inundada no porto, foi oferecida para ser privatizada e ocupada por espigões. Houve um sucateamento do nosso sistema de proteção, como se nunca mais fosse haver inundações”.

O desmatamento de vegetação nativa para fins imobiliários também é considerado fator que dificulta o escoamento de água da chuva.

“Há uma ocupação intensiva do solo. Em Porto Alegre, em especial na margem do Guaíba, na zona sul, ainda temos um ecossistema mais perto do que foi no passado, com estrutura de zonas de banhado, matas e morros. Mas essas áreas estão sob pressão da especulação imobiliária. E por causa das políticas de uso intensivo do solo urbano, essas áreas estão sendo expostas, em detrimento da conservação dos últimos estoques ambientais, que ajudam a regular as vazões da água”, analisa Rualdo[12].

Soma-se à ocupação e urbanização das chamadas “planícies de inundação” as características geográficas da região, como o fato de grande parte das cidades atingidas - como o caso de Porto Alegre - possuírem baixo relevo em seus territórios. Além disso, o fato do Guaíba - lago e/ou rio que contorna a capital gaúcha e outras cidades da região metropolitana - receber águas de uma grande bacia hidrográfica do estado, a bacia do Jacuí - a mais atingida pelas chuvas -, gerou um estrangulamento da capacidade de absorção de água, que foi represada nas proximidades devido aos fortes ventos no sentido contrário ao percurso fluvial[13].  

Outro fator importante para compreender o evento são as mudanças climáticas intensificadas pela ação humana. A intensidade bastante anormal das inundações está diretamente conectada com as mudanças climáticas, como explica Paulo Artaxo, físico e professor da Universidade de São Paulo (USP).

“Não há dúvida que esse aumento de enchentes, essas chuvas muito torrenciais, são definitivamente associadas com as mudanças climáticas e a aceleração dessas mudanças no nosso planeta inteiro”, afirma Artaxo, em comunicado do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Para o especialista, o que ocorre no Rio Grande do Sul não deve ser visto como algo isolado, mas, sim, como uma tendência. Fora do país, Dubai (Emirados Árabes Unidos) e China também enfrentaram problemas praticamente inéditos por causa das chuvas nos últimos meses. No extremo oposto, secas históricas estão se tornando mais comuns, como a que afetou a Amazônia, no final do ano passado.

A regra é simples: conforme as alterações do clima, provocadas pela ação humana e pela liberação de gases do efeito estufa (GEE), se intensificam, mais comuns se tornam os eventos climáticos extremos. Inclusive, esta é uma das conclusões do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), documento desenvolvido para guiar os formuladores de políticas públicas no Brasil[14].

Cronologia dos acontecimentos[editar | editar código-fonte]

Os desdobramentos das enchentes no Rio Grande do Sul e a crise gerada pelos eventos ainda estão em ocorrência. Nesse sentido, o que será apresentado é uma cronologia dos acontecimentos nos primeiros 30 dias da tragédias, organizado pelo portal de notícias G1[15].

Sábado, 27 de abril: primeiro temporal

Em 27 de abril, antes do início da tragédia, municípios do Vale do Rio Pardo registraram impactos provocados pela chuva e por granizo. Santa Cruz do Sul foi uma das cidades mais afetadas.

Domingo, 28 de abril: impactos

A Defesa Civil registrou prejuízos em 15 municípios após o temporal do dia anterior. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta laranja com risco de tempestade para toda a metade sul do estado.

Segunda, 29 de abril: previsão se intensifica

No final do dia, o Inmet emitiu uma previsão de elevado volume de chuva para a metade o estado. Era o início da tragédia.

Terça, 30 de abril: primeiras mortes

O Rio Grande do Sul registrou as primeiras mortes em razão dos temporais. Dois homens que estavam dentro de um carro morreram após o veículo ter sido arrastado pela água em Paverama. Naquele dia, o número de vítimas chegou a oito.

Estradas foram bloqueadas em diversas regiões.

Uma ponte foi levada pela água, em Santa Tereza, durante uma gravação da prefeita alertando sobre o temporal.

Uma ponte também foi destruída em Santa Maria. A queda ocorreu no km 228 da RSC-287, principal ligação do Centro do RS com a Região Metropolitana de Porto Alegre. Uma travessia provisória começou a ser construída pelo Exército no local.

Quarta, 1º de maio: mulher é arrastada por correnteza

Um vídeo mostra o momento em que uma mulher é arrastada pela correnteza do rio, em Candelária. Ela foi encontrada viva e falou sobre o pesadelo que viveu.

No mesmo dia, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), admitiu a dificuldade de resgatar todas as pessoas afetadas.

"Nós não teremos capacidade de fazer todos os resgates", disse.

No final do dia, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul emitiu uma "orientação expressa" para que moradores do Vale do Taquari deixassem áreas de risco.

Quinta, 2 de maio: cheias históricas

O Rio Taquari passou dos 30 metros de altura e atingiu o maior nível da história. Em Cruzeiro do Sul, na Região dos Vales, foi registrado em vídeo o momento em que a Brigada Militar (BM) tentava fazer o salvamento de duas pessoas que estavam ilhadas em cima do telhado de uma residência.

Uma delas conseguiu ser salva. Conforme a BM, a outra pessoa foi arrastada pela água quando um policial se encaminhava para tentar salvá-la.

O presidente Lula (PT) e o governador Eduardo Leite (PSDB) discutiram ações para enfrentar as cheias no Rio Grande do Sul. Lula disse que não faltará recurso e citou "um comando conjunto".

A barragem 14 de Julho, localizada entre Cotiporã e Bento Gonçalves, se rompeu parcialmente.

O Guaíba, em Porto Alegre, ultrapassou a cota de inundação, atingindo 3,63 metros.

Sexta, 3 de maio: caos em Porto Alegre

O dia terminou com a contagem de 39 mortes no estado.

Os efeitos do temporal começaram a ser sentidos, com maior gravidade, em Porto Alegre. Durante a manhã, autoridades bloquearam o trânsito sobre as duas pontes do Guaíba em razão da alta do Rio Jacuí e "avarias aparentes", após duas embarcações colidirem contra a estrutura da ponte nova.

O nível do Guaíba passou de 4,6 metros. As águas atingiram a Rodoviária, ruas do Centro Histórico, o Mercado Público, os centros de treinamento de Internacional e Grêmio e outros pontos.

As águas continuaram subindo, levando baratas para ruas e imóveis. No fim do dia, o nível do Guaíba chegou a 4,77 metros, ultrapassando o recorde de 1941.

O Aeroporto Internacional Salgado Filho foi fechado, e companhias aéreas cancelaram partidas e chegadas de voos em Porto Alegre.

A Defesa Civil estadual emitiu alerta e determinou a evacuação de comunidades em sete cidades após o rompimento parcial da barragem 14 de Julho. Ao todo, quatro barragens apresentavam risco de rompimento.

Equipes de resgate iniciaram as buscas por 34 pessoas que ficaram presas em um deslizamento em um trecho que liga Veranópolis a Bento Gonçalves.

Sábado, 4 de maio: maior tragédia da história

Com o número de 55 mortos confirmados e outros sete em investigação, a tragédia atual superou a ocorrida no Vale do Taquari, em 2023, que deixou 54 vítimas. O RS vivia sua maior tragédia climática da história.

O Guaíba seguiu enchendo, alcançando a marca de 5 metros. A rodoviária de Porto Alegre suspendeu todas as viagens de chegada e saída após alagar.

Presídios ficaram ilhados, e o estado precisou transferir detentos.

Um buraco se abriu na Avenida Castelo Branco, no sentido Litoral/Capital. Com isso, o principal acesso a Porto Alegre ficou bloqueado.

Cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre, como Canoas, Eldorado do Sul e Guaíba, registraram inundações. Autoridades e voluntários trabalham, com barcos e motos aquáticas para ajudar pessoas isoladas, que esperaram por resgate em cima de imóveis e de viadutos.

O gramado da Arena do Grêmio inundou. O estádio fica próximo à foz do Rio Gravataí no Rio Jacuí, em Porto Alegre. O bairro Humaitá, na Zona Norte, é mais um local fortemente atingido pelas enchentes históricas no Rio Grande do Sul.

Domingo, 5 de maio: Nível do Guaíba em elevação

Após bater recorde, o nível do Guaíba continuou subindo, de acordo com a medição da Prefeitura de Porto Alegre, chegando a 5,33 metros – o maior da história.

Ainda pela manhã, o presidente Lula (PT), juntamente com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Edson Fachin sobrevoaram de helicóptero a capital gaúcha, além do município de Canoas, onde 180 mil pessoas foram atingidas pelos temporais.

Segunda, 6 de maio: água invade bairros do Centro da Capital

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), recomendou que moradores dos bairros Cidade Baixa e Menino Deus deixassem a região. O aviso foi feito na tarde de 6 de maio, após a água começar a subir no local.

Segundo Melo, uma casa de bombeamento de água teve a energia elétrica desligada por questões de segurança. Os bairros citados concentram residências, condomínios, estabelecimentos comerciais e alguns órgãos públicos. A região fica entre o Centro Histórico e a Zona Sul de Porto Alegre.

A notícia, e a água, pegaram os moradores e os empresários de surpresa, que tiveram seus imóveis alagados.

Quarta, 8 de maio: inundações chegam ao sul do estado

Após atingir a Região da Serra, passar pelos Vales e inundar a Região Metropolitana, a água chegou à Região Sul do RS. As cidades de São José do Norte, São Lourenço do Sul, Pelotas e Rio Grande estão em estado de alerta máximo. Milhares de pessoas precisaram sair de casa.

Quinta, 9 de maio: resgate do cavalo Caramelo

Cavalo procura abrigo em cima de telhado, em Canoas.

Ao sobrevoar Canoas, equipe da RBS TV identificou um cavalo ilhado sobre o telhado de uma casa no bairro Mathias Velho. Batizado de Caramelo, a situação do animal comoveu o Brasil e mobilizou o poder público a fazer o resgate, que ocorreu no dia 9 de maio. Hoje, ele se recupera no Hospital Universitário da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas.

Quarta, 15 de maio: água baixa no Vale do Taquari

No Vale do Taquari, os moradores vivem um cenário de destruição e lama pela segunda vez desde que os temporais atingiram a região. O nível do Rio Taquari baixou para 18,75 metros, abaixo da cota de inundação de 19 metros, revelando o que deixou para trás. Ele havia chegado a 33 metros.

"O que é possível fazer neste momento infelizmente é arregaçar as mangas e trabalhar, como todo o povo gaúcho guerreiro", diz o radialista Irno Gisch, que teve a casa coberta por lama.

Agora, ele se dedica a limpar bens, como geladeira, armário e pia, e ver o que ainda pode ser aproveitado. "Muitas famílias perderam suas casas. A gente ainda foi privilegiado de estar com a casa e poder entrar para limpar e voltar a morar normalmente", fala o morador.

Quinta, 16 de maio: água baixa em Porto Alegre

Após a destruição de casas e comércios pela cheia do Guaíba, moradores de Porto Alegre começaram a conviver com as consequências da água. Animais mortos ficaram sobre as vias públicas, bem como esgoto exposto. O mau cheiro impregnou as ruas dos bairros Menino Deus, Cidade Baixa e Centro Histórico.

Domingo, 19 de maio: saques

As cheias despertaram a solidariedade de muitos brasileiros, mas também deixaram à mostra o cenário de insegurança. Desde o início da tragédia, as polícias do Rio Grande do Sul prenderam 130 pessoas por crimes em meio ao contexto das enchentes.

Do total de presos, 48 foram por crimes patrimoniais, como roubos e furtos de pessoas afetadas pelos temporais, afirmou a Secretaria da Segurança Pública (SSP). Outras 49 pessoas foram detidas em abrigos. Não há o detalhamento das demais prisões.

Segunda, 20 de maio: 1ª morte por leptospirose

Um homem de 67 anos morreu por leptospirose em Travesseiro, cidade atingida pelas enchentes no Vale do Taquari. Foi a primeira morte em decorrência da doença relacionada à tragédia ambiental. O RS registrou, ainda, mais três mortes. O número de casos suspeitos ultrapassou 1 mil ao longo de maio.

Sexta, 29 de maio: um mês da tragédia

Ainda em meio à tragédia, o Rio Grande do Sul tenta se recuperar. Os governos federal e estadual lançaram benefícios de apoio à população gaúcha, como abono salarial, Auxílio Reconstrução, Saque Calamidade do FGTS, restituição antecipada o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF).

O governo do RS anunciou a estimativa de quanto seria necessário para reconstruir o estado. O governo federal também anunciou medidas.

Pessoas que perderam suas casas ainda estão acolhidas nas casas de amigos, familiares ou abrigos públicos. O poder público fala na viabilização de "cidades provisórias".

O nível de rios e lagos permanece alto. Pesquisadores sinalizam que a situação pode se normalizar, a depender das condições climáticas, dentro de até 30 dias.

A previsão do tempo indica que deve haver sequência de dias secos, sem chuva, o que pode ajudar na recuperação do estado.

Solidariedade[editar | editar código-fonte]

As inundações no Rio Grande do Sul geraram uma onda de solidariedade em todo o país. Entre tantas formas de ajuda, destacam-se o cadastramento de voluntários para atividades emergenciais de enfrentamentos à tragédia, as doações financeiras via pix e depósitos bancários, o fornecimento de toneladas de alimentos, água e insumos farmacêuticos, roupas e itens para abrigos e o próprios cedimento de espaços para instalação de abrigos temporários.

Pelo menos 15 mil pessoas de todo o Brasil  se inscreveram nas atividades de voluntariado requeridas pelos órgãos municipais e estaduais[16].

Ainda não há estimativas exatas sobre os valores arrecadados por todos órgãos e instituições mobilizadas na destinação dos valores doados para as vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul. Contudo, o governo estadual anunciou que, somente na sua conta oficial para arrecadação - O SOS Rio Grande do Sul, foram somados mais de R$ 100 milhões[17].

No pico da catástrofe foram instalados pelo menos 839 locais temporários para abrigamento das vítimas das enchentes no estado gaúcho[18].  

Denúncias[editar | editar código-fonte]

Durante a catástrofe, denúncias de diversos tipos foram realizadas, seja no sentido de responsabilizar as autoridades pelo ocorrido, seja denunciando a insegurança gerada pela crise que assolou o estado gaúcho.

Algumas áreas de Porto Alegre e cidades da região metropolitana,  evacuadas pelos órgãos municipais e estaduais em razão das cheias, foram registrados denúncias de saques e invasões a domicílios e estabelecimentos comerciais. No dia 6 de maio, 10 pessoas foram presas pela Brigada Militar em virtude dos saques a estabelecimentos evacuados[19]. Na ocasião, houve tentativas de linchamento dos envolvidos nos crimes, que precisaram ser escoltados pelas forças de segurança.

Denúncias de furtos, assédios e violência sexual também foram registradas em abrigos temporários para os atingidos pelas enchentes. Nesse caso, a Secretaria de Segurança Pública informou que pelo menos 11 pessoas foram presas em detrimento dos crimes praticados[20].

Tais acontecimentos geraram uma sensação geral de insegurança nas cidades, dificultando o salvamento de pessoas e a gestão da crise. Com o intuito de amenizar o quadro, o governo estadual anunciou a convocação de 1000 policiais militares da reserva através do “Programa Mais Efetivo”[21], além do envio de militares da Força Nacional pelo governo federal.

Uma outra série de denúncias, ainda em ocorrência, estão sendo realizadas no sentido de responsabilizar autoridades e órgãos competentes no que diz respeito à prevenção e redução dos danos ocasionados pela tragédia. Movimentos pelo meio ambiente, comunitários e pela moradia - como também alguns parlamentares -, denunciam o fato de não ter havido manutenção por parte da prefeitura de Porto Alegre das casas de bomba da cidade, que integram o sistema anti-enchente da capital gaúcha.

Segundo um grupo de especialistas, o sistema teria falhado devido à falta de manutenção de comportas e pelo funcionamento precário de algumas casas de bombas que foram alagadas ou que tiveram atividades interrompidas em virtude da falta de luz nas áreas em que se localizam. Dessa forma, a cheia teria chegado a lugares aos quais eram assegurados pelo sistema da cidade[22]. Uma denúncia por omissão dos problemas relatados foi protocolada no Ministério Público pelo deputado estadual Matheus Gomes (PSOL/RS)[23].

Críticas também estão sendo feitas ao governador Eduardo Leite, por ter alterado 480 normas previstas no Código Ambiental do Rio Grande do Sul. Segundo entidade de proteção ao meio ambiente, a mudança nas regras teriam afrouxado a legislação estadual, permitindo maior agressão à áreas de preservação ambiental[24].

Impactos e pacotes econômicos[editar | editar código-fonte]

Segundo o governo do estado, serão necessários pelo menos R$19 bilhões em recursos para a reconstrução do Rio Grande do Sul. Tal cifra diz respeito aos custos necessários para construção de novas moradias, reparos em estradas e pontes danificadas, construção de vias totalmente perdidas durantes as enchentes e outros equipamentos de infraestrutura[25].

Além dos impactos diretos, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) estima que 94,3% de toda a atividade econômica estadual tenha sido atingida. Considerando apenas as regiões metropolitana de Porto Alegre, do Vale dos Sinos e da Serra, as perdas somam aproximadamente R$220 bilhões[26].

Na agropecuária, as perdas ocasionadas pelas enchentes podem significar o recuo de 3,5% do PIB nacional no setor, visto que o estado representa pelo menos 12% da riqueza nacional. O impacto maior se deu na produção de arroz, na qual o estado é o maior produtor do país[27].

Todos esses indicativos ainda estão sendo analisados pelos governos municipais, estadual e nacional no sentido de mensurar as perdas e impactos econômicos da catástrofe. Contudo, algumas medidas já foram anunciadas, como o anúncio de um pacote de R$51 bilhões do governo federal. Nele, estão previstos a antecipação de benefícios (como bolsa-família, auxílio gás, entre outros), pagamentos adicionais de parcelas do seguro-desemprego aos atingidos e a abertura de crédito para reconstrução de moradias e estabelecimentos[28].

Outras medidas ainda serão tomadas no sentido de fortalecer a recuperação econômica do Rio Grande do Sul.

Ver também[editar | editar código-fonte]

  1. GZH. Veja os números mais recentes das enchentes no RS nesta quarta-feira. 8 mai 2024.
  2. Agência Brasil. Danos em rodovias começam a ser avaliados no Rio Grande do Sul. 3 mai 2024.
  3. Agência Brasil. RS: Força Nacional e policiais temporários vão conter saques e roubos. 7 mai 2024.
  4. Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Novo balanço contabiliza R$ 4,6 bilhões em prejuízos em mais de 78% dos municípios gaúchos afetados por temporais.7 mai 2024.
  5. CNN. Chuvas no RS: governo anuncia novas emendas e repasse chega a R$ 1 bilhão. 7 mai 2024.
  6. G1. Governo vai lançar pacote de ajuda ao RS, com crédito para reconstrução de casas, diz Haddad. 6 mai 2024.
  7. G1. Ministério do Trabalho anuncia R$ 2,9 bi para moradores afetados por chuvas no Rio Grande do Sul. 7 mai 2024.
  8. G1. Governo vai suspender pagamentos da dívida do RS com a União até o final do ano. 7 mai 2024.
  9. G1. Cheias no RS: governador Eduardo Leite anuncia liberação de recurso emergencial de R$ 200 milhões. 7 mai 2024.
  10. Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Novo lote do programa Volta por Cima é pago nesta segunda-feira (29). 29 abr 2024.
  11. TERRA. Enchentes no Rio Grande do Sul: entenda causas e consequências. 6 mai 2024.
  12. CORREIO DO POVO. O que causou as enchentes no RS? Especialistas divergem sobre explicações. 15 mai 2024.
  13. SANTOS, Emily. Temporais no RS: entenda como o relevo de Porto Alegre e as 'marés de tempestade' travam escoamento. G1, 13 mai 2024.
  14. FORATO, Fidel. ZARAMELA, Luciana. Por que o RS está alagado? Entenda a causa das inundações. Canal Tech, 7 mai 2024.
  15. G1 RS. Um mês de enchentes no RS: veja cronologia do desastre que atingiu 471 cidades, matou mais de 170 pessoas e expulsou 600 mil de casa. 29 mai 2024.
  16. JORNAL DA BAND. Mais de 15 mil voluntários ajudam vítimas de enchentes no RS. 5 mai 2024.
  17. GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Doações via pix do SOS Rio Grande do Sul ultrapassam R$ 100 milhões. 14 mai 2024.
  18. DEFESA CIVIL. Estado já recenseou 60% dos abrigos. 16 mai 2024.
  19. G1 RS. Brigada Militar prende 10 pessoas em meio a salvamentos nas enchentes em Porto Alegre. 6 mai 2024.
  20. G1 RS, RBS TV. Governo do RS reforça segurança nos abrigos; 11 pessoas foram presas. 10 mai 2024.
  21. UOL. Leite pede reforço da Força Nacional no RS e convoca policiais da reserva. 7 mai 2024.
  22. AGÊNCIA BRASIL. Inundação em Porto Alegre foi falta de manutenção, dizem especialistas. 24 mai 2024.
  23. BRASIL DE FATO. Deputado denuncia Prefeitura de Porto Alegre no MP por omissão com problemas no sistema antienchentes. 23 mai 2024.
  24. NEVES, Ernesto. Eduardo Leite mudou quase 500 normas do Código Ambiental do RS. Veja, 10 mai 2024.
  25. CATTO, André. Chuvas no RS: setor produtivo divulga primeiros balanços de prejuízos econômicos da tragédia. G1, 12 mai 2024.
  26. G1. O desastre natural com maior impacto na economia brasileira: 3 efeitos das inundações do RS no país. 17 mai 2024.
  27. G1. O desastre natural com maior impacto na economia brasileira: 3 efeitos das inundações do RS no país. 17 mai 2024.
  28. JORNAL NACIONAL. Governo anuncia pacote de R$ 51 bilhões para ajudar as vítimas do Rio Grande do Sul. 9 mai 2024.