Feira agroecológica Josué de Castro de volta no mês do Ambiente (matéria)
A Feira Agroecológica Josué de Castro Sabores e Saberes retornou à Fiocruz após dois anos de pandemia, promovendo a troca não apenas de alimentos saudáveis, mas também de sabedorias e vivências. O retorno ocorreu em junho, e a feira tem como objetivo promover a alimentação agroecológica, apoiar a agricultura camponesa e estimular a troca de conhecimentos sobre soberania alimentar e o atual modelo de desenvolvimento agrícola no Brasil.
Autoria: Joyce Enzler.
O retorno da Feira[editar | editar código-fonte]
Após dois anos pandêmicos, a Feira Agroecológica Josué de Castro Sabores e Saberes retornou à Fiocruz, em junho, mês que várias instituições aproveitam para reafirmar a importância do debate sobre as questões ambientais e estimular consciência crítica e postura ativa frente ao descaso com Gaia, mais conhecida como Terra. Com diversas atividades, em 9/6, das 9 às 15h, a feira ocupou o pátio em frente à Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) para trocar além de frutas, legumes e verduras, sabedorias e vivências.
Na ocasião, a diretora da EPSJV, Anamaria Corbo, e o diretor da ENSP, Marco Menezes afirmaram a relevância da Fiocruz ceder o espaço para uma feira com alimentos de verdade. Para Corbo, a retomada da Feira Agroecológica Josué de Castro foi realizada em um momento fundamental, não somente devido as comemorações do meio ambiente, mas também pelo fato de ter sido realizada logo depois da divulgação dos resultados do Inquérito Nacional sobre segurança alimentar no contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil.
Segundo Corbo, o Inquérito indica que no Brasil, são 125,2 milhões de pessoas residentes em domicílios com Insegurança Alimentar (IA) e mais de 33 milhões em situação de fome (IA grave), com maior presença nos domicílios rurais: 18,6% dos quais enfrentando a fome em seu cotidiano. “É importante destacar que a fome também atinge os pequenos produtores rurais, em um país como o nosso, com tanta terra e capacidade de produção de alimentos. É sob esta perspectiva que a retomada da Feira se inscreve: a necessidade de promoção do debate sobre a soberania alimentar e a superação do atual modelo de desenvolvimento agrícola” ressaltou. De acordo com Corbo, promover a alimentação agroecológica, difundir a agricultura camponesa e estimular a troca de saberes e sabores são os nossos desafios com a retomada da Feira.
De acordo com o diretor da ENSP, Marco Menezes, é essencial a Feira Agroecológica e essas relações com os movimentos sociais acontecerem na Fiocruz para consolidar e avançar em ser uma instituição pública estratégica do Estado brasileiro. Já para o agricultor José Antônio Pereira, conhecido como Russo, a retomada da Feira Agroecológica Josué de Castro foi fundamental, porque é uma atividade que divulga amplamente o agroecológico, o orgânico, o sem veneno. Segundo Russo, durante a pandemia, os produtores da Freguesia só conseguiram sobreviver porque se criou um delivery no bairro que conseguiu a adesão de vários ciclistas para a entrega. “A feira, na Fiocruz, é boa para os dois lados, principalmente para os consumidores, que, além de trocarem uns minutos de prosa ainda levam saúde para casa”, afirmou.
Sobre a Feira Agroecológica Josué de Castro[editar | editar código-fonte]
A primeira edição da Feira Agroecológica Josué de Castro - Sabores e Saberes aconteceu em junho de 2014, na II Semana do Meio Ambiente da ENSP, mas somente em 2015 se tornou periódica, transformando-se em uma atividade quinzenal. A feira é uma parceria entre a ENSP, a EPSJV e quatro movimentos sociais: Rede Carioca de Agricultura Urbana (Rede CAU), Associação Agroecológica de Teresópolis (AAT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Ela acompanha os calendários das escolas, por isso em julho e em dezembro só têm uma edição.
A Chefe do Serviço de Gestão de Sustentabilidade da ENSP e uma das coordenadoras da Feira Agroecológica, Flávia Guimarães, relatou como foi atravessar os dois anos da pandemia de Covid-19: “Em 2020, ainda conseguimos organizar uma edição da feira em março, um evento relacionado ao Dia da Mulher e logo depois teve a suspensão das atividades. Primeiramente, pela recomendação da prefeitura do Rio, por conta das atividades de feira, e depois por causa da decisão da Fiocruz em prezar pela vida das pessoas, mantendo boa parte do trabalho em home office durante um tempo. Ao longo desses dois anos, a coordenação da feira manteve contato com os produtores por meio do grupo de WhatsApp. Era o que dava para fazer naquele momento”.
No final de 2021, segundo Flávia, ocorreu uma reunião híbrida entre a coordenação da feira e os produtores – presencial e on-line – , quando se começou a pensar na retomada da feira, na questão dos cuidados e no protocolo de segurança da instituição. A feira sempre foi realizada no pátio da ENSP, porém, com as obras na fachada, o evento de retomada ocorreu no estacionamento entre as duas escolas, para simbolizar a união entre as unidades. “A nossa atividade não é só um espaço de comercialização, mas também de sensibilização, de discussões sobre temas envolvendo a alimentação, a sustentabilidade e as questões ambientais. A agroecologia traz vários elementos para a discussão sobre saúde, como a opção de produzir sem atender exatamente o que reza a cartilha do modelo econômico. Então, a gente sempre apresenta alternativas mais sustentáveis para esse meio de produção de alimento e também alternativas mais saudáveis nas relações pessoais” destacou Flávia.
Para Flávia, a feira é democrática, por circular as informações e tomar decisões coletivamente, é um grupo que preza pela união, pelo apoio. “Era necessário retomar esse espaço de acolhimento, de comercialização, de saúde, dentro da instituição. Então, escolhemos junho, exatamente na semana de comemorações do Dia do Meio Ambiente, mês em que a feira nasceu. Aproveitamos para retornar ao debate sobre os agrotóxicos que foi o tema da última edição da feira em 2019”, assegurou.